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sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Netanyahu ataca Irã e Síria no Fórum Econômico Mundial






Por Moara Crivelente

Netanyahu fez o seu discurso, nesta quinta-feira (23), depois da fala do presidente iraniano, Hassan Rohani, e aproveitou a deixa para criticar novamente o governo persa, acusando-o de desenvolver armas nucleares.

As declarações de Netanyahu sobre a sua posição como “uma ilha de democracia” em meio a um mar “de extremismo” são frequentes, apesar das denúncias constantes sobre as violações do direito internacional, já institucionalizadas por suas políticas e ações tanto contra os palestinos quanto contra seus vizinhos, principalmente libaneses e sírios.

Ainda assim, Netanyahu repetiu seu rechaço ao processo diplomático que o Irã e o Grupo 5+1 (EUA, Reino Unido, França, Rússia e China, membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas, mais a Alemanha) vêm impulsionando sobre o programa nuclear persa.

“Eles dizem que se opõem às armas nucleares. Por que eles insistem em manter mísseis balísticos e plutônio, e as centrífugas avançadas que só são usadas para a produção de armas nucleares?”, perguntou Netanyahu. 

Há meses, as convocatórias inflamadas do seu governo a um ataque aéreo contra instalações nucleares do Irã e as posturas históricas de agressividade de Israel parecem fornecer alguma especulação sobre a “insistência” do Irã em manter recursos para a sua autodefesa, embora o presidente Rohani tenha ressaltado que a violência não faz parte da sua política de segurança, como faz da política israelense.

Netanyahu acusa o Irã também de financiar “grupos terroristas”, onde enquadra o partido e movimento de resistência libanês Hezbolá, atuante e determinante para a proteção do território libanês contra as suas violações frequentes e nas últimas grandes guerras lançadas por Israel contra o país. 

O premiê sionista – a ideologia colonizadora e hegemonista, ou imperialista, importada da Europa – também acusou o governo persa de envolvimento direto na violência que assola a Síria há três anos, cenário em que a participação de Israel, de outros vizinhos (como a Turquia e a Arábia Saudita) e dos EUA já tem sido denunciada desde que a brutalidade se instalou.

Ilha de democracia ou mar de opressão

Para Netanyahu, estas questões são apenas de uma luta pela hegemonia sobre a região, posição que o seu governo reivindica, como a “ilha de democracia” que diz representar. 

Além das seis décadas de opressão e ocupação do povo e das terras palestinas, diversas denúncias recentes como a criminalização dos imigrantes africanos - muitos dos quais, requerentes de asilo que já refugiaram-se de outras situações de violência ou perseguição -, a segregação contra árabes-israelenses e diversas outras questões patentes na repressiva ideologia sionista têm revelado a face nem tão democrática de Israel.

Netanyahu também questionou as sugestões do Irã sobre a realização das eleições livres e democráticas na Síria – assim como afirmado pelo governo árabe, já que "é o povo sírio quem deve decidir o seu destino" – ao dizer que o “governo xiita iraniano e o seu apoio financeiro são centrais para o controle do poder pelo presidente Bashar al-Assad.” 

Enquanto isso, o envolvimento das forças militares e de inteligência israelenses, em cooperação com as sauditas, turcas e estadunidenses, principalmente, são cruciais para o avanço e a manutenção da violência protagonizada pelos grupos armados.

Netanyahu é apresentado na página do Fórum Econômico Mundial como um intelectual formado na Universidade de Harvard (EUA) e no Instituto de Tecnologia de Massachussets (MIT) e com a carreira militar inaugurada na Guerra dos Seis Dias, de 1967, com seu cargo devidamente descrito: “serviu as Forças de Defesa de Israel em uma unidade de comando de elite e participou em várias missões durante a Guerra de Atrito”, também conhecida como um episódio sanguinário e de avanço agressivo da ocupação de territórios árabes, em grande parte ainda hoje capturados.




