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domingo, 16 de setembro de 2012

Diplomacia dos EUA x Aventuras de Israel






Passados os recentes esforços do primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu, o qual, parece, empenhava-se em exibir ao mundo retrato de Israel como organização extremista e aventureirista, e depois que suas posições de hostilidade contra o Irã foram quase completamente ignoradas pela opinião pública dentro e fora de Israel, tudo indica que o governo de Netanyahu vê-se a braços com um sentimento mórbido de ineficácia e baixa credibilidade.

 
Por Mohammad Farhad Koleini, em Iran Review

Já se veem sinais disso até em declarações de funcionários de Israel. Já reconheceram que ninguém está dando atenção ao que Israel pensa ou diz, e a indiferença às posições de Telavive já não se limita aos EUA. Apesar de todo o empenho negativo de Israel, o Irã organizou e realizou com pleno sucesso um dos maiores encontros internacionais já realizados naquele país.

Por sua vez, a secretária de Estado dos EUA Hillary Clinton disse recentemente na capital da Indonésia, Jakarta, que o Irã tem pleno direito de usar energia nuclear para finalidades pacíficas, enfatizando que se devem empreender todos os esforços para impedir que o Irã construa armas nucleares.

Assim sendo, claramente demonstrou ao governo de Israel que de pouco adiantaram seus esforços contra o Irã, dado que a posição dos EUA sobre o programa nuclear iraniano não sofreu qualquer mudança essencial.

Relações Irã-EUA

Segundo algumas agências ocidentais de notícias, até alguns conselheiros próximos do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu já observam que divisões e disputas graves de opinião dentro do establishment político em Israel, em torno de ataque militar contra o Irã, podem levar até ao assassinato de altos membros do governo israelense por forças políticas de oposição interna.

Um membro da alta direção do partido israelense Likud, que governa Israel, fez explícita referência a essa possibilidade, em recente entrevista ao jornal Maariv. Disse que, sob as circunstâncias atuais da política e da sociedade israelense (no que tenha a ver com o Irã) é possível que alguns grupos considerem medidas irracionais, como o assassinato de líderes israelenses. Comentou o caso de Yigal Amir, o israelense que assassinou o ex-primeiro ministro de Israel Yitzhak Rabin, dia 4/11/1995, por entender que, com seu crime, estaria salvando Israel.

Pelo outro lado, o vice-presidente dos EUA Joseph Biden falou sobre o Irã, ao atacar o candidato Republicano à presidência, Mitt Romney, em discurso a trabalhadores brancos em York, Pennsylvania, ainda recentemente. Biden disse que o projeto de Romney, de fazer guerra contra a Síria ou o Irã, atrasaria ainda mais a recuperação dos EUA, em momento em que o país vai, aos poucos, superando uma das recessões econômicas mais graves que os EUA conheceram. Analistas especialistas interpretaram que o alvo do discurso e da manifestação de Biden contra novas guerras no Oriente Médio não foi só Mitt Romney, mas também a cúpula governante em Tel Aviv.

Todas essas evidências demonstram que os pontos de vista e as posições de EUA e do regime de Tel Aviv sobre “linhas vermelhas” no campo político absolutamente já não coincidem; que Tel Aviv e EUA têm posições polarmente opostas sobre dois conceitos chaves: o “limiar nuclear” e a “capacidade nuclear”.

Os EUA entendem que a decisão iraniana de obter capacidade nuclear absolutamente não implica qualquer decisão de construir bombas atômicas. De fato, o ocidente já adota abordagem escrupulosa, acurada e profissional sobre o Irã “nuclear”, consequência da firmeza com que o Irã já declarou que não tem qualquer interesse em construir armas atômicas. De fato, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) também já registra a mesma convicção sobre o programa de energia nuclear do Irã, e confirmou, em seguidos relatórios, que não constatou qualquer desvio no programa nuclear iraniano na direção de dar uso militar às competências nucleares do país.

Por vários caminhos, o que se vê hoje é que os EUA estão-se distanciando de Israel, no que tenha a ver com políticas para o Irã. Já se veem notáveis diferenças entre Washington e Tel Aviv nas avaliações estratégicas sobre o pensamento, propósitos e desejos do governo do Irã. A abordagem pela qual estão optando os países ocidentais, especialmente os EUA, na direção de reconhecer a racionalidade estratégica das decisões políticas iranianas é já muito diferente da abordagem na qual insiste o governo de Netanyahu – que só parece preocupado, hoje, em manter vivo seu Gabinete.

A comunidade de inteligência de Israel já observou, em vários relatórios, que mudanças geopolíticas na Região implicam graves ameaças ao regime em Israel, e que deveriam ser preocupação prioritária de Telavive.

