Discursos
políticos em múltiplas tribunas mundiais, incluída a ONU, e iniciativas
negociadoras dos países árabes e ocidentais, têm sido insuficientes
para deter a lenta aniquilação dos palestinos na Cisjordânia ocupada e
na sitiada Faixa de Gaza.
A julgar por
considerações de Tarik Alami, chefe de temas emergentes e conflitos da
Comissão Econômica e Social da ONU para a Ásia Ocidental, uma primeira
repercussão da usurpação territorial sionista é o obstáculo à
auto-suficiência dos palestinos.
Um relatório
apresentado durante o recente seminário sobre o impacto econômico e
social desta política sionista no Cairo expôs cifras estarrecedoras da
repressão, uso da força, roubo de propriedades e ampliação de
assentamentos judeus pelos israelenses, bem como o impacto nos recursos
naturais e no meio ambiente.
A economia da
Autoridade Nacional Palestina (ANP) sofre anualmente perdas de sete
bilhões de dólares por causa da ocupação, o que tem converteu esses
territórios numa das economias mais dependentes de ajuda no mundo.
A este
respeito, o embaixador da ANP na ONU, Riyad Mansour, assinalou numa
entrevista à Prensa Latina que o custo da dominação é facilmente
quantificável, daí que, se essa política terminar, "seremos capazes de
ser auto-suficientes e não precisaremos de ajuda externa".
Os sete
bilhões de dólares que a economia palestina perdeu em 2010 equivalem à
quase totalidade do Produto Interno Bruto (PIB) anual, e esse dano foi
produzindo privando os residentes na Cisjordânia, Jerusalém Oriental e
Gaza de utilizarem seus recursos naturais.
Terra, água,
minerais, gás natural, pesca e outras riquezas incluíram-se entre os
recursos impossíveis de explorar pelos palestinos, de acordo com Mansour
e de cifras aportadas pela ONU.
Em termos de
direitos humanos, 125 palestinos morreram e 2.144 foram feridos pelas
forças de segurança e pelos colonos israelenses em 2011, quando mais de
dois terços das baixas se produziram em fatos unidos à atividade nos
assentamentos judeus.
Segundo a
ONU, no ano passado pereceram 16 crianças e outros 441 ficaram feridos
por abusos israelenses, um dado que elevou a 1.351 a cifra de jovens
mortos por soldados e colonos entre 2000 e 2011.
Desde que se
produziu a invasão, em 1967, até 2010 registraram-se mais de 760 mil
detenções de palestinos por forças israelenses, incluídos 15 mil
crianças, dos quais em média 192 estiveram em prisão em 2011 e ao menos
63 sofreram torturas ou doenças.
Vale recordar
que entre 500 e 700 menores palestinos são processados a cada ano em
cortes militares de Israel, muitas vezes por participar em mobilizações
contra as demolições de casas, uma prática intensificada agora em 80 por
cento em relação a 2010.
No mínimo,
21.200 palestinos ficaram sem suas moradias de 2004 até hoje como
resultado das demolições, deles 620 viram serem demolidas suas
residências em 2011, enquanto 1.094 foram forçados a se deslocarem e
4.164 sofreram afetações diretas.
A esses dados
referidos à Faixa Ocidental, é preciso acrescentar as 23.500 pessoas
ainda sem teto em Gaza devido à impossibilidade de reconstruir 15 mil
unidades habitacionais devastadas no enclave durante os bombardeios da
Operação Chumbo Fundido (2008-2009).
Em Jerusalém
Oriental, a parte da cidade santa onde os palestinos aspiram converter
em capital de seu futuro Estado, os árabes têm sido vítimas da
expropriação de ao menos 23.378.000 metros quadrados desde 1968, e 390
derrubadas de casas desde 2004.
As limitações
para edificar nessa zona da cidade e a revogação de 13.115 permissões
de residência para palestinos de 1967 a 2009, faz com que 60 mil pessoas
estejam ameaçadas de se converterem em "sem tetos".
Todos esses
ataques ajudam a reforçar uma estratégia de "judaização" dos territórios
árabes a partir da ampliação de assentamentos ilegais, segundo
denunciaram especialistas durante uma conferência sobre Jerusalém,
realizada no final de fevereiro no Qatar.
As
estatísticas da referida instância da ONU sustentam que até meados de
2010 viviam 517. 774 colonos em 144 assentamentos que a ONU tacha de
ilegais, e em outros 100 bairros ou postos avançados fora dessas
colônias, ilícitos inclusive pela lei israelense.
Só a modo de
exemplo, no ano passado a taxa de construção em assentamentos
israelenses da Cisjordânia e de Jerusalém duplicou o nível das obras de
construção dentro de Israel e os extremistas judeus utilizam estradas
marcadas só para o acesso de israelenses.
Na Ribeira
Ocidental, o Estado sionista anexou 13 por cento do território, segue
construindo um muro gigantesco que afeta 855 mil palestinos, mantém 33
mil presos entre essa cerca e a chamada Linha Verde e separou Jerusalém
do resto da Cisjordânia.
Cerca de 170
milhões de metros quadrados de terra fértil estão isolados pelo muro de
segregação e os assentamentos despejam 40 milhões de metros cúbicos de
águas residuais e dejetos sólidos anualmente em solo palestino.
Até dezembro,
contabilizaram-se 557 obstáculos, entre postos de controle militar,
valetas, montículos de areia e outros meios para restringir o movimento
de palestinos dentro de sua própria terra.
Por causa da
usurpação israelense, o PIB per capita em 2010 foi 30 por cento menor
que em 2000, 22 por cento dos palestinos se sumiu na pobreza em 2009 e a
taxa de desemprego cresceu a 24 por cento na primeira metade de 2011.
Pelo menos
1,43 milhão de palestinos sofre insegurança alimentar, duas em cada três
crianças em Gaza apresenta reação severa e moderada a traumas e o
bloqueio impôs "sacrifícios inaceitáveis, escolhendo com frequência
entre alimento, remédio ou água".
A
inacessibilidade a terras em Gaza causa à economia perdas de
aproximadamente 75 mil toneladas métricas de produção potencial anual e a
média de acesso a água fresca para consumo doméstico é de 73 litros por
pessoa/dia na Cisjordânia e 52 na Faixa.
Israel impõe
uma zona de restrição de um a 1,5 quilômetro dentro do enclave de Gaza,
negando aos palestinos o acesso a 35 por cento dos terrenos cultiváveis.
E ainda, o
bloqueio marítimo proíbe pescar para além de três milhas náuticas da
costa do Mediterrâneo em Gaza, o que afeta diretamente 65 mil pessoas.
A lista de
problemas e indicadores sociais negativos derivados da ocupação
israelense é extensa e, sobretudo, ilustrativa do drama de um povo que
censura às maiores potências do mundo a seguirem usando dois pesos e
duas medidas para abordar o conflito central do Oriente Médio.
*Corresponsável da Prensa Latina no Egito.
Fonte: Prensa Latina, IraNews
Imagem: Google
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