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sexta-feira, 30 de novembro de 2012

A Mãe Palestina: ativistas falam sobre resistência feminina no FSMPL


Por Natália Otto

Mesa de debates “A luta de resistência das mulheres palestinas” 
Em uma prisão de Israel, uma prisioneira política passa por um calvário que não é comum a seus companheiros homens: soldados israelenses tocam uma fita de áudio com os gritos de seus dois filhos chamando por seu nome. O berro das crianças, a pior das torturas, pretende incitar uma confissão que não vem. A cena é contada pela jovem Hannin Nassar, que reconta as memórias da mãe, a presa política Maha Nassar, falecida em 2008.

“Ao sair da prisão, estava irreconhecível de tão magra”, conta Hannin. “Mas nunca esteve tão bonita como quando correu de volta para casa para rever os filhos”, emociona-se. A cena é parte do filme sobre mulheres palestinas que abriu a mesa de debates A luta de resistência das mulheres palestinas, que ocorreu nesta quinta-feira (29), integrando o Fórum Social Mundial da Palestina Livre. O documentário, dirigido pela jornalista Salam Hindawi, deu o tom da fala das palestrantes, todas militantes palestinas: a luta das mulheres da região, que precisam encontrar o balanço entre o ativismo e a proteção da própria família.

Como acontece em todo o conflito no mundo, há certas agruras da ocupação israelense da Palestina que afligem mais as mulheres da região. Prisões políticas, demolições de casas, revistas abusivas nos check points estão entre as dores das mulheres palestinas – e entre os motivos de sua luta. Sobre isso falaram as ativistas reunidas no Salão de Festas da UFRGS, em uma atividade auto-gestionada organizada pela Marcha Mundial das Mulheres, Federação Democrática Internacional das Mulheres, União Brasileira das Mulheres, Confederação de Mulheres Brasileiras, CUT e MST.


Esposas de presos políticos continuam a luta dos companheiros

Abla Sa’adat: “Israel destruiu as famílias palestinas com barreiras e muros” 

Hoje, 36 mulheres são presas políticas de Israel. Todas sofrem com o isolamento da família, especialmente do marido e dos filhos. Ainda há o grande número de mulheres que sofrem com a prisão política mesmo fora dos centros de detenção: são seus maridos e filhos que vivem isolados. Cabe às esposas de militantes, sozinhas, criarem seus filhos e conduzirem a luta de seus companheiros.

Abla Sa’adat, esposa do ativista e atual preso político Ahmad Sa’adat, compartilhou sua experiência com o público. “Nós, esposas de militantes, aprendemos a usar da resistência e da paciência frente a todos os desafios da vida”, afirmou. “Quando o esposo é preso, a mulher precisa continuar sua luta”.

Para Abla, a maior dor do preso político é justamente o isolamento da família. “Assim, eles não conseguem saber nem o que está acontecendo na vida de seus entes queridos, nem as notícias do mundo. Ele fica fora da realidade”, explicou. Abla, ela própria uma ativista, contou que têm quatro filhos, dois homens e duas mulheres. O mais novo, de 21 anos, cresceu com o pai na cadeia.

“Assumi sozinha a responsabilidade pelos filhos”, contou ela. “Nunca esqueço quando eles se formaram na universidade. Todos os formandos tinham pai e mãe, apenas eles não. Eu estava sozinha”, lamentou.

Para Abla, esse sofrimento está gravado na memória coletiva de todas as mulheres palestinas e não as deixa esquecer da luta contra a ocupação israelense. “Esse inimigo destruiu as famílias palestinas com barreiras e muros”, acusou. “Somos palestinas, esposas de militantes palestinos que amam a vida e a liberdade, e por isso lutamos!”, bradou, em meio aos aplausos do público e das colegas de mesa.

A dor e a responsabilidade das mães palestinas

“Como explicar para uma filha de cinco anos que Gaza está sobre ataque?”, pergunta Arabiya Mansur 
Ser mãe na Palestina é viver com o constante medo de perder os filhos – para uma bomba, para um tiro, para uma prisão. A palestrante Arabiya Mansur compartilhou com o público histórias dessas mães.

“Como explicar para uma filha de cinco anos que Gaza está sobre ataque?”, questionou. “Como mandá-la se esconder debaixo de uma mesa? A mulher palestina vive diaramentessa revolta”. Araibya ainda falou da dor das mães que têm os filhos mortos em ataques de soldados israelenses e, ao buscar justiça legal, não encontram ninguém que possa ajudá-las.

Outra imagem emblemática foi a história de uma família que teve a casa bombardeada. Arabiya conta que uma criança foi encontrada ainda mamando nos seios ensanguentados da mãe falecida. “São as nossas sinas. Mas, apesar de todas as dificuldades, a mulher palestina continua com a luta através da criação dos filhos”, afirmou.

Na região, cabe à mãe transferir a identidade nacional às novas gerações e, assim, a causa palestina. No filme exibido na abertura do debate, a ativista e presa política Maha Nassar questiona a idéia de que se deveria criar os filhos “com neutralidade”, deixando-os escolher suas batalhas sozinhos. “Se não consigo influenciar nem meu filho, como vou convencer todos os outros povos a ficar do meu lado?”, perguntou, indicando que, para ela e muitas outras mulheres palestinas, a revolução começa dentro de casa.

