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domingo, 31 de agosto de 2014

Ebola: mais uma pandemia lucrativa

 
 
 
O Ebola é uma "febre hemorrágica", doença grave transmitida por um vírus e traduz-se por um quadro febril acompanhado de hemorragias e imunodepressão. A taxa de mortalidade é elevada, podendo atingir os 90% e actualmente não existe qualquer tratamento. A transmissão é feita pelo contacto com pessoas infectadas e não por via aérea.

Um tratamento milagroso.

Após ter sido hospitalizado em Atlanta, nos Estados Unidos, o médico Kent Brantly, saí desse hospital passado poucas semanas, como um herói, curado e rodeado de um aparato mediático impressionante.

Declara: "Deus salvou-me a vida". Após agradecer à equipa médica e às milhares de pessoas que em todo o mundo rezaram para a sua cura, acrescenta: "Por favor, não deixem de rezar para os povos de África Ocidental".

Para além das rezas, Kent Brantly, terá recebido, no hospital, um tratamento experimental e passado poucas horas o seu estado clínico melhorou tanto que até foi visto a deambular no seu quarto.

Este "milagre" levanta algumas dúvidas: será que este médico estava realmente infectado ou tudo não passa de um show mediático, dada a cura inesperada e tão célere?

Será mais uma epidemia mundial com contornos lucrativos por parte do lobby farmacêutico?


Chegou a vez dos...morcegos.

O Ebola é uma zoonose (doença transmitida do animal ao homem), outrora raras estão a tornar "moda", já tivemos as vacas, os porcos, as aves e agora fala-se que inicialmente o Ebola poderá ter tido origem nos morcegos-da-fruta que o terá transmitido aos macacos e aos porcos.

O lobby farmacêutica sempre à espreita...

O novo medicamento, chamado Zmapp, foi desenvolvido pela companhia de biotecnologia Mapp Biopharmaceutical Inc de São Diego, na Califórnia. Esta empresa trabalha em colaboração com a empresa canadiana de biotecnologia Defyrus.

Este medicamento terá sido descoberto durante um programa financiado pelo Instituto Nacional de Saúde e a Agência de Redução das Ameaças de Defesa, ligada ao ministério da Defesa americano e especializado na luta contra ameaças químicas ou biológicas.

A empresa canadiana, Tekmira Pharmaceuticals, também tem um contrato de 140 milhões de dólares com o departamento de Defesa americano para tentar encontrar um tratamento contra o Ebola, o seu protótipo já se encontra em fase de ensaios clínicos desde janeiro de 2014.

No dia seguinte ao repatriamento de Kent Brantly, a cotação da Tekmira subia 33% na bolsa de Nova Iorque. No dia 09 julho deste ano, a empresa Tekmira recebeu 1,5 milhões de dólares da Monsanto, teoricamente para a investigação de produtos na área da agricultura. Esse valor poderá alcançar um total de 86,2 milhões em função do sucesso do projecto.

Entretanto, a empresa japonesa Toyama Chemical, diz ter homologado em março um medicamento contra a gripe, composto por três anticorpos monoclonais, chamado de favipiravir e comercializado com o nome de Avigan, que poderá tratar o Ebola.

A corrida aos milhões está lançada.

A malária mata mais de 3 milhões de pessoas por ano no mundo.
 
A tuberculose mata mais de 2 milhões de pessoas por ano no mundo.
 
As doenças diarreicas matam mais de 2,5 milhões de pessoas por ano no mundo.
A AIDS mata mais de 3 milhões de pessoas no mundo. 
 
A poluição do ar mata mais de 7 milhões de pessoas por ano no mundo.
 
A doenças ligadas às condições de trabalho matam mais de 2 milhões de pessoas por ano no mundo.
A fome mata mais de 3 milhões de pessoas por ano no mundo.
 
 
Fonte: Octopus 
 
 
 

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Agredida pelo Jornal Nacional, Dilma se defende

Com posturas até então desconhecidas do grande público, os apresentadores William Bonner e Patrícia Poeta deixaram a elegância de lado e partiram para o ataque sobre a presidente Dilma Rousseff, na entrevista ao Jornal Nacional concedida no Palácio da Alvorada, em Brasília, nesta segunda-feira 18. Ambos estavam vestido de preto, indicando luto pela morte do ex-governador Eduardo Campos, cujo último compromisso eleitoral foi a entrevista da quarta-feira 13. Eles não dirigiram nenhuma pergunta sobre o fato à presidente.
 
Bonner parecia o mais irritado, mas Patrícia não quis ficar atrás. Ela chegou a apontar, em riste, o dedo para a face próxima da presidente, insistindo que o governo dela e do ex-presidente Lula não fizeram "nada" na área da saúde. A presidente conseguiu dizer, entre interrupções da entrevistadora, que hoje, ao contrário do passado, o atendimento de saúde pública atinge 50 milhões de brasileiros.

No início da entrevista, Bonner perguntou, por mais de um minuto, sobre "corrupção e mal feitos", citando uma série de ministérios e também a Petrobras.

