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quarta-feira, 16 de maio de 2012

Vida longa aos ‘nossos’ bastardos do Golfo


 Pepe Escobar, Asia Times Online


A vida é presente de ouro que você ganha de Deus, se for membro de carteirinha do Clube Contrarrevolucionário do Golfo (CCG), codinome Conselho de Cooperação do Golfo: Bahrain, Kuwait, Omã, Qatar, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos podem torturar, matar, reprimir e demonizar os próprios cidadãos – em plena confiança de que escaparão, porque o máster jamais os atrapalhará.

 No mesmo momento em que a dinastia sunita al-Khalifa no poder no Bahrain declara publicamente que continuará a prender, espancar, gás-lacrimogenear, invadir casas, confiscar empregos e bens e direitos e a obrigar os cidadãos pró-democracia do Bahrain a viver em estado non-stop de medo, o príncipe coroado do mesmo Bahrain, Salman bin Hamad al-Khalifa, é hóspede festejado, em Washington, do governo de Barack Obama.

 
O príncipe Salman – que a propaganda bahraini vende como “moderado” – apareceu lado a lado, com a secretária de Estado Hillary “Fomos, vimos, ele morreu” Clinton. Os que “morrem” são ditadores do mal, do tipo Muammar Gaddafi. “Nossos” bastardos são festejados em DC, depois de recebidos com tapete vermelho.

 Há alguma repressão relacionada a alguma Primavera Árabe e matança no Bahrain? Claro que não. Segundo Clinton, palavras dela, são só “questões internas”.

 Na prática, significa que Clinton subscreve a narrativa oficial segundo a qual a sectarização de tudo que está acontecendo no Bahrain é culpa dos manifestantes – não dos al-Khalifas, os quais, já faz um ano, estão destruindo mesquitas xiitas e investindo na total demonização dos xiitas (a culpa é do Irã ‘do mal’).

 Os al-Khalifas têm sido muito mais cordatos que o presidente Bashar al-Assad na Síria: mataram só quantidade aceitável de gente. Mas por que o Bahrain é substancialmente “diferente” da Síria? Porque “abriga a V Frota da Marinha dos EUA, ajudando os EUA a projetarem sua força no Golfo e a conter o Irã” – e não é fala de algum neoconservador, mas do diretor da ONG Human Rights Watch, Tom Malinowski.

Um bando de covardes

Eis a conquistadora Clinton da Líbia:

O Bahrain é valioso aliado dos EUA. Somos parceiros em várias questões importantes de interesse mútuo para ambas nossas nações e também de interesse regional e global. Espero ansiosa a chance de conversar com Sua Alteza Real sobre várias dessas questões internas e externas com que o Bahrain está tendo de lidar e alcançar melhor compreensão dos esforços que estão sendo empreendidos pelo governo do Bahrain. Por tudo isso, Sua Alteza Real, bem-vindo aos EUA.


 E aqui um porta-voz do governo do Bahrain, falando das coisas como as coisas são, à agência Reuters, apenas um dia antes do trololó Clinton-Príncipe Coroado:


 Estamos de olho nos perpetradores e gente que usa a imprensa, o rádio e as mídias sociais para encorajar protestos ilegais e violência por todo o país. Se aplicar a lei significa resposta dura, assim será.


Tradução: a chacina prosseguirá, porque os senhores, em Washington, nos dão cobertura.

 

Nem uma palavra do governo Obama sobre a prisão do mais conhecido ativista bahraini defensor de direitos humanos Nabeel Rajab, que a Anistia Internacional declarou “prisioneiro de consciência” ao exigir que fosse imediatamente libertado. Quanto ao ativista Abdulhadi Alkhawaja, permanece há três meses em greve de fome, em protesto contra a sentença que recebeu, de prisão perpétua, condenado pelo regime al-Khalifa.

R2P, “responsabilidade de proteger”? Ora... a adorável doutrina esposada pelas Três Graças – Clinton; a Embaixadora dos EUA à ONU Susan Rice; e Samantha Power, Assessora Especial de Obama – não se aplica a manifestantes civis que protestam, a maioria dos quais são xiitas, no Bahrain. Gritam por direitos humanos básicos – dos quais jamais conheceram muitos –, já há mais de um ano.

 O primeiro-ministro do Bahrain, Khalifa bin Salman al Khalifa – cujos métodos medievais fariam corar de inveja o egípcio Omar “Sheikh al-Tortura” Suleiman, para nem falar do príncipe Nayef da Casa de Saud – está no poder há 40 anos.

 E o rei do Bahrain, rei Hamad, sempre, oh, tão generoso: depois de tudo, pediu um relatório detalhado da repressão. Desnecessário dizer que as medidas recomendadas naquele relatório, embora altamente saneado, jamais foram implementadas.

 O que torna tudo ainda mais trágico, é que nada são além de um bando de covardes. Bastaria uma palavra de Clinton ou Obama, para que os al-Khalifas suspendessem imediatamente a repressão acertada entre eles todos, e que usa a polícia linha mais dura dos sunitas recrutados no Paquistão, Síria e Iêmen: libertem os milhares de prisioneiros, recontratem os milhares de trabalhadores demitidos porque seriam “subversivos”. São covardes. 

 Há rumores na Grã-Bretanha segundo os quais Nasser Bin Hamad, filho do rei do Bahrain, pode ser impedido de assistir aos Jogos Olímpicos de Verão, em Londres, dentro de alguns meses. E por boas razões: ele pessoalmente ameaçou muitos atletas, além de ser acusado de tortura. E o que fez, quando a coisa esquentou? Rapidamente deletou todos os tuítes ameaçadores. Podem contar: em julho, Nasser será visto nas principais festas em Mayfair.




Fonte: IrãNews
Tradução: Vila Vudu

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