Palestinas sofrem tortura e perseguição sexual

Mães evitam falar de política aos filhos para evitar que se transformem em militantes, diz Thaira Zoabi, da Juventude Palestina 

Mas nem todas as palestinas encontram nas mães uma inspiração política. Thaira Zoabi, da Delegação da Juventude Palestina, contou que cresceu em um lar apolítico. “Minha família não tinha consciência política, só sabiam que o território onde viviam estava ocupado por israelenses. Mas não sabiam nada sobre os refugiados”, contou.

Thaira, hoje com 28 anos, foi obrigada em estudar em escolas israelenses devido aos seus documentos, que lhe concediam cidadania. “As mulheres sofrem opressão e deformação de suas memórias. Na escola, nunca aprendi nada sobre minha própria história e a história do meu povo, tudo era manipulado”, lamentou.

“As mães têm medo de sensibilizar seus filhos nas questões políticas porque temem que eles virem militantes. Não querem que eles sejam presos nem tenham problemas com as autoridades”, ponderou a jovem, que já foi presa e vítima de tortura. “Quando palestinos saem para manifestar, nos batem, nos torturam. Sofri muito na cadeia, inclusive perseguição sexual”, afirmou.

As palestrantes terminaram suas falas sob os gritos das mulheres da plateia: “Sou feminista, não abro mão. Vou para a Palestina fazer revolução!” Dentro e fora do domínio de suas casas, as palestinas resistem. Não parece à toa que Palestina é substantivo feminino, nem que seu povo a chama carinhosamente de mãe.



Fonte: Sul21

Imagens: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21


quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Assembleia Geral da ONU eleva status da Palestina a Estado observador


Decisão foi aprovada por 138 membros com direito a voto; apenas nove foram contrários

O povo palestino vivenciou nesta quinta-feira (29/11) um de seus maiores avanços diplomáticos e conquistou na Assembleia Geral das Nações Unidas o status de Estado observador. Dos Estados membros com direito a voto no plenário, 138 concordaram com a proposta e apenas nove foram contrários à decisão. Outros 41 países se abstiveram.

Agência Efe

Diplomatas aplaudem discurso de Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Nacional Palestina, na sede da ONU

Antes da votação, palestinos em Gaza e na Cisjordânia já davam como certa a aprovação e ocupavam as ruas de diversas cidades com comícios e celebrações. Embora em meio às multidões estivessem presentem faixas e símbolos dos dois principais partidos políticos do país, o Hamas e o Fatah, o que prevalecia eram retratos do falecido líder Yasser Arafat e a bandeira nacional palestina.

No discurso que precedeu o pleito, o presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina), Mahmoud Abbas, afirmou que a Palestina "acredita na paz" e que a comunidade internacional está diante da "última oportunidade" para a solução dos conflitos entre os dois Estados.

"A Palestina vem hoje perante a Assembleia Geral porque acredita na paz e porque seu povo, como provou nos últimos dias, a necessita desesperadamente", disse. Ele foi ovacionado pela grande maioria dos membros da Assembleia Geral, boa parte deles de pé, e afirmou que a votação de hoje apresenta "uma obrigação moral". A seu ver a janela de oportunidade para a paz "está se reduzindo e o tempo se esgota rapidamente".

Abbas alega que não foi à ONU para buscar a deslegitimação do Estado de Israel, "mas para afirmar a legitimidade de um Estado que deve agora conseguir sua independência".

O gesto é interpretado por diplomatas da maior parte dos membros da ONU como uma forma de evitar que as negociações de paz entre israelenses e palestinos tornem-se impossíveis. Idealizador dos recentes bombardeios à Gaza, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, chegou a afirmar que não haverá um Estado palestino até que Israel seja reconhecido como um "Estado judeu", independentemente de "quantas mãos sejam levantadas" na Assembleia Geral.

"A votação na ONU não mudará nada no terreno. Não antecipará a criação de um Estado palestino, a adiará. Nossa mão (...) sempre estará estendida à paz ", disse o primeiro-ministro em um ato público no Centro Menachem Begin.

Não é o que pensa o ex-primeiro ministro israelense Ehud Olmert, que ao longo dos últimos dias enfatizou seu apoio ao ingresso da Palestina como Estado observador. “Eu acredito que o pedido palestino às Nações Unidas é coerente com o conceito básico da solução de dois Estados. Portanto, não vejo razões para me opor a isso. Uma vez que as Nações Unidas lancem as bases dessa ideia, nós, israelenses, teremos de aceitar um sério processo de negociações”, disse o ex-premiê ao portal norte-americano Daily Beast.

O governo dos Estados Unidos já anunciou que se opõe a essa resolução e que acredita que uma resolução eficiente só poderá ser alcançada bilateralmente entre Israel e Palestina. Ainda submersa em uma crise diplomática com o Irã, o gabinete do democrata Barack Obama tenta preservar ao máximo as relações com o governo de Benjamin Netanyahu, em Israel.

A 67ª sessão também foi marcada pela divulgação de um novo relatório do CEIRPP (Comitê pelos Direitos Inalienáveis do Povo Palestino, na sigla em inglês) sobre a situação da nova troca de agressões entre Israel e Palestina.

De acordo com o órgão, que foi fundado em 1975 pelas Nações Unidas, “Israel se recusa veementemente a refrear seus assentamentos ilegais, que continuam a intensificar o sentimento de desconfiança, a elevar as tensões e a prejudicar uma solução baseada em dois Estados”.

O documento também acusa Israel de agir “punitivamente” por ocasião da admissão da Palestina como Estado membro da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), em outubro do ano passado. À época, Tel Aviv “congelou as remessas de impostos sobre valor agregado à ANP” e “anunciou a construção de mais duas mil moradias em assentamentos”.