- Qual a dificuldade de formar uma equipe de governo com gente honesta?, questionou ele, mais ao estilo botequim de esquina do que o que emprega normalmente, todos os dias, à exceção dos domingos, na bancada do JN. O jogo de apertar a presidente ficou claro desde o primeiro momento.

A própria Dilma percebeu e não se intimidou com a postura da dupla. Procurou responder a todas as perguntas e manter a calma, mas não dando as respostas que Bonner e Patrícia esperavam. Dillma tinha argumentos na ponta da lingua.

- Fomos o governo que  mais estruturou o combate à corrupção e aos mal feitos, respondeu Dilma. "

- Nenhum procurador geral da República foi chamado no meu governo de engavetador geral da República", acrescentou, numa referência nada sutil a Geraldo Brindeiro, dos tempos do governo Fernando Henrique.

BONNER NUNCA FIZERA PERGUNTAS TÃO LONGAS E EM TOM TÃO DURO

O âncora do Jornal Nacional insistiu no tema da corrupção, usando cada vez mais ênfase sobre a presidente:

- Um grupo de elite do seu partido foi condenado por corrupção, são corruptos, posso dizer por que a Justiça já julgou, mas o seu partido protegeu essas pessoas. O que a sra. acha dessa postura do seu partido?

Dilma não respondeu diretamente, optando por lembrar sua posição institucional:

- Enquanto eu for presidente da República, não externarei opinião pessoal sobre decisões do Supremo Tribunal Federal. Eu tenho a minha opinião, mas não vou externá-la.

- Mas o que a sra. diz sobre a postuta do seu partido? A sra. não diz nada?

- Olha, Bonner, eu não vou entrar nisso de me manifestar contra a decisão de um poder constitucional. Isso é muito delicado, merece o meu maior respeito.

PATRÍCIA APONTOU O DEDO EM RISTE PERTO DA FACE DA PRESIDENTE


Patrícia, que até então estava calada, perguntou sobre saúde, afirmando que "nada fora feito" nos governo Dilma e Lula, e que "as filas se multiplicam nos hospitais e postos de saúde". Dilma, outra vez, procurou responder sem aceitar a indagação como provocação.

Patrícia não gostou do que ouviu, e lá veio Bonner atacar de novo:

- A sra. considera justo culpar ora a crise econômica internacional, ora os pessimistas pelo baixíssimo crescimento da economia brasileira, pela inflação alta?

- A inflação cai desde abril, Bionner, agora mesmo saiu um dado oficial mostrando que houve zero por cento de aumento de preços em julho. Por outro lado, todos os dados antecedentes ao segundo semestre, aqueles que anunciam o que vai acontecer na economia, mostram que haverá crescimento em relação ao primeiro semestre.

Bonner não pareceu satisfeito com a resposta, mas em razão do tamanho das perguntas que havia feito antes, percebeu que o tempo de 15 minutos estava estourando. Foram, de fato, questionamentos quilométricos os que ele fez.

- Eu vou garantir um minuto para a sra. encerrar, disse ele, visivelmente insatisfeito.

- Obrigado, Bonner, eu quero dizer que acredito no Brasil, reiterou Dilma, que ainda foi mais duas vezes interrompida para que fosse cumprido o tempo estabelecido.

- Eu compreendo, vou suspender a minha fala, encerrou Dilma, com classe, diante dos entrevistadores que se mostraram em pleno ataque de nervos.


Fonte: Brasil 247

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

O neo-eurasianismo e o redespertar russo

 

 

Por Dídimo Matos

   

O Eurasianismo


O termo eurasianismo apresenta diversas acepções. Surge pela primeira vez no século XIX, cunhado pelo movimento eslavófilo que defendia a rica diversidade da Eurásia2, numa espécie de outra via que não europeia ou asiática, e que juntasse a cultura e tradição da Ortodoxia e da Rússia. Esse foi, pois, seu primeiro uso.

Tais ideias foram retomadas logo após a I Guerra Mundial, por figuras como o filólogo e etnólogo Nikolai S. Trubetskoy, pelo historiador Peter Savitsky, pelo teólogo ortodoxo G. V. Florovsky e, mais a frente, pelo geógrafo, historiador e filósofo Lev Gumilev, que defendia a luta cultural e política entre, de um lado, o Ocidente e, de outro, o subcontinente da Eurásia3, guiado pela Rússia. Gumilev foi o criador de duas teorias: i) a da etnogénese, pela qual as nações são originárias da regularidade do desenvolvimento das sociedades; e ii) a da paixão, sobre a capacidade humana para se sacrificar em prol de objetivos ideológicos.

Estes teóricos do eurasianismo, estudaram de modo aprofundado os impérios de Gengis Khan, Mongol e Turco-Otomano, e se encontraram, mais de uma vez, com o geopolítico alemão Karl Haushofer. Baseada ainda na produção do britânico Halford Mackinder, essa primeira versão do eurasianismo procurou estabelecer a identidade russa, distinta da ocidental, e propugnava uma fusão das populações muçulmanas e ortodoxas. Rejeitaram a proposta de integração russa à Europa, de Pedro, o Grande. Defendiam que a Rússia era, claramente, não europeia, que era um continente em si, separado objetivamente, tanto da Europa quanto da Ásia, pela geografia, e que teve sua cultura moldada por influências da Ásia.