Fonte: Vermelho
Imagem: Google

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

O novo mapa da pobreza na Europa





Medidas de ajuste para equilibrar os mais de 4 trilhões de euros gastos no resgate de bancos e estados estão provocando uma explosão dos números da pobreza

Marcelo Justo/Carta Maior

Londres - A mais de cinco anos do estouro financeiro de 2008 e do início da grande recessão mundial do século XXI, a Europa exibe um novo mapa da pobreza que, segundo a organização humanitária Oxfam International, pode levar 25 anos para ser revertido. As medidas de ajuste para equilibrar os mais de quatro trilhões de euros gastos no resgate de bancos e estados estão provocando uma explosão dos números da pobreza tanto no centro como na periferia.

Em Portugal, 18% da população vivem abaixo da linha de pobreza. Na Espanha, cerca de três milhões sobrevivem com menos de 307 euros por mês. Na Itália, duplicou o número de pobres nos últimos seis anos e, no mais rico dos europeus, a Alemanha, quase oito milhões de pessoas sobrevivem com 450 euros mensais graças aos pequenos trabalhos oriundos da flexibilização da legislação trabalhista.

A Carta Maior conversou com a diretora internacional da Oxfam, Natalia Alonso, sobre este novo panorama europeu.



Olhando desde a América Latina às vezes é difícil imaginar a pobreza em uma Europa desenvolvida e com sistemas de seguridade social de longa data. Qual é o panorama concreto que se vive hoje?

Natalia Alonso: Há um novo mapa da pobreza na Europa provocado pelas medidas de austeridade que aumentaram não só a pobreza, mas também os níveis de desigualdade. O cálculo que fazemos é que se os governos continuarem aplicando essas medidas haverá entre 15 e 25 milhões de europeus a mais em risco de pobreza em 2025. Se somamos esse número com a população que já enfrenta este risco de pobreza hoje, segundo as cifras oficiais do Escritório de Estatísticas Europeu (Eurostat), em 2025 teremos cerca de 146 milhões de europeus (mais de um quarto da população) enfrentando esse risco.

Isso significa um aumento considerável em termos do que se chama pobreza relativa, medida em relação à renda média de um país, mas também em termos da pobreza absoluta, onde a própria sobrevivência está em jogo. Com a perda do emprego, perde-se a moradia, a fonte de renda, os direitos sociais. Se a isso acrescentamos o desmantelamento dos sistemas de proteção social pelas medidas de ajuste, o resultado é um enorme aumento do número de pessoas vulneráveis. E longe de resolver o problema da dívida ou de estimular o crescimento, estas medidas de ajuste estão piorando a situação em ambas as frentes.

É evidente que esta crise teve um impacto especialmente forte na chamada periferia da zona do Euro, em países como Grécia, Portugal e Espanha.

Natalia Alonso: Estes países, por pressão externa ou da própria União Europeia, adotaram medidas muito drásticas e, portanto, estão experimentando um importante salto nos níveis de pobreza. Estes níveis são vistos não só no aumento do desemprego, como também no desemprego de mais de dois anos, o que significa em muitos países europeus a perda da cobertura social e o aprofundamento de uma espiral de pobreza.

Cada país tem sua dinâmica particular. Na Espanha e na Irlanda vimos o fenômeno dos despejos de moradias que impactam ainda mais a situação de extrema vulnerabilidade do desemprego gerando párias virtuais e marginalizados sociais.

Em um determinado momento, na Espanha, chegou a se despejar 115 famílias por dia de suas casas. Essas pessoas não só foram expulsas de suas casas, como mantiveram a dívida porque não se admitiu o valor dos imóveis como pagamento.

Essa situação afetou também os fiadores desses imóveis que, com frequência, são os pais ou familiares dos desalojados.

O empobrecimento também atingiu países centrais como a Alemanha, no interior da zona do euro, ou como o Reino Unido, fora dessa zona.

Natalia Alonso: No caso do Reino Unido as medidas de austeridade adotadas pelo governo impactaram muito mais duramente os 10% mais pobres que os mais ricos. Estes 10% mais pobres viram uma redução de 38% em sua receita líquida desde 2007. É o impacto que tiveram os programas de ajuste no aumento da desigualdade na Europa em geral. Na Grécia, Irlanda, Itália, Portugal, Espanha e Reino Unido houve um crescimento dos níveis de desigualdade comparáveis com os 16% de aumento que experimentou a Bolívia nos seis anos que se seguiram ao programa de ajuste dos anos 90. Nestes países europeus ou os 10% mais ricos ganham mais ou os 10% mais pobres ganham menos ou ambas as coisas. Hoje, o Reino Unido tem níveis de desigualdade maiores que os Estados Unidos. Se não se reverter a atual situação e se seguir com a atual política o coeficiente Gini de desigualdade do Reino Unido e da Espanha ficará muito parecido com o do Paraguai.

