Da RBA
Fenômeno crescente preocupa especialistas porque reduz questões complexas a doenças tratáveis com remédios e terapias
Diante de uma suposta dificuldade no processo de aprendizagem é cada vez mais comum profissionais de educação logo aventarem a possibilidade de um problema orgânico. E sem sequer refletir sobre outros aspectos relacionados à própria prática pedagógica, à escola ou mesmo a outros fatores, inclusive familiares, recomendam que os pais procurem ajuda de especialistas, como fonoaudiólogos, psicólogos, psicopedagogos e psiquiatras, entre tantos outros. Não demora e a criança é submetida a exames e mais exames – isso quando já não sai da primeira consulta com um diagnóstico de um distúrbio qualquer e nas mãos uma receita de medicamentos capazes de ajudá-la a manter sob controle distúrbios que estariam dificultando o aprendizado.
Assim é o chamado fenômeno da medicalização da educação e da sociedade, processo que transforma em distúrbios a serem tratados com terapias e medicamentos questões inerentes à vida social, como emoções, sentimentos e comportamentos que não são aceitos socialmente. Ou seja, comportamentos diferentes do padrão imposto pela sociedade acabam transformados indiscriminadamente em doença passível de medicação e de acompanhamento excessivo com psicólogos, fonoaudiólogos e outros profissionais. É o caso do transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), que tem sido cada vez mais diagnosticado no Brasil. Ao mesmo tempo em que aumentaram os diagnósticos, cresceu a prescrição de medicamentos como o metilfenidato, com o nome comercial de Ritalina, ainda sem estudos suficientes sobre os efeitos nocivos de seu uso prolongado.
Preocupados com o crescente fenômeno, especialistas brasileiros, argentinos, chilenos, cubanos e espanhóis, entre outras nacionalidades, reúnem-se no 3º Seminário Internacional A Educação Medicalizada: Reconhecer e acolher as diferenças. Organizado pelo Fórum sobre Medicalização da Educação e da Sociedade, o evento que começou na noite da última quarta-feira (10) e terminou ontem (13), na capital paulista, contesta a criação de pretensos transtornos que justificariam diferentes comportamentos, questionamentos e ritmos de aprendizagem, além de discutir a crescente judicialização e criminalização das relações sociais.
Fenômeno crescente preocupa especialistas porque reduz questões complexas a doenças tratáveis com remédios e terapias
Diante de uma suposta dificuldade no processo de aprendizagem é cada vez mais comum profissionais de educação logo aventarem a possibilidade de um problema orgânico. E sem sequer refletir sobre outros aspectos relacionados à própria prática pedagógica, à escola ou mesmo a outros fatores, inclusive familiares, recomendam que os pais procurem ajuda de especialistas, como fonoaudiólogos, psicólogos, psicopedagogos e psiquiatras, entre tantos outros. Não demora e a criança é submetida a exames e mais exames – isso quando já não sai da primeira consulta com um diagnóstico de um distúrbio qualquer e nas mãos uma receita de medicamentos capazes de ajudá-la a manter sob controle distúrbios que estariam dificultando o aprendizado.
Assim é o chamado fenômeno da medicalização da educação e da sociedade, processo que transforma em distúrbios a serem tratados com terapias e medicamentos questões inerentes à vida social, como emoções, sentimentos e comportamentos que não são aceitos socialmente. Ou seja, comportamentos diferentes do padrão imposto pela sociedade acabam transformados indiscriminadamente em doença passível de medicação e de acompanhamento excessivo com psicólogos, fonoaudiólogos e outros profissionais. É o caso do transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), que tem sido cada vez mais diagnosticado no Brasil. Ao mesmo tempo em que aumentaram os diagnósticos, cresceu a prescrição de medicamentos como o metilfenidato, com o nome comercial de Ritalina, ainda sem estudos suficientes sobre os efeitos nocivos de seu uso prolongado.
Preocupados com o crescente fenômeno, especialistas brasileiros, argentinos, chilenos, cubanos e espanhóis, entre outras nacionalidades, reúnem-se no 3º Seminário Internacional A Educação Medicalizada: Reconhecer e acolher as diferenças. Organizado pelo Fórum sobre Medicalização da Educação e da Sociedade, o evento que começou na noite da última quarta-feira (10) e terminou ontem (13), na capital paulista, contesta a criação de pretensos transtornos que justificariam diferentes comportamentos, questionamentos e ritmos de aprendizagem, além de discutir a crescente judicialização e criminalização das relações sociais.