Com a revolução russa, Trubetskoy tentou adaptar seu pensamento à nova realidade, acompanhado por outros eurasianistas. Ele defendeu que o separatismo era inaceitável e insistiu na indivisibilidade da grande região que correspondia a Eurásia, ou seja, que a União Soviética (URSS) deveria manter o império russo em toda a sua extensão, em uma ideia de globalidade distinta da europeia e da asiática: “o substrato nacional do antigo Império Russo e atual URSS, só pode ser a totalidade dos povos que habitam este Estado, tido como uma nação multiétnica peculiar e que, como tal, possuía o seu próprio nacionalismo”. (SANTOS, 2004).

Para Savitsky, a Eurásia havia sido formada pela natureza, que havia condicionado e determinado os movimentos históricos e a interpenetração dos povos, cujo resultado fora a criação de um único estado, que derivando da natureza, possuía a qualidade transcendente dessa mesma natureza (SANTOS, 2004).
Além desses primeiros eurasianistas, temos o atual eurasianismo, tema central dessa comunicação e que passamos a discutir abaixo.
O Eurasianismo atual, ou neo-eurasianismo, herda dos anteriores muitas de suas características, mas é distinto de ambos em vários sentidos. Basicamente, foi idealizado pelo russo Alexander Dugin.
 
Alexander Dugin

 Alexander Dugin pode ser caracterizado como geopolítico, filósofo, cientista político e sociólogo. Ele é também considerado um importante jornalista e analista político. É preciso enfatizar sua grande influência no pensamento geopolítico russo pós-soviético. Seu pensamento que a geopolítica é não somente uma ciência, mas possui muito de ideologia tem tido muita influência na política russa, e seus livros são utilizados pelas escolas geopolíticas militares e civis da Rússia.
Dugin ocupou cargos de assessoramento na Duma e teve muita influência junto aos assessores ocupados da política externa dos governos Vladimir Putin e D. Medvedev, sendo considerado o idealizador oficioso dessa. Essa influência é vista nos pronunciamentos de ambos os líderes russos, quando falam abertamente no eurasianismo como guia das relações internacionais da Rússia.

Atualmente, Dugin ocupa o cargo de chefe do Departamento de Sociologia das Relações Internacionais, da Universidade Estatal de Moscou, e a presidência do Centro de Estudos Conservadores, dessa mesma universidade.

O Neo-eurasianismo de Dugin

Visto de maneira integral, o neo-eurasianismo não é apenas uma teoria geopolítica, mas uma filosofia geral que possui as seguintes características:

a) Histórica e geograficamente é o mundo inteiro excetuando o setor ocidental;


b) Estratégica e militarmente é a união de todos os países que não aprovam as políticas expansionistas dos EUA e da OTAN;


c) Culturalmente representa a preservação das tradições culturais, nacionais, étnicas e religiosas orgânicas;


d) Socialmente representa formas diferentes de vida econômica e a “sociedade socialmente justa”.
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O neo-eurasianismo tem por princípios:

1) o Diferencialismo: pluralismo de sistema de valores contra a dominação obrigatória de uma ideologia;

2) a Tradição: contra a supressão de culturas, dogmas e descobertas das sociedades tradicionais;


3) os direitos das nações contra os “bilhões de ouro” e a hegemonia neocolonial do “norte rico”;


4) as etnias como valores e sujeitos da história contra a despersonalização das nações, aprisionadas em construções sociais artificiais;


5) a justiça social e solidariedade humana contra a exploração e humilhação do homem pelo homem.


Enquanto teoria geopolítica, o neo-eurasianismo faz parte da chamada escola expansionista (TEIXEIRA, 2009), que passaremos a descrever. A Figura 1 mostra simbolicamente as pretensões expansionistas do coração da Rússia para o mundo, em todas as direções.

O eurasianismo pretende em primeiro lugar, ser uma alternativa à globalização. Dugin entende o modelo de globalização atual como a representação do expansionismo dos EUA e seus aliados da OTAN, ou seja, como a representação de um mundo unipolar que tem nos estadunidenses seu modelo econômico e filosófico e que quer impor ao mundo seus valores liberais, individualistas e democráticos.


Do coração da Rússia para o mundo

Como alternativa ao modelo de globalização atual, Dugin fornece um novo modelo de globalização, baseado na conjugação de ideias de H. Mackinder e K. Haushofer. Retira de Mackinder a ideia de luta entre terra e mar, e de que quem domina o coração da Eurásia domina o mundo. Defende, como o geopolítico estadunidense Bzerzinki, que a Rússia é o coração da Eurásia e representa o centro das forças terrestres (eurasianistas) em luta contra as forças marítimas (atlantistas) guiadas pelos EUA.

