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terça-feira, 28 de agosto de 2012

John Pilger: A perseguição a Assange é um insulto ao jornalismo



A perseguição a Assange é um assalto à liberdade e um insulto ao jornalismo

por John Pilger, em seu blog

A ameaça do governo britânico de invadir a embaixada equatoriana em Londres e ali capturar Julian Assange tem significado histórico. David Cameron, o antigo homem de relações públicas de um camelô da indústria de televisão e vendedor de armas para xeques, está bem colocado para desonrar convenções internacionais que têm protegido cidadãos britânicos em lugares sublevados. Assim como a invasão do Iraque cometida por Tony Blair levou diretamente aos atos de terrorismo de Londres em 7 de julho de 2005, da mesma forma Cameron e o secretário do Exterior William Hague comprometeram a segurança de representantes britânicos em todo o mundo.

Ao ameaçar abusar de uma lei concebida para expulsar assassinos de embaixadas estrangeiras, enquanto difama um homem inocente como “alegado criminoso”, Hague fez pouco caso dos britânicos em todo o mundo, embora esta visão seja quase sempre ocultada na Grã-Bretanha. Os mesmos bravos jornalistas e radialistas que defenderam a atuação britânica em crimes sangrentos brutais, desde o genocídio na Indonésia até as invasões do Iraque e Afeganistão, agora atacam o “a história de direitos humanos” do Equador, cujo crime real é enfrentar os tiranos em Londres e Washington.

É como se os felizes aplausos olímpicos houvessem sido subvertidos da noite para o dia por uma exibição reveladora de selvageria colonial. Testemunha disso é o oficial do Exército britânico-repórter da BBC Mark Urban ao “entrevistar” um vociferante Sir Christopher Meyer, antigo apologista de Blair em Washington, do lado de fora da embaixada equatoriana, ambos a explodirem com indignação ultra-conservadora porque o arredio Assange e o insubmisso Rafael Correa estariam a desmascarar o sistema ocidental de poder. Afronta semelhante é vivida nas páginas do Guardian, o qual aconselhou Hague a ser “paciente” e disse que assaltar a embaixada traria “mais perturbação do que o assunto vale”. Assange, segundo declarou o Guardian, não era um refugiado político porque “nem a Suécia nem o Reino Unido em caso algum deportariam alguém que pode enfrentar tortura ou pena de morte”.

A irresponsabilidade desta declaração vai a par com o pérfido papel do Guardian em todo o caso Assange. O jornal sabe muito bem que documentos divulgados pelo WikiLeaks indicam que a Suécia tem-se submetido sistematicamente à pressão dos Estados Unidos em matéria de direitos civis. Em dezembro de 2001, o governo sueco revogou abruptamente o estatuto de refugiados políticos de dois egípcios, Ahmed Agiza e Mohammedel-Zari, que foram entregues a um esquadrão de sequestro da CIA no aeroporto de Estocolmo e levados (“rendered”) para o Egito, onde foram torturados. Uma investigação do defensor sueco para a Justiça (ombudsman) descobriu que o governo havia “violado gravemente” os direitos humanos dos dois homens.

Num telegrama de 2009 de embaixada dos EUA obtido pela WikiLeaks, intitulado “WikiLeaks coloca neutralidade na lata de lixo da história”, a louvada reputação de neutralidade da elite sueca é desmascarada como uma impostura. Um outro telegrama estadunidense revela que “a extensão da cooperação [militar e de inteligência da Suécia com a OTAN] não é amplamente conhecida” e se o segredo não for mantido “submeteria o governo à crítica interna”.

