
Por Patrick Seale, em Gulf News
Mas figuras das mais destacadas do establishment de segurança em Israel, assim como judeus norte-americanos de grande prestígio moral, já começam a contestar abertamente duas das principais políticas de Netanyahu: a ideia de que o programa nuclear iraniano seria "ameaça existencial" para Israel, com risco de Holocausto iminente; e a obcecada expansão das colônias exclusivas para judeus nos Territórios Palestinos Ocupados, com vistas, como muitos suspeitam, a criar um "Grande Israel".
A oposição a Netanyahu pode ter consequências de longo alcance. Por um lado, parece já ter afastado qualquer possibilidade de ataque preventivo dos israelenses ao Irã, como Netanyahu ameaça, e ameaça que trombeteia já há mais de um ano; por outro lado, fez reviver a possibilidade de uma solução de dois Estados para o conflito Israel-palestinos, que muitos consideravam moribunda, se não morta.


O atual chefe do Mossad, Tamir Pardo, também contradisse Netanyahu. Para ele, o Irã não representa qualquer tipo de "ameaça existencial" ao estado judeu.

E Meir Dagan, celebrado ex-chefe do Mossad, ridicularizou o discurso ‘guerreiro’ de Netanyahu: para ele, a ideia de atacar o Irã foi "a ideia mais estúpida que ouvi em toda a minha vida"; disse também que qualquer ataque preventivo de Israel ao Irã seria "temerário e irresponsável".
Em entrevista a Ben Caspit de Ma’ariv dia 27 de abril, atacou também a coalizão de pequenos partidos que apoia Netanyahu; os pequenos partidos, cada um deles com sua respectiva agenda estreita, tira do primeiro-ministro qualquer real liberdade para agir: para manter a coalizão, Netanyahu tem de render-se às imposições dos partidos.
Dagan criticou sobretudo os Haredim, judeus ultraortodoxos e conservadores, que não prestam serviço militar, são beneficiados por isenção de impostos e promovem a segregação sexual em Israel – como também em New York! Para Dagan, o 'espírito da lei' exige "distribuição igualitária da carga para todos os cidadãos". Os Haredim devem ser obrigados a prestar serviço militar (como também os cidadãos árabes-israelenses, que devem cumprir serviço obrigatório, se não no exército, pelo menos na polícia, na brigada de bombeiros, ou no Magen David Adom, o equivalente israelense da Cruz Vermelha ou do Crescente Vermelho). Ephraim Halevy, outro ex-chefe do Mossad, também declarou publicamente que "a radicalização ultraortodoxa é ameaça maior que Ahmadinejad"; e o Irã não traz qualquer perigo existencial a Israel.
A solução dois Estados

Acusou o primeiro-ministro de usar o Irã como ferramenta para distrair as atenções dos protestos de setembro último, quando 450 mil israelenses tomaram as ruas de Telaviv exigindo justiça social.
Essas declarações, vindas de anteriores e atuais altos chefes da segurança israelense, mostram o quão abertamente as ideias de Netanyahu estão sendo contestadas e que há muitos israelenses que clamam impacientemente por mudanças.

Para divulgar suas ideias e arregimentar apoiadores, Ayalon criou uma organização chamada "Blue White Future" [Futuro Azul e Branco]. Diz ele que Israel não precisa esperar por acordo definitivo com os palestinos. Em vez disso, Israel deve renunciar aos territórios a leste do muro da Cisjordânia e encerrar para sempre a construção de colônias naquela região, como também na Jerusalém Leste Ocupada, e planejar a realocação em Israel dos 100 mil colonos judeus que vivem do lado hoje israelense do muro. Israel, diz ele, deve "providenciar compensação voluntária e uma lei de integração para os colonos que vivem a leste do muro". Se nenhum acordo for possível com os palestinos, Ayalon prega que Israel crie, em campo, uma realidade de dois Estados.

Num apelo apaixonado, acrescenta: "Os israelenses têm de entender que, ao dar liberdade aos palestinos, também se libertarão eles mesmos. Estado que discrimina, persegue e renega os vizinhos de modo tão similar ao modo como os judeus fomos tratados por nossos perseguidores não pode ser aceitável".

Quando Israel celebra seus 64 anos de existência, começam a soprar ventos de mudança na mente de seus mais respeitados militares e oficiais de segurança e de alguns de seus mais apaixonados apoiadores no ocidente. Espera-se que palestinos e todo o mundo árabe respondam positivamente, o mais rapidamente possível, a essa muito bem-vinda evolução.
Fonte: Vermelho
Imagem: Google
3 comentários:
Até que enfim as coisas começaram a mudar... O povo de Israel deve estar cansado de viver nessa tensão primitiva que eles mesmos alimentam de forma constante há mais de 60 anos. Cabe ressaltar que essa paranóia coletiva está com seus dias contados. Ninguém aguenta mais. Grande abraço!
Fernando
Eles não devem estar fazendo isso porque se tornaram "bonzinhos", estão é agora de forma desesperada tentando limpar a imagem de Israel perante o mundo, a imagem que está mais suja que "pau de galinheiro", o mundo já não acredita mais nas mentiras que sempre contam, e não "cola" mais a desculpa do Holocausto de que são sempre "vítimas", e com isso estão sempre a arranjar motivos para matar os palestinos.
Um grande abraço meu amigo
Espero que realmente que seja uma boa notícia e que de fato o sionismo messiânico deixe de ser a política de estado de Israel. Já que agora os papéis se inverteram e o Irã é que é a vítima e os israelenses os agressores. Os judeus perderam a "primazia" da vitimização coisa que sempre souberam fazer com perfeição através da mídia. Se não acontecer nenhum fato novo, tipo "falsa bandeira", talvez se chegue realmente a encontrar a paz no oriente médio.
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