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sábado, 31 de agosto de 2013

Ocidentais prontos para bombardear a Síria?





Fingindo crer num ataque químico do governo sírio contra o seu próprio povo, Washington, Londres e Paris fazem soar os tambores da guerra. Deve-se tomar a sério estas ameaças por parte de Estados que anunciam como iminente, desde há mais de dois anos, a queda da Síria?

Por Thierry Meyssan, no Rede Voltaire

Domingo 25 de Agosto, a Casa-Branca difundiu um comunicado, no qual um alto funcionário anônimo explicava que há "muito poucas de dúvidas" do uso pela Síria de armas químicas contra a sua oposição. O comunicado acrescenta que o acordo da Síria para deixar entrar os inspetores da ONU, na zona atingida, chega "muito tarde para ser crível".


Mesmo que o uso de armas químicas nos arredores de Damasco, na quarta-feira 21 de agosto de 2013 tenha muito provavelmente acontecido, o Conselho de segurança das Nações Unidas não concluiu que tenha sido da responsabilidade do governo sírio.

Reunido de urgência a pedido dos ocidentais, os embaixadores tiveram a surpresa de ver o seu colega russo apresentar-lhes fotos de satélite mostrando o disparo de dois obuses, às 1h35 da manhã, a partir da zona rebelde de Duma, nos locais rebeldes afetados pelo gás (em Jobar, e entre Arbin e Zamalka), a horas coincidentes com as confusões relatadas.

As fotografias não permitem saber se se tratou de obuses químicos, mas elas deixam supôr que a "Brigada do islã", que ocupa Duma, tentou matar dois coelhos duma cajadada só : por um lado eliminar os apoios dos seus rivais no seio da oposição, por outro lado acusar a Síria de ter recorrido a armas químicas, a fim de perturbar a ofensiva do exército árabe sírio para limpar a região à volta da capital.

Embora o governo sírio — como o seu inimigo israelense — não seja signatário da Convenção contra as armas químicas e disponha de estoques importantes, os jihadistas também os têm, como o confirmou Carla del Ponte para grande fúria do alto-Comissário dos Direitos do homem.

Em dezembro, o Exército sírio livre difundiu um vídeo mostrando um laboratório químico e ameaçando os alauítas. 

Esta semana, o governo descobriu vários esconderijos de armas químicas, de máscaras de gás e de antídotos, na circunvizinhança de Damasco.

Os produtos vinham da Arábia saudita, do Catar, dos Estados-Unidos e dos Países-Baixos. Foi, aliás, a pedido do governo sírio, e não dos ocidentais, que os inspetores da ONU se deslocaram à Síria por duas semanas, afim de inquirir sobre estas alegações de uso das mesmas. Enfim, a 29 de maio de 2013, a polícia turca prendeu uma dezena de membros da Frente Al-Nusra e apreendeu armas químicas que deveriam ser utilizadas na Síria.

Samantha Power e Obama

Ora, sexta-feira o presidente Obama reunia o seu Conselho nacional de segurança para examinar as opções de ataque contra a Síria, na presença da embaixadora Samantha Power chefe de fila dos falcões liberais. Ele decidiu reforçar a presença militar dos EUA no Mediterrâneo enviando para lá um quarto destroier, carregado de misseis de cruzeiro, o USS Ramage. Este junta-se ao USS Gravely, ao USS Barry e ao USS Mahan que é mantido na zona quando já devia ter retornado à 
base.



Sábado, ele telefonou ao primeiro-ministro britânico David Cameron. E domingo, falou com o presidente francês François Hollande. Os três homens acordaram que era preciso intervir sem precisar de que modo. Domingo ainda, o secretário de Estado John Kerry ligou aos seus homólogos britânico, francês, canadiano e russo para lhes dizer que os Estados Unidos tinham a convicção que a Síria tinha passado a "linha vermelha".



Se os seus três primeiros interlocutores o escutaram com subserviência, o russo Serguei Lavrov espantou-se, que Washington se pronunciasse antes do relatório dos inspetores das Nações Unidas. Ele avisou-o sobre as "consequências extremamente graves" que terá uma intervenção na região.

Yaakov Amidror
Segunda -feira o ministro francês da Defesa, Jean-Yves Le Drian estava no Catar e devia dirigir-se em seguida aos Emirados para se coordenar com eles. 
Enquanto o conselheiro de segurança nacional israelense, o general Yaakov Amidror, era recebido na Casa Branca.


Quando de uma entrevista telefônica entre o primeiro-ministro britânico David Cameron e o presidente russo Vladimir Putin, este ultimo sublinhou que não existia nenhuma prova do uso de armas químicas pela Síria. Pelo seu lado, o vice-ministro das Relações Exteriores chinês, Li Baodong, telefonou ao seu homólogo Duma, Wendy R. Sherman, para apelar à contenção dos Estados Unidos. Consciente do risco de guerra regional, de que os cristãos seriam as primeiras vítimas, o papa Francisco reiterou os seus apelos à paz.