De Haushofer, se inspira na ideia de pan-regiões e as redesenha para defender, contra o mundo unipolar da globalização atual, um novo modelo de globalização multipolar, com quatro Zonas Meridionais: a zona Anglo-Americana, a zona Euro-Africana, a zona Rússia-Ásia Central e a zona do Pacífico. Nesse esquema, a zona Anglo-Americana (Atlantista) seria contrabalançada pelas outras três zonas.

Cada zona meridional no projeto eurasiano consiste de vários “grandes espaços” ou “impérios democráticos” (Figura 2). Cada um deles possui liberdade relativa e independência, mas está estrategicamente integrado em uma zona meridiana correspondente. Os grandes espaços correspondem às fronteiras das civilizações e incluem vários Estados-nações ou união de Estados.
A Rússia, para dominar o imenso espaço da zona meridional Rússia-Ásia Central, precisa, no âmbito interno, originar um Estado com diversas etnias e religiões,bem como, no plano externo, se organizar por meio de alianças, com a elaboração de projetos especiais no âmbito pan-europeu, com a Alemanha, no pan-árabe, com o Irã, e no pan-asiático, com o Japão (MARCU, 2007).

Devido à necessidade de integração continental, a Rússia deveria estabelecer uma nova geopolítica no sul da Eurásia, de tal maneira que a Índia, a Indochina e os Estados islâmicos passariam a ser um “teatro de manobras continentais de posição” (MARCU, 2007 segundo TEIXEIRA, 2009), com o fim de convergir os objetivos estratégicos dessa região ao centro eurasiático representado por Moscou (TEIXEIRA, 2004). Dugin desenvolve tal ideia a partir do conceito de vetores abertos que se originam em Moscou, passam pelos vizinhos próximos, e que chegam aos Estados europeus, asiáticos e islâmicos (DUGIN, 2004).

Assim, as características estratégicas do eurasianismo estão relacionadas a diferentes ações que devem ser tomadas respeitando aspectos militares, econômicos, políticos, étnicos e religiosos daquela região.

Além dos eixos estratégicos com os vizinhos próximos, vetores como Moscou-Teerã, Moscou-Nova Deli e Moscou-Ancara são considerados básicos para essa integração, e há ainda planos para o Afeganistão e Paquistão, a região do Cáucaso e a Ásia Central, assim como a valorização das relações com a França e a Alemanha através dos vetores Moscou-Paris e Moscou-Berlim, respectivamente.


Eixo Moscou-Teerã


Na integração russo-asiática a questão central deste processo é a implementação de um eixo Moscou-Teerã. O processo interno depende do sucesso do estabelecimento de uma parceria de médio e longo prazo com o Irã. A união dos potenciais econômico, militar e político de Rússia e Irã aumentará o processo de integração da zona, tornando-a irreversível e autônoma.

O eixo Moscou-Teerã será a base para uma integração regional posterior. Tanto Moscou quanto o Irã são potências autosuficientes, na visão de Dugin, aptas a criarem seu próprio modelo organizacional para a região.

Eixo Moscou-Nova Deli


A cooperação russo-indiana forma a base do segundo mais importante eixo meridiano de integração no continente eurasiano e em seus sistemas de segurança coletiva. Moscou terá um papel importante ao diminuir as tensões entre Nova Deli e Islamabad (Kashmir). O plano eurasiano para a Índia, patrocinado por Moscou, é a criação de uma federação que refletirá a diversidade da sociedade indiana com seus numerosos grupos étnicos e religiosos, incluindo hindus, sikhs e muçulmanos.


Eixo Moscou-Ankara


O principal parceiro regional no processo de integração da Ásia Central é a Turquia. A ideia eurasiana está se tornando popular por lá na atualmente devido ao entrelaçamento das tendências ocidentais e orientais. A Turquia reconhece suas diferenças civilizacionais com a União Europeia, seus interesses e objetivos regionais distintos, a ameaça da globalização e a consequente perda de soberania.
É imperativo para a Turquia estabelecer uma parceria estratégica com a Federação Russa e o Irã. A Turquia só será capaz de manter suas tradições dentro de um modelo multipolar de mundo. E parece que certas facções da sociedade turca entendem esta situação, desde elites políticas e socialistas até religiosas e militares. Assim, o eixo Moscou-Ankara pode se tornar uma realidade geopolítica apesar do longo período de hostilidade mútua.


O plano eurasiano para Afeganistão e Paquistão


O vetor de integração com o Irã tem importância vital para que a Rússia ganhe acesso a portos de águas quentes e também para a reorganização político-religiosa da Ásia Central (países asiáticos da Comunidade dos Estados Independentes – CEI, Afeganistão e Paquistão). Uma cooperação próxima com o Irã implica na transformação da área afegã-paquistanesa em uma confederação islâmica livre, leal tanto a Moscou quanto ao Irã.A razão desta necessidade é que os Estados independentes de Afeganistão e Paquistão continuarão a ser fonte de desestabilização, ameaçando os países vizinhos. A luta geopolítica eurasiana providenciará a capacidade para implementar uma nova federação central-asiática e transformar esta região complicada em uma área de cooperação e prosperidade.


