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quarta-feira, 28 de maio de 2014

"A Copa nunca mais vai ser a mesma para os brasileiros, as pessoas não vão se esquecer do que acontecerá por aqui". - Que alerta é este? O que Carla Dauden quis dizer com esta declaração? Isto é algum tipo de ameaça???




Cineasta que prometeu não vir para a Copa chega ao Brasil

Porém, às vésperas do Mundial, a ativista não seguiu o que ela mesma prometeu e está no Brasil.

Carla desembarcou em São Paulo vinda de Los Angeles, nos EUA, onde morou nos últimos seis anos. "Não vim para ver a Copa, vim para falar dela", afirma a cineasta, que está filmando um
documentário narrando "a história de pessoas comuns afetadas pelo evento".

"A Copa nunca mais vai ser a mesma para os brasileiros", diz Carla. 

"As pessoas não vão se esquecer do que acontecerá por aqui."


Abaixo o vídeo intitulado “No, I’m Not Going to the World Cup” (“Não, eu não vou para a Copa do Mundo”), um vídeo feito pela cineasta "brazileira" radicada em Los Angeles Carla Dauden.





A "brazileira" Carla Dauden teve seus dias de fama virtual graças à realização de um vídeo de boicote à Copa do Mundo do Brasil. Vejam abaixo o link que desconstrói esse vídeo que é uma fraude.

 A desconstrução de uma fraude

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O que Carla Dauden está sabendo???

O que vai acontecer???

Isto é algum tipo de ameaça???

Quem está por trás desta cineasta "brazileira" que claramente mostra seu "complexo de vira-lata"???

(Burgos Cãogrino)




Imagem: Google

Evo Morales: "A estratégia do imperialismo é criar conflitos"



O presidente da Bolívia, Evo Morales, afirmou nesta quarta-feira (28) que os países imperialistas auspiciam as crises sociais em diversos países latino-americanos, porque pretendem intervir contra os governos progressistas por meio da Organização do Tradado do Atlântico Norte (Otan). Morales participou da inauguração da 17ª Conferência Ministerial do Movimento de Países Não Alinhados (Mnoal), celebrada na Argélia.

“A estratégia do império é criar conflitos sociais para intervir com a Otan”, disse o presidente boliviano ao ressaltar que a intenção imperialista é “submeter e fracionar” os governos da América Latina. Para Morales, uma prova disso é o caso da Venezuela, onde estão impulsionando um conflito interno para planejar outra intervenção militar.

O chefe de Estado aproveitou a oportunidade para tecer críticas ao Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), que, segundo ele, objetiva apoderar-se das riquezas naturais das nações em vias de desenvolvimento.

“Enquanto houver um pensamento de dominação e de intervenção não haverá paz”, assinalou Morales, que agregou ainda que “a paz não é, nem será, filha do gasto militar, nem de bases militares, nem da indústria bélica. A paz é produto da justiça e da igualdade de nossos povos”.



Fonte: Agência Venezuelana de Notícias (AVN)
Tradução: Théa Rodrigues, da redação do Portal Vermelho
Imagem: Google


terça-feira, 27 de maio de 2014

Diálogo entre "professor" e aluna




Vejam o nível do debate numa sala de aula da FGV (Fundação Getulio Vargas), no ano da graça de 2014, na República Federativa do Brasil: (por Gabriel Priolli)

"Hoje estava em sala de aula (aluna no curso de direito) e o professor começou a falar abobrinhas. Eu ouvindo. Parecia estar vomitando a Veja (Revista Veja). Eu me segurando. Aí veio a Copa e ele vomitando Veja, gastos que deveriam estar na saúde, educação, nada de retorno.

Acontece que minha faculdade é da FGV (Fundação Getúlio Vargas), então perguntei se a FGV era uma instituição de moleques ou uma empresa séria. Ele perguntou o que eu queria dizer. Eu disse que a FGV estimou 143 BILHÕES de retorno financeiro da Copa.

Ele passou para a etapa seguinte de todo alienado:

"Mas esse dinheiro vai pra quem?". 

Eu: "Como professor de economia o Sr. não devia dizer uma asneira dessas, sabe como a moeda circula num país".

Ele: "Vai junto com o meu dinheiro pra distribuir pra pobres do Nordeste". 

Eu: "Ou com o meu dinheiro pra sustentar sua filha numa federal ou em bolsa de pós-graduação no exterior, e eu gostaria de poder escolher, porque o meu iria para os pobres do nordeste."

Ele: "O problema é que 'nós, paulistanos', carregamos o Brasil nas costas. 80% do dinheiro do país é nosso e 80% dos votos são dos pobres do nordeste" (outro absurdo se analisarmos a densidade demográfica, mas já sei que pra eles todo mundo que não é de SP é nordestino)

Eu: "Então devolvam a nossa matéria-prima, nosso trabalho e o dinheiro que expropriaram do resto do país concentrando toda a renda e investimentos no seu estado".

Os colegas de sala gritavam como torcida organizada. Entre outras asneiras ele disse que o estádio Mané Garrincha é do governo federal (!!!!) A aula foi suspensa.

Acho que serei a primeira aluna da FGV a obter o direito de fazer curso presencial a distância. Bem melhor do que ficar ouvindo um professor de graduação vomitar asneiras num espaço que devia ser dedicado a análise dos fatos, e não à reprodução de desinformação.

Não aguentei. Foi punk."


Banco do Sul: outro legado de Chávez




Os chanceleres da Unasul, reunidos na semana que passou no Equador, decidiram pela implementação do Banco do Sul, com um capital inicial de 7 bilhões de dólares, ferramenta financeira destinada ao financiamento de projetos de integração da América do Sul.

Por Beto Almeida*, na Carta Maior

Trata-se de mais um dos grandes legados do presidente Hugo Chávez, falecido em 2013. Sem dúvida, o lado visionário de Chávez também se revela aqui nesta decisão, que vinha sendo procrastinada injustificadamente, inclusive pela relutância das autoridades financeiras do Brasil. Da mesma forma que até hoje, o governo brasileiro não tomou qualquer medida para vincular-se à Telesur oficialmente, favorecendo a integração informativo-cultura da América Latina, o que teria plena sintonia
com o discurso autocrítico feito por Lula em encontro com blogueiros, quando reconheceu muito pouco foi feito para a democratização da comunicação no Brasil.