A comunidade de inteligência israelense entende também que mudanças na política externa do Egito, depois das eleições naquele país, e da posse do presidente Mohamed Mursi, inclinado a construir novo equilíbrio no campo político regional e internacional, além de uma solução para a questão Síria que já começa a configurar-se no horizonte, podem desencadear movimento de vingança contra Israel em toda a região. Resultado disso, essas mudanças na região têm sido repetidamente enumeradas como absolutas prioridades do regime sionista. Os mesmos especialistas israelenses em segurança regional entendem que, em caso de conflito que ameace a segurança de Israel, Tel Aviv deve extrair todas as vantagens possíveis de seu arsenal nuclear secreto – o que capacitaria Israel a enfrentar qualquer possível ameaça de segurança.

De fato, esses especialistas ignoram que a realidade em campo pode ser dramaticamente diferente e levar a condições totalmente diferentes das que examinam hoje.

O que realmente se passa dentro da estrutura política israelense é que já emergiram profundas dissonâncias, fissuras entre a comunidade política, a opinião pública, a comunidade de inteligência e velhos profissionais da política partidária em Tel Aviv, sobre a questão do programa nuclear iraniano. Assim sendo, não se vê ainda no horizonte nem alguma remota possibilidade de consenso, por simples que seja, sobre a ação a tomar em relação ao Irã. Por isso, inúmeras reuniões da comunidade de inteligência israelense tem sido simplesmente canceladas, pouco depois de marcadas. Claro que os funcionários israelenses informam aos veículos de mídia que os cancelamentos explicam-se porque teria havido vazamento de informação de inteligência depois de uma daquelas reuniões.

A mesma absoluta falta de consenso em Israel sobre como encaminhar as tratativas com o Irã explica também porque o regime israelense tanto tem insistido em lançar ameaças também contra os EUA, ao mesmo tempo em que tenta inverter os fatos para implementar cenários mais favoráveis a Israel. Hoje, nos EUA, o candidato Barack Obama já enfrenta campanha contrária, patrocinada diretamente pelo governo de Netanyahu. O governo dos EUA, evidentemente, já viu e observa esses movimentos.

O alto custo de apoiar o regime sionista está convertido em problema real e imediato para os EUA. Até agora, o problema ainda não está sendo discutido abertamente, mas nas últimas semanas já se viram em circulação na grande mídia norte-americana, que começam a discutir os motivos pelos quais, nos EUA, nenhuma autoridade fala sobre as armas atômicas de Israel. Acredita-se que sejam os primeiros sinais que Washington vê-se obrigada a dar a Tel Aviv, para que corrija o rumo de suas declarações e atitudes. Sabe-se que o embaixador dos EUA em Tel Aviv Daniel B. Shapiro serviu-se de termos muito claros e duros, em reunião com funcionários do governo de Israel, para lembrá-los de que Israel tem de observar regras morais, manter a compostura e respeitar o decoro diplomático.

Além da questão das principais ameaças que pesam contra Israel, os estudos da inteligência israelense têm-se dedicado também a analisar as chances de sucesso num possível ataque israelense que vise a destruir o programa de energia nuclear iraniano. Sobre isso, os norte-americanos já têm análise feita. Para eles, Israel não tem capacidade para destruir completamente, em ataque militar, as instalações do programa nuclear do Irã.

Por exemplo, considerada a usina nuclear em Fordow, a capacidade militar do regime sionista é significativamente menor que a requerida para destruir a usina. Assim sendo, os norte-americanos entendem que qualquer ameaça que o regime sionista lance contra o Irã não passa de ameaça de propaganda;
os EUA sabem que Israel nada conseguirá contra o Irã, com armas convencionais. Os norte-americanos, eles sim, já contam com armas de alta capacidade de destruição. Mas são armas norte-americanas, não israelenses, o que muda completamente a configuração do problema.

Resultado desse estado de coisas, estão em curso acalorados debates, não conjuntos, mas paralelos, dentro do governo sionista e dentro do governo dos EUA, sobre as possibilidades de sucesso de ataque militar contra o Irã. Nos dois casos, discutem-se os riscos e os custos desse aventureirismo generalizado.

O ataque levará a guerra em grande escala, que conflagrará toda a região? Danificar a capacidade nuclear do Irã é o único ou principal objetivo? E o Irã, se atacado, será levado a ascender a estágio completamente diferente de resposta estratégica? São questões graves e sensíveis, que certamente ocupam muitos agentes profissionais políticos e de inteligência, que sabem que, se atacado, o Irã retaliará com explicável fúria.

Por outro lado, outra importante questão é o que pode acontecer depois de um ataque israelense contra instalações nucleares do Irã.

Os norte-americanos creem que se Israel atacar, conseguirá, no máximo, retardar o programa nuclear iraniano; exceto pelo retardamento, o ataque em nada alterará o programa iraniano. Assim sendo, creem que o regime israelense está queimando balas de festim, sem nenhum objetivo claro. Resultado disso, questão importante sobre os debates estratégicos é que estimativas, abordagens e decisões estratégicas são questões diferentes.