O Cáucaso


O Cáucaso é a região mais problemática para a integração eurasiana dado seu mosaico de culturas e etnias, que facilmente eleva as tensões entre as nações. Essa diversidade cultural é uma das principais armas exploradas por aqueles países que buscam parar o processo de integração do continente eurasiano.
A região do Cáucaso é habitada por nações que pertencem a diferentes Estados e áreas civilizacionais. A região deve ser um polígono de testes de diferentes métodos de cooperação entre os povos, pois o que for bem sucedido ali poderá sê-lo ao longo do continente eurasiano. A solução eurasiana para este processo jaz não na criação de Estados étnicos ou estritamente associados a uma só nação, mas no desenvolvimento de uma federação flexível fundamentada nas diferenças étnicas e culturais no interior de um contexto estratégico comum da zona meridiana.
O resultado deste plano é um sistema de um semieixo entre Moscou e os centros do Cáucaso (Moscou-Baku, Moscou-Erevan, Moscou-Tbilisi, Moscou-Mahachkala, Moscou-Grozni etc.) e entre os centros caucasianos e os aliados da Rússia no interior do projeto eurasiano (Baku-Ankara, Erevan-Teerã etc.).



O plano eurasiano para a Ásia Central


A Ásia Central deve se mover rumo à integração com a Federação Russa, em um bloco unido estratégica e economicamente no interior da estrutura de união eurasiana, a sucessora da CEI. A principal função dessa área específica é a reaproximação da Rússia com os países do Islã continental (Irã, Paquistão, Afeganistão).
Desde o início, o setor da Ásia Central deve possuir vários vetores de integração. Um plano tornará a Federação Russa o principal parceiro (similaridades de cultura, interesses econômicos e energéticos convergentes, e uma estratégia comum de sistema de segurança). O plano alternativo é colocar o foco em semelhanças étnicas e religiosas: mundos turco, iraniano e islâmico.




Considerações finais


Como disse Dugin, “Este é o Eurasianismo, a política da heartland” (GLOVER citado em TEIXEIRA, 2009). O pensamento eurasianista é o que mais se alinha à política russa atual, e isso pode ser acompanhado diariamente nos jornais russos onde se verá Putin e Medvedev não apenas pondo em prática a teoria, mas citando-a explicitamente5.
O eurasianismo põe-se como uma alternativa a filosofia ocidental e a sua economia, bem como mistura geopolítica e espiritualidade tradicional, esses itens, entretanto, fogem ao escopo do presente trabalho, mas os interessados poderão encontrar referências aos trabalhos de René Guénon e Julius Evola, ambos vinculados a produção intelectual de Dugin.


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Dídimo Matos
Possui graduação em Filosofia pelo Instituto de Ensino Superior do Centro Oeste (2004), Mestrado em Filosofia pela Universidade Federal da Paraíba.
Atualmente dá aulas nas redes pública e privada da Paraíba. Tem experiência na área de Filosofia, com ênfase em filosofia analítica, círculo de Viena, lógicas clássicas e não clássicas, paraconsistência, Newton da Costa.
Tem interesse em geopolítica, educação, filosofia política, ética e filosofia da linguagem. Atualmente é doutorando no Programa de Pós-Graduação em Geografia Humana na Universidade de São Paulo, USP, no qual desenvolve pesquisa em geopolítica focando o Eurasianismo de Alexander Dugin e o Meridionalismo de André Martin.
 
Referências Dugin, Alexander. A grande Guerra dos Continentes. Lisboa: Antagonista, 2006. _____. A Ideia Eurasiana. Disponível em http://pbpolitica.blogspot.com.br/2012/02/ideia-eurasiana.html _____. Visão Eurasianista. Disponível em http://pbpolitica.blogspot.com.br/2010/04/visao-eurasianista.html MARCU, Silvia. La geopolítica de la Rusia postsoviética: desintegración, renacimiento de una potencia y nuevas corrientes de pensamiento geopolítico. Scripta Nova: revista electrónica de geografía y ciencias sociales. Universidad de Barcelona, v. XI, n. 253, dic. 2007. Disponível em: http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-253.htm SANTOS, Eduardo Silvestre dos. O eurasianismo: a “nova” geopolítica russa. Jornal Defesa e Relações Internacionais. Lisboa, nov. 2004. Disponível em: http://www.jornaldefesa.com.pt/conteudos/view_txt.asp?id=97 Teixeira, José A. B. J. O pensamento geopolítico da Rússia no início do século XXI e a geopolítica clássica. Revista da Escola Superior de Guerra Naval. Rio de Janeiro, n. 13, junho de 2009.