O Banco do Sul, assim como a Unasul, nasceu graças a uma pregação incansável de Chávez, e agora já terá a companhia do Banco dos Brics, bem como de outras medidas adotadas pela Rússia, China e Iran para a desdolarização gradual da economia. O Banco do Sul é também uma grande bofetada nos EUA e, tal como o BNDES já vem fazendo, ao financiar a construção do Porto de Mariel, em Cuba, representará uma capacidade ampliada para a realização de projetos de infraestrutura que avancem na integração da América Latina, sempre sabotados pelos EUA.

Certamente, com mais esta ferramenta, surge clara a possibilidade de ampliar as operações sem o dólar - indispensável ante a crise e a instabilidade do capitalismo internacional - bem como o encorajamento para tirar do papel um conjunto de projetos integracionistas, a exemplo do que a Rússia, a China e o Iran já vem fazendo em matéria energética. Depois de Unasur, Telesur, Banco do Sul, agora pode estar chegando a vez do Gasoduto do Sul, tão sonhado pelo revolucionário Hugo Chávez.

Mas, para que isto se torne realidade, é preciso manter a unidade das forças progressistas, seja no Brasil, na Venezuela, na Argentina, Uruguai e Bolívia, seguindo o exemplo de uma persistência revolucionária incansável que nos legou Chávez, desde a audaciosa, meticulosa e arriscada construção de um movimento revolucionário bolivariano no interior das forças armadas venezuelanas. É este instrumento que hoje, materializado na unidade cívico-popular, mantém de pé a Revolução Bolivariana, capaz de impulsos construtivos como o Banco do Sul, de amplificar as energias da Revolução Cubana e de iluminar permanentemente os árduos caminhos da indispensável integração latino-americana.Como todo revolucionário, Chávez ultrapassa seu tempo físico e se mantém entre nós como criador, um construtor, um animador e um formador de consciências transformadoras.




*Beto Almeida é Membro do Diretório da Telesur
Fonte: Vermelho
Imagens: Google (colocadas por este blog)


quinta-feira, 22 de maio de 2014

A Bolsa Família e o estado de bem estar inglês





Por Maria Eduarda Johnston*

Quando visitei Londres pela primeira vez, fiquei impressionada com a riqueza da cidade. Trafalgar Square com seus leões imponentes, a National Gallery e seu acervo de sonhos, o British Museum e suas múmias, deuses gregos e outros muitos tesouros arqueológicos. O tamanho destes prédios, que abrigam algumas das melhores coleções do mundo, o palácio da rainha, os parques, eu poderia escrever parágrafos e mais parágrafos sobre as maravilhas de Londres. Na minha cabeça eu só pensava: que povo rico! Mas a história não foi sempre assim. O Império Britânico sem dúvida era muito rico, mas o povo… O que se vê nas ruas das grandes cidades da Inglaterra hoje é bem diferente do que se via antes da segunda guerra, com grande parte da população vivendo em condições precárias, ainda sem ter o privilégio de sonhar com os benefícios, que a revolução industrial havia trazido para os mais ricos da sociedade.

O que mudou com o pós-guerra foi a ampliação dos direitos econômicos e sociais, com princípios baseados em igualdade de oportunidades e distribuição de riqueza. O programa se deu em duas frentes: a da saúde e educação e a dos benefícios sociais.

O Sistema Nacional de Saúde (NHS em inglês) foi criado em 1948 e é motivo de orgulho dos britânicos. É óbvio que existem problemas com o sistema de saúde daqui. Volta e meia surgem escândalos de maus-tratos e má administração em hospitais públicos. Ainda assim, a maioria vê o NHS como uma instituição que define um modo de vida. Os comentários sobre a saúde nos Estados Unidos, onde quem não tem um plano de saúde está frito, vem sempre com um tom de desaprovação e pena.

Na Inglaterra existem as ‘Public Schools’ que eu achava que eram escolas públicas, mas são as particulares. Isso porque antigamente só existiam as escolas de igrejas, depois surgiram outras abertas ao público, que podia pagar. Daí o termo ‘public’.Mais tarde vieram as ‘state schools’, o que nós chamamos de escolas públicas. Como excelência é uma coisa que não existe, uma vez que sempre se pode melhorar, os jornais aqui reclamam que o resultado dos estudantes britânicos em testes internacionais como o PISA fica atrás de muitos outros países. Não sou nenhuma especialista no sistema educacional britânico, mas posso contar a minha experiência. Há anos trabalho como voluntária na escola da minha filha, ajudando a promover a leitura. Até hoje quando chego lá fico deslumbrada com a qualidade do ensino e com a disponibilidade de recursos didáticos. Num rasgo de autopiedade, fico com pena da menina que eu fui, quando comparo a minha escola particular em Belo Horizonte com a escola pública da minha filha. Educação aqui é coisa séria, que pode fazer ou derrubar um político.

Quem fica em casa cuidando de um membro da família doente (com algum tipo de necessidade especial) recebe um salário do governo. Até os 18 anos, tratamento dentário e medicamentos são de graça, benefício também dado às gestantes. Aliás, os medicamentos são subsidiados para todos, o bolsa remédio. O preço máximo de um medicamento é £7.85 (cerca de 30 reais). Se o remédio custa menos, o paciente paga o valor do remédio. Se custar mais, o governo paga a diferença. O médico escreve a receita e o paciente retira o medicamento em qualquer farmácia. Se o paciente não tem como ir sozinho até o hospital para um tratamento, o hospital tem que resolver o problema de transporte. Se não fala inglês direito, o hospital (e os tribunais também) tem que fornecer um intérprete. Os velhinhos recebem uma ‘bolsa quentinha’ todos os dias em casa (meals on wheels), a preços subsidiados, se eles têm como pagar. Se não, vai de graça mesmo. Eles têm também ‘bolsa energia’ – o ‘gas benefit’, uma ajuda de custo para pagar as contas de gás e eletricidade. O ‘bolsa tv’ é para eles não pagarem o imposto para ver televisão ( TV Licence). Aqui tem que se pagar para ver televisão, mesmo os canais abertos. O ‘bolsa transporte público’ é subsidiado para estudantes e idosos. Depois de dar a luz, a mãe e o bebê recebem várias visitas dos agentes de saúde, até eles acharem que a família não precisa de mais de ajuda. Cabe ao Estado fornecer moradia digna para seus cidadãos, uma espécie de ‘bolsa moradia’. Se não tem uma casa ou apartamento disponível, o sem teto vai para um hotel, pago pelo governo. Tem também o ‘child benefit’ (bolsa família), o seguro por doença ou invalidez e o seguro desemprego, só para lembrar alguns.