Imagem: Opera Mundi, Google

Palestinos saem às ruas para comemorar novo status antes de votação na ONU



Embora o ingresso da Palestina como país observador das Nações Unidas ainda não tenha sido votado pela Assembleia Geral nesta quinta-feira (29/11), a população dos territórios da Cisjordânia e de Gaza já organizam comemorações e festejam a possibilidade de aprovação.

Autoridades políticas locais dão como certa a aprovação do status de país observador, que é o mesmo que o Vaticano possui. Por essa razão, não houve grande hesitação em convocar a população de cidades como Ramala, Belém, Hebrón ou mesmo Jericó para comparecer às ruas e celebrar a data.


A previsão é de que a ampla maioria do plenário da ONU concorde com a integração da Palestina a seu quadro de países. Em organismos internacionais como a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) ela já é reconhecida como um Estado-membro.

“Todos os palestinos, do Fatah ou do Hamas, estamos orgulhosos deste passo”, disse em entrevista ao jornal espanhol El País Sagi Halil, um professor de 67 anos que está certo da aprovação do novo status e que saiu às ruas para festejar. “Isso vai unir os palestinos contra os colonos e contra a direita em Israel. Se vierem se vingar de nossa iniciativa, encontrarão uma população unida, seja em Gaza ou na Cisjordânia”, conclui.

Mais cedo, em Ramala, uma comitiva de autoridades políticas locais comandava um comício e defendia a premência de um sentimento de união dentro da vida política palestina. Embora estivessem presentes símbolos de partidos e organizações políticas na Praça Yasser Arafat, era a bandeira nacional palestina que tomava a cena.

Em Gaza

Dezenas de milhares de palestinos tomaram as ruas de Gaza para mostrar seu apoio à mudança de status da Palestina na ONU. A maioria dos que saíram às ruas era seguidor do Fatah, o partido de Mahmoud Abbas. Eles levavam bandeiras amarelas e fotos do presidente no maior desdobramento público desta facção desde que o movimento islamita Hamas tomou o poder na Faixa em 2007.

Muitos viajaram a Gaza em ônibus de distintos povoados da Faixa e se reuniram ao longo do dia na Praça do Soldado Desconhecido, no centro da cidade. "Estamos aqui não só para celebrar a vitória diplomática na ONU, mas também para celebrar a unidade de todas as facções palestinas liberais e islâmicas", disse à Agência Efe Faisal Abu Shahla, um dos líderes do Fatah em Gaza.

Segundo ele, as marchas "celebram a vitória do estabelecimento do Estado palestino independente liderado por Mahmoud Abbas. O reconhecimento da ONU, embora não seja como membro pleno, significa que pode comparecer aos tribunais internacionais e obrigar Israel a pôr fim à ocupação".

Seguidores do Hamas, embora não seus dirigentes, e membros de outras facções também se agruparam em ruas e parques da capital, carregando bandeiras palestinas e de seus partidos, que também adornavam carros e casas.

Embora o ambiente geral fosse festivo, os manifestantes estavam conscientes que a conquista na ONU é apenas um passo em um longo caminho rumo ao estabelecimento de um Estado independente.

Para muitos em Gaza, este processo e a recente trégua atingida com Israel são considerados uma vitória pelo Hamas e representam uma importante oportunidade para abrir a porta à reconciliação política entre o Fatah e o movimento islâmico.

O dia escolhido por Abbas para apresentar seu pedido na ONU coincide com a celebração do Dia Internacional de Solidariedade com o Povo Palestino e, também, com o 65º aniversário da aprovação da partilha da Palestina do Mandato Britânico no organismo multinacional.

Nas principais cidades da Cisjordânia também houve hoje atividades festivas, passeatas e música, e esta noite, após o voto na Assembleia Geral, os sinos das igrejas tocarão para comemorar a simbólica entrada da Palestina na comunidade de nações.



Fonte: Opera Mundi



Palestina LIVRE!!



John Pilger - A Palestina continua sendo a questão








Fonte: Youtube

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Herói judeu defende o “fim do apartheid de Israel”


Em seu “Livro das perguntas”, Pablo Neruda indaga: “Por que as árvores escondem o esplendor de suas raízes?”. E como se respondesse à inquietação do poeta chileno e ignorasse a minha pergunta, Ronnie Kasrils, sul-africano de pais judeus de origem russa, nascido em Joanesburgo, veterano militante da causa antiapartheid e ex-ministro de Nelson Mandela, iniciou a entrevista exclusiva mostrando o longo caminho percorrido até o Fórum Social Mundial Palestina Livre em Porto Alegre.


Por Leonardo Wexell Severo

Ronnie Kasrils, veterano combatente antiapartheid
Da mãe, “doce, solidária e humanista”, aprendeu que a segregação a que os negros eram submetidos na África do Sul, com suas mais variadas formas de abuso e violência, “era o mesmo tipo de veneno imposto aos judeus na Europa”. Seu pai, um caixeiro viajante, vendedor de balas e doces para as segregadas e miseráveis comunidades negras, logo se converteria numa das principais lideranças sindicais da África do Sul. Desta combinação surgiu a indignação e o desejo da mudança. Daí até a militância clandestina, estimulado por uma prima comunista, foi um passo. 

