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terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Escalada fascista na Ucrânia





A situação na Ucrânia configura a crise politica e social mais grave ocorrida no Continente Europeu desde a guerra de agressão contra a Iugoslávia.


Uma aparente dualidade de poderes oculta um real vazio de poder.


Oleksandr Turtchinov
A Rada (Camara de deputados) pretende controlar a situação. Oleksandr Turtchinov, do Partido Pátria, de Júlia Timoshenko, assumiu interinamente a presidência do país. Esse órgão legislativo destituiu o presidente Yanukovitch, restabeleceu a Constituição de 2004 e marcou eleições presidenciais para 25 de Maio.


A Ucrânia está à beira da bancarrota e muita água correrá pelo Dnieper até essa data.

Na prática os grupos extremistas da Praça Maidan que recusaram o Acordo firmado por Yanukovitch, pelos ministros dos Negócios Estrangeiros de países da União Europeia e pela oposição da Rada, forçaram o presidente (cujo comportamento foi indecoroso) a fugir para Kharkov, e emergem como poder real na caótica situação criada na Ucrânia Ocidental.

Yúlia Timoshenko

Yúlia Timoshenko, vinda do hospital onde se encontrava em Kharkov sob prisão, compareceu na Praça numa cadeira de rodas e pronunciou ali em tom patético um discurso populista, carregado de ameaças. Mas não despertou o entusiasmo que esperava. Ela e o seu partido Pátria mantiveram ligações íntimas com a oligarquia corrupta que dominava o país.


Bem organizados, os grupos extremistas da Praça Maiden continuam a atuar como poder real. Um deputado do Partido das Regiões, de Yanukovitch, que afirmara a sua indisponibilidade para participar num governo de coligação, foi retirado da Rada e levado para a Praça algemado, com um cartaz onde se lia a palavra «Traidor!».

Na Rada a língua russa foi proibida e os canais de televisão que transmitiam também em russo passaram a emitir somente em ucraniano. Uma deputada do partido de extrema-direita Svoboda sugeriu num discurso impregnado de ódio que todos os russos da Ucrânia (mais de 20 milhões) sejam expulsos.

O líder de outro partido ultra nacionalista, neo fascista, pediu a expulsão dos «comunistas, dos judeus e da escumalha russa».


Oleg Lyashko
O deputado do Partido Radical Oleg Lyashko exigiu a execução publica de Yanukovitch.
Em Lvov, no Noroeste do país (província de maioria católica que era polaca em 1939), a perseguição aos comunistas é frenética, feroz.


Uma vaga de anticomunismo selvagem varre grande parte da Ucrânia. Na capital e nas cidades da Ucrânia Ocidental, organizações de extrema-direita praticam crimes abjetos, perante a passividade do exército e das polícias. Desde o III Reich nazi que não acontecia algo comparável na Europa. O fascismo exibe na Ucrânia, com arrogância desafiadora, a sua face hedionda.



Fonte: Pravda
Imagens: Google




sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

GEORGE SOROS SE UNE A MUJICA NA LEGALIZAÇÃO DA MACONHA



A Open Society Foundation, liderada pelo bilionário George Soros, informou que irá financiar US$ 500 mil para ONGs (organizações não-governamentais) e universidades do Uruguai que estudam o impacto da legalização do consumo de maconha no país

O bilionário George Soros acaba de entrar para o clube dos que discutem a legalização da maconha. 

Pedro Abramovay
"Nossa doação busca em apoiar esforços independentes de monitoramento e avaliação para construir a melhor evidência possível sobre o impacto da implementação da lei", disse o diretor regional da fundação no Brasil, Pedro Abramovay.

A ideia surgiu em setembro, quando o presidente José Mujica e o bilionário se reuniram durante a Assembleia Geral da ONU, em Nova York. Desde então, diversos grupos políticos e sociais uruguaios protestam sobre o assunto. George Soros ofereceu a Mujica toda a ajuda possível para que o processo iniciado no Uruguai possa avançar com maior facilidade.

"Esta pesquisa será similar às enquetes feitas em últimos anos pela Junta Nacional de Drogas", acrescentou. "Acreditamos, dada a nova situação de legalidade, que esta próxima (pesquisa) nos dará um relatório mais fiel sobre o uso atual da maconha", afirmou Abramovay.

O diretor ainda afirmou que, na área da educação, está apoiando a criação de um novo diploma na Universidade da República, que será uma capacitação especializada e profissional em política de drogas e uma carreira especializada em políticas de drogas que fará parte do novo Mestrado em Políticas Públicas da Universidad Católica.


Fonte: 247

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

A Venezuela é atacada novamente




Única carta na manga da oposição é esperar que a Venezuela seja invadida por marines norte-americanos

Por María Páez Victor*

Novamente, um ataque altamente organizado está sendo levado adiante contra o governo popular e democrático da Venezuela. Envolveu manipulações monetárias, sabotagem econômica, uma campanha midiática internacional contra a economia, apesar dos excelentes indicadores econômicos, a difamação da companhia petroleira estatal e, nessa última semana, manifestações nas ruas que deixaram 3 mortos e 66 feridos.

As táticas são as mesmas que a oposição antidemocrática tem usado por 15 anos, desde a primeira eleição do presidente Hugo Chávez. Tais táticas foram usadas nas chamadas Revoluções Coloridas no leste europeu, na Líbia, na Síria, no Egito e agora na Ucrânia. O objetivo é dar uma aparência de caos, provocar as forças da ordem pública, desacreditar o governo por meio de uma mídia internacional complacente, fomentar a agitação civil e, até, a guerra civil (como aconteceu com sucesso na Síria), e, finalmente, promover as condições para uma intervenção ou mesmo ocupação internacional.