“Esse fenômeno social é importante porque atinge a sociedade como um todo, de maneira contundente. Leva ao uso excessivo de remédios e terapias, transforma sofrimentos e dificuldades em doenças e a vida das pessoas em produtos; é uma máquina de consumo, de controle”, disse o presidente do Sindicato dos Psicólogos de São Paulo (Sinpsi), Rogério Giannini, que participou da organização do seminário.
Em sua participação no debate sobre patologização, judicialização e criminalização da vida e da política, a juíza Dora Martins, da Vara da Infância e Juventude do Fórum Central João Mendes, em São Paulo, criticou a falta de um olhar individualizado e reabilitador às crianças moradoras de abrigos, que geralmente recebem medicamentos para controlar comportamentos agressivos quando deveriam receber tratamento adequado para as angústias e sofrimentos que provocam tais comportamentos.
“Quem nunca ficou em abrigos não pode imaginar o que é morar com mais de vinte pessoas no mesmo espaço, sem pai nem mãe. Algumas crianças até se conformam, outras se rebelam, reclamam, berram, choram, brigam e são medicadas para se comportarem. Estigmatizadas, dificilmente conseguem ser adotadas porque tomam um monte de medicamento”, disse a juíza. Ela lembrou de um menino que cresceu em abrigos. Considerado o terror dos abrigos por onde passava, recebia muitos remédios para controlar seu comportamento agressivo. Aos 7 anos, teve a sorte de ser adotado por uma médica que o levou para morar no exterior e aos poucos foi retirando a medicação. “Hoje o menino está ótimo, tranquilo, extremamente sociável, normal. É o que acontece quando em vez de medicamentos desnecessários a criança recebe afeto e atenção”.
A presidente do Grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro e psicóloga Cecília Coimbra destacou que a medicalização é uma das técnicas praticadas pelos estados modernos para subjugar e controlar as populações, o chamado biopoder. “A escola, a família, o trabalho impõem determinadas ideias e modos de estar no mundo e de viver como se fossem únicos e verdadeiros, mas que na verdade interessam ao sistema econômico capitalista no qual vivemos. E acabamos vendo isso como natural.”
A médica Mariana Arantes Nasser, do Centro de Saúde Samuel Barnsley Pessoa, ligado à USP, a psicóloga Lúcia Masini, da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, e Marilda Nogueira de Almeida, do Instituto Sedes Sapientiae, apresentaram conceitos e práticas não medicalizantes na educação e na saúde. Elas integram o grupo de trabalho Educação e Saúde do Fórum, que lançou a primeira edição revista de suas recomendações de práticas não medicalizantes para profissionais e serviços de educação e saúde.
Em sua participação no debate sobre patologização, judicialização e criminalização da vida e da política, a juíza Dora Martins, da Vara da Infância e Juventude do Fórum Central João Mendes, em São Paulo, criticou a falta de um olhar individualizado e reabilitador às crianças moradoras de abrigos, que geralmente recebem medicamentos para controlar comportamentos agressivos quando deveriam receber tratamento adequado para as angústias e sofrimentos que provocam tais comportamentos.
“Quem nunca ficou em abrigos não pode imaginar o que é morar com mais de vinte pessoas no mesmo espaço, sem pai nem mãe. Algumas crianças até se conformam, outras se rebelam, reclamam, berram, choram, brigam e são medicadas para se comportarem. Estigmatizadas, dificilmente conseguem ser adotadas porque tomam um monte de medicamento”, disse a juíza. Ela lembrou de um menino que cresceu em abrigos. Considerado o terror dos abrigos por onde passava, recebia muitos remédios para controlar seu comportamento agressivo. Aos 7 anos, teve a sorte de ser adotado por uma médica que o levou para morar no exterior e aos poucos foi retirando a medicação. “Hoje o menino está ótimo, tranquilo, extremamente sociável, normal. É o que acontece quando em vez de medicamentos desnecessários a criança recebe afeto e atenção”.
A presidente do Grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro e psicóloga Cecília Coimbra destacou que a medicalização é uma das técnicas praticadas pelos estados modernos para subjugar e controlar as populações, o chamado biopoder. “A escola, a família, o trabalho impõem determinadas ideias e modos de estar no mundo e de viver como se fossem únicos e verdadeiros, mas que na verdade interessam ao sistema econômico capitalista no qual vivemos. E acabamos vendo isso como natural.”
A médica Mariana Arantes Nasser, do Centro de Saúde Samuel Barnsley Pessoa, ligado à USP, a psicóloga Lúcia Masini, da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, e Marilda Nogueira de Almeida, do Instituto Sedes Sapientiae, apresentaram conceitos e práticas não medicalizantes na educação e na saúde. Elas integram o grupo de trabalho Educação e Saúde do Fórum, que lançou a primeira edição revista de suas recomendações de práticas não medicalizantes para profissionais e serviços de educação e saúde.