A pele branca caiu como uma luva para as necessidades do movimento antiapartheid, até que foi banido de falar em público, de ir às fábricas, de reunir-se com mais de três pessoas e, finalmente, ficar desempregado. “A partir de então os racistas me deixaram com todo o tempo livre para me dedicar à luta contra o apartheid sul-africano”. Por sua luta, Ronnie Kasrils foi reconhecido como “herói judeu”, título cassado após ter se pronunciado “contra o apartheid de Israel”.

Dirigente do Congresso Nacional Africano (ANC), Ronnie esteve reunido com Che Guevara, participou ativamente ao lado de vários combatentes pela libertação do Continente, como Agostinho Neto, de Angola, e Samora Machel, de Moçambique, e foi ministro de Nelson Mandela.

“A política de terrorismo de Estado de Israel é ainda pior do que a do apartheid sul-africano, pois o regime de segregação racial não cercava os bantustões – locais onde os negros eram concentrados e apartados da sociedade branca - nem os bombardeava com mísseis. Israel ergue muros e pratica crimes diariamente, covardemente, sem trégua, contra idosos, mulheres e crianças. Como disse certa vez um comandante militar israelense ao ver as barbaridades praticadas contra a aldeia de Deir Yassim, Israel está repetindo os nazistas”.

No auditório da Fecosul, Ronnie debaterá na próxima sexta-feira (30) sobre a Luta Palestina Anti-Apartheid – desafios, modelos e estratégias para a paz justa.

Abaixo, a íntegra da entrevista, que contou com a colaboração de Leonardo Vieira.

Como foi a sua participação na luta contra o apartheid na África do Sul?

A luta política contra o apartheid era pela não-violência, até que em março de 1960 um protesto pacífico em frente a uma delegacia de polícia foi banhado em sangue. O massacre deixou 69 mortos e representou um divisor de águas. Diante da brutal violência e repressão, discutimos que não havia outro caminho se não a resistência armada. Mandela me indicou como membro do comando de Durban e iniciamos ações que tinham como alvo os símbolos do apartheid, como os “Escritórios de classificação” onde os negros eram catalogados.

Catalogados de que forma?

Os racistas tinham 14 classificações diferentes para distinguir a inferioridade das raças. Iniciava pelo europeu e ia até o bantu, o mais negro de todos. Se uma pessoa dissesse que era branca eles olhavam as unhas, os dentes, como os nazistas faziam. Se um imigrante viesse do Líbano, devido à colonização europeia, era classificado como branco, se viesse da Síria era colorido. Atacávamos estes escritórios de classificação com uma regra: nunca matar ninguém. O objetivo era colocar abaixo os símbolos da opressão e do racismo. Isso inspirou muita gente a lutar e serviu como alerta ao regime de que era preciso mudar.

Foi um longo período de resistência até a realização das eleições e a vitória de Mandela em 1994.
Foram décadas de muita luta, pois os racistas não estavam dispostos a ceder. A repressão se desatou forte, com muitos militantes presos, torturados até a morte ou exilados. Neste período contamos com grande solidariedade de Angola e Moçambique para reconstruir nossa rede clandestina, que era então a única forma possível de luta.


Quais foram os pilares desta reconstrução?

Foram quatro pilares. O primeiro foi o motor da luta política, o povo como força que lidera o processo, com o sindicalismo à frente, com atuação destacada de jovens, mulheres e grupos culturais. O segundo pilar foi a montagem da rede clandestina, desde a propaganda, com a entrega de panfletos, até a infraestrutura para os combatentes. O terceiro foi a ação armada, com referência na atuação de Mao Tsé-Tung e de Che Guevara. O quarto foi a solidariedade internacional.

E a reunião com Che Guevara?

Eu me encontrei com Che em Dar-es Salaam, na Tanzânia, numa reunião em que também estavam Agostinho Neto, de Angola, e Samora Machel, de Moçambique. A concepção do Che e dos cubanos era bolivariana, de todos os líderes assumirem o internacionalismo da causa e contribuírem para a libertação de cada país como se fosse o seu próprio. Era esta a sua pregação e foi este o seu compromisso até o fim.

Fazendo um paralelo com o momento da derrubada do apartheid na África do Sul, como vês o papel da solidariedade internacional contra a política de terrorismo de Estado e segregação levada a cabo pelo governo de Israel?

O movimento antiapartheid nos deu um tremendo apoio e impulso em vários momentos em que a situação interna estava extremamente complicada. Foi uma contribuição inestimável para enfraquecer e isolar os racistas, pois unia gente de todas as origens e classes. Vale lembrar que era um Estado muito poderoso, com mais de cinco milhões de brancos. Nenhuma colônia teve tantos brancos, com raízes no país há muitos anos, grande exército, economia industrial com abundantes recursos minerais. E os Estados Unidos e a Europa como defensores, com Ronald Reagan e Margaret Thatcher à frente. Ao mesmo tempo, os negros eram submetidos à pobreza mais abjeta, à ignorância profunda, com o regime estimulando a divisão por tribos para melhor manipular. Se você fosse mestiço ou indiano já era capataz, era assim que funcionava.
Diante deste quadro interno, a solidariedade trazia esperança.


Neste momento, a adoção de uma política de boicote, desinvestimento e sanções não seria um caminho natural para chamar o governo israelense à razão?

Acredito na efetividade do boicote quando ele chega no bolso, pois é onde dói, ajudando as pessoas a abrirem os olhos e potencializar a resolução desta situação insustentável. Com o boicote e as sanções, os acadêmicos israelenses que se sentem naturalmente orgulhosos de suas conquistas repensarão o alto preço pago pelos palestinos. Se houver boicote de armas e sanções militares, estará minada a capacidade de agressão de Israel.