Hoje, estamos falando sobre estimativas estratégicas com o objetivo final de saber em que direção se movem as estimativas estratégicas do regime sionista, consideras as reuniões não noticiadas – e interrompidas – que não chegam a conclusão alguma, em Israel, nos últimos dias. No presente momento, a comunidade de inteligência dos EUA tem alta probabilidade de discordar do que Israel deseja; e Israel tenta usar suas cartas de inteligência e acrescenta informações de inteligência manipulada na tentativa de modificar as estimativas hoje correntes e conseguir que o ocidente modifique suas políticas para o Irã.

Parece que Tel Aviv tenta também conseguir que outros países ocidentais alinhem-se com os objetivos dos sionistas, para ganhar peso na disputa com o governo dos EUA e forjar uma nova aliança. O mais provável é que essa posição tenha recebido luz verde do lobby sionista no Canadá, o que explicaria por que o governo canadense decidiu repentinamente fechar sua embaixada em Teerã, sem que nada de novo tenha acontecido entre os dois países que justifique a medida.

Sem conexão com essa questão, o governo francês também assumiu posição correta em relação ao Irã. O ministro de Relações Exteriores da França declarou oficialmente que um ataque, pelo regime sionista, contra o Irã, seria erro grave.

Quando se ouvem essas manifestações de Paris e Washington, ambas na mesma direção, vê-se que a Otan não acompanha a conduta de Israel no Oriente Médio. Resultado disso tudo, ninguém deu atenção às posições sem orientação ou meta clara, ficcionais, de Israel no Oriente Médio.

Não só na opinião pública regional, também nos países da região e no plano internacional, e até na sociedade israelense e entre tradicionais apoiadores de Israel, o que se vê é uma larga fissura e profundas diferenças quanto à estratégia a adotar em relação ao Irã.

Simultaneamente, alguns especialistas levantaram outra questão: que capacidade teria Israel para comprometer-se em engajamento militar de longo prazo? Israel suportaria uma longa guerra, que seria consequência quase inevitável de um possível ataque ao Irã? Nisso, a maioria dos especialistas coincide.

Dizem que a primeira preocupação é a capacidade do Irã para reagir, se for atacado; a maioria dos especialistas reconhecem que é alta a probabilidade de o Irã ter capacidade militar para retaliar. Mas Israel não teria capacidade de sustentar ataque prolongado contra o Irã, dado que não tem um terceiro país que lhe ofereça bases em solo, mas o Irã, sim, pode contar com essas bases.

Não faz muito, oficiais sírios em Damasco alertaram Israel contra qualquer tentativa de atacar o Irã. Anunciaram que a Síria pode usar seu sistema de mísseis, e devolver os sionistas ao ponto em que estiveram anos atrás, destruindo parte considerável da infraestrutura do país. Foi o que disse também o líder do Hezbollah libanês, Seyed Hassan Nasrallah, para o caso de Israel atacar o Irã.

Além disso, os fatos em campo mostram que Israel não suportaria engajamento militar sequer de média duração.

Viu-se claramente, além de qualquer dúvida, nos 22 dias de guerra de Israel contra Gaza e nos 33 dias de guerra de Israel contra o Líbano, que o poder bélico israelense é limitado, em condições de combate real.

Naquelas duas guerras, o mundo viu que Israel é incapaz de sustentar guerra de mais longa duração. Por isso, quando Seyed Hassan Nasrallah anunciou que, em qualquer ataque que Israel venha a tentar no futuro, o Hezbollah, se for novamente atacado, já não se limitará à guerra de defesa, e empreenderá ação ofensiva, estava, de fato, enviando mensagem clara e expondo estratégia diferente, para determinar o campo real de alternativas com as quais Israel deve operar.

Por tudo isso, é fácil concluir que qualquer aventureirismo do regime sionista, que implique atacar o Irã, gerará caos generalizado na região. E, dada a quantidade escandalosa de ameaças e declarações belicosas do regime sionista, Israel será a principal culpada pelo caos e pela guerra.

O ocidente já dá sinais de ter entendido corretamente a situação real. É mais que hora de o ocidente desistir de apenas aconselhar o regime sionista, e cuidar de regular a conduta do governo de Netanyahu mediante ações tangíveis, práticas. Entregue às próprias incompetências, é fortemente provável que o regime sionista arraste toda a região a uma situação cuja reestabilização, recomposição e controle será muito difícil.


Seja como for, a questão de ser capaz de envolver-se e sustentar guerra prolongada, agora ou em futuro mais distante, tem alta significação nos debates de inteligência e militares, porque ajuda a traçar coordenadas mais realistas e mais claramente demarcadas para toda a situação.

Assim consideradas as coisas, todos os países dever-se-ão empenhar em alertar os líderes sionistas contra as consequências de atacar o Irã.

Não por acaso, altos especialistas da inteligência do regime sionista já declararam muito abertamente que está fora de questão qualquer ataque israelense às instalações nucleares iranianas. Já disseram também que, se atacar o Irã, Israel lamentará por uma década as consequências do ataque.

 

* Mohammad Farhad Koleini foi embaixador do Irã na Armênia e é especialista em estudos estratégicos.
 


Fonte: Vermelho

Tradução: Vila Vudu

 Imagem: Google

 

 

 

 

 

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