A imagem da Europa na América Latina é de uma seguridade social que neutraliza os perigos da pobreza. Essa imagem segue sendo válida?

Natalia Alonso: A ação restauradora do equilíbrio que tinha a seguridade social já não está funcionando da mesma maneira porque se retiraram ou se reduziram os apoios que existiam para pessoas descapacitadas ou desempregadas. Isso cria maior desigualdade, pobreza e crise social. E estão aumentando outras desigualdades como a de gênero. As mulheres são as primeiras que perdem os postos de trabalho.

O modelo econômico europeu tinha como um de seus pilares um equilíbrio social que favorecia um forte consumo interno. Estamos diante de um novo modelo econômico?

Natalia Alonso: Estamos ante um modelo cada vez mais desequilibrado no qual poucos têm muito e gozam de uma extraordinária proximidade ao poder político o que gera problemas de legitimidade. Segundo as projeções, se prevê que haverá crescimento econômico em 2014 e 2015 na União Europeia, mas em caso dele efetivamente ocorrer, será muito desigual. A austeridade está assentando as bases de uma Europa de profundas divisões sociais e nacionais.




Tradução: Marco Aurélio Weissheimer
Fonte: Carta Maior

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Curdistão: do Apoio ao Desprezo Imperialista






Por André Dutra*



“É o fim da injustiça, infortúnio e sofrimento.
Somos os seus melhores amigos e irmãos.
Todos os que estão contra nós, são nossos inimigos.
Nós faremos deste país um paraíso.
Estamos aqui para acabar com suas tristezas.
Nós somos os melhores do mundo”


Esse trecho citado acima, de acordo com a tradução do personagem Satélite do filme Tartarugas podem Voar (2004), do diretor curdo Bahman Ghabadi, nos mostra de forma clara e precisa, as ilusões passadas ou, melhor dizendo, as mentiras contadas do império estadunidense para com os povos oprimidos. Prometem o céu e entregam o inferno. Aliás, assistir a essa obra cinematográfica é de fundamental importância para se compreender, ou tentar fazê-lo, o caos e sofrimento no cotidiano dos refugiados curdos, principalmente das crianças, que trabalham nos territórios minados e que, inclusive, vivem da renda das vendas dessas minas.



Somente no século XX, já foram mais de vinte intervenções e participações em guerras pelos EUA. Mas com qual propósito? Porque manter esse intervencionismo político e militar em praticamente todas as partes do mundo e, com muito mais frequência, no Oriente Médio?

A resposta é simples e de conhecimento de todos: o Petróleo e suas variáveis, esse é o principal agente motivador de tanta catástrofe, pobreza e dor, além da convicção presunçosa de que os EUA é a hegemonia mundial e que assim deve se portar. Vale lembrar a chamada “Operação Libertação do Iraque”, em que a sigla em inglês OIL, remete, obviamente, ao ouro negro.

O povo curdo é a maior etnia sem Estado do mundo. São mais de 30 milhões de pessoas, divididas e espalhadas pelo planeta. Como parâmetro, podemos citar a população do Canadá com 32 milhões, a Venezuela com 28 milhões e a Arábia Saudita com 27 milhões de pessoas. Porém, a maioria de sua população está no epicentro das revoluções árabes, em países como a Turquia, a Síria, o Irã e o Iraque, no qual analisaremos nesse artigo.

A zona norte do Iraque, considerado o Curdistão iraquiano, conta com uma população de aproximadamente 5 milhões de habitantes e uma área de 40.000 km2, sendo quatro vezes a área do Líbano e maior que a Holanda. A capital e sede do governo regional do Curdistão iraquiano é Arbil.