Conte um pouco da sua trajetória.

Eu tive de sair da África do Sul em 1963. Tive treinamento militar na União Soviética e em Cuba. Passei pela Tanzânia, Londres, Angola e Moçambique como chefe do braço armado do Congresso Nacional Africano até 1990. Fui ministro de Defesa Adjunto de Mandela até 1994, ministro de Águas e Florestamento em 1999, ministro da Segurança em 2004 até 2008, quando saí do governo. Sempre fui muito incisivo contra a agressão israelense, ainda mais por ser descendente de judeus, e me tornei um alvo para Israel e para os sionistas. Visitei oficialmente a Cisjordânia e a Faixa de Gaza onde pude ver o quão absurda é a manutenção deste criminoso regime de segregação.

O que sentiste ao visitar os territórios ocupados por Israel?

Tanto em Gaza quanto na Cisjordânia senti uma espécie de dejàvu, era como se estivesse de volta ao regime de apartheid. Na verdade, o que é feito contra os palestinos é ainda pior do que o apartheid sul-africano. Porque por mais brutal que fosse o regime, na África do Sul não se bombardeavam os bantustões, nunca houve o uso de helicópteros, mísseis e tanques. Nas operações, os racistas quebravam portas, prendiam, torturavam, mas isso durava duas semanas, nunca indefinidamente, como acontece na Palestina. Estive em 2004 com Yasser Arafat na sede da presidência da Autoridade Nacional Palestina (ANP) em Ramalah e ele me disse “não está vendo o meu bantustão?” Eu respondi que aquilo não era um bantustão e todos me olharam assombrados, como se eu tivesse relativizando a gravidade da situação. Mas logo eu respondi que o local era pior do que um bantustão, porque eles nunca foram bombardeados nem nunca houve muros ao seu redor.

Uma segregação sem limites.
Qualquer ser humano de bom senso se sente extremamente chocado com tamanha selvageria. A situação é ainda mais impressionante quando tais crimes são reproduzidos por pessoas descendentes dos que sofreram o holocausto. Minha mãe, sempre muito doce, me ensinou os valores da vida e diante do que via sendo feito com os negros sul-africanos dizia que as pessoas, quando são submetidas a uma lavagem cerebral, se tornavam nazistas. Quando viu as crianças palestinas assassinadas na aldeia de Deir Yassin, em 1948, Cizling, um chefe israelense, disse: “Agora nos comportamos como nazistas”. É inadmissível que alguém com origem judaica perverta desta forma os ideais humanistas e passe a agir como monstro, praticando punições coletivas.


De que forma o Fórum pode contribuir para colocar um ponto final nesta sucessão de crimes?

O Fórum Social Mundial Palestina Livre tem um significado histórico de mobilização da sociedade, principalmente neste momento em que cresce a pressão internacional para que a ONU reconheça o Estado palestino como membro pleno. O fato de que esta solidariedade internacional seja um movimento pacífico mostra o seu intenso valor moral. O fim do apartheid de Israel contra os palestinos vai beneficiar não só os israelenses, mas também os judeus pelo mundo afora, a exemplo do que ocorreu quando caiu o regime de segregação na África do Sul. Muito diferente de representar uma ameaça, o fim do apartheid liberou os sul-africanos do peso das correntes de uma histeria militar e conquistou uma harmonia para toda a África, com progresso e segurança para todos. Tamanhos benefícios só podem vir com uma solução justa. Vale lembrar que na era dourada do Islã e do judaísmo houve uma convivência harmoniosa, de elevada solidariedade.

Da mesma forma que Estados Unidos, Inglaterra e Israel se alinhavam na ONU para blindar o regime de apartheid da África do Sul, hoje os EUA e a Europa Ocidental se empenham na defesa dos crimes do Estado de Israel. Qual a sua leitura sobre isso?

O interesse econômico e geopolítico explica as razões de tamanho apoio dos EUA e dos países da Europa Ocidental, mas os israelenses têm de repensar essa dependência total, porque o mundo está mudando. Israel é muito pequena dentro de um mundo árabe enorme. Será melhor para todos que o governo de Israel saia deste jogo perigoso e busque uma convivência harmoniosa com a região.

Começou a contagem regressiva para o final do apartheid de Israel?

Atualmente converso com ministros do tempo do apartheid na África do Sul e pergunto: o que te fez mudar? E um ministro muito importante me respondeu que havia sido quando o banco Barclay, da Inglaterra, anunciou que iria sair do país. Então, disse ele, é o fim pra mim, não tem mais jeito. O início do fim ocorreu portanto quando o banco do colonialismo inglês, sofrendo as intensas pressões internas, com as mobilizações, e internacionais, com a onda de solidariedade, após 200 anos, deixou o país. Isso ajudou a mudar a corrente de opinião.




*Título do Vermelho

Fonte: Vermelho
Imagem:  Leonardo Wexell Severo

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Debate sobre o conflito na faixa de Gaza



O professor Salem Nasser, coordenador do Centro de Direito Global da Fundação Getúlio Vargas e o presidente da Federação Israelita do Estado de São Paulo, Mario Fleck, falam sobre o conflito entre israelenses e palestinos.






