A construção da paz passa pelo desmantelamento da Otan
Este final de semana (2 e 3 de dezembro) a cidade de São Paulo sediou o debate sobre quais são, na atualidade, os maiores entraves para a construção de um mundo de paz, onde os direitos e a soberania dos povos sejam respeitados. Representantes de dez países estiveram presentes no evento e puderam debater, sob um ponto de vista pacifista e propositivo, quais as expectativas para a construção de um mundo melhor.
O evento de dois dias abriu um leque de discussões que passou desde a questão das guerras comandadas pela Otan, que estão em curso no Oriente Médio e norte da África, até o desmantelamento da antiga Iugoslávia, intervenções na América Latina e a luta pelo reconhecimento do Estado Palestino.
Otan
A presidente do Conselho Mundial da Paz e do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz, Cebrapaz, Socorro Gomes, observa que a atual conjuntura internacional, de crise estrutural do capitalismo, revela os bastidores da militarização das potências. “O investimento em armamento aumenta da mesma forma como crescem as agressões baseadas em mentiras, falsas ações democráticas e falsas ações humanitárias que, na verdade, violam o direito à autodeterminação dos povos”. Dessa forma, observa ela, crimes contra a humanidade são apresentados como ações do “bem”.
Socorro esclarece que, é uma situação em que “o terrorista diz combater o terrorismo. O traficante diz combater as drogas. Em nome disso, os EUA fazem várias intervenções, inclusive na América Latina e no Brasil – com as ditaduras do continente das décadas de 1960-1980. O imperialismo segue sua rota com mais de 800 bases militares instaladas em todo o mundo”, aponta.
Nesse sentido, o representante do Fórum de Belgrado por um Mundo de Iguais, Zivadin Jovanovic, denunciou o desmonte da antiga Iugoslávia e o início das intervenções da Otan em todo o mundo. “Em 1999 a Otan realizou uma agressão à Iugoslávia. Foi o início da rede de intervenções desse organismo em todo o mundo, como as agressões e ocupações do Afeganistão, do Iraque, dos países do norte da África, além da constante ameaça de intervenções em outras partes do mundo. Na Iugoslávia, usou-se os direitos humanos para justificar essas ações. Hoje, a maior ameaça aos direitos humanos, à paz, à estabilidade e ao progresso mundial está representada pela Otan. Temos que lutar pelo seu desmantelamento”.
Por sua vez, a representante do Movimento pela Paz, Soberania e Solidariedade entre os Povos da Argentina, Mopassol, Rina Bertaccini, defendeu que, “se fosse verdade que a Otan intervém em outro país para defender os direitos humanos, estaríamos em uma contradição impossível, porque a organização teria que intervir no principal violador dos direitos humanos no mundo, que são os Estados Unidos”.
Crise e agressão
A representante do Conselho Português para a Paz e Cooperação, Joana Ferreira, apontou que, na tentativa de impor uma nova ordem mundial, “a Otan, os EUA e as grandes potências mundiais usam o imperialismo como um instrumento de guerra, impondo um sistema que destrói o planeta e desrespeita a soberania dos povos. Com o sistema capitalista em crise, a Otan ameaça a segurança e a paz. Nesse contexto, a União Europeia se soma à Otan nas guerras de agressão e ocupação da Síria e Irã, por exemplo”.
O caso da Grécia foi abordado por Tassos Stravos, do Comitê Grego pela Paz e Distensão Internacional. Ele ressaltou que o país participa de duas organizações imperialistas, a Otan e a União Europeia, que comandam uma ofensiva contra o povo grego com cortes nos gastos com educação, saúde, salários. Dessa forma, ressaltou, “o direito do povo grego é violado dentro de seu próprio território e é obrigado a pagar pela crise do capitalismo”.
Tadaaki Kawata, integrante do Conselho da Paz do Japão, denunciou que em visita à Austrália, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, falou que a presença militar dos EUA é prioridade na região asiática. Com a 7ª Frota, o país quer reforçar a presença nas Filipinas e na Austrália. “Apesar da crise financeira, os Estados Unidos não vão cortar as despesas na Ásia, em uma tentativa de utilizar o crescimento da região para amenizar a crise que vivem”, pontuou.
Agressões à América Latina e Caribe
A representante do Movimento pela Paz, Soberania e Solidariedade entre os Povos, Mopassol, Rina Bertaccini, ressaltou que na América Latina e no Caribe as intervenções do imperialismo estadunidense não mudaram na essência ao longo dos anos e a presença dos EUA se dá na forma de alianças com o Comando do Sul dos Estados Unidos – organização militar do Departamento de Defesa dos EUA para a América do Sul, Central e Caribe –, além da “penetração nas universidades estatais dos nossos países”.