Pode-se, por isso, pensar que os ocidentais vão entrar em guerra sem mandato do Conselho de segurança, como a Otan o fez na Iugoslávia? É pouco provável, porque na altura a Rússia estava em ruínas, hoje em dia ela deverá intervir após ter emitido três vetos para proteger a Síria ou renunciar qualquer ação no cenário internacional.

Entretanto Serguei Lavrov afastou sábiamente uma Terceira Guerra mundial. Ele indicou que o seu país não estava interessado em entrar em guerra contra seja quem fôr, mesmo que fosse a propósito da Síria. Poderá no entanto tratar-se de uma intervenção indireta de apoio à Síria, como o fez a China durante a guerra do Vietnã.

Massoud Jazayeri
O Irã fez então saber, por intermédio do seu chefe de estado-maior adjunto, Massoud Jazayeri, que para ele o ataque à Síria seria passar da "linha vermelha" e que, se fosse à ação, a Casa Branca sofreria "graves consequências".

É claro que o Irã não tem nem os meios da Rússia, nem os seus apoios, mas está seguramente no clube das 10 primeiras potências militares mundiais. Desde logo, atacar a Síria, é arriscar uma resposta sobre Israel, e levantamentos numa grande parte do mundo árabe nomeadamente na Arábia saudita. A recente intervenção do Hezbolá libanês e as declarações do seu secretário-geral Hassan Nasrallah, como as da organização palestinaa FPLP - Comando geral, não deixam qualquer dúvida.

Interrogado pela imprensa russa, o presidente sírio Bachar al-Assad, disse : "As declarações emitidas pelos políticos americanos, ocidentais e de outros países, constituem um insulto ao bom senso e uma expressão de desprezo em relação à opinião pública manifestada pelos seus povos. É um contra-senso: primeiro acusa-se, depois então reúnem as provas. Esta ação é levada a cabo por um país poderoso, os Estados Unidos (…) Este gênero de acusação é exclusivamente político, é uma resposta à série de vitórias registadas pelas forças governamentais sobre os terroristas".

Na Rússia, o presidente da Comissão dos Negócios estrangeiros da Duma, o jornalista e o geopolítico Alexei Putchkov, comentou na sua conta do Twitter : "Washington e Londres declararam Al-Assad culpado muito antes das conclusões dos inspetores da ONU. Eles só aceitarão um veredicto de culpabilidade. Qualquer outra conclusão será rejeitada".

O princípio de uma nova guerra na Síria quadra mal com os problemas economicos dos Estados Unidos e dos Europeus. Se vender armas é um meio de ganhar dinheiro, destruir um Estado sem esperar o retorno do investimento à curto ou médio prazo, só poderá agravar a situação.

Segundo uma sondagem Reuters/Ipsos realizada após o ataque de 21 de agosto, 60% dos estadunidenses opõem-se a uma intervenção na Síria, contra 9% que lhe são favoráveis. Se fossem convencidos do emprego de armas químicas pela Síria, teríamos 46 % a opor-se à guerra, enquanto passariam 25 % a apoiá-la. A mesma sondagem indica que os estadunidenses apreciam ainda menos a guerra secreta : São 89% a declarar que não se deve armar mais os rebeldes, contra 11% que apoiam tal. Por fim, quatro opções eram propostas aos entrevistados: ataques aéreos (apoiados par 12%), a criação de uma zona de exclusão aérea (11%), o financiamento de uma força multinacional (9%), e uma intervenção direta dos EUA (4 %).



Em França, o Le Figaro, editado pelo vendedor de armas Dassault, pôs a questão aos seus leitores: no final de um dia, tinha-se 79,60% em oposição à guerra contra 20,40% a apoiá-la.

Será certamente difícil para os ocidentais mudarem as suas opiniões públicas, e entrarem em guerra.

Uma outra interpretação dos acontecimentos é possível: certos vídeos mostrando as vítimas dos ataques químicos circularam na Internet algumas horas antes dos ataques. Será, pois, sempre possível aos ocidentais "descobrirem" a trafulhice na altura conveniente e fazer marcha-a-ré. Entretanto o assunto das armas químicas no Iraque mostrou que os ocidentais podiam mentir à comunidade internacional e reconhecê-lo, sem problemas, uma vez o seu fato consumado.