1Mestre em filosofia na UFPB, professor de filosofia da SECPB. 2Termo também com vários significados como veremos adiante. 3Eurásia seria um subcontinente plantado entre a Europa e a Ásia. Outro emprego seria como parte integrante do Império Russo. 4Dugin, Alexander. Visão Eurasianista. Disponível em http://pbpolitica.blogspot.com.br/2010/04/visao-eurasianista.html

5Os principais jornais russos apresentam formato on line inclusive em língua portuguesa. Um exemplo pode ser consultado em: http://gazetarussa.com.br/articles/2011/10/19/o_novo_projeto_de_integracao_para_eurasia_um_futuro_que_nasce_hoje_12701



terça-feira, 12 de agosto de 2014

Israel: O Estado mais belicoso do mundo e a sua próxima guerra




Por Abdel Latif Hasan Abdel Latif, médico palestino
 
Os corpos dos civis palestinos massacrados por Israel ainda estão sob as ruínas dos prédios bombardeados em Gaza. Nenhuma casa das onze mil destruídas durante o mais recente massacre de julho/agosto de 2014 foi reconstruída. Estão desabrigados os quinhentos mil civis palestinos obrigados a deixar suas casas. Gaza continua sem eletricidade, água, medicamentos. Três mil dos onze mil feridos ficarão com seqüelas incapacitantes permanentes. Mesmo assim, Israel já começou a falar da sua próxima guerra.

Milhões protestaram nas ruas de muitas cidades ao redor do mundo e a opinião pública internacional está chocada com a crueldade israelense. Mesmo assim, Israel já prepara sua próxima guerra.

A despeito dos conselhos de seus servis aliados, preocupados com os danos irreversíveis à imagem de Israel, os tambores de guerra em Israel nunca silenciam.

Parece irracional, ilógico e até esquisofrênico que o belicoso Israel insista em perseguir resultados diversos através dos mesmos meios.

Todas as muitas guerras de Israel, desde sua eclosão até o último genocídio de Gaza, têm como metas: exterminar os palestinos ou empurrá-los para o deserto ou coagi-los a aceitar, de joelhos, os termos de rendição. Até hoje, Israel não obteve o êxito pleno em sua limpeza étnica, já que não conseguiu enterrar o sonho, nem a resistência palestina. 

Mas mesmo assim, Israel não consegue ver a luz no fim do túnel e não tenta caminho diverso. É a “ilógica” de todos os colonialistas em todos os tempos e lugares.

Israel é a última aventura colonialista existente no mundo de hoje.

Poucos opressores aprenderam com a História e tampouco com os fracassos dos opressores que os antecederam. É a lei da soberba que atrai a ruína.

A luta dos palestinos é pela libertação nacional. Na história recente, os povos que enfrentaram o colonialismo, saíram vitoriosos. Israel não é exceção. Mesmo com sua superioridade militar, sua versão a vizinhos e seu caráter sempre encrenqueiro, turbulento e belicoso, Israel não derrotará a resistência palestina.

O escritor israelense Boaz Evron, há muito tempo, disse que “a tendência básica da política e do povo israelense é para resolver os problemas através da força e para considerar a força como início e fim de todas as coisas, em vez de tentar soluções políticas e diplomáticas”.

A belicosidade dos israelenses escancara-se nas palavras de seus dirigentes e cidadãos. Vejamos:
 
1. O ministro das finanças de Israel, Yair Lapid, declarou ao “The times of Israel”, em 9/8/2014, que o exército israelense vai caçar os líderes do Hamas, exatamente como os Estados Unidos não descansou até eliminar Bin Laden.
 
Segundo o ministro, o exército vai fazer tudo o que deveria para trazer tranqüilidade à população israelense.

2. O ministro da economia de Israel, Naftali Bennet, declarou ao “Wall street journal” em 8/8/2014, que o que está em jogo é o poder de detenção, controle, de Israel para os próximos anos. Nossa próxima ação deve ser firme, cruel e dolorosa.

3. Em uma pesquisa realizada pelo instituto israelense Gal Hadash, mostrou que 89% dos israelenses acreditam que Israel atacará Gaza novamente e 59% deles não estão preocupados com a possibilidade de Israel ser julgado em Tribunal Internacional de Justiça. 63% estão satisfeitos com a ação do primeiro ministro em relação a Gaza e 83% estão satisfeitos com a conduta do chefe de Estado-maior do exército.

4. A agência de notícias israelense Walla publicou declarações de generais israelenses acusando o Hezbollah de cavar túneis no sul do Líbano, ameaçando o norte de Israel.

Milhares de israelenses fizeram abaixo-assinado exigindo que o exército destrua esses túneis.
Não são os foguetes de Gaza que deixam os israelenses inseguros. Não são os túneis, nem Hamas, nem Hezbollah, que ameaçam a existência de Israel. Israel chegou ao limite de sua força, mas essa grande força bruta é incapaz de trazer legitimidade, segurança e paz.

É hora de Israel reconhecer e reparar seu pecado original e seus muitos pecados de expansão e manutenção. Sem a análise e correção dos fatos, sem a compreensão de que só há paz com justiça e a segurança é fruto da paz, Israel está destinado a viver com a espada e a turbulência.

A antiga sabedoria judaica, ignorada por Israel, ensina que aquele que mata com a espada, com a espada morrerá.