Todos esses benefícios custam dinheiro e são bancados com o que é arrecadado pelos impostos. O imposto de renda varia entre 20 e 45%, dependendo da faixa salarial ou de ganhos. Se contar com a contribuição do National Insurance, (previdência) o imposto pode chegar a 54% dos vencimentos.Tem também o Council Tax (tipo um IPTU), o VAT, que é o ICMS inglês ( cigarro e bebidas recebem uma sobretaxa). Não é barato, tem gente reclama que o dinheiro não é sempre bem gasto e que existem pessoas que tiram proveito do sistema. Mesmo assim nunca vi ninguém chamando esses benefícios de bolsa esmola ou dizendo que tem que se ensinar a pescar e não dar o peixe.

Volta e meia aparece nos jornais alguém que burlou o sistema. Os jornais sensacionalistas adoram essas histórias, que apesar de exibirem um absurdo, são exceções. Nestas matérias frequentemente se vê um sujeito jogando golfe, ou futebol, mesmo estando afastado do trabalho por problemas na coluna. Aliás, problema de coluna é um clássico dos que exploram o sistema. Não que muitos não sejam genuínos, mas provar ou negar que alguém tem dor nas costas é difícil.

Morar no centro de Londres é caríssimo. Entretanto o Westminster Council ,uma espécie de administração regional de Westminster, paga aluguéis altíssimos para que algumas famílias de baixa renda possam morar num dos bairros mais ricos do planeta. Os críticos do sistema dizem que não é justo eles bancarem (através de impostos) para que outros morem em áreas onde eles nem podem sonhar em poder pagar. Os defensores da ideia dizem que não se pode retirar essas famílias de lá, onde elas formaram laços sócio afetivos, não seria justo. Eles vão ainda mais longe: se os pobres forem tirados da região, Londres vai viver um ‘apartheid’ social. Um lugar onde só vivem os ricos e os pobres são segregados, levando assim os princípios de igualdade e oportunidades por água abaixo.

Ah, os britânicos e seus princípios. Logo que me mudei para Inglaterra, quando os ânimos pós 11 de setembro ainda estavam exaltados, se discutia muito a obrigatoriedade de um documento de identidade. Aqui ninguém é obrigado a ter e muito menos portar o RG. Eu, que nasci e cresci num país onde não se deve sair de casa sem a carteira de identidade, achei que eles estavam fazendo muito barulho por nada. O que é que tem andar com um documento no bolso? Foi então que eu li um artigo que nunca mais me esqueci. Dizia que se você colocar um sapo na água fervendo, antes que você perceber, ele já terá pulado fora. Mas, se você colocar o sapo numa panela com água tépida e ligar o fogo, quando ele se der conta, ele já terá virado sopa. Com os direitos sociais adquiridos é a mesma coisa: um dia é uma carteira de identidade, outro dia o sigilo bancário quebrado. Um dia se tira os pobres do centro de Londres, no outro, os princípios que regem o programa de bem-estar social perdem o sentido e o sistema entra em colapso.

Conversando com um jornalista amigo que mora em Paris, ele disse que gostaria que o filho tivesse mais contato com a família no Brasil e que a gente perde muito morando no exterior. Ele completou: mas eu não trocaria a educação humanista que meu filho recebe aqui na França por nada. Concordo em gênero, número e grau com ele. Uma educação humanista pressupõe que o indivíduo aprenda a considerar e valorizar o bem comum mais amplo e não só a sua necessidade pessoal e imediata. O ‘bolsa família’ inglês, como o ‘bolsa família’ brasileiro, precisa passar por ajustes. Pode ser mais eficiente e mais justo. Mas se você me perguntar qualquer dia da semana, eu vou dizer que muito melhor com ele do que sem ele.

*Maria Eduarda Johnston é uma brasileira que vive em Londres.


Fonte: Sul21
Imagem: Google (colocada por este blog)


quarta-feira, 21 de maio de 2014

Socorro Gomes denuncia imperialismo em entrevista na Argentina



Socorro Gomes, presidenta do Cebrapaz e do Conselho Mundial (CMP), deu entrevista ao jornal argentino Página/12, durante a sua participação na Reunião Continental Americana do CMP, em Buenos Aires, nos dias 13 e 14 de maio. Leia a seguir a íntegra da entrevista, publicada em 19 de maio.

Estados Unidos cercam o mundo com bases e frotas


Os Estados Unidos continuam sendo a maior ameaça à paz mundial, mas a América Latina conta com os instrumentos de integração necessários para fazer frente à sua hegemonia. Com esta ideia se apresentou Maria do Socorro Gomes Coelho, presidenta do Conselho Mundial da Paz (CMP), uma organização criada nos inícios da Guerra Fria.

“Depois da queda do Muro de Berlim, muitas coisas mudaram. Antes, havia dois polos de poder: o socialista, liderado pela União Soviética, e o capitalista, capitaneado pelos Estados Unidos. Mas ao se desintegrarem a União Soviética e o socialismo no leste da Europa, os EUA ficaram como a única força, unilateral e total, o que produz um desequilíbrio,” afirmou a política brasileira à Página/12.


De acordo com a explicação de Socorro Gomes Coelho, Washington aposta na militarização como estratégia para persuadir seus adversários, em conjunto com a União Europeia e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). “Os Estados Unidos cercam todos os continentes com bases militares, que hoje representam mais de mil, inclusive na América Latina. Mas, além disso, existem as frotas de guerra norte-americanas em todos os mares e oceanos. A Otan mudou sua concepção: já não serve apenas para o Atlântico Norte, mas opera em todo o mundo. Invadiu a Iugoslávia, Iraque, Líbia e ameaçou fazer o mesmo na Síria,” explicou.


“Os Estados Unidos falam de democracia e direito internacional, mas se servem da espionagem e espalham suas frotas de Marinha de guerra. Nem uma criança acredita mais nas falsidades morais desse país,” agregou Gomes Coelho, que também dirige o Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz).



O CMP realizou uma reunião nesta semana, em Buenos Aires, onde se debateram assuntos de alcance global e regional. Sua titular mostrou-se esperançosa ante as negociações de paz entre o governo colombiano e a guerrilha das Farc.