Região do Curdistão Iraquiano (Síria a oeste, Turquia ao norte, Irã a leste e Iraque ao sul)

Em reportagem publicada no sítio do The New York Times do último mês, intitulada “Kurds´ Oil Deals with Turkey Raise Fears of Fissures in Iraq”, fica muito evidente essa afirmativa dos interesses norte-americanos sobre a região e quão importante é o Curdistão Iraquiano. Segundo a matéria, curdos iraquianos estão vendendo petróleo e gás natural diretamente para a Turquia, sem passar pelo crivo de Washington ou Bagdá. De fato, desde 2012 o governo curdo está comercializando petróleo de forma independente.

O medo dos EUA, além, obviamente, da perda dos petrodólares e do seu crucial produto, é a possível independência e autonomia dos curdos, o que levaria a mais um governo a ser derrubado. Porém abriria também um enorme precedente aos curdos que vivem no Irã, Turquia e, principalmente, aos que vivem na Síria, onde facções curdas declararam recentemente uma administração autônoma no nordeste do país.

“O acordo com a Turquia é uma enorme violação contra a Constituição do Iraque, pois não compactua com a coordenação do governo central”, disse Ali Dhari, vice-presidente do comitê de petróleo e gás do parlamento iraquiano. “Isso significa roubo das riquezas do Iraque, e isso nós não vamos permitir.”

Ainda segundo a reportagem, Qasim Mishkhati, membro curdo do comitê de petróleo e gás do parlamento, insistiu que a riqueza das ofertas será compartilhada com o resto do Iraque, e que era da responsabilidade do governo regional no norte em encontrar mercados internacionais para os recursos do petróleo. “Estamos trabalhando para aumentar a renda nacional, de modo que todos os iraquianos possam desfrutar de melhores serviços e mais riqueza”, disse ele.

Existe também uma divergência sobre a região de Kirkuk, cidade que possui mais de 700 mil habitantes, que é rica em petróleo e que os curdos querem incorporar ao seu território.


Mapa com os campos de petróleo no Iraque.

Porém, em se tratando de EUA, o que já aconteceu no passado, pode voltar a acontecer novamente. Relembramos dos atos de amparo e posterior desconsideração por parte do império norte-americano para com os curdos.

Nos anos 70 e 80, com a ajuda do Irã, os americanos recrutaram os curdos para tentar tirar Saddam Hussein do governo iraquiano e, em troca, dariam a independência curda, contudo, mais tarde, quando Irã e Iraque assinaram um acordo de paz, numa completa fúria e vingança por parte de Hussein, foi executada a Anfal, uma campanha de genocídio contra o povo curdo no norte do Iraque, em que bombardeios, destruição de aldeias, pelotões de fuzilamento e armas químicas foram utilizadas, resultando, segundo fontes independentes, em mais de 150 mil vítimas fatais. E os EUA? Fingiram que nem viram.

No começo dos anos 90, quando o Iraque foi derrotado na Guerra do Golfo pelos EUA e seus aliados, foi solicitado, mais uma vez, aos curdos do norte iraquiano, que se rebelasse contra Saddam. Eles iniciaram a revolta, porém Hussein reagiu e os EUA nada fizeram.

Como disse um oficial curdo anti-iraquiano anos atrás a um repórter americano “os americanos só estão interessados em ficar lá, sem luta. Eles não querem nem a guerra nem a paz – e sim manter-nos no limbo, como sempre estivemos.” Embora as diversidades religiosas, ideológicas e culturais existentes nos quatro principais territórios ocupados sejam um atravanco, o povo curdo, por muito tempo, busca sua tão sonhada soberania como Estado único, e dificilmente serão impedidos de alcançar tal objetivo.

Em entrevista concedida à AFP, o presidente do Curdistão iraquiano, Massud Barzani, também se referiu ao futuro do povo curdo, um objetivo que, segundo ele, pode ser alcançado através do diálogo. “Ter seu próprio Estado é um direito natural do povo curdo, mas isto não pode ser alcançado através da violência”, disse. “Encorajamos o diálogo entre os curdos e os Estados que dividem o Curdistão”, acrescentou.

Resta saber quantas vezes mais o Curdistão será uma mera peça no jogo dos interesses imperialistas. Mas isso, só o futuro nos mostrará.