No entanto, a Venezuela não está no Oriente Médio ou no Oriente Próximo e seu governo é uma democracia participativa que tem uma maioria muito forte, o suporte de todas as instituições-chave do Estado de Direito, e o apoio de seus vizinhos regionais. Além disso, a população é ligada a muitas associações comunitárias organizadas; não é uma massa amorfa.

As apostas estão altas porque o país tem a maior reserva conhecida de petróleo, situada a poucos passos de Washington.

A oposição acredita que, na ausência de Hugo Chávez, Nicolás Maduro é presa fácil.  Eles subestimam enormemente o homem cuja popularidade tem aumentado dentro e fora do país.

O ataque contra a Venezuela, que visa a criar descontentamento popular, teve os seguintes destaques:

Guerra monetária. Começou com a corrida pela moeda, a manipulação do dólar no mercado negro, a obtenção de dólares do governo a um preço mais baixo sob falsos pretextos.  Maduro não hesitou: regulou os preços e mudou as regras de câmbio — 70% aprovaram sua decisão.

Falsa escassez:  Dois golpes escandalosos de aumento de preços de mercadorias, além de uma escassez artificial de alimentos, começaram quando as pessoas estavam dando início às suas compras de Natal. Ricos comerciantes começaram a acumular bens essenciais: farinha de milho, açúcar, sal, óleo de cozinha, papel toalha, etc., guardando-os em armazéns escondidos ou fazendo-os chegar à Colômbia por meio de uma operação de contrabando bem planejada. Os militares descobriram uma ponte ilegal construída para motos que carregava os bens contrabandeados. Milhares de sacolas de alimentos foram descobertas deixadas simplesmente pra apodrecer nas estradas da Colômbia: esse não era um contrabando feito por razões econômicas, mas por motivos políticos. O governo colombiano cooperou com o governo venezuelano para impedir esse contrabando.


Ataques contra a companhia de petróleo venezuelana, a PDVSA: a imprensa internacional tem alegado que a PDVSA está falhando porque está usando seus lucros para programas sociais em vez de reinvesti-los, e que o país está esgotando suas reservas de petróleo. É curioso como eles nunca alertaram o Canadá ou a Arábia Saudita sobre a escassez de petróleo. Eles chegam a fazer a ridícula afirmação de que a Venezuela está importando gasolina dos Estados Unidos. O fato é que a PDVSA é proprietária de uma grande companhia de petróleo, a CITGO, nos EUA, cuja refinaria frequentemente manda de volta para a Venezuela um líquido especial usado para aprimorar a gasolina de grau 95. A PDVSA ainda é uma das 5 maiores companhias do mundo, de acordo com a influente publicação Petroleum Intelligence Weekly.

Campanha para desacreditar a economia: Os meios de comunicação internacionais têm feito previsões macabras para a Venezuela há anos! A economia venezuelana está indo muito bem. Suas exportações de petróleo no ano passado atingiram os US$ 94 bilhões enquanto as importações chegaram somente a US$ 53 bilhões – um recorde historicamente baixo. As reservas nacionais estão na casa dos US$ 22 bilhões e a economia tem um superávit (não um déficit) de 2,9% do PIB (Produto Interno Bruto). O país não tem dívidas nacionais ou externas significativamente onerosas. [iv]  Esses são indicadores excelentes que muitos países na Europa invejariam, e até mesmo os Estados Unidos e o Canadá. O banco multinacional Wells Fargo recentemente declarou que a Venezuela é uma das economias emergentes que está mais protegida contra qualquer crise financeira possível e a Merrill Lynch, do Bank of America, recomendou que seus investidores comprem títulos do governo da Venezuela. 

Exagero sobre os riscos de segurança: A Venezuela tem uma alta taxa de criminalidade, infelizmente, assim como a maioria dos países da América Latina. A morte recente de um casal de alta expressão na mídia impulsionou a oposição a exagerar a insegurança. Maduro respondeu com um muito difundido Plano para a Paz com intenso policiamento comunitário, envolvendo comodidades e conselhos comunais, dividindo as cidades por setores com linhas diretas de denúncia e patrulhas especiais, criando 25 comitês cidadãos para o Controle Policial, com 250 pessoas no total, novos serviços para vítimas de crimes, e buscando o envolvimento da mídia para conter programas violentos.

A medida foi muito popular.

Oposição

Há uma seção da oposição que é democrática e cumpridora da lei, mas infelizmente, são os elementos antidemocráticos da oposição que parecem liderar. Nos últimos dias, esse líderes proeminentes da oposição antidemocrática, os parlamentares Leopoldo López e Maria Corina Machado, estavam incitando a violência. Manifestações orquestradas, com sabotadores profissionais e a manipulação de jovens, assassinaram 3 pessoas e feriram 66. [vi]. López — cuja ligação com a CIA remonta à sua estadia no Kenyon College, em Ohio [vii] — afirmou publicamente que a violência continuaria até que eles “se livrassem de Maduro”. Um dos manifestantes disse à imprensa “Nós precisamos de um cara morto”. Abundaram mensagens no Twitter pedindo que alguém matasse Maduro. Uma mensagem no Twitter dava detalhes da localização da escola da filha do presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, incitando o sequestro dela.

A procuradora-geral, uma mulher, foi fisicamente atacada e seu escritório revirado. Carros de polícia foram queimados, estabelecimentos culturais vandalizados, a casa do governador do Estado de Táchira foi quase queimada com a família dele dentro.


A violência da oposição tem sido uma constante. Em outubro, Henrique Capriles, o candidato presidencial quatro vezes derrotado, depois de perder para Maduro chamou as manifestações violentas abertamente, dizendo: “saiam às ruas e mostrem sua raiva”. Como resultado, 10 pessoas morreram (uma é uma menina indígena de 5 anos de idade) e 178 ficaram feridas, 19 clínicas populares foram atacadas e incendiadas, médicos cubanos tiveram de fugir para garantir sua segurança. A imprensa internacional NÃO PUBLICA A VIOLÊNCIA PROVOCADA PELA OPOSIÇÃO VENEZUELANA. Quando trata desses eventos violentos, insinua que a culpa é do governo.