Abdel Latif Hasan Abdel Latif, médico palestino

Fonte: Oriente Mídia

domingo, 10 de agosto de 2014

Gaza: O massacre visto por dentro





Dois médicos noruegueses em Gaza descrevem uma guerra que visa especialmente residências e hospitais e faz a população crer que já não há nada a perder. Os números são escritos em tinta na palma da sua mão, como se fosse um aluno a anotar uma cábula para um exame: 1.035 mortos, 6.233 feridos, em duas horas na segunda-feira. A cada dia, ele apaga os números e atualiza-os.
Gideon Levy e Alex Levac, no Haaretz

Esta semana, o professor Mads Gilbert deixou o Hospital de Shifa, na Faixa de Gaza, para passar umas breves férias na sua terra natal, Noruega, depois de duas semanas consecutivas a tratar as vítimas da guerra. O seu colega e compatriota, o professor Erik Fosse, deveria substituir Gilbert em Gaza, mas até meio da semana Israel ainda não tinha permitido que o fizesse. Fosse passou, também, a primeira semana da Margem Protetora em Shifa, e queria voltar.

Em termos de danos causado à população civil, e principalmente às crianças, a atual guerra na Faixa de Gaza é ainda mais angustiante do que a anterior.


Mads Gilbert e Erik Fosse
Gilbert e Fosse trabalharam em Shifa durante a Operação Chumbo Fundido, em 2008-09, e publicaram, na sequência dessa experiência, o livro Olhos em Gaza, um best-seller internacional. Agora, eles afirmam que, em termos de danos causado à população civil, e principalmente às crianças, a atual guerra na Faixa de Gaza é ainda mais angustiante do que a anterior.


Ambos têm cerca de sessenta anos. Eram admiradores de Israel na sua juventude, mas na primeira guerra do Líbano em 1982 - durante a qual se alistaram para ajudar a tratar os palestinos feridos - as suas perspectivas e vidas mudaram para sempre. "Foi então que vi a máquina de guerra israelense pela primeira vez", lembra Gilbert.

Fosse dirige uma organização chamada NORWAC (Comitê da Ajuda Norueguesa), que presta assistência médica aos palestinos, e é financiada pelo governo norueguês. Gilbert (que é voluntário independente) e Fosse têm, ambos, dedicado boa parte das suas vidas a ajudar os palestinianos, o que tornou Gaza uma segunda casa para eles. Na segunda-feira à tarde, encontramos Fosse, um cirurgião cardíaco, em Herzlia, retornando para Gaza, depois das suas férias na Noruega. E conhecemos Gilbert, um anestesista, enquanto saía da passagem da fronteira de Erez a caminho de casa. As imagens descritas pelos dois deve pesar muito na consciência de cada ser humano decente.

"Pensei que a Operação Chumbo Fundido seria a experiência mais terrível da minha vida", disse Gilbert, "até que cheguei a Gaza há duas semanas. Era ainda mais chocante. Os dados revelam que há 4,2 vítimas palestinas por hora... Mais de um quarto dos mortos são crianças; mais da metade são mulheres e crianças. As forças armadas de Israel admitem que 70% são civis; a ONU diz que 80% são; mas pelo que vi no Shifa, mais de 90% são civis. Isso significa que estamos a falar de um massacre da população civil".

"Shujaiyeh foi um verdadeiro massacre", continua ele. "Na Operação Chumbo Fundido, eu não vi esse tipo de ataque em edifícios residenciais; naquela época, os prédios públicos foram atacados. A brutalidade, o dano intencional a civis e a destruição são mais angustiantes agora do que na Operação Chumbo Fundido. O fato de as pessoas receberem um aviso de 80 segundos para evacuar as suas casas é desumano. A visão de Shujaiyeh é mais terrível do que qualquer coisa que vimos na Operação Chumbo Fundido".

"Shujaiyeh parece Hiroshima. Nunca me vou acostumar com a visão de uma criança ferida, quando não temos à disposição meios adequados para tratar dela. Usamos anestesia local, devido à falta de remédios, e nem para isso há drogas suficientes".




Gilbert, que leciona na Universidade do Norte da Noruega, também está furioso com o que considera como danos intencionais do exército aos hospitais. Nada sobrou do hospital de reabilitação Al-Wafa; o hospital infantil Mohammed al-Dura em Beit Hanun foi bombardeado pelo exército, e uma criança de dois anos e meio, internada na UTI, foi morta. Quatro pessoas morreram no Hospital Al-Aqsa. Gilbert tinha visitado o hospital infantil e testemunhou a cena com os seus próprio olhos. Nove ambulâncias foram atacadas; os médicos foram mortos e feridos. Na opinião de Gilbert, estes incidentes constituem crimes de guerra.

O médico ficou particularmente impressionado pela determinação e comportamento dos residentes, principalmente os que compõem as equipas médicas locais. Em Shipa, nenhum dos funcionários recebeu salário por três meses; nos oito meses anteriores, apenas receberam metade dele. Mesmo os que viram as suas casas destruídas continuaram a trabalhar. A sua devoção à profissão sob tais condições deixaram-no atônito.