“A Colômbia vem sofrendo há muitas décadas e precisa de paz. Mas é certo que há um conflito, uma guerra civil. Então, é preciso saber o que foi que provocou esse conflito: uma estrutura agrária profundamente concentrada e a falta de liberdade para expressar divergências políticas,” explicou. Também recordou que o presidente Juan Manuel Santos foi ministro da Defesa durante o governo de Álvaro Uribe, acusado de ser pai do paramilitarismo colombiano. “Santos foi o responsável pela invasão do território equatoriano como ministro de Uribe. Homens como o ex-presidente fazem muito mal à Colômbia,” destacou.


Mas para Gomes Coelho, a América Latina está na dianteira quanto a sua oposição à guerra, “por isso é que os Estados Unidos estão desesperados, por não perder o seu quintal.” Além disso, asseverou que a chegada de Hugo Chávez ao poder, em 1998, rompeu com a tutelagem de Washington na região.


“Os latino-americanos viviam muito separados, não havia unidade. Hoje há uma identidade latino-americana, algo que devemos, em parte, a Chávez, que foi um chefe de Estado com muita coragem, que chamava as coisas por seus nomes. Os povos da América Latina uniram-se através da Unasul, do Mercosul, da Alba e da Celac, criando instrumentos próprios de integração, como a PetroCaribe e o Banco do Sul. A Organização de Estados Americanos (OEA), que é um assentamento dos Estados Unidos no continente, era o mecanismo usado pela Casa Branca para levar adiante seus planos na região,” disse.


Segundo a presidenta do CMP, a prepotência de Washington não tem freios e, como Chávez atreveu-se a desafiar abertamente o “império”, a Venezuela enfrenta atualmente uma campanha para derrubar o seu sucessor, o presidente Nicolás Maduro. “Os Estados Unidos preparam um golpe de Estado continuamente na Venezuela, com sabotagem econômica, com mercenários, gerando caos e usando uma ferramenta muito importante, que são os grandes meios de comunicação,” advertiu. Uma estratégia que replicam em outras partes do mundo.


“São justamente os EUA que salientam as disputas étnicas e tribais na África, na Líbia e na Síria, com os distintos grupos religiosos. Por isso, fomenta essas disputas, para criar caos e divisão. Tudo isso, para servir a sua hegemonia comercial e política,” insistiu.


Gomes Coelho, que foi secretária de Justiça e Direitos Humanos do estado do Pará, referiu-se também à situação em seu país e aos protestos em torno da organização do Mundial de futebol. “É certo que foi preciso muito gasto, mas a infraestrutura permanecerá. A oposição quer usar o Mundial para criar descontentamento e dizer que ninguém quer a Copa, justo no país do futebol. É um falso debate,” sustentou.


Tampouco duvidou da aliança entre a oposição e os meios de comunicação mais influentes do Brasil para impedir a reeleição da presidenta Dilma Rousseff, em outubro, um plano que – assegurou – começou com as manifestações contra o aumento do preço dos transportes públicos. “O povo saiu às ruas para demonstrar seu descontentamento, algo legítimo e necessário em uma democracia. O que ocorreu foi que a direita e os grandes meios potencializaram esse conflito dos transportes para criar caos. O povo não queria a saída do governo, mas que este resolvesse seus problemas,” argumentou.


Entretanto, a diretora do Cebrapaz estimou que Rousseff obterá um segundo mandato, ainda que reconhecesse o custo que pode significar para o Partido dos Trabalhadores (PT) ter alianças com distintos setores em busca de um triunfo eleitoral. “Lula postulou-se quatro vezes e foi derrotado três, sempre com uma coalizão mais à esquerda. Na quarta vez, apresentou-se com uma aliança mais ampla e aí entraram o centro e a centro-direita. Isso garantiu a vitória, não com um projeto como queríamos. O Estado e suas instituições são conservadoras. Avançamos muito, mas não tanto como deveríamos, por causa dessas alianças,” afirmou. “É algo contraditório porque, sem elas, não teríamos chego até aqui,” agregou.


Por essa razão, considerou que é tempo de promover uma reforma do sistema político, para que os partidos não se vejam obrigados a formar coalizões com outras forças que possam obstruir um processo de mudança. “Avaliamos sempre a reforma do sistema político, o que é uma verdadeira luta. Para convocar uma Constituinte é necessário convocar o povo. E veremos quem ganha nesse jogo. A maioria no Congresso não é da Dilma. O PMDB – Partido do Movimento Democrático Brasileiro, ao que pertence o vice-presidente do país, Michel Temer – tem parte da sua bancada na oposição. É um partido contraditório,” avaliou.




Eduardo Campos e Aécio Neves
Por último, referiu-se aos rivais de Dilma Rousseff, que não têm – no seu entender – força política para chegar à presidência. “Eduardo Campos, governador de Pernambuco e do Partido Socialista, está próximo ao Partido da Social-Democracia Brasileira (PSDB), a Aécio Neves, porque não se atacam entre si. Os dois têm um único objetivo: tirar a Dilma do governo. Mas Aécio não tem carisma, não tem força. Uma coisa é Aécio e outra é Tancredo,” em referência ao ex-presidente, avô do atual candidato, brincou.


Marina Silva
Além disso, falou de Marina Silva, companheira de chapa de Campos, que foi funcionária do governo de Lula. “Não foi uma boa ministra do Meio Ambiente para o Brasil. Ela foi boa para as ONGs, para a União Europeia e para os Estados Unidos,” concluiu.






Entrevista: Patricio Porta
Foto: Adrián Pérez
Fonte: Página/12
Tradução de Moara Crivelente
Retirado do site CEBRAPAZ



domingo, 11 de maio de 2014

Fernando Lugo diz que novos golpes na América Latina virão da mídia e de grandes empresas




Por Vanessa Martina Silva, do Opera Mundi

“Possivelmente, os novos golpes na América Latina não vão sair dos quartéis militares, mas das multinacionais e dos meios de comunicação.” A opinião é de Fernando Lugo, senador paraguaio e presidente deposto por um golpe parlamentar em junho de 2012.

Em evento organizado na Grande São Paulo nesta sexta-feira (09/05) para discutir o processo histórico e político que permeou golpes militares no cone sul e o funcionamento da Operação Condor no contexto das ditaduras, o político paraguaio afirma que o manual da derrubada de governos democráticos hoje é outro: tem traços muito mais civis do que essencialmente militares.

“Os processos políticos na Bolívia, na Venezuela e no Equador indicam a superação neoliberal, mas temos o desafio de evitar o que ocorreu de maneira grosseira em Honduras”, disse referindo-se ao golpe de junho de 2009 que acabou derrubando o presidente Manuel Zelaya.