O resultado de 15 anos da Revolução Bolivariana é evidente no aumento do bem-estar de suas população. A Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe das Nações Unidas) declarou que a Venezuela é agora o país menos desigual da região (coeficiente de Gini), tendo reduzido a desigualdade em 54%. 

O índice de pobreza está em 21% e o de pobreza extrema caiu de 40% para 7,3%. A mortalidade infantil caiu de 25/1000 (1990) para 10/1000. [x] O governo Chávez eliminou o analfabetismo e forneceu educação pública e programas de moradia e saúde. Em apenas uma década, a Venezuela avançou 7 casas no Índice de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas.

Pesquisas mostram que a Venezuela tem uma das populações mais felizes do mundo. Em tudo isso, foi muito ajudada pela solidariedade e pelos professores e doutores especializados de Cuba. Cuba e Venezuela mostraram ao mundo o que é a verdadeira solidariedade entre nações.

A crise financeira que atingiu o Norte nos últimos seis anos foi recebida com antagonismo estadual contra trabalhadores e a população geral. Com a desculpa de uma suposta necessidade de austeridade, programas públicos são cortados e sindicatos prejudicados. A crise também afetou a Venezuela, já que os preços do petróleo caíram. Entretanto, o governo continuou solidamente reduzindo a pobreza, aumentando os salários, treinando milhares de trabalhadores e o Índice de Desenvolvimento Humano do país continuou subindo, apesar da contradição da economia. Ao proteger o emprego como estratégia básica para conter a crise, a economia continuou a crescer em uma média que variou de 2,5 a 5% do PIB.

EUA

A real oposição na Venezuela são os Estados Unidos, seus aliados e seus agentes que alimentam o gasoduto ilegal de dólares que chovem sobre ONGs fictícias e partidos de oposição.

A Venezuela representa a rejeição da economia neoliberal e do capitalismo corporativo. A Venezuela governada pela elite corrupta, queridinha do capitalista corporativo, que empobreceu sua própria população durante 40 anos, não existe mais.

Essas táticas violentas não têm esperança de serem bem-sucedidas porque, ao contrário de 1999, o povo venezuelano agora está organizado em muitos grupos: conselhos comunais, comunas, milhares da comitês de saúde, segurança, milícia, esportes, educação e cultura. A Revolução Bolivariana promoveu não uma massa de pessoas, mas uma população organizada orgânica que toma decisões sobre suas condições de vida junto com o governo, porque a Venezuela é agora uma democracia participativa em pleno funcionamento.

A oposição não tem base popular – como pode ser visto por sua série de derrotas eleitorais.

Não tem apoio dos militares – até os governadores que são parte da oposição democrática apareceram na TV denunciando essas táticas com militares a seu lado.

Eles não têm o apoio de nenhum vizinho sul-americano, já que os países foram rápidos em declarar sua solidariedade ao presidente Maduro e denunciar a violência deles.

Sua única carta na manga é esperar que a Venezuela seja invadida por marines norte-americanos. Esse seria o começo de uma guerra regional.



* María Páez Victor é socióloga nascida na Venezuela


Fonte: OperaMundi
Imagens: Google (colocadas por este blog)


“Cérebro” da reeleição de Obama aposta em Hillary Clinton para 2016





Jim Messina
Jim Messina, o arquiteto da reeleição do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, previu na quarta-feira que a campanha pela Casa Branca de 2016 será a mais tecnológica da história e assegurou que Hillary Clinton é a candidata ideal.

"Tem todo um histórico nas costas e uma vida de conquistas. Foi uma grande secretária de Estado e será uma grande candidata", disse à Agência Efe Messina durante uma conferência sobre tecnologia no Newseum, um museu próximo ao Capitólio.

O estrategista político copreside o grupo Priorities USA, que apoiará à ex-chefe da diplomacia americana caso decida concorrer à presidência ou, se isso não se concretizar, o candidato democrata que se apresente.


"Para mim está claro que Hillary é a melhor posicionada para ganhar as eleições gerais", insistiu Messina.

O cérebro da campanha de reeleição de Obama, na qual se recorreu, como nunca antes, à análise de dados e à tecnologia para ganhar a queda de braço contra os republicanos, previu hoje que em 2016 veremos uma campanha muito mais personalizada, na qual se fundirão dados e tecnologia em formas muito mais sofisticadas.


"Acho que a campanha de 2016 tentará ter conversas personalizadas com os eleitores em formas que não foram possíveis até agora e estou interessado em explorar fórmulas para alcançar esse objetivo", afirmou.

O estrategista lembrou durante seu discurso hoje no Newseum os motivos que o levaram a criar uma campanha eminentemente tecnológica em 2012.

"Esta história começou com um cara pálido como eu em uma praia do Havaí", afirmou Messina, que explicou que foi ali que Obama lhe pediu que deixasse a Casa Branca e se transferisse a Chicago para começar a preparar sua campanha de reeleição.

"E eu disse 'sim, mas preciso que me prometa que esta campanha não se parecerá em nada com a anterior'", o que surpreendeu um presidente que tinha arrasado nas eleições de 2008.

Messina explicou que o rápido avanço das redes sociais motivou essa mudança de estratégia: "Durante a noite eleitoral de 2008 enviamos apenas um tweet porque acreditávamos que era uma tecnologia estúpida que não ia a lugar algum".

Foi assim que o estrategista político embarcou em um tour pelo Vale do Silício para se reunir com os executivos de Google, Facebook e Apple, entre outros, e perguntar-lhes sua opinião sobre uma campanha eleitoral moderna.

"Dirigimos a primeira campanha personalizada na história política americana", garantiu Messina, acrescentando que outro dos acertos foi "controlar o debate".