No que diz respeito à afirmação de que os líderes de Hamas estão escondidos em Shifa, os dois noruegueses dizem não terem visto um único homem armado ou qualquer chefe da organização; alguns ministro do Hamas foram visitar os feridos.

Gilbert diz que, também na Operação Chumbo Fundido, o exército de Israel tentou assustar o pessoal médico dizendo que os militantes armados estavam escondidos no hospital. Mas a última pessoa com armas que os noruegueses viram em Shifa foi um médico israelense, durante a primeira intifada, anos atrás. Gilbert diz que avisou o homem sobre a lei internacional, que proíbe levar armas para hospitais.

Da mesma maneira, ele recusa as declarações de que o Hamas está usando a população civil de Gaza como escudo humano, e adiciona: "Onde é que a resistência clandestina ao nazismo se escondia, na Holanda e França? E onde escondia as suas armas?"

"Eu não apoio o Hamas", diz Gilbert. "Eu apoio palestinos, e também o seu direito de escolher os líderes errados. E quem escolheu [o primeiro-ministro israelense] Neanyahu e [o ministro de Relações Exteriores, de extrema-direita] Lieberman? Eles [os palestinos] têm o direito de cometer erros. Visito Gaza há 17 anos. Quanto mais a bombardeiam, mais o apoio à resistência cresce. Sinto que a tentativa de retratar o Hamas como um Boko Haram é ridícula. Boko Haram é o exército de Israel, que está a violar a lei internacional. Como é que os seus comandantes podem estar orgulhosos de matar civis?

"A História vai julgá-los e acredito que o exército de Israel não vai sair bem desta situação, dados os fatos. Eu faço um apelo aos israelenses: ergam-se. Mostrem coragem. Israel está se movendo na direção de ser pior que a África do Sul - e isso seria uma forma vergonhosa de deixar o palco da história".

Fosse é mais comedido, provavelmente porque trabalhou apenas até a invasão por terra em Gaza começar. Em Shifa, ele conduziu cerca de dez operações por dia. Elogia a especialidade dos médicos de Gaza, com quem trabalhou.

Ele vê a sua missão como uma extensão para além da sala de cirurgia, ao levantar um grito de alarme para o mundo, depois de Gaza ser esvaziada de qualquer presença internacional por Israel. Ele afirma que a maioria dos feridos que tratou foram atingidos por mísseis guiados de precisão. Está certo, portanto, de que o maior número de ataques a civis e crianças foi intencional.




No seu livro, os noruegueses reproduziram uma foto dos atiradores do exército de Israel, vestindo t-shirts com as legendas: "Menores - mais duros" e "Uma bala - dois mortos". Desta vez, são os mísseis inteligentes que estão a matar crianças. Mas na opinião de Fosse, o cerco de Israel a Gaza é ainda mais sério para os seus residentes do que a guerra. E é esse o motivo de o Hamas estar mais agressivo agora.


"Há sete anos, a sociedade inteira está a desmoronar-se. Não há comércio, não há exportação nem saída. A única atividade que permite acumular dinheiro é o contrabando, e isso destrói a sociedade. Destrói Gaza como uma sociedade normal. O cerco criou um reduzido grupo de pessoas que enriquecem com o contrabando. Todas as outras são pobres. Isso mina a estrutura da sociedade, e é o maior problema de Gaza.

"Recordei-me das minhas conversas com cirurgiões palestinos da minha idade. Durante anos, eles viveram numa Gaza aberta, que tinha relações excelentes com os médicos israelenses. Sempre sonharam em voltar a essa situação. Agora, esses mesmos médicos reúnem-se em volta da televisão e ficam felizes quando foguetes caem no país vizinho. Eu alerto: mas Israel vai reagir. E eles dizem: não nos importamos mais. Vamos morrer de qualquer maneira. É melhor morrer num bombardeamento.

"Eles perderam toda a esperança. É chocante ver estas pessoas a perderem os seus filhos e não se importarem mais. Israel está a perder soldados, agora, para preservar uma situação a que o mundo inteiro se opõe. Isso é um crime contra uma população civil imensa", acrescenta Fosse.

"Vocês roubaram o seu futuro e eles estão em desespero. O Hamas não tem muito apoio, mas há um imenso apoio ao sentimento de que não há mais nada a perder. E, do outro lado, está a sociedade israelense, que não se importa. É muito triste. Vocês, que passaram pelo Holocausto, tornaram-se racistas. Na minha opinião, isso é uma tragédia. Por que estão a fazer isso? Estão a ultrapassar todos os limite éticos - e, no fim, isso também vai destruir a sua própria sociedade." 



(*) Artigo traduzido e publicado em português pelo Outras Palavras. Tradução de Cauê Ameni e Gabriela Leite
http://www.patrialatina.com.br/editorias.phpidprog=d41d8cd98f00b204e9800998ecf8427e&cod=14159

Fonte: Pravda
Imagens: Google


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