*André Dutra é administrador, graduando em relações internacionais, graduando em teologia, membro do Núcleo de Estudos Latino Americanos (NELAM), membro do Projeto Solidariedade Internacional – Observatório de Conflitos (PSI-OC) e colaborador do Oriente Mídia.


Referências:

- Filme Tartarugas podem Voar; direção de Bahman Ghabadi, Irã, 2004.

- Sítio The New York Times, acessado em 02/01/2014.

- Relatório de SWANSON, David. “Iraq´s war among the world´s worst events” acessado em 02/01/2014.

- Livro de OCALAN, Abdullah. “Guerra e Paz no Curdistão: perspectivas para uma solução política da questão curda”

- Sítio The Other Iraq acessado em 03/01/2014.

- Sítio HRW acessado em 05/01/2014.

- Sítio Wikipédia, acessado em 05/01/2014.


Fonte: Oriente Mídia
Vídeo: Youtube (colocado por este blog)
Imagens: Oriente Mídia, Google

domingo, 5 de janeiro de 2014

O desembargador, o garçom e o Brasil



Numa nota sobre o caso, Alexandre citou Darcy Ribeiro.
 “Ele dizia que só há duas opções na vida:
Se resignar ou se indignar. E eu não vou me resignar nunca.”



*Por Paulo Nogueira, no blog Diário do Centro do Mundo


A miséria e a grandeza humana se encontraram numa padaria de Natal neste final de ano.

A miséria foi representada pelo desembargador Dilermando Motta, e a grandeza pelo cidadão Alexandre Azevedo.

Um garçom foi o palco involuntário do combate entre a grandeza e a miséria.

Segundo os relatos, o desembargador pegou o garçom pelos ombros aos gritos e o mandou tratá-lo como “excelência”. Ameaçou “quebrar a cara” do garçom.

O motivo: o garçom não colocara gelo em seu copo.

Alexandre reagiu, e isto está registrado num vídeo que está sendo intensamente visto e compartilhado na internet.

Numa nota sobre o caso, Alexandre citou Darcy Ribeiro. “Ele dizia que só há duas opções na vida: se resignar ou se indignar. E eu não vou me resignar nunca.”

O desembargador chamou a polícia na padaria, depois de dizer que Alexandre seria preso imediatamente. Quatro viaturas logo acudiram. Mas, feitas perguntas aos presentes, ninguém foi preso. Evangélico fervoroso, Motta, como você pode observar no vídeo, berrava palavras como “endemoniado” e “endiabrado” ao bom samaritano que tomara a defesa do garçom.

“Bando de cagão”, disse o desembargador aos policiais segundo Alexandre. Um novo vídeo capta o momento em que Motta ofende os policiais. Nele, a voz de uma mulher corrobora a versão de Alexandre. “Todo mundo é testemunha”, diz ela à polícia.

Numa entrevista posterior ao caso, Alexandre disse que Motta estava armado, e manifestou preocupação com eventuais de um “homem poderoso”.

Num mundo menos imperfeito, uma prisão teria sido feita: a do desembargador, por abuso de autoridade.

Num mundo menos imperfeito, o caso teria conquistado repercussão nacional na mídia. Mas a mídia brasileira não dá voz aos desvalidos, aos humilhados e ofendidos. Eles são nossos irmãos invisíveis.

Na Inglaterra, em 2012, ocorreu um episódio de certa forma assemelhado. Um alto funcionário da equipe do premiê Cameron foi acusado de chamar de “plebeus” os policiais que não o deixaram sair de bicicleta pelo portão principal de Downing Street, a sede do governo. Os policiais pediram que ele usasse a saída dos pedestres.

Foi uma comoção nacional. A mídia chamou o caso de “Plebgate”. Em pouco tempo, o acusado perdera o emprego depois de já haver perdido a reputação.

Na Escandinávia vigora um código - a Janteloven, leis de Jante, cidade fictícia que moldou a cultura igualitária da região - segundo o qual ninguém é melhor - nem pior - que ninguém por força de cargo e dinheiro. O infame comentário de Boris Casoy sobre os lixeiros o teria transformado imediatamente num pária social se tivesse sido proferido na Escandinávia.