"Meu principal assessor era o presidente (Bill) Clinton, que me disse que todas as campanhas presidenciais no mundo são sempre sobre o futuro e ou se controla a narrativa ou se perde", explicou o homem que deve ser um dos principais estrategistas de Hillary Clinton se decidir concorrer em 2016.

Para ganhar em 2012, decidiram também contratar 42 matemáticos e engenheiros com doutorados, que se dedicaram a realizar modelos de intenções de voto e arrecadação de fundos.

A eles se somaram outros 86 especialistas na elaboração de modelos, que ajudaram Messina e sua equipe a arrecadar US$ 1,1 bilhão para custear as despesas da campanha mais cara da história.
O já falecido fundador da Apple, Steve Jobs, também deu a Messina sábios conselhos, como o que qualquer campanha eleitoral precisava pensar em chegar aos eleitores através do celular.

"Criamos 140 aplicativos distintos em nível interno", revelou hoje Messina, que previu ainda que vai disparar o dinheiro gasto em publicidade e campanhas de mobilização através do celular em 2016.




Fonte: NavalBrasil
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quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Um golpe em câmera lenta contra a democracia na Venezuela






Por Alfredo Serrano Mancilla*

"A democracia, no sentido mais ambicioso, é a realização mais poderosa da década e meia de Chávez na Venezuela. Essa mudança de tempos trouxe a democratização dos direitos políticos, sociais e econômicos na Venezuela para todos, sem exceções ou exclusões. 

Ele permitiu que o campo político, sem dúvida, avançasse para um novo eixo de pós-neoliberal e, sem vergonha, também defendeu a transição para o socialismo. Muitos riram de Chávez quando, após a queda do Muro de Berlim, foi determinado para se apropriar de uma proposta alternativa à ordem capitalista. 

Essa proclamação não agradava “aqueles que governam o mundo” em meio à utopia neoliberal, mas mesmo assim ainda hoje existem mais de 60% de jovens que preferem um sistema socialista a qualquer outro. “Aqueles que governam o mundo” não querem também ouvir quando um organismo internacional credencia a melhoria significativa das condições sociais e econômicas da maioria na Venezuela ou o número de eleições vencidas por Chávez. Tudo isso incomoda muito aqueles que não aceitam a democracia, quando se perde dentro das regras do jogo político. 

Desde que Chávez entrou na fase final de sua doença, tendo ganho as eleições em outubro de 2012, a guerra econômica foi instituída como ferramenta para desestabilizar, afetando os mais pobres com alta de preços e escassez. 

A partir desse momento, sabendo das dificuldades do governo com a ausência física do grande líder Chávez, o setor empresarial privado, em um oligopólio constituído por interesses homogêneos, dedicou-se sem descanso para preparar uma tempestade perfeita, tentando derrubar um muro. Não o Muro de Berlim, mas a fortaleza que Chávez tinha construído com o seu povo. 

A nova economia venezuelana – graças à recuperação de setores estratégicos, o estado das missões, a redistribuição da riqueza e inserção soberana no mundo multipolar – chegou a uma democratização vigorosa do consumo, a ser explorado pelo poder econômico privado. 

Nessa situação, cada vez mais comum em países progressistas na América Latina, o rentismo importador que sustenta seu lucro em comprar fora para vender dentro aproveita a sua posição dominante para impor prejuízos ao Executivo. 

Essa guerra econômica é conduzida com 

a) formação de preços abusivos com práticas usurárias, 
b) criação de um mercado ilegal de dólares, e 
c) responsabilidade privada pela escassez. 

Assim, é construído um golpe contra a democracia em câmera lenta, como foi a tentativa de fazer das eleições municipais de dezembro um plebiscito contra Maduro . Tudo foi por água abaixo no momento em que o povo venezuelano ratificou apoio massivo para o modelo Chávez que, mesmo com suas falhas e desafios, é, sem dúvida, o contrato social mais favorável e inclusivo possível. 

De lá, os tanques de guerra começaram a considerar que o golpe de mercado não seria suficiente para convencer a sociedade que, apesar de ser muito consumista, é altamente politizada a favor do projeto de Chávez. 

Sem ter claro se a divisão é real ou aparente, a oposição venezuelana começou a mostrar sinais de seu transtorno bipolar. Enquanto alguns estavam em silêncio, outros (liderados por Leopoldo López e Maria Corina Machado) decidiram que era hora de ir para a saída de golpe. 

A nova fórmula (ou talvez a mais original das fórmulas) é ”guerra econômica junto com guerra violenta de rua com as mortes necessárias” para tentar encenar um país instável e desgoverno. 

Essa tática se apoiou, como de costume, no capital internacional disfarçado em meios independentes, que pretende servir de base para definitivamente deslegitimar o presidente Maduro, que em pouco tempo conseguiu sair fortalecido dos todos os embates com os adversários. 

No entanto, a Venezuela tem condições internas, subjetivas e objetivas, que permitem formar um muro de contenção contra o tsunami golpista. Um povo que acredita no projeto de Chávez e uma economia que, com déficits e defeitos, é muito forte em suas estruturas para continuar a transição para o socialismo. 

Além disso, a Venezuela não está sozinha, como muitos querem ver na grande mídia internacional. Chávez semeou o sentimento latino-americano e os frutos são coletados agora. Argentina, Bolívia, Equador, ALBA, UNASUL, entre outros, têm rejeitado qualquer tentativa de golpe contra a democracia. É certo que o setor golpista, seja uma parte da oposição ou o conjunto, continuará tentando que não haja democracia na Venezuela, mas é justamente o seu povo democratizado e com o apoio da região que assegurarão a paz, impedindo que a doutrina golpista tenha seja bem sucedida."



*Escrito por Alfredo Serrano Mancilla, no jornal argentino "Página 12", via Agência Venezuelana de Notícias . O autor é PhD em Economia e integrante do Centro Estratégico Latino-Americano de Geopolítica. Artigo transcrito no blog "Escrivinhador"  (http://www.rodrigovianna.com.br/geral/um-golpe-contra-a-democracia-em-camera-lenta-na-venezuela.html).