“No Paraguai, quem ganhou com o golpe? Os plantadores de soja, o agronegócio. No país, há uma classe que sempre teve os grandes negócios do Estado e tem medo de perder seus privilégios. Mas o povo originário, os camponeses continuam sem terras. Somente nesta transição morreram 138 camponeses no Paraguai”, afirmou, ao citar a multinacional Monsanto como responsável por financiar o golpe paraguaio.

Internacionalização da direita

O teatro projetado pelo arquiteto modernista Rino Levi, na Praça do 4º Centenário em Santo André, ficou lotado de jovens nesta sexta-feira (09/05), em sua maioria universitários, interessados em conhecer melhor o histórico de derrubada de governos democráticos no continente e a cooperação do aparelho de repressão de Brasil, Argentina, Uruguai, Chile e Paraguai via Operação Condor.

O evento “Ditaduras no Cone Sul 50 anos Depois”, realizado pelas prefeituras de Santo André e São Bernardo do Campo, teve início ontem e seguirá até domingo (11/05) abordando temas como a integração das Forças Armadas no contexto da Operação Condor; Copa do Mundo e os governos ditatoriais; o papel dos Estados Unidos nos golpes militares na região; repressão a artistas e manifestações culturais; a censura da mídia e o papel da Igreja Católica no período. A transmissão pode ser acompanhada ao vivo aqui.

A partir das discussões, será criado o Observatório da Democratização no Cone Sul. As exposições do seminário internacional deverão se tornar um livro com 200 páginas, que será entregue aos participantes e a escolas da região.

Além de Fernando Lugo, o painel de ontem debateu a “Luta de Resistência e a Democratização dos Países do Cone Sul” e teve entre seus expositores o filho do ex-presidente João Goulart, João Vicente Goulart, o sobrinho do ex-presidente chileno Salvador Allende, Andre Pascal Allende, e a ex-guerrilheira do Araguaia Crimeia de Almeida.

“O objetivo do Plano Condor foi impedir toda mudança social e democrática na América do Sul e liquidar todos os movimentos progressistas em nossas mãos”, afirmou Lugo após fazer um apanhado histórico das ditaduras na região e particularmente no Paraguai, onde o ditador Alfredo Stroessner governou de 1954 a 1989, perseguindo os movimentos de resistência no país e dando as bases para o desenvolvimento de um Estado neoliberal.

Ao mesmo tempo em que hoje há um movimento favorável à integração sul-americana com a criação da Unasul (União das Nações Sul-Americanas), do Banco do Sul e do fortalecimento do Mercosul, há, na opinião do ex-presidente, uma “internacionalização da direita e da extrema direita” no subcontinente e “o desafio dos governos progressistas é conter as forças fascistas que estão se alinhando”.

Verdadeira democratização

Com sete meses de gravidez, Criméia de Almeida foi sequestrada e torturada por altos comandantes do Exército brasileiro por ter participado da Guerrilha do Araguaia entre 1968 e 1972. Ao sair da prisão, após nunca ter sido julgada, iniciou uma luta pela anistia ampla, geral e irrestrita e pelo direito de conhecer o que aconteceu com as 475 pessoas que morreram ou desapareceram durante a ditadura militar.


Mas, apesar da sentença proferida pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos, que em 2010 determinou que não existe autoanistia, que os militares não estão isentos das mortes e desaparecimentos no país e que os responsáveis devem ser julgados e punidos, nada foi feito no Brasil. Na avaliação de Criméia, apesar de a instauração da Comissão da Verdade no país ser um avanço, ela caminha lentamente e com pouca transparência.

Andrés Pascal Allende, sobrinho do ex-presidente Salvador Allende completou o balanço da herança da ditadura nos tempos atuais ao mencionar que no Chile, a Constituição vigente é a que foi feita pelo ditador Augusto Pinochet e questionou: “o que está sendo feito para impedir que ocorram novos golpes na América do Sul?”.

“Na verdade, as escolas militares seguem ensinando as mesmas doutrinas de 30 anos atrás. No Chile, os militares são obrigados a estudar a tese de geopolítica de Pinochet, então que mudanças tivemos nas Forças Armadas?” Em sua visão, a região ainda corre o risco de vivenciar situações similares à dos anos 1960-70, “basta ver o manual que está sendo implementado na Venezuela com as agitações nas ruas e o que ocorreu com o Paraguai”, afirmou.


Diante deste quadro, se as Forças Armadas “não abrirem as portas para a participação cidadã, não eliminar seu caráter classista e não reduzir os gastos com defesa, estaremos diante do perigo de novos golpes militares na América Latina”. Allende conclui que para fazer estas mudanças no interior das Forças Armadas, “não podemos estar sozinhos, por isso é fundamental que tenhamos unidade entre os latino-americanos”.



Fonte: Sul21
Imagens: Google


sábado, 10 de maio de 2014

Lei torna sigilosa a investigação de acidentes aéreos no país




A polícia e o Ministério Público só terão acesso à caixa-preta mediante decisão judicial

Lei sancionada ontem pela presidente Dilma torna sigilosa a investigação feita pela Aeronáutica de acidentes aéreos no Brasil.

A partir de agora, por exemplo, a polícia e o Ministério Público, ao apurar um acidente aéreo, só terão acesso à caixa-preta de um avião —com as conversas da tripulação na cabine—mediante decisão judicial.

Ainda assim, a lei estabelece duas condições para liberar os dados: que o Cenipa, órgão da Aeronáutica responsável pela apuração de acidentes aéreos, seja consultado antes; e que essas informações sejam protegidas por segredo de Justiça, de modo a evitar a divulgação.

Elaborada pelo próprio Cenipa, o projeto de lei, de 2007, havia sido aprovado neste ano pelo Congresso.

 A intenção é blindar detalhes da investigação para que não sejam usados por polícia ou Ministério Público em inquéritos ou ações criminais contra suspeitos de causar determinado acidente aéreo.

Isso porque o interesse da investigação de um acidente aéreo conduzida pelo Cenipa é achar falhas que previnam novos desastres, e não procurar culpados, diz o órgão.

Pela lei, o depoimento de alguém que tenha participado de um acidente não poderá ser usado no tribunal. Sem esse sigilo, entende o Cenipa, o colaborador pode se sentir ameaçado e não ajudar.