No Brasil, a reação ao comportamento do desembargador se restringiu essencialmente às redes sociais, o que mostra o divórcio entre a mídia e a realidade dos brasileiros.

No começo deste ano, a única vítima do episódio era o garçom. Ele foi afastado por estar com problemas psicológicos, segundo a padaria. Foi colocado em “férias”.

O desembargador, numa nota, afirmou que está tomando as “providências cabíveis”. Ora, o mínimo “cabível” era um pedido honesto de desculpas ao garçom e às pessoas da padaria que tiveram que aturar sua arrogância violenta.

Não poderia haver retrato melhor da justiça brasileira e nem da mídia, que só dá voz a quem já a tem em alta escala.

A internet faz seu papel: reage ao abuso e, como Alexandre, defende vigorosamente o garçom.

No momento em que escrevo, nem um único repórter fora convocado para ouvir a história do garçom. Ninguém fora à sua casa, que podemos bem imaginar como seja.

Nenhuma autoridade – federal, estadual, municipal – se pronunciara em favor dele.

E o desembargador viverá em 2014 como sempre viveu, sabedor dos poderes que o cargo lhe dá.


*O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.



Fonte: Diário do Centro do Mundo
Imagem: Google

Primeira-dama do Uruguai, Lucía Topolansky divide com o marido, José Mujica, a luta por um país diferente




Por Léo Gerchmann, Repórter Especial, Editoria de Mundo
leo.gerchmann@zerohora.com.br

O momento era solene como costumam ser os juramentos de posse presidencial. Fazia calor em Montevidéu naquele março de 2010. Avesso a formalidades, o novo presidente uruguaio, José Pepe Mujica, dispensou a gravata e disse, olhos fincados nos olhos da senadora Lucía Topolansky, ele de blazer preto e camisa branca, ela de tailleur cor-de-rosa:

Eu, José Mujica Cordano, comprometo-me, pela minha honra, a desempenhar lealmente o cargo que a Constituição da República me confiou defender.

 No dia de sua posse como presidente do Uruguai, Pepe Mujica fez seu juramento olhando bem nos olhos da mulher. Era o começo de mais um tempo de cumplicidade. Foto: Paul Libert, AE

O rosto de Lucía, vincado pelas rugas de uma vida intensa, comprimia-se. Traía a emoção, o choro reprimido, guardado para depois, quando estivesse em casa.

Não era a primeira vez que Lucía o ouvia jurar lealdade. Não era a primeira vez que um prometia para o outro as mais edificantes intenções.

Fora dos ambientes sisudos onde se exerce o poder, a 20 minutos do Palácio Presidencial, os dois socialistas, Lucía e Pepe Mujica, plantam acelgas, beterrabas e flores no rancho de Rincón del Cerro. Lucía é a mulher de Mujica, o homem que implementou medidas libertárias e levou o Uruguai a se tornar referência mundial, eleito o "país do ano" de 2013 pela revista britânica The Economist, acostumada, em 170 anos de história que se confunde com o capitalismo, a propor receitas austeras para as mais diversas nações.


Parceira na Frente Ampla (coalizão de partidos de esquerda, sindicatos e organizações sociais) e companheira de armas nos anos de chumbo, Lucía conheceu Mujica e por ele se apaixonou quando ambos circulavam pelas sombras da clandestinidade, no início dos anos 1970. Juntos, planejaram assaltos, sequestros e fugas.

Nos conhecemos na militância clandestina, que impõe grande solidão ao nos afastar de nossas famílias. Na luta, os seres humanos têm a oportunidade de se conhecer em profundidade, em suas virtudes e seus defeitos. É um espaço que aproxima, propicia o afeto e o amor, e foi isso o que nos juntou — diz ela.



Desde abril de 1972, há mais de 40 anos, são um casal que chama a atenção pela cumplicidade na luta e no afeto. O casamento, formalizado apenas em 2005, tomou corpo depois que Mujica fugiu da prisão de Punta Carretas andando mais de cem metros em meio a fezes e baratas, no subsolo de Montevidéu. Houve, porém, novo encarceramento dos dois e a libertação com a anistia, em 1985. Nunca mais se separaram. Nunca tiveram filhos.