Fonte: Democracia & Política
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Freira de 84 anos é condenada a prisão por invadir usina nuclear nos EUA




Um tribunal federal dos EUA condenou a freira de 84 anos Megan Rice  , a dois anos e 11 meses de prisão por participar de um protesto em uma instalação nuclear pública , EUA Today .

Megan Rice foi considerada culpada de ameaçar a segurança nacional.


Em 2012 Rice e outros dois ativistas entraram no centro Y -12 de Segurança Nacional , em protesto contra as armas nucleares . Quando os guardas notaram sua presença, e teve duas horas durante as quais as instalações estão danificados paredes do edifício com uma marreta.

A freira disse que os juízes não foram condescendente com ela.


"Ficar na cadeia até o fim dos meus dias será a maior honra que eu posso doar", disse ela.

Não se declarou culpada e ressaltou que só lamenta não ter feito a ação antes.

Os outros dois ativistas com antecedentes criminais , foram condenados a cinco anos e dois meses cada.

O tribunal também condenou a ré a uma multa de US $ 50.000 para compensar os danos causados ​​à propriedade federal.


O Centro de Y -12 de Segurança Nacional, localizado na cidade de Oak Ridge Tennessee , fabrica componentes para armas nucleares e enriquece e armazena urânio.








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domingo, 16 de fevereiro de 2014

Moniz Bandeira aponta aliança entre ONGs ocidentais e neonazistas na Ucrânia





Os Estados Unidos e a União Europeia estão dispostos a se aliar não importa com quem desde que isso enfraqueça a Rússia, diz o historiador.

Por Marco Aurélio Weissheimer 

Luiz Alberto Moniz Bandeira
Os protestos de rua que vem sacudindo a Ucrânia nas últimas semanas são resultado, em grande medida, de uma articulação bizarra entre ongs e fundações norte-americanas e europeias e o partido neonazista Svoboda, liderado por Oleg Tiagnibog. Os Estados Unidos e a União Europeia estão dispostos a se aliar não importa com quem desde que isso enfraqueça a Rússia e permita a instalação de tropas da OTAN na Ucrânia. Esse é o pano de fundo desses protestos. A avaliação é do cientista político e historiador Luiz Alberto Moniz Bandeira, autor, entre outras obras, de A Segunda Guerra Fria – Geopolítica e Dimensão Estratégica dos Estados Unidos (Editora Civilização Brasileira), onde examina o papel dos Estados Unidos na eclosão e o desenvolvimento de recentes rebeliões na Eurásia, na África do Norte e no Oriente Médio.


Para Moniz Bandeira, os recentes acontecimentos que convulsionaram vários países no Oriente Médio, na Eurásia e norte da África devem ser entendidos no contexto da estratégia de “full spectrum dominance” (dominação de espectro total) que os EUA continuam implementando contra a presença da Rússia e da China naquelas regiões. Em entrevista à Carta Maior, Moniz Bandeira analisa a situação da Ucrânia e identifica os grupos que, segundo ele, estão apoiando e promovendo as manifestações: 

"ONGs, tais como Open Society Foundations [OSF], Vidrodzhenya (Reviver), Freedom House, Poland-America-Ukraine Cooperation Initiative e outras, finaciadas pelos Estados Unidos, através da USAID, National Endowment for Democracy e CIA, bem como fundações alemãs. Foram elas que promoveram a denominada Revolução Laranja, que derrubou o governo de Leonid Kuchma (1994-2005)". 

"Os chamados ativistas, que instigam e lideram as demonstrações pro-Ocidente, pertencem, em larga medida, a comandos do Svoboda e de outras tendências neo-nazis, levados de Lviv (Lwow, Lemberg) para Kiev e manifestam claramente tendências xenófobas, racistas, anti-semitas e contra a Rússia".

A União Brasileira de Escritores e a Academia de Letras de Minas Gerais indicaram o nome de Moniz Bandeira para o prêmio Nobel de Literatura em 2014, cuja escolha será feita em outubro pela Academia Sueca.

Qual a sua avaliação sobre os recentes protestos que vem sacudindo a Ucrânia? 

Moniz Bandeira -  A Ucrânia nunca teve unidade étnica e daí a fragilidade do Estado nacional que lá se formou. Até o século XII, chamada Rus' Kievana  ou Kyïvska Rus, era uma confederação de tribos eslavas orientais, virtualmente oa maior potência da Europa, ao abranger a atual Bielo Rússia e parte da Rússia.

Desintegrou-se, porém, e esteve envolvida em constantes guerras entre russos, poloneses, cossacos e lituanos. Em 1795, a antiga Rus's Kievna, ao oeste do rio Dnieper, que desemboca no Mar Negro, foi repartida. A Rússia anexou a maior parte da região, todo o Kanato da Criméia, e o  Império Austro-Húngaro, sob a dinastia de Habsburg, dominou a outra, incluindo a Galitzia (Halychyna), na Europa Central, até 1918. 

Durante a guerra civil na Rússia, após a Revolução Bolchevique (1917), lá combateram diversas facções. Após o Exército Vermelho derrotar as forças contra-revoluicionárias do general Antón Denikin e os anarquistas comandados por Nestor Makhno, a República Soviética da Ucrânia constituiu-se como Estado nacional e, em 1922, somou-se às Repúblicas Soviéticas da Rússia, Bielorrusia e Transcaucasia, na formação da União Soviética. Após o Pacto Molotv- Ribbentrop, ela reincorporou ao seu território a Galitzia e Volhnia, que integravam a Polônia, bem como recebeu da Romênia a Bessarábia, o nordeste de Bukovina e a região de Hertza. A opressão do regime stalinista, entre outros fatores históricos, gerou, no entanto, forte e profundo sentimento anti-soviético e, conseqüentemente, anti-russo. Uma parte da população não só saudou as tropas nazistas, como libertadoras, quando invadiram a Ucrânia em 22 de junho de 1942, como lutou ao seu lado. Porém, a maioria incorporou-se ao Exército soviético e a brutalidade nazista reforçou ainda mais a resistência.