Fonte: Youtube

PARAGUAY - O "Golpe" foi realmente LEGÍTIMO





Franco anuncia descoberta de petróleo no Norte do Paraguai


Renata Giraldi
Repórter da Agência Brasil


Brasília – O presidente do Paraguai, Federico Franco, anunciou nesta segunda-feira 26 que foi descoberta grande quantidade de petróleo na região do Chaco, no Norte do país, na fronteira com o Brasil, a Argentina e a Bolívia. Segundo o presidente, o governo se empenhará para que o Paraguai seja incluído na relação dos países produtores de petróleo. O anúncio de Franco ocorreu durante almoço com empresários brasileiros.

"O Paraguai é um país cheio de oportunidades. Se Deus quiser, na próxima semana, será encontrado mais petróleo de qualidade e abundância na região do Chaco, na Bacia de Perity", disse Franco. O Paraguai está suspenso do Mercosul e da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) em decorrência de suspeitas dos líderes regionais sobre o rompimento da ordem política durante o impeachment do ex-presidente Fernando Lugo,

Segundo Franco, até junho de 2013, o Paraguai estará entre os produtores de petróleo no mundo. As empresas responsáveis pela exploração do produto são Crescent Global Oil, cuja sede fica no Texas, nos Estados Unidos, e Pirity Hidrocarbonetos. A previsão é que a perfuração ocorra a partir de dezembro deste ano.

O Chaco é uma região extensa, com parte de deserto e pouco povoada. As autoridades paraguaias têm buscado petróleo nessa área para evitar a dependência estrangeira.


Fonte: 247
Imagem: Google (colocada por este blog)


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Relembrando 2006

O presidente dos Estados Unidos, George Bush, comprou 40 mil hectares de terras no Paraguai, na região do Chaco, próximo ao Pantanal brasileiro e de reservas de gás da Bolívia, afirma o site de notícias independente neike.com.py.

A informação não pôde ser confirmada pelo  Instituto Nacional de Desenvolvimento Rural e da Terra, encarregado das terras rurais do Estado paraguaio, mas coincide com a visita que Jenna Bush, filha de George Bush, está fazendo ao Paraguai, com apoio da Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), cujo programa de atividades inclui visitas a acampamentos indígenas na região do Chaco - extensa região de aproximadamente 250 mil quilômetros quadrados que se estende ao norte e ao oeste de Assunção, e que faz fronteira com a Argentina, Bolívia e Brasil.

Fontes consultadas pelo site apontaram que Jenna visitará os campos adquiridos por seu pai, que estão relativamente próximos ao Pantanal brasileiro e das reservas de gás da Bolívia". O site, no entanto, admite que nenhuma fonte oficial confirmou a informação, mas disse que uma fonte segura confirmara à Neike que o presidente norte-americano comprou terras.

Um porta-voz do organismo disse que, na região do Chaco, a maior parte das terras corresponde a empresas privadas e que, se a compra for verdadeira, pode se tratar de uma transação por terras privadas e não do Estado.

Nessa região, o instituto pode vender apenas terrenos de entre 400 hectares e 4.000 hectares, a um preço de US$ 5 o hectare, informou um porta-voz do Departamento de Planejamento Físico e Cadastro da entidade, que também esclareceu que na mesma região existem proprietários que têm até 76 mil hectares, e que nas transações entre empresas privadas os preços variam entre US$ 40 e US$ 100 o hectare.


Fonte: Folha Online



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Podemos hoje comprovar que não foi à toa que George W. Bush comprou  40 mil hectares de terras "inóspitas" no Paraguai.


"Coincidentemente" os EUA foi o primeiro país a reconhecer o governo de Federico Franco como "legítimo".

Mais uma vez (entre milhões de vezes) os EUA estão por trás (pela frente e pelos lados) de qualquer país onde possam tirar proveito.


Burgos Cãogrino

Irã oferece petróleo gratuito por 30 anos à Jordânia




Há duas semanas, a Jordânia vem sendo abalada por amplas manifestações de protesto contra a anulação dos subsídios governamentais ao combustível, decisão essa motivada por um elevado défice orçamental.

O Irã, que gostaria de envolver a Jordânia no Eixo da Resistência,resolveu se aproveitar da difícil situação daquele país do Oriente Médio. O embaixador iraniano em Amman, Mustafa Zadeh, declarou: "Meu país está disposto a fornecer ao reino petróleo gratuito durante os próximos 30 anos. Nossos dois países têm um inimigo comum e ambos conhecemos seu nome".

Fontes em Amman duvidam que a Jordânia, apesar do caráter muito sedutor da proposta, resolva aceitá-la.




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Nota da Redação NavalBrasil:

Vamos ver se os EUA (capenga das pernas na economia) consegue fazer um blefe e dobrar a proposta do Irã!

Se o negócio for fechado, em contrapartida, o Irã colocaria algumas centenas de mísseis de defesa dentro da Jordânia, nas proximidades das fronteiras com Israel – dessa forma, estaria anulado qualquer ataque aéreo vindo de Israel!

O Irã sabe a quem oferece tamanha sedução, pois o rei Abdullah II, não é muito fã de Israel visto que há dias atrás ligou Netanyahu e alertou-o sobre as “perigosas consequências” na região se Israel continuar sua ofensiva sobre Gaza.



Querem apostar se esse negócio for adiante, os EUA vão incitar o povo a derrubar o monarca, numa espécie de 'primavera árabe continuada'?


 Fonte: NavalBrasil 

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Nas vésperas das eleições, ministro de Defesa de Israel abandona política


Ehud Barak
O ministro de Defesa de Israel, Ehud Barak, surpreendeu cidadãos e autoridades israelenses quando anunciou que deixará a vida política em uma coletiva surpresa nesta segunda-feira (26). A apenas dois meses das eleições gerais, Barak, de 71 anos, afirmou que gostaria de se dedicar à família.