Aconteceu, por exemplo, na colisão entre o jato Legacy e o Boeing da Gol, em 2006, no qual 154 pessoas morreram. Na ocasião, controladores se recusaram a auxiliar a investigação por medo de punição.

O texto também proíbe que análises e conclusões do Cenipa sobre um acidente sejam utilizados como prova em inquéritos ou processos. Mas o órgão pode, a pedido da autoridade policial, ceder um técnico para ajudar.

Não punir

A determinação de prevenir, em vez de punir, está em convenção da Organização Internacional de Aviação Civil, assinada pelo Brasil.
Fernando Camargo

"O que nos queremos é que a investigação, feita com objetivo de prevenção de acidentes, não seja utilizada para outros propósitos", diz o coronel aviador Fernando Camargo, do Cenipa.



Mário Sarrubbo
Mário Sarrubbo, procurador do Ministério Público Estadual, afirma que a lei dificulta a investigação da responsabilidade criminal. "Quando se afasta a sociedade, perde-se um pouco de transparência", diz ele, que acompanhou apuração de acidentes na década de 1990.

Anderson Vagner

Já o procurador federal Anderson Vagner disse que a lei é positiva por estar alinhada às recomendações internacionais a respeito.





Fonte: JCNET
Imagem: Google



Software livre, Marco Civil da Internet e neutralidade de rede





Software livre, Marco Civil da Internet, neutralidade de rede: um papo com Ricardo Fritsch

Ricardo Fritsch é coordenador geral da Associação Software Livre.Org e organizador do Fórum Internacional de Software Livre  
Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21


Por Roberta Fofonka

Ricardo Fritsch é coordenador geral da Associação Software Livre.Org, um dos organizadores do Fórum Internacional de Software Livre, que encerra neste sábado (10), em Porto Alegre. Ativista da cultura livre, em entrevista ao Sul21, ele se propôs a esclarecer alguns pontos para um maior entendimento sobre software livre, Marco Civil da Internet e neutralidade de rede. Promulgado no último dia 23 de abril, o Marco Civil é lei, e estabelece regras para “garantir privacidade, segurança e liberdade para o cidadão” na internet. Por que é importante o seu entendimento? Por que esta lei assegura os princípios básicos, sobretudo em termos de liberdade de expressão e acesso na web, aspectos severamente ameaçados de extinção pelas operadoras de telefonia brasileiras em pleno século XXI.


Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Sul21 – Para quem está acostumado a usar os softwares privados, que são automaticamente apresentados para uso, como o software livre pode entrar neste contexto?
Fritsch - Atualmente a gente tem a possibilidade de comprar computadores com um sistema operacional. É um conjunto de instruções que faz com que a máquina funciona e sirva para as funções na qual ela foi desenhada. Nós temos sistemas operacionais proprietários e sistemas operacionais livres. Livres são os Linux, que são vários servidores que customizam para atender a uma determinada necessidade. Uma das grandes vantagens de adquirir computadores com estes sistemas, uma coisa é o preço. Só para ilustrar, em um computador de dois mil reais, duzentos reais são do “nefasto” lá dentro, o software proprietário. O software livre é aquele que tem o seu código fonte publicado, aberto. Seria como vender o bolo e a receita junto.

Sul21 - E desta forma o programa é aprimorado sem fronteiras, então.
Fritsch – Sim, o usuário fica livre para fazer as modificações que ele desejar. Bem diferente do software proprietário, que é uma caixa preta em que o usuário pode apenas fazer uma coisa: usar. E o pior, usar por algum tempo. Se tu comprares um computador com Windows, o Windows não é teu. Tu apenas tens um direito de uso por um determinado tempo. Isso começou por causa do modo capitalista, em algum momento alguém decidiu separar os softwares em caixinhas e vender. No início, todos os softwares tinham o seu código publicado.


Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Na parte de computadores pessoais e notebooks, por exemplo, o Windows é o sistema operacional dominante. No entanto, nos smartphones e nos tablets, o Windows fica na lanterna. O Android, é totalmente baseado em Linux. Está rodando ali um Linux adaptado para um telefone celular. E a riqueza disso é que o Andoid é usado por dezenas de fornecedores de celulares e de tablets. Porque o pessoal pega aquele miolo e faz os ajustes necessários para que aquele tipo de equipamento funcione melhor. Eles fazem customização conforme as características do modelo, e o software livre permite que o fabricante possa alterar o código, preservando a sua natureza.

Sul21 – O software proprietário portanto tranca a inovação?
Fritsch - Softwares proprietários sem dúvida alguma bloqueiam a inovação. No sentido de que a informação fica centrada em apenas um fornecedor. E a gente sabe que a inovação na história da humanidade foi sendo feita por que as pessoas foram construindo muito em cima de conhecimento que outras pessoas descobriram. Inovação é sempre isso. Usar de um conjunto de conhecimentos agregando um ou dois para conseguir um terceiro conhecimento. E o bom é que ninguém perde com isso, todo mundo ganha.
Na área gráfica, por exemplo, toda a empresa que compra uma licença de Photoshop que seja está botando dinheiro fora. O nosso evento aqui tem toda a parte de folheteria, site e material gráfico, em que nós usamos, em todos, softwares livres para fazer. E esse negócio de licença tem muito esta coisa de obsolescência programada. Aí o consumidor fica sujeito a isso. O consumidor tinha que comprar as coisas que ele precisa e deseja, e não as coisas que lhe são impostas.

Sul21 – E em termos de Marco Civil da Internet, o quanto a gente precisa aprender com este período de implantação?
Fritsch - O Marco Civil começou a ser construído aqui, na 10ª edição do evento. Estava aqui o então presidente Lula, a atual presidente Dilma Rousseff, como chefe da Casa Civil, o (atual governador) Tarso Genro, como Ministro da Justiça. Foi no 10º FISL que a sociedade civil organizada convenceu o governo de que era importante ter um conjunto de regras que governos, empresas, provedores e operadoras, tivessem para garantir privacidade, segurança e liberdade para o cidadão. Essa compreensão foi fundamental. E aí o governo topou, desde que nós propuséssemos alguma coisa. Evidentemente, sob articulação do Ministério da Justiça, nós escrevemos todas aqueles artigos que tem no Marco Civil. Foi organizada uma versão beta e disponibilizada na rede, onde as pessoas puderam colocar críticas e melhorias. Depois, ficou três anos rodando pelo Congresso, sofrendo todo tipo de lobby e coisas assim.


Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Sul21 – Como tu avalias a participação do governo, com iniciativas como Gabinete Digital e Participa.BR?
Fritsch - Eu vejo estas iniciativas com bastante otimismo. Primeiro, que como cidadão eu vejo que é uma forma de eu influenciar e dialogar com o governo. De outro lado, eu vejo que todas estas iniciativas de governo são feitas com software livre. O Participa.BR utiliza o Noosfero, que é uma rede social de código livre que foi produzida originalmente por uma cooperativa de desenvolvimento de software livre lá da Bahia, a Coolivre. E nós da Associação Software Livre apoiamos e apostamos bastante nesta iniciativa, e inclusive utilizamos. O site do FISL é um exemplo, é feito com esta plataforma.
A gente está vendo que os governos, para se aproximar da sociedade, têm aberto mais canais de participação. Em relação ao Marco Civil, houve uma coisa muito engraçada. Depois de aprovado pela Câmara, o Senado lançou uma pesquisa, em que de forma extremamente surpreendente, os respondentes apontavam que gostariam que não houvesse a neutralidade na rede. Aí fizemos o questionamento todo e fomos ver: aquela pesquisa não estava sendo feita em software livre. Então, ela não era transparente. Por que o legal do software livre em relação a estas pesquisas é que, se eu vou responder, eu quero saber se o meu voto realmente está sendo computado da maneira certa. E só tem um jeito de fazer isso, que é utilizando um software que seja transparente. E o software livre é o único tipo de software assim. As caixas-pretas (softwares proprietários) não são transparentes. E tem ainda o movimento de dados abertos, que é a divulgação de dados do governo para a população, o que é um passo muito importante.

Sul21 – Falando em neutralidade de rede, por que é importante que as pessoas tenham conhecimento disso?
Fritsch - Bem, a lei do Marco Civil tem 25 artigos. Aquele que foi o mais discutido foi este sobre a neutralidade. Todas as questões de liberdade de expressão, privacidade, uso de padrões abertos e softwares livres não chegaram a ter grandes destaque. Mas isso aconteceu devido ao lobby muito grande das operadoras de telefonia que não desejam a neutralidade da rede. A neutralidade de rede estabelece o seguinte: qualquer pacote de dados, seja ele de filmes, uma música, um e-mail, um vídeo, uma mensagem instantânea, têm que trafegar com a mesma velocidade. Com a quebra da neutralidade de rede, que era o que as empresas de telefonia queriam, só aquelas marcas com quem elas tivessem feito algum acordo comercial poderiam trafegar numa velocidade melhor. Os demais, teriam que trafegar de forma mais lenta. Ou talvez nem pudessem trafegar. Isso seria uma coisa muito terrível para a liberdade dos cidadãos. Hoje nós temos a liberdade de acessar qualquer site, a qualquer hora, e nós temos a certeza de que ele vai responder na velocidade que o servidor do outro lado tem. E não na velocidade que o provedor de acesso desejasse colocar. Foi extremamente surreal, mas a sociedade ganhou.



Fonte: Sul21
Imagens: Sul21, Google 



terça-feira, 6 de maio de 2014

Odessa: O massacre que a imprensa “não viu”



Por Natalia Forcat para Oriente Mídia

“Poder e mídia não são apenas relações amigáveis entre jornalistas e líderes políticos, entre editores e presidentes. Não são apenas sobre as relações parasitárias e de osmose entre repórteres supostamente honrados e o eixo do poder que existe entre a Casa Branca, o Departamento de Estado e o Pentágono, a Downing Street e os ministérios das Relações Exteriores e da Defesa [britânicos]. No contexto Ocidental, a relação entre poder e mídia diz respeito a palavras — é sobre o uso de palavras. É sobre semântica. É sobre o emprego de frases e suas origens. E é sobre o mau uso da História e sobre nossa ignorância da História. Mais e mais, hoje em dia, nós jornalistas nos tornamos prisioneiros da linguagem do poder.”

Robert Fisk

O jornalismo e as palavras do poder



Depois de enfrentamentos, iniciados após uma partida de futebol, grupos favoráveis ao governo golpista de Kiev cercaram dezenas de manifestantes contrários, que tinham se refugiado no prédio da Central Sindical, e provocaram um incêndio criminoso usando coquetéis molotov. Os extremistas impediram a saída das pessoas -espancando as que tentavam fugir- enquanto incendiavam as dependências do sindicato como pode ser visto nos videos divulgados na internet pelos próprios autores da chacina. O resultado foi de 46 pessoas assassinadas, muitas das quais morreram sufocadas pela fumaça, outras queimadas e ainda houve as que se atiraram ao vazio tentando fugir das chamas. Isto constitui, sem sombras de dúvidas, um massacre. No entanto a mídia ocidental, que atua como um mero canal de propaganda de EUA e da OTAN, sempre pronta para divulgar justificativas para guerras e intervenções “humanitárias”, não viu este massacre.

Com a clara intenção de diminuir o impacto do acontecimento, entrou em cena a “linguagem do poder”, então em vez de ficarmos sabendo que 46 pessoas foram cercadas e queimadas vivas, foram usados artifícios como “enfrentamentos deixam 46 mortos”, ou ainda “incêndio causa mortes”, sem entrar em detalhes e ocultando ou camuflando a autoria do incêndio e tomando especial cuidado para não personificar as vítimas.

Normalmente, quando a imprensa quer nos comover com algum massacre ou com alguma tragédia natural da qual pretenda obter algum lucro político, as vítimas são humanizadas: elas tem nome e uma história, os planos truncados da vítima são apresentados detalhadamente para gerar empatia no público. Mas, em Odessa, a imprensa transformou todas as vítimas em anônimos, pessoas sem rosto, sem nome e sem história. Ninguém sabe no Ocidente, pelo menos não pela imprensa corporativa, que o poeta ucraniano Vadim Negaturov morreu ao pular do prédio da sede sindical em chamas. Ninguém sabe se ele tinha filhos, ou se ele tinha sonhos. Também não seremos informados se ficou algum poema inacabado.

O poeta Vadim Negaturov (em cirílico: ВАДИМ НЕГАТУРОВ) 
conhecido popularmente como “Katyn”.

No artigo de Neil Clark, traduzido e publicado pelo Oriente Mídia, o autor questiona “por que o uso da força por parte das autoridades contra os manifestantes era completamente inaceitável ​​em janeiro, mas é aceitável agora?”, Clark disse estar confuso com estas “contradições”. Nós, também estamos. Por esse motivo consideramos que é imprescindível analisar como a mídia corporativa está escolhendo as palavras para mascarar o massacre. Não fizemos um levantamento sobre como a mídia brasileira veiculou a notícia, mas traduzimos dois artigos com dados importantes sobre como vários grandes veículos de imprensa internacional noticiaram o massacre de Odessa.



