
Por Angel Guerra Cabrera


Seja como for, depois disto e dos contínuos agravos aos afegãos – o anterior foi a queima de exemplares do Alcorão em uma base ianque - a Washington não resta mais nada a fazer do que antecipar os prazos para a retirada. Já não pode confiar em suas contrapartes afegãs e até o parlamento já disse que “esgotará sua paciência” e concordou em exigir que os culpados sejam julgados por um tribunal afegão. Há tempos os Estados Unidos tiveram que renunciar à ideia de derrotar os talibãs e admitir que para retirar-se e salvar a cara tinham que negociar com eles e é exatamente isso o que estão fazendo.
Isto para não falar da propalada “reconstrução” com a qual – como não?! - várias corporações têm ganho milhões, mas os afegãos não veem mais que uma economia sustentada pelo auge do narcotráfico, um país devastado, com cidades em ruínas sem os mais elementares serviços públicos, ausência quase absoluta de infraestrutura e dezenas de milhares de civis mortos. Para não falar das promessas de democratização e reconhecimento dos direitos das mulheres. Afortunadamente cada vez são menos pessoas que creem em que os Estados Unidos sejam modelo de democracia e direitos humanos, muito menos os que aceitam que estes podem impor-se pela força das armas.

Se as instalações nucleares para fins pacíficos do Irã forem bombardeadas e o país se sentir mais gravemente ameaçado, seguramente responderá de maneira muito dura, incluindo o fechamento do estreito de Ormuz, por onde flui um vital rio de petróleo para o mercado mundial. A grande incógnita é o que farão os Estados Unidos diante de um rival que só podem destruir com armas nucleares, e se as usar, o que farão a Rússia, a Índia, o Paquistão e a China, todas potências atômicas vizinhas. Vistas as coisas assim, se compreende perfeitamente as intensas gestões diplomáticas de Moscou e Pequim em prol de uma solução política na Síria, aliado fundamental do Irã, onde Washington arma e infiltra terroristas e aplica um plano de “mudança de regime”, e o duplo veto daquelas duas grandes nações para impedir a intervenção estrangeira.
Voltando ao Afeganistão, o máximo a que Obama pode aspirar agora é sair de lá rapidamente sem que isto pareça uma debandada. Com a esperança de que antes das eleições de novembro não se complique a situação a ponto de obrigá-lo a uma retirada precipitada e à entrega do poder aos talibãs sem mais negociações.
Fonte: Vermelho, Cubadebate, publicado originalmente em La Jornada
Tradução da redação do Vermelho
Imagem: Google (colocadas por este blog)
Um comentário:
Vale lembrar que o Afeganistão é um grande (senão o maior) produtor de ópio mundial. E por ali também passam gasodutos estratégicos para os americanos...
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