Em 1945, libertada, a República Soviética da Ucrânia foi um dos países fundadores da ONU, mas Stalin não conseguiu colocá-la, como membro permanente, no Conselho de Segurança. A Grã-Bretanha opô-se. Não queria que a União Soviética com mais um voto, com direito a veto, no Conselho de Segurança. E daí que os dois países não aceitaram que o presidente Franklin D. Roosevelt, conforme prometera ao presidente Getúlio incluisse também o Brasil, porque estava então estreitamente vinculado aos Estados Unidos.  

Quais são as causas e os principais protagonistas dos atuais protestos?

Moniz Bandeira - As causas das demonstrações são, sobretudo, geopolíticas e estratégicas. O que está em jogo não é, na realidade, a adesão da Ucrânia à União Européia. Não é questão de livre circulação de pessoas e de mercadorias. A União Européia muito pouco pode oferecer à Ucrânia, exceto, mediante o levantamento das barreiras alfandegárias, a importação maciça de produtos do Ocidente, a imposição de normas europeias aos produtos que ela fabrica e pode exportar para a mesma União Européia, o que lhe vai dificultar ainda mais as transações comerciais. A Ucrânia só tem a perder. O FMI vei impor medidas de contenção, dificultando ainda mais o desenvolvimento do país. Muitas indústrias fecharão ou serão assenhoreadas pelas multinacionais européias e os pequenos agricultores, arruinados pela agro-indústria.


Porém, o que os Estados Unidos pretendem, através da incorporação da Ucrânia à União Europeia é, sobretudo, possibilitar que as forças da OTAN sejam estacionadas na fronteira da Rússia. Conforme o economista Paul Craig Roberts, ex-secretário assistente do Tesouro no governo de Ronald Reagan (1981-1969), salientou, a respeito dos comentários de Viktoria Nuland, secretária de Estado Assistente de John Kerry, "a Ucrânia ou a parte ocidental do país está cheia de ONGs mantidas por Washington cujo objetivo é entregar a Ucrânia às garras da União Europeia, para que os bancos da União Europeia e dos Estados Unidos possam saquear o país como saquearam, por exemplo, a Latvia; e enfraquecer, simultaneamente, a Rússia, roubando-lhe uma parte tradicional e convertendo-a em área reservada para bases militares de Estados Unidos-OTAN".

Com efeito, por trás das ininterruptas demonstrações, das quais dois senadores americanos - John McCain (Partido Republicano) e Christopher Murphy (Partido Democrata) abertamente participaram -  estão certas ONGs, tais como Open Society Foundations [OSF], Vidrodzhenya (Reviver), Freedom House, Poland-America-Ukraine Cooperation Initiative e outras, finaciadas pelos Estados Unidos, através da USAID, National Endowment for Democracy e CIA, bem como fundações alemãs. Foram elas que promoveram a  denominada Revolução Laranja, que derrubou o governo de Leonid Kuchma (1994-2005). 

Essas e outras organizações não governamentais foram criadas como façade para promover a política de regime change sem golpe de Estado. Esse novo método de subversão, que os Estados Unidos desenvolveram, demonstro, com vasta documentação, em meu livro A Segunda Guerra Fria - Das rebeliões na Eurásia à África do Norte e ao Oriente Médio, lançado em 2013.

E como está a situação hoje da Ucrânia? Para onde caminha o país?

Moniz Bandeira -  A Ucrânia está em uma situação econômica e social extremamente difícil. O desemprego, segundo o governo, é da ordem de 8% e parcela significativa da população - de 25%, conforme as estatísticas oficiais -, vive abaixo da linha de pobreza. O índice de desnutrição é estimado entre 2 e 3 % até 16%. O salário médio é de US$332,00, um dos mais baixos da Europa. As áreas rurais, no Ocidente, são mais pobres. E a Ucrânia está na iminência de praticar o default. Os jovens ucranianos, porém, imaginam que a União Européia pode melhorar seu standard de vida e aumentar prosperidade do país. Os ucranianos – em primeiro lugar a juventude – têm o sonho da UE, a liberdade de viajar, as ilusões de conforto, bons salários, prosperidade, etc. Sonhos com os quais os governos ocidentais contam para derrubar o governo de Vikton Yanukovych. 

Qual a importância geopolítica da Ucrânia hoje no cenário europeu e internacional?

Moniz Bandeira -  Zbigniew Brzezinski, ex-assessor de Segurança Nacional do presidente Jimmy Carter, escreveu certa vez que, no novo tabuleiro do xadrez mundial, “a Ucrânia podia estar na Europa sem a  Rússia, porém a Rússia não podia estar na Europa sem a Ucrânia".  A equação, contudo, é muito mais complexa. A Ucrânia, chamada, tradicionalmente, de "pequena Rússia", não pode se desprender da Rússia, da qual muito depende, sobretuido para seu abastecimento de gás. E sua adesão à União Européia, permitindo o avanço da OTAN até a fronteiras da Rússia, tenderia evidentemente a romper todo o equilíbrio geopolítico da Eurásia, uma vasta região terrestre e fluvial, até o Oriente Médio, devido abranger os importantes estreitos de Bósforo e Dardanelos, que possibilitam as comunicações do Mar Negro e de importantes zonas energéticas (gás e petróleo) com o Mar Mediterrâneo, cujo controle e completo domínio os Estados Unidos buscam com a derrubada do governo de Basshar al-Assad, na Síria.