Desentendimentos eventuais? Assessores contam que a afinidade entre os dois chega a ser assombrosa. Não os imaginam discutindo. Lembram Mujica levando a primeira-dama na garupa da vespa do casal, tradição que começou quando ele tinha cabelos negros e ela era loira e que continua, agora que a vida já pintou de branco as melenas intactas dos dois, esvoaçantes na medida em que a "motoca" segue seu rumo. Lembram deles indo para a casa no campo, acomodados no fusca azul ano 1987 do qual jamais cogitaram abrir mão, e depois pondo a mão na terra para cultivar os sonhos que sempre compartilharam.



Sou o soldado mais fiel do presidente - diz Lucía. — No Senado, na política e na vida.

Casamento gay, aborto nas primeiras 12 semanas de gestação, regulação da produção e da venda de Cannabis sativa como forma de tomar o processo das mãos dos traficantes. São diversas as revoluções pontuais que Mujica deixará na sua passagem pelo governo uruguaio, que se encerra neste 2014. Ano em que a companheira Lucía completará 70 anos de uma vida intensa, em 25 de setembro.

A reeleição não é possível pela Constituição uruguaia, e Mujica não a deseja. Aos 78 anos, convenceu-se de que os ideais de guerrilheiro tupamaro um dia se realizarão. Mas tudo se dará em uma "construção intergeracional", um processo mais longo do que ambos, na juventude rebelde que compartilharam, acreditavam ser possível.



Lucía vai além. Rejeita insinuações segundo as quais poderia um dia suceder o marido. Quando a pergunta lhe é feita ou quando seu nome é cogitado para tentar a vice-presidência na chapa do provável candidato frente-amplista Tabaré Vásquez (o antecessor de seu marido, entre 2005 e 2010, que deve ter a indicação confirmada), ela se diz impressionada pelas agruras emocionais de dirigir um país. E lembra um drama pessoal: anos atrás, recuperou-se de um câncer de mama. Acha que a militância política e o desgastante exercício do poder adoecem as pessoas.


Não. Aparentemente, isso não é para Lucía. Definida por Mujica como seu "disco rígido", ela cultiva com carinho a rotina de embarcar na "Fusqueta" azul, sempre ao lado do marido, e plantar suas hortaliças no terreno reservado para os sonhos do casal. É lá que também cuidam dos seus cães, o mais famoso deles a pernetinha Manuela, o mimo do casal.



Assim como Mujica faz com seus vencimentos presidenciais, Lucía reserva a maior parte dos proventos para doar a ongs Não-Governamentais.



Lucía e Mujica são afinados até na rejeição a cerimônias e ostentações de poder. Legisladora dedicada, entra cedo e sai tarde do Senado. No seu gabinete, a mesa está sempre abarrotada de documentos que faz questão de ler. Há, também, livros e fotos de personalidades como Che Guevara, Carlos Gardel e, claro, "Pepe" Mujica. É um gabinete semelhante ao que ela tem em casa, com livros, flâmulas, pôsteres e a marcante identidade de quem ali vive resguardado por três policiais numa viatura que parece lembrar a eles próprios: ora, ali vive um presidente e sua mulher senadora.

Hoje, Lucía é a imagem de uma senhora ponderada, que zela pelo marido, um típico avô traquinas com bigode de tangueiro, que tão bem cairia nos jogos de dama da Praça da Alfândega. No passado, ela assustou sua família de classe média alta, com a qual viveu, na infância, em bairros luxuosos de Montevidéu e até em Punta del Este. Seu irmão, Carlos Topolansky, um ano mais velho (são sete no total), recorda do pai, um engenheiro, chocado ao saber que a filha, uma menina dedicada que estudara balé e piano, que lia, pintava, jogava vôlei, andava de bicicleta e cavalgava com estilo, tornara-se uma guerrilheira ao participar da política estudantil na faculdade de arquitetura. Pior: essa informação chegou numa batida policial, em 1969. Pior ainda: a irmã gêmea de Lucía, María Elia, também aderira ao Movimento de Libertação Nacional-Tupamaros (MLN-T), em 1967.