Barak é considerado um dos políticos mais importantes de Israel. Pelo Partido dos Trabalhadores, foi primeiro ministro de 1999 até 2001, quando perdeu a reeleição para Ariel Sharon. Em seu governo ocorreu a retirada das tropas israelenses do sul do Líbano, ocupado por 22 anos. Durante a coletiva, ele afirmou que ficará no cargo de ministro até as eleições, que ocorrerão dia 22 de janeiro, e garantiu que não voltará a concorrer nas próximas disputas eleitorais.

Depois de apoiar a coalizão governamental do atual premiê Benjamin Netanyahu, o Likud, Barak rompeu com o Partido Trabalhista e, em 2011, criou o Partido Independente. Recentemente, o partido cresceu nas intenções dos votos da população, que parece satisfeita com a atuação de Barak na última operação na Faixa de Gaza.

“Eu sinto que esgotei minha atividade política, que nunca foi meu principal objeto de desejo”, disse ele durante a coletiva. “Eu acredito que esta decisão é importante para abrir caminho para novos rostos – uma mudança nas posições de poder é uma coisa boa”, acrescentou.

O primeiro ministro Netanyahu divulgou um comunicado depois do anúncio de Barak afirmando que respeita a decisão do ministro. Ele ainda agradeceu os anos de empenho do político nas questões de segurança nacional e elogiou sua atuação.

Shelly Yacimovich, líder do Partido Trabalhista, o qual Barak já liderou, também reconheceu o papel desenvolvido pelo ministro da Defesa e lamentou sua decisão. “Ele já fez mais às Forças de Defesa de Israel e à segurança do estado que o público pode imaginar”, disse ela.

Barak desenvolveu um importante papel na recente investida miltar contra Gaza ao lutar por um cessar-fogo com os palestinos, mediado pelo Egito. Ele discordou do ministro das Relações Exteriores, Avigdor Liberman, e de muitos outros membros do partido de Netanyahu.



Com informações do Opera Mundi
Fonte: Sul21
Imagem: Google

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Essa é uma notícia que mostra claramente a desestabilização do sionismo em Israel.

Como vemos a campanha internacional para que seja reconhecido o Estado da Palestina está desestruturando o regime sionista de Israel e dos EUA.


O mundo não aceita mais o colonialismo e imperialismo que sempre impuseram aos povos.

O mundo não aguenta mais ver tantos povos sendo massacrados por interesses puramente sionistas.

(Burgos Cãogrino)




Amira Hass: Direito à autodefesa, vitória da propaganda sionista


Este artigo, de uma jornalista israelense e publicado no importante jornal Haaretz, é significativo e corajoso: pela recusa da propaganda que novamente pretende transformar agressores em agredidos e pelo testemunho que dá de que o sionismo pode ser esmagadoramente dominante na sociedade israelense, mas que continua a haver - e possivelmente a aumentar - entre os israelenses a recusa e o combate a essa ideologia racista, colonialista e fascista.

 Por Amira Hass no Haaretz*
Com o seu apoio à ofensiva de Israel em Gaza, os líderes ocidentais deram carta branca aos israelenses para que façam aquilo que melhor sabem fazer: chafurdar na sua vitimização e ignorar o sofrimento palestino.

Uma das tremendas vitórias da propaganda de Israel é que tenha sido aceito como vítima dos palestinos, tanto em termos da opinião pública israelense como da dos líderes ocidentais, que se apressam a falar do direito de Israel a defender-se. A propaganda é tão eficaz que apenas os foguetes palestinos no sul de Israel, e agora em Tel Aviv, são inventariados no balanço das hostilidades. Os foguetes, ou os danos no que há de mais sagrado - um jeep militar - são sempre apresentados como ponto de partida e, ao som da aterradora sirene, como se se tratasse de um filme da Segunda Guerra Mundial, constroem a meta-narrativa da vítima que tem direito a defender-se.

Todos os dias, e na realidade em todos os momentos, esta meta-narrativa permite a Israel acrescentar um outro elo à cadeia do saque de uma nação tão antiga como o próprio Estado, enquanto ao mesmo tempo é ocultado o fato de que um fio condutor se desenrola desde 1948 quando foi negado aos refugiados palestinos o regresso aos seus lares, a expulsão dos beduínos do deserto de Negev em princípios de 1950, a expulsão atual dos beduínos do vale do Jordão, as fazendas para os judeus no Negev, a discriminação nos orçamentos de Israel e os disparos contra os pescadores de Gaza para os impedir de ganhar a vida de forma respeitável. Milhões destes fios contínuos não tiveram interrupção desde 1948 até o presente. É este o tecido da vida da nação palestina, tão isolados como estão na solidão dos seus diversos confinamentos. É assim o tecido da vida dos cidadãos palestinos de Israel e dos que vivem nas suas terras de exílio.

Mas estes fios não constituem toda a trama da vida. A resistência aos fios que nós, os israelenses, fazemos indefinidamente girar, também é parte da trama da vida dos palestinos. O significado da palavra resistência foi degradado para lhe atribuir o sentido de uma disputa muito masculina na qual os mísseis terão por alvo zonas muito afastadas (uma disputa entre as organizações palestinas, e entre elas mesmas e o exército regular israelense). Isto não invalida o fato de que, em essência, a resistência à injustiça inerente à dominação israelense é parte integrante da vida quotidiana dos palestinos.