A questão da Ucrânia insere-se, assim, no mesmo contexto da guerra na Síria. A Rússia ainda mantém importante base naval na Síria, em Tartus, bem como conserva forças no porto de Latakia. E, não obstante o colapso da União Soviética, continuou a configurar, na percepção dos Estados Unidos, como seu maior rival. Ao Ocidente -  Estados Unidos e União Européia -  não interessa, portanto, a criação da União Econômica Eurasiana, cujo tratado o presidente da Rússia, Vladimir Putin, o grande estadista da atualidade, está a negociar com as antigas repúblicas que antes integraram a extinta União Soviética, tais como  Quirguistão, Armênia, Bielorrússia, Cazaquistão e Ucrânia, exceto os países bálticos. Os Estados e a União Européia entendem que a Rússia voltaria, assim, a conquistar dimensão estratégica e geopolítica na mesma proporção da extinta União Soviética. O que está em jogo não é questão ideológica. É geoestratégica. 

Como disse, Washington nunca deixou de perceber a Rússia como seu principal adversário, mesmo após a dissolução da União Soviética (1991). Em 1991, o general Colin Powell, então chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, no governo de George H. W. Bush (1989-1993), recomendou que os Estados Unidos impedissem que a União Europeia se tornasse uma potência militar, fora da OTAN, a remilitarização do Japão e da Rússia, bem como desencorajasse qualquer desafio à sua preponderância ou tentativa de reverter a ordem econômica e política internacionalmente estabelecida. Também Dick Cheney, então como secretário de Defesa, divulgou, em 1992, um documento no qual estabeleceu que a primeira missão política e militar dos Estados Unidos consistia em impedir o surgimento de algum poder rival na Europa, na Ásia e na extinta União Soviética.

Qual é a atual correlação de forças interna na Ucrânia no que diz respeito aos protestos?

Moniz Bandeira - O eixo da crise não está propriamente na correlação de forças domésticas, i. e., dentro da Ucrânia. Grande parte da população não apoia os que fazem demonstrações em Kiev. E o país, quer queiram ou não os manifestantes, está na órbita de gravitação da Rússia. Por outro lado, o Mar Negro é controlado, desde o reinado de Catarina, a Grande (1762 e 1796), pela frota russa, baseada na península da Crimeia, com a base naval em Sebastobol e mais um porto em Odessa. A Rússia jamais pode aceitar a incorporação da Ucrânia à OTAN, mesmo que a associação com a União Européia não implique aliança política-estratégica. O presidente Vladimir Putin, diplomaticamente, já fez a advertência de que está muito preocupado com a dívida do gás que a Rússia fornece a Ucrânia não paga. E se cortar o fornecimento o governo, que os Estados Unidos querem impor, não se sustenta. Cai.  

Viktor Yushchenko, quando foi levado à presidência da Ucrânia, era a favor do Ocidente, porém, tal como seu antecessor Leonid Kuchma, que solicitara a adesão da Ucrânia à OTAN, na reunião de Raykjavia (13 de maio,2002), teve de rever sua posição, diante da realidade geopolítica. Cairia, decerto, se consumasse a adesão à OTAN.  A União Europeia, outrossim, depende mais da Rússia que a Rússia da União Européia. E essa foi uma das razões pela quais se recusou a alinhar-se com os Estados Unidos para aplicar sanções contra o governo de Viktor Yushchenko.
Acabei de receber de um conhecido em Kiev essa mensagem, que bem confirma  e demonstra o quanto a mídia manipula as informações sobre os acontecimentos na Ucrânia:

“Sim, efetivamente aqui está muito quente na rua (a temperatura chegou a 35 graus negativos na semana passada). Eu fui ver as barricadas ontem à noite, na primeira linha diante dos integrantes da polícia militar. É bastante impressionante. Os opositores na rua que ocupam aquela área estão armados, muito bem organizados militarmente em companhias, fazem patrulhas em grupos de combate de dez pessoas, com capacetes e armas. Eu cruzei com dois sujeitos com uniformes da divisão SS Galicia (que lutou com os alemães contra os soviéticos em 1943-1945. Acho muito engraçado ver os políticos europeus fazendo grandes declarações sobre o “Maidan” e a democracia quando praticamente todos esses tipos que enfrentam a polícia nas ruas são fascistas. É uma grande hipocrisia. Os euro-atlânticos estão prontos a se aliar com não importa quem (como os islamistas na Síria) desde que isso contribua para enfraquecer a Rússia”.

Qual a estrutura política de fato da oposição ucraniana?

Moniz Bandeira - Na 50ª Conferência de Segurança de Munique, o secretário de Estado, John Kerry, disse que as demonstrações contra Yushchenko, em Kiev, tinham como objetivo implantar a democracia. Que democracia? Viktor Yushchenko fora democraticamente eleito em 2010.  O nacionalismo ressurgente na Ucrânia e alimentado pelo Ocidente é, na realidade, um neo-nazismo. O partido que o fomenta é o  Svoboda, cujo chefe é Oleg Tiagnibog, com maior influência no leste da Galitzia, antes pertencente à Polônia e onde muitos habitantes colaboraram com as tropas da Wehmarcht  e formaram a 14. Waffen-Grenadier-Division der SS, sobretudo na Galitzia oriental, reduto da extrema-direita. Os chamados ativistas, que instigam e lideram as demonstrações pro-Ocidente, pertencem, em larga medida, a comandos do Svoboda e de outras tendências neo-nazis, levados de Lviv (Lwow, Lemberg) para Kiev e manifestam claramente tendências xenófobas, racistas, anti-semitas e contra a Rússia.

Os manifestantes que estão nas ruas têm o apoio da maioria da população?