Mesmo no Brasil há riscos à soberania nacional. O vereador Jamil Mourad (PCdoB) denunciou que, antes da descoberta do pré-sal brasileiro, os Estados Unidos reativaram a 4ª Frota para circular neste mar em um nítido risco à soberania nacional.
Palestina Já
A questão palestina não só foi lembrada, como foi tratado como prioridade o reconhecimento do Estado da Palestina, para o real estabelecimento de um processo de paz no Oriente Médio. O representante do Centro Palestino para a Paz e a Democracia, Akel Taqaz, evidenciou que “o que ocorre hoje na Palestina é um exemplo de violação dos direitos humanos e ameaças à paz mundial com a ocupação, por parte de Israel, de territórios palestinos e a manutenção de palestinos em prisões em Israel”. Ele ressalta que “o mundo entende que o processo de paz deve se dar com o reconhecimento do território palestino dentro das fronteiras de 1967, resolvendo a questão dos refugiados palestinos. Acreditamos que os povos da região precisam de solidariedade e apoio”, concluiu.
Para o representante do Conselho Nacional Palestino e da Associação Europeia de Cooperação com a Palestina, Jehad Suleiman Rashid, o povo está cansado da “impunidade com a qual Israel é tratado e da inoperância europeia, especialmente o ex-primeiro-ministro do Reino Unido, Tony Blair, que deveria ser julgado pelo Tribunal de Haia. Nós sabemos o quão humilhado está Obama, que é incapaz de manifestar seu compromisso político com o povo palestino. Obama se encontra hipotecado, vendido a um sistema falido e perigoso à paz mundial. Há uma corrente nefasta, agressiva, formada pelo governo norte-americano, pelas instituições financeiras, que é a mesma que protege Israel e provoca a guerra em países como Iraque e Afeganistão e que se chama Otan”.
Ele ressaltou também que para os palestinos não restou outra escolha a não ser o clamor à comunidade internacional para o reconhecimento do seu território. “Esse será um novo amanhecer para todo o mundo árabe e os palestinos contribuirão com a paz e os direitos humanos”.
Um mundo de paz
Como forma de resistência e fortalecimento da soberania dos povos da região, diversos palestrantes defenderam a Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos, Celac, como instrumento de integração e como forma de resistir ao processo de imposição da cultura de dominação dos Estados Unidos.
A argentina Rina Bertaccini ressaltou que os “movimentos de paz têm que abordar formas novas para projetos velhos“ e destacou a importância do evento realizado pelo Cebrapaz, porque “é preciso dar continuidade e incentivar a mobilização de vários setores para ajudar na batalha de ideias”.
“Nesse contexto tão dificil, a humanidade resiste. Estão sendo criadas forças para um futuro melhor. Por isso, somos contra as bases militares, rejeitamos as forças militares e defendemos uma politica externa independente de solidariedade com os povos, e a luta dos povos em defesa de sua soberania, compromissos sem os quais é impossivel construir mundo justo igualitario e de paz”, como observou a portuguesa Joana Ferreira.
A presidente do Cebrapaz, Socorro Gomes, ressaltou a esperança de um mundo melhor: “Vemos crescer uma corrente para a criação de um novo mundo de respeito aos povos. Essa luta exige uma postura ética para se ocontrapor ao imperialismo. (...) Vemos heroicos atos de resistência. Ações de governos anti-imperialistas e o levante dos movimentos sociais que exigem direitos humanos para todos”.
Fonte:Da redação do Vermelho,
Vanessa Silva, com informações de Érika Ceconi
4 comentários:
Amigo Burgos,
Na verdade é um papo de periferia, que somado ao movimento de criação da Celac pode vir a ser um passo importante para nos tornarmos cada vez menos subservientes aos interesses do império. Não tenho dúvidas de que todo este reboliço deve estar sendo acompanhado pelos yanques com muito interesse e podemos com o passar do tempo, esperar atitudes semelhantes as que são empregadas noutros cantos nestes dias atuais.
Um abraço.
Walner.
Walner
Eu acho que é um grande passo, um passo eu sei, mas já é uma grande coisa.
A conscientização vai aos poucos tomando forma, podemos não ir muito longe, mas pelo menos o número de idiotizados está a diminuir, lentamente, mas está.
Um grande abraço meu amigo
Tenho a impressão que a malta anda a ficar possuída com o espírito da PAZ, do AMOR e da FRATERNIDADE... que se passa com estes animais humanos... BURGOS?
Talvez eles estejam de saco cheio da guerra, com a subserviência que sempre foram submetidos pelo império anglo-americano.
hehehehehehe
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