Os ministérios dos Estrangeiros e do Desenvolvimento no Ocidente e nos Estados Unidos colaboram aleivosamente na mentirosa representação de Israel como vítima, uma vez que a cada semana recebem relatórios dos seus representantes na Margem Ocidental e na Faixa de Gaza sobre um elo mais que foi acrescentado à cadeia de desapropriação e opressão que Israel impõe, ou até porque os seus próprios contribuintes “doam dinheiro para alguns dos desastres humanitários, grandes e pequenos, infligidos por Israel”.

Em 8 de novembro, dois dias antes do ataque ao mais santo dos santos - os soldados de um exército em jeep – esses contribuintes poderiam ter lido que os soldados israelenses tinham matado Ahmad Abu Daqqa, de 13 anos, que estava a jogar futebol com os seus amigos na povoação de Abassan, a leste de Khan Yunis. Os soldados estavam a 1,5 quilômetros das crianças, dentro da zona da Faixa de Gaza, ocupados em “expor” (palavra utilizada para branquear uma outra, “destruir”) as terras agrícolas. Sendo assim, por que não começar a narrativa da escalada de agressão na morte do menino? Em 10 de novembro, depois do ataque ao jeep, o exército israelense matou outros quatro civis de 16 a 19 anos.
Chafurdar na ignorância

Os líderes do Ocidente podiam saber que antes do exercício do exército de Israel da passada semana, dezenas de famílias beduínas do vale do Jordão foram obrigadas a evacuar os seus lares. Não é curioso que os treinos do exército israelense tenham sempre que ser realizados nos lugares onde vivem os beduínos e não onde estão os colonos israelenses, e que esse fato constitua um motivo para os expulsar? Outra razão. Outra expulsão. Os líderes do Ocidente também poderiam ter sabido, com base no artigo impresso a quatro cores em papel cromo em que é feito o relatório das finanças dos seus países, que desde o início de 2012, Israel destruiu 569 edifícios e estruturas palestinas, incluindo poços de água e 178 moradias. No total, 1.014 pessoas foram afetadas pelas demolições.

Não ouvimos as massas de Tel Aviv nem os residentes das zonas do sul advertir os administradores do Estado sobre as implicações desta destruição sobre a população civil. Os israelenses chafurdam alegremente na sua ignorância. Esta informação e a de outros fatos semelhantes está disponível e acessível a qualquer um que esteja realmente interessado. Mas os israelenses optam por não saber. Esta ignorância voluntaria é uma pedra angular da construção do sentido de vitimização de Israel. Mas a ignorância é ignorância: o fato de que os israelenses não querem saber o que estão a fazer, como potência ocupante, não nega os seus atos nem a resistência palestina.

Em 1993 os palestinos deram uma prenda a Israel, uma oportunidade dourada para cortar a trama dos fios que atam 1948 até o presente, de abandonar as características de país de saque colonial, e de planear juntos um futuro diferente para os dois povos na região. A geração palestina que aceitou os Acordos de Oslo (cheios de armadilhas colocadas por inteligentes advogados israelenses) é a geração que conheceu uma multifacética, e até normal, sociedade israelense que permitiu a ocupação de 1967 (com o fim de conseguir mão de obra barata) com uma liberdade de movimentos quase completa. Os palestinos chegaram a um acordo sobre a base das suas reivindicações mínimas. Um dos pilares destas exigências mínimas definia a Faixa de Gaza e a Cisjordânia como uma entidade territorial única.

Mas desde que teve início a aplicação de Oslo, Israel fez sistematicamente todo o possível para que a Faixa de Gaza se convertesse numa entidade independente, desligada, no quadro da insistência de Israel em manter e ampliar a trama de 1948. Desde o aparecimento do Hamas, tem feito todo o possível para dar apoio à concepção que o Hamas prefere: que a Faixa de Gaza é uma entidade política separada onde não existe ocupação. Se isto é assim, por que não ver as cosas da seguinte maneira: Como entidade política independente, qualquer incursão no território de Gaza é uma violação da sua soberania, e Israel está constantemente a fazê-lo. Por acaso não terá o governo do Estado de Gaza o direito de responder, de ripostar, ou ao menos o direito masculino - um gémeo do direito masculino do exército israelense – a assustar os israelenses da mesma forma que eles o fazem com os palestinos?

Mas Gaza não é um Estado. Gaza está sob ocupação israelense, apesar de todas as acrobacias verbais tanto do Hamas como de Israel. Os palestinos que vivem ali são parte de um povo cujo DNA contém a resistência à opressão.

Na Cisjordânia, os ativistas palestinos procuram desenvolver um tipo de resistência diferente da resistência armada masculina. Mas o exército israelense destrói com zelo e determinação toda a resistência popular. Não temos ouvido dizer que os residentes de Tel Aviv e das zonas do sul se queixem da simetria de dissuasão que o exército israelense está a construir contra a população civil palestina.

E assim de novo Israel oferece mais razões aos mais jovens palestinos, para quem Israel é uma sociedade anormal de exércitos e de colonos, para concluir que a única resistência racional é o derramamento de sangue e o contraterrorismo. E assim todos os elos da opressão israelense e toda a ignorância da existência da opressão israelense nos vai arrastando encosta abaixo na ladeira da disputa masculina.



*Amira Hass, jornalista israelense, filha de dois sobreviventes do Holocausto que, ao chegarem a Israel, se recusaram a viver em casas roubadas a palestinos expulsos da sua terra.


Publicado em Português por www.odiario.info

Fonte: Vermelho
Imagem:Google
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