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Mídia Ocidental evita mostrar quem foram os autores do incêndio em Odessa

Fonte: RT

Apesar que as evidências confirmam que foram os manifestantes partidários do Governo de Kiev os autores do incêndio fatal em Odessa, a mídia ocidental continua divulgando informações ambíguas.

O Pravy Sector provocou intencionalmente o incêndio que aconteceu no final da tarde de sexta-feira na Central Sindical, na cidade portuária de Odessa, em que 46 pessoas morreram e mais de 200 ficaram feridas.

Os principais meios de comunicação ocidentais foram, no entanto, muito cuidadosos ao informar sobre a tragédia e tentaram evitar culpar diretamente os reais autores do incêndio mortal.

A cobertura de eventos dependia, quase exclusivamente, de declarações feitas pelo Governo de Kiev, que culpou pela violência os ativistas em favor da autonomia da região, bem como testemunhos dados por membros do grupo ultra nacionalista Pravy Sector. Com base nesta informação, o público poderia interpretar que o prédio pegou fogo sozinho, sugerem alguns jornalistas.

“Em algum momento, ainda não está claro como tudo isso começou exatamente, havia aqui protestos pró-ucranianos e pró-russos. Aconteceram enfrentamentos nas ruas que culminaram, ontem à noite, em um grande incêndio em um edifício”, disse Sky News.

Enquanto isso, a Fox News informou que “o confronto entre manifestantes nacionalistas e anti Kiev causou um incêndio que matou pelo menos 31 pessoas”, sem especificar exatamente como os eventos aconteceram ou como o incêndio começou.

No entanto, a retransmissão ao vivo, desde o local do acontecimento, mostrou claramente como os radicais pró governo de Kiev atiravam coquetéis molotov contra a Central Sindical, onde ativistas “anti Maidan” ficaram presos por horas.

O jornal The Washington Post perguntou à ativista Kiev Diana Berg quem estava por trás do lançamento de coquetéis molotov e ela admitiu que era “nossa gente”.

Quando a tragédia aconteceu, o site da BBC simplesmente citou o escritório regional do Ministério de Interior da Ucrânia. “… não deu detalhes sobre como o fogo começou” disse o portal. “A sequência exata dos eventos ainda não está clara”, acrescentou.

Este tipo de cobertura é consistente com a forma como vêem a situação as autoridades norte-americanas e europeias, afirma o corresponsal de RT, Gayane Chichakyan. Eles têm se posicionado claramente com as autoridades de Kiev e estão dispostos a justificar e defender qualquer ação tomada por Kiev contra os manifestantes, acrescenta.

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Mídia hispana também esconde autores do incêndio

Com informações publicadas no site de notícias argentino Indymedia

As manchetes publicadas na mídia hispana sobre incêndio em Odesa 
evitam mencionar os autores ou dizer quem foram as vítimas. Isso
 pode ter passado despercebido por muitos, mas outros perguntam indignados: “O que estão tentando nos vender?”

As imagens da transmissão ao vivo a partir de Odessa e o depoimento de testemunhas e ativistas que apoiam o governo autoproclamado de Kiev confirmavam que o incêndio na Casa dos Sindicatos, na cidade portuária de Odessa, em que dezenas de pessoas morreram foi causado por manifestantes favoráveis à nova administração.

No entanto, grande parte da imprensa espanhola (e especialmente a mídia dominante) evitou mencionar em suas manchetes quem estava por trás do ataque e quem foram as vítimas, mesmo sabendo isso. Embora a autoria dos crimes e quem são as vítimas não apareça nas manchetes ou nos primeiros parágrafos de inúmeros artigos, o fato é comentado mais tarde no texto como algo que estaria “sendo verificado”, mas sem dar a importância em geral, e descumprindo os padrões jornalísticos básicos.

Esta forma de apresentar as informações, muitas vezes ignora completamente a clássica fórmula de ouro jornalismo conhecido como o ” Cinco W ‘ (e um H), referindo-se às seis perguntas que todas as notícias corretamente escritas deveria responder, se as respostas são conhecidas: what, who, how, when, where e why? (o quê, quem, como, onde, quando e por quê?)

Jornal El País (Espanha)

Captura de tela de www.internacional.elpais.com

O início do artigo no site do El Pais, o jornal de maior circulação na Espanha, fala que um surto de violência “arrasou um edifício em Odessa”, deixando 36 mortos.

Apenas no segundo parágrafo da história, como se não fosse algo particularmente importante como para encabeçar a “pirâmide invertida” (estrutura de informação clássica em que os dados mais significativo são colocados no início do texto) afirma que efetivamente eram “partidários de Kiev”, que “colocaram fogo” na Casa dos Sindicatos.
(…)

ABC

Captura de tela de www.abc.es

Neste outro artigo de ‘ABC’, o leitor só conhece várias versões do que pode ter ocorrido durante a leitura do terceiro e quarto parágrafo.

Em primeiro lugar é sugerido, citando um portal ucraniano, que os manifestantes anti Kiev lançaram, desde o terraço da Casa dos Sindicatos, as garrafas de gasolina que causaram o incêndio no mesmo prédio onde eles estavam. Depois, inclui a versão do Kremlin, que responsabilizou as autoridades ucranianas pela tragédia.


Infobae

Captura de tela de www.infobae.com

“Trinta e oito pessoas morreram, nesta sexta-feira no incêndio de um edifício em Odessa (sul da Ucrânia), após confrontos entre partidários do governo e ativistas pró-russos de Kiev”, publicado no site Infobae, o último 2 de maio, citando apenas o Ministério de Interior Ucraniano e sem mencionar quem foram mortos ou quem acendeu o fogo no prédio.

CNN



No portal da CNN, a morte dessas 46 pessoas não pareceu importante o suficiente como para dedicar um artigo inteiro. De fato, apenas duas frases, perto do final das informações sobre a libertação dos observadores militares da OSCE, dão evidência desta tragédia e de maneira superficial.


“Na cidade portuária de Odessa, no sul, os confrontos no prédio de um sindicato provocaram um incêndio que matou 46, de acordo com um porta-voz das autoridades locais”, foi relatado.


Fonte: Oriente Mídia


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