O ministro dos Negócios Estrangeiros sueco, Carl Bildt, desempenhou um notório papel de proa no Comitê para a Libertação do Iraque de George W. Bush e mantém laços estreitos com a extrema-direita do Partido Republicano. Segundo o antigo diretor sueco de processo públicos, Sven-Erik Alhem, a decisão sueca de pedir a extradição de Assange por alegações de má conduta sexual não é “razoável e profissional, bem como injusta e desproporcionada”. Tendo-se oferecido ele próprio para interrogatório, foi dada permissão a Assange para deixar a Suécia com destino a Londres onde, mais uma vez, ele se ofereceu para ser interrogado. Em maio, num julgamento de recurso final sobre a extradição, o Tribunal Supremo britânico introduziu mais farsa ao referir-se a “acusações” não existentes.

Além disso, tem havido uma campanha pessoal injuriosa contra Assange. Grande parte dela emanou do Guardian, o qual, como um amante rejeitado, voltou-se [contra] a sua antiga fonte, depois de ter aproveitado enormemente das revelações do WikiLeaks. Sem dar nem um centavo a Assange ou à WikiLeaks, um livro do Guardian levou a um lucrativo acordo cinematográfico com Hollywood. Os autores, David Leigh e Luke Harding, atacaram Assange gratuitamente como “personalidade defeituosa” e “insensível”.

Eles também revelaram a senha secreta que foi dada ao jornal em confiança, a qual era destinada a proteger um arquivo digital contendo os telegramas de embaixadas dos EUA. Em 20 de agosto, Harding estava do lado de fora da embaixada equatoriana, manifestando no seu blog o desejo de que “a Scotland Yard possa rir por último”. É irônico, ainda que inteiramente adequado, que um editorial do Guardian a pisotear Assange tenha dado origem a uma semelhança incomum com a imprensa de Murdoch, com o seu previsível fanatismo sobre o mesmo assunto. Como a glória de Leveson, o Hackgate e o jornalismo honrado e independente desvanecem-se.

Os seus atormentadores chamam a atenção para a perseguição de Assange. Não acusado de qualquer crime, ele não é um fugitivo da justiça. Documentos do processo sueco, incluindo as mensagens textuais das mulheres envolvidas, demonstram para qualquer pessoa de mente razoável o absurdo das alegações sexuais – alegações quase inteiramente afastadas de imediato pelo promotor sênior em Estocolmo, Eva Finne, antes da intervenção de um político, Claes Borgstr. No pré julgamento de Bradley Manning, um investigador do Exército dos EUA confirmou que o FBI estava secretamente a investigar os “fundadores, proprietários ou administradores da WikiLeaks” por espionagem.

Quatro anos atrás, um pouco noticiado documento do Pentágono, revelado pela WikiLeaks, descrevia como a WikiLeaks e Assange seriam destruídos com uma campanha de difamação (smear campaign) que levaria a “processo criminal”. Em 18 de agosto, o Sydney Morning Herald revelou, numa divulgação de arquivos oficiais no âmbito da [lei de] liberdade de informação, que o governo australiano havia reiteradamente recebido confirmação de que os EUA estavam a conduzir uma perseguição “sem precedentes” a Assange e não havia levantado objeções. Dentre as razões do Equador para conceder asilo está o abandono de Assange “pelo estado do qual ele é cidadão”.


Em 2010, uma investigação da Polícia Federal Australiana descobriu que Assange e a WikiLeaks não haviam cometido crime.A sua perseguição é um assalto a todos nós e à liberdade.


Fonte: Viomundo

Imagem: Google (colocada por este blog)


2 comentários:

Anônimo disse...

As vezes isso me confunde: Um herói fabricado ou um vilão fabricado? Link: http://www.libertar.in/2012/08/wikileaks-uma-farsa-que-pode-custar.html

O cara ainda afirma que o 11/09 não foi um trabalho interno de falsa bandeira. Por que ele não gosta de falar das verdadeiras conspirações?
Esse Assange é bem questionável não acha?

BURGOS disse...

Anônimo

Concordo com você, realmente Assange é bem questionável, acho que só o tempo dirá e nos mostrará a verdadeira face de Julian Assange.
Temos que ficar atentos aos fatos.

Abraços

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