Entre as recomendações estão a inclusão de toda a comunidade no projeto pedagógico da escola, a discussão de iniciativas e estratégias que deram certo e levantamento de temas sobre os quais os alunos querem aprender e a investigação apurada das queixas relativas ao mau comportamento e dificuldades de concentração.
“A medicalização na educação é importante porque é lá que a sociedade se reproduz. E ao se responsabilizar o aluno, e não o sistema pelas dificuldades, a questão acaba nos serviços de saúde”, disse Mariana Nasser.
Apesar do título, o documento escrito em linguagem simples e acessível por educadores, psicólogos, psicopedagogos, fonoaudiólogos, médicos e antropólogos é útil também para orientar pais e demais pessoas interessadas no assunto. O documento pode ser acessado no site do Fórum sobre medicalização da educação e da sociedade.
Participam ainda do grupo de trabalho representantes do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), de Psicologia Clínica da Universidade Estadual Julio de Mesquita Filho (Unesp), Grupo Interinstitucional Queixa Escolar, Associação Palavra Criativa e Rede HumanizaSUS, entre outras entidades.
Participam ainda do grupo de trabalho representantes do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), de Psicologia Clínica da Universidade Estadual Julio de Mesquita Filho (Unesp), Grupo Interinstitucional Queixa Escolar, Associação Palavra Criativa e Rede HumanizaSUS, entre outras entidades.
Fonte: Sul21
Foto: João Correia Filho / RBA
Imagem: medicalizacao.org.br
3 comentários:
Caro Cãogrino,
Uma causa, creio eu, de valor superior é a bebedeira em sexo, os filhotes já nascem bêbados.
Só que álcool desinibe, algo "perfeito" em uma sociedade castrada, antolhada por religiosidades e leis. A consequência é uma bomba programada, onde o resultado é um filhote de fecundação bêbada.
Isso é quase impossível de se perceber, pois uma porcentagem próxima aos 90% das reproduções são feitas por bêbados, e daí o filhote de não bêbados é que acaba se tornando o anormal!
Nessa salada teen, onde existem os bêbados rebeldes sem causa e os rebeldes sem causa, o que prevalece são os ditames midiáticos, muita bebedeira, drogas, sexo e rock'n roll.
O resultado disso não tem como não ser lucrativo para as "farmáfias" e as "merdicinas", cujos donos são "brimos e irbãos" dos donos das indústrias de bebidas.
E assim caminha a humanidade...
Ou seria, e assim despenca...?
Um abraço.
Vapera
Assim despenca, com certeza!!!
Obrigado mais uma vez, parece que estamos tão anestesiados que não paramos pra pensar em uma coisa tão óbvia, você está repleto de razão, estou a imaginar o processo da reprodução entre dois seres que estão sob efeito do alcool, e constato a realidade de seu comentário, e o porque de muitas coisas acontecerem neste mundo.
Muito obrigado meu amigo, e um grande abraço.
O álcool é a desgraça total, é a droga primeva, é com essa imundicie que todas as agendas foram legitimadas!!
Veja que essa desgraça é até o "sangue" do divino!!!
E é essa desgraça que fragmenta completamente nosso carater, nossa individualidade, só com o uso dela aceitamos todo tipo de ignomínia!!
se observares, todas as salafragens impostas a mulher é garantida via álcool!!
Para a mulherada posar em revista de nudez, ela sempre bebe para desinibir!!
O homem sob o efeito do álcool é valente quando na verdade é um arrematado covarde, sob o efeito dessa desgraça, muito lixo arroga de valente, mata não só transeuntes mas inclusive seus proprios filhotes e companheira e NUNCA ninguém aventou que a industria dessa desgraça tinha que ser solidária com seus viciados??
Parece que o ser humano chegado ao fundo do poço acha legítimo toda liberdade de ser escravo, escravo da permissividade!
Se filhotes de drogados é tido como drogado, por que o filhote de bêbado não é entendido como bêbado??
No fim das contas vemos a pata do povo escolhido de deus, deus legitima o álcool como sangue de seu filhote, o povo divino garante a abundância desse sangue.
O resto é o que vemos: o total domínio da ignomínia.
Se deus legitima o envenenamento do povo, por que o povo continua a achar que essa imundicie é deus???
E o despencar só se avoluma!!
Estamos aí!
E um grande abraço!
Postar um comentário