Moniz Bandeira - Creio que não. O Partido das Regiões, liderado pelo presidente Viktor Yanukovich representa, provavelmente, a grande parte da população, sobretudo no oriente e no sul, bem como conta com forte apoio oeste, i. e., na Ucrânia sub-carpática. Seu suporte, portante, é grande, tanto que triunfou nas eleições em 2010. E o projeto do presidente Vladimir Putin fortalece ainda mais os vínculos da parte oriental da Ucrânia, mais industrializada, com a Rússia, mediante a cooperação industrial,  modernização e integração de tecnologias, como antes se realizava com a União Soviética, nas áreas da aeronáutica, produção de satélites, armamento, construção naval e outras. Na parte ocidental o idioma que predomina é o ucraniano

Que lhe pareceu a expressão de desprezo pela União Européia (“Fuck the EU” ), dita pela secretária de Estado Assistente, Viktoria  Nuland, na conversa com o enviado especial dos Estados Unidos à Ucrânia, embaixador Geoffrey Pyatt?

Moniz Bandeira - Não me surpreendeu.  Viktoria Nuland apenas expressou o que sempre pensaram e pensam as autoridades de Washington com respeito não apenas à União Européia, mas também ao resto do mundo. A manifestação do extremo egoismo é nacional, a que o embaixador do Brasil, Domício da Gama, notara e escreveu ao Itamaraty, por volta de 1912.  O vazamento dessa conversa, por telefone, de Viktoria Nuland com o embaixador Geoffrey Pyatt, sobre quem Washington deve escolher para assumir a presidência da Ucrânia, não vai provavelmente modificar a intenção de Washington com respeito à Ucrânia. A posição de Washington não é muito forte. Victória Nuland, irritada, demonstrou-o ao exclamar “Fuck the EU” diante da hesitação da Europa de arriscar sua existência em benefício da hegemonia dos Estados Unidos e não alinhar-se ao projeto de sanções contra o governo  de Viktor Yanukovich.

A União Europeia e os Estados Unidos têm condições de enfrentar a Rússia para resgatar a Ucrânia do colapso financeiro?

Moniz Bandeira - Quase nenhuma. O povo na Alemanha, o país com mais recursos e sobre o qual recai a maior responsabilidade pelo resgate, não aguenta mais amparar financeiramente os diversos países, membros da União, a fim de que não quebrem. Continuam todos altamente endividados e praticamente não aparecem maiores sinais de recuperação econômica. A quase estagnação é um fato. E o problema da dívida pública dos Estados Unidos, a depender sempre de que o Congresso aumente o seu limite, não permite, decerto, ao governo do presidente Barack Obama atender à situação catastrófica da Ucrânia. Entretanto, a economia da Rússia, desde o ano 2000, cresceu em média 7%, tornou-se a sétima economia mundial segundo o método da paridade do poder de compra e ainda ajudou a União Europeia com a construção de oleodutos e gasodutos subterrâneos, que passam através da Ucrânia e outros países aos quais fornece grande parte da energia. Cerca de 60% do gás que a Alemanha consome provém da Rússia. E o presidente Vladimir Putin já forneceu ao governo de Viktor Yanukovich um bailout de US$17 bilhões, ademais de reduzir por algum tempo o preço do gás que fornece ao país. Mas se cobrar a dívida, a Ucrânia quebra. 

Há quem veja uma conexão entre as mobilizações de rua que vêm ocorrendo em vários países nos últimos anos? O senhor vê tal conexão?

Moniz Bandeira - Diversos e complexos fatores, tais como a crise financeira mundial, iniciada em 2007/2008, a estagnação econômica, desemprego dos jovens, desencanto com os governos, bem como outros fatores domésticos e o fenômeno do contágio e mimetismo, concorreram para que agentes externos pudessem fomentar as demonstrações ocorridas em diversos países, sobretudo na Eurásia e no Oriente Médio. Como demonstro, documentadamente, em meu livro A Segunda Guerra Fria, logo após os atentados contra as torres gêmeas do World Trade Center, em 11 de setembro de 2001, o presidente George W. Bush (2001-2009), ao mesmo tempo em que deflagrou a War on Terror, a guerra sem fim, estabeleceu a  “freedom agenda” e autorizou o Departamento de Estado a criar a Middle East Partnership Initiative (MEPI)  com o propósito de treinar ativistas político, com base no  From Dictatorship to Democracy, do professor Gene Sharp, usado na Sérvia, na Ucrânia, na Geórgia e em outros países. 

O objetivo era treinar e encorajar dissidentes e "reformistas democráticos!, sob os “regimes repressivos” no Irã, na Síria, na Coreia do Norte e na Venezuela, entre muitos outros, a solapar a estabilidade e a força econômica, política e militar de um Estado sem recorrer ao uso da insurreição armada ou de golpe militar, mas provocando violentas medidas, a serem denunciadas como emprego de força brutal, abuso dos direitos humanos etc. e provocar o descrédito do governo.  A estratégia do professor Gene Sharp consiste na luta não violenta, porém complexa, travada por vários meios, como protestos, greves, não cooperação, deslealdade, boicotes, marchas, desfiles de automóveis, procissões etc., em meio à guerra psicológica, social, econômica e política, visando à subversão da ordem. Ela serviu para promover as chamadas “revoluções coloridas”, na Eurásia, e a "primavera árabe", na África do Norte e Oriente Médio. E ONGs, finaciadas pela Now Endowment for Democracia (NED), USAID  e CIA e outras instituições públicas e privadas, foram e são nada menos que a mão invisível Washington. 

Daí a secretária de Estado Assistente, Victoria Nuland, ter declarado na conversa com o embaixador Geoffrey Pyatt que, nas duas últimas décadas, os Estados Unidos gastaram US$ 5 bilhões para a "democratização" da Ucrânia, i. e., para subverter os regimes, cortar seus laços históricos com a Rússia e integrá-lo na sua esfera de influência, via União Européia. Victoria Nuland é esposa de Robert Kagan, líder dos neoconservadores (neo-cons) do ex-presidente George W. Bush, cujo papel como "universal soldier", o presidente Barack Obama passou a desempenhar.




Fonte: Carta Maior



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