Foram anos difíceis, 13 deles na prisão. Não tão difíceis como os de Mujica, que amargou a solitária e se distraía falando com as formigas durante boa parte dos 14 anos em que esteve preso. Para Lucía, foram raríssimos os momentos de solidão no cárcere. Até dividiu o espaço, certa vez, com uma freira que havia sido sua professora em Montevidéu.

— Aprendíamos muito umas com as outras, idiomas, experiências de vida. Escrevíamos histórias para contarmos umas às outras.


Lucía soube da importância de aceitar o diferente, seja na maneira de se vestir ou na forma de pensar. Pede que entendam o marido, um presidente que dispensa a pretensa respeitabilidade da gravata. Entende que as pessoas devem se vestir como se sentem melhor. Em casa, divide as tarefas. Mujica faz o chimarrão, ela prepara o café da manhã. Ouvem juntos o noticiário no rádio. A cozinha, aliás, é um espaço que Lucía domina: diz fazer bem empanadas, pastéis e pizzas. Inventa. Prepara a mesa bem enfeitada para o marido. Tomam vinho moderadamente durante as refeições. Produzem, na chácara de Rincón del Cerro, seu próprio Tannat. Em torno dos dois cálices, falam da vida, admitem que lamentam não ter filhos, projetam adotar 30 ou 40 crianças quando o mandato presidencial chegar ao fim. Fora da chácara, gostam de ir a apresentações de tango, o ritmo que lhes encanta. E nesse ritmo tão platino, de dramas e glórias, de escuros e claros, ela deixou a guerrilha, criou a facção frenteamplista Movimento de Participação Popular, tornou-se deputada em 2000, passou por diversas comissões e chegou ao Senado.



Pavimentou o próprio caminho político. Mas não nega: as veredas que mais a seduzem são as que conduzem a ela e a Mujica, no seu Fusca azul, à chácara de grama alta e paredes caiadas, onde põem a mão na terra para plantar sonhos na forma de hortaliças.




Fonte na íntegra: Zero Hora
Imagens: Zero Hora, Google (colocadas por este blog)

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Ariel Sharon à beira da morte




O ex-premiê israelense Ariel Sharon, notório por ter permitido o assassinato de milhares de palestinos durante a invasão militar ao Líbano de 1982, está hoje à beira da morte, segundo fontes próximas ao caso.

Invasão de Israel no Líbano
Massacre em Sabra e Shatila 

Em estado vegetativo há oito anos depois de um acidente cérebro-vascular, o também ex-general, conhecido como 'O Trator' devido a seus métodos rápidos para exterminar palestinos, está à beira da morte depois da falha de órgãos vitais, segundo os médicos que o atendem no hospital Tel Hashomer.


Nos últimos dias constatamos uma queda gradual no funcionamento dos órgãos de Sharon, seu estado é crítico e sua vida está em perigo, segundo representante de sua equipe médica.

Depois da súbita doença de Sharon em 2006, a organização palestina Hamas emitiu um comunicado que afirmava que "o Oriente Médio estará melhor sem ele".

As tropas ao comando de Sharon fecharam os acampamentos de crianças, mulheres e idosos, na capital libanesa, para que membros da milícia cristã Forças Libanesas comandadas por Elie Hobeika penetrassem e massacraram os refugiados, incluindo crianças, mulheres e idosos.


Os cadáveres foram lançados em lixões e fossas coletivas.


Uma visita provocativa de Sharon à explanada das mesquitas em Jerusalém ocupada, então como líder da coalizão Likud de ultra-direita, detonou o a segunda Intifada (Levantamento, em árabe), na qual morreram mais de 5.500 palestinos.




Fonte: Prensa Latina
Imagens: Google (colocadas por este blog)

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Ano novo



O nosso caminho é feito 
pelo nossos próprios passos...
Mas a beleza da caminhada... 
Depende dos que vão conosco!
Assim, neste NOVO ANO que se inicia 
Possamos caminhar mais e mais juntos... Em busca de um mundo melhor, cheio de 

PAZ, SAÚDE, COMPREENSÃO e MUITO AMOR.

Um Feliz Ano Novo a todos os amigos


Burgos Cãogrino 
(um cão peregrino)
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