As acusações dos jihadistas, e dos seus patrocinadores ocidentais, acontecem quando o Exército árabe sírio lançava uma vasta ofensiva, "Escudo de Damasco", para limpar a área da capital. O disparo de dois obuses pela "Brigada do Islã" corresponde ao início desta ofensiva, que se desenrolou durante 5 dias e se saldou por importantes perdas entre os jihadistas (pelo menos 1.500 feridos e mortos, entre 25.000 efetivos). Toda esta agitação poderá não ser mais que um episódio de guerra psicológica, tanto para mascarar esta derrota como para tentar paralisar a ofensiva síria. Sobretudo um meio para Washington testar a resposta iraniana, após a eleição do xeque Hassan Rohani à presidência. E, é agora claro que este não se poderá opor à política do Líder Supremo da Revolução Islãmica, o aiatolá Ali Khamenei.

Entretanto, durante a guerra contra a Líbia, eu subestimei a possibilidade dos Estados Unidos violarem todas as regras, incluindo as da Otan. Enquanto, baseando-me em documentação da Aliança atlântica, eu insistia sobre a grande capacidade de resistência da Jamahiria face à sua oposição armada, ignorava a realização de uma reunião secreta na base da Otan em Nápoles, nas costas do Conselho do Atlântico. 

À época, os Estados Unidos, o Reino Unido, a França, a Dinamarca e a Turquia, assim como Israel, o Catar e a Jordânia planificavam, em segredo, o uso dos meios da Aliança para bombardear Trípoli [1]. 

Não confiando nos seus aliados, que eles sabiam opôr-se a um ataque tão custoso em vidas humanas, não os informaram. A Aliança atlântica não funcionava mais como uma Aliança própriamente dita, mas sim como uma Coligação ad hoc. Em alguns dias, a tomada de Trípoli fez pelo menos 40.000 mortos, segundo os relatórios internos da Cruz Vermelha. 

Um dispositivo semelhante está, talvez, em curso de ser formado: os chefes de estado-maior do mesmo grupo (quase) de Estados, mais a Arábia saudita e o Canadá, têm estado reunidos, desde domingo até esta tarde, em Amã, sob a presidência do comandante do CentCom, o general Lloyd J. Austin III. 

Eles encaram cinco opções possíveis (fornecimentos de armas aos "rebeldes"; bombardeios dirigidos; criação de uma zona de exclusão aérea; criação de zonas tampão; e invasão terrestre).

A imprensa atlantista clama pela guerra. O Times de Londres anuncia-a.


O presidente Barack Obama poderá assim seguir o plano de guerra estabelecido pelo seu predecessor George W. Bush, em 15 de setembro de 2001, que previa, para além dos ataques ao Afeganistão e Iraque, os da Líbia e da Síria, como o revelou o antigo comandante da Otan, o general Wesley Clark [2]. Salvo que, pela primeira vez, o alvo dispõe de sérios aliados.


Todavia, a nova retórica dos EUA contradiz a soma de esforços da administração Obama, desde há um ano, aplicada a eliminar os obstáculos à realização da conferência de Genebra 2: demissão do general David Petraeus e dos partidários da guerra secreta; fim do mandato de Hillary Clinton e dos ultra-sionistas; avaliação dos opositores irredutíveis a uma aliança com a Rússia, nomeadamente no seio da Otan e do Escudo anti-mísseis. Ela contradiz também os esforços de John Brennan de provocar confrontos no seio da oposição armada síria; de exigir a abdicação do emir do Catar; e de ameaçar a Arábia saudita.

Do lado sírio, preparam-se como podem para qualquer eventualidade, e, incluindo um bombardeio da Otan contra os centros de comando e os ministérios, coordenado com um assalto de jihadistas contra a capital. No entanto a opção mais provável não é o desencadear de uma guerra regional, que fugiria ao controle das potências ocidentais. Será, provavelmente, um ataque, no outono, supervisionado pela Arábia saudita, e endossado pelos combatentes que ela recruta atualmente. Eventualmente, esta operação poderia ser apoiada pela Liga árabe.

Notas:
[1] O relevo das decisões desta reunião incluía uma longa lista de alvos e dos meios que lhe foram destinados. Uma alínea previa o envio de um comando ao hotel Radisson onde eu residia, para me eliminar. Entretanto, aquando do ataque, eu encontrava-me no Centro de imprensa do hotel Rixos.

[2] Este plano previa, igualmente, destruir o Líbano, depois o Sudão e a Somália e acabar com o Irã.




Imagens: Google

2 comentários:

Octopus disse...

Burgos amigo,

Os Estados Unidos vão efectivamente atacar a Síria, e o farão infelizmente em toda a impunidade.

BURGOS disse...

Octopus

Em declaração Obama disse que vai atacar a Síria mesmo sem aprovação do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).

Obama deixa bem claro quem é que manda neste mundo.

Lá vamos nós outra vez meu amigo, ver os ianques arrasar com outro país, e o que é pior, ninguém fará nada para impedir tal ato.

Um grande abraço meu amigo

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