Governo britânico colabora com República Democrática do Congo e Sudão, envolvidos em denúncias contra direitos humanos
O Reino Unido investiu milhões de libras esterlinas em programas de treinamento das Forças Armadas e da Polícia da Republica Democrática do Congo e do Sudão, rompendo com o embargo militar e econômico da União Europeia contra esses países.
[Esqueletos de pessoas mortas durante conflito no Sudão; forças armadas sudanesas incorporaram milícias envolvidas nos genocídios e continuam a realizar abusos contra a população]
As forças públicas dos dois países são acusadas de violações dos direitos humanos, como a promoção de episódios de torturas contra civis. O presidente sudanês, Omar al Bashir, foi denunciado por genocídio, crimes de guerra e contra a humanidade pelo Tribunal Penal Internacional.
Nos últimos cinco anos, autoridades britânicas injetaram mais de 2,4 milhões de libras (o equivalente a 7,9 milhões de reais) nos dois países africanos. De acordo com dados do Ministério de Defesa do Reino Unido divulgados nesta terça-feira (25/09) ao jornal britânico The Guardian, o objetivo dos investimentos era apoiar as operações de suas instituições de segurança. O pacote milionário incluiu cursos de estratégia e logística militar, de formação de tropas de elite, voltadas para a segurança das fronteiras e para o que chamam de "estabilização" da ordem interna. Parte dos treinamentos foi desenvolvido dentro do próprio território britânico.
O ministério também confirmou que oficiais sudaneses e congoleses estiveram na academia militar de elite de Sandhurst, uma vila localizada a 30 quilômetros de Londres. Lá foi desenvolvido um curso de 44 semanas com o exército britânico. Ainda não se sabe se houve a contratação de empresas de segurança privada para a coordenação desses treinamentos.
Respeito aos direitos humanos
O dossiê do Ministério de Defesa reforça acusações até então esparsas de membros da oposição ao governo de David Cameron. Em resposta, o governo conservador alegou que todos os programas de apoio militar são baseados em princípios humanitários.
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Os milhões de refugiados e deslocados internos do conflito em Darfur estão espalhados em campos, entre eles o de Chad |
"Critérios rigorosos são aplicados em qualquer treinamento para garantir adequação com os direitos humanos”, disse um porta-voz citado pelo The Guardian. “Para cada decisão de financiamento, uma avaliação do risco de violação de direitos humanos é realizada. O governo realiza a avaliação contínua de seus programas e o cumprimento dos direitos humanos é um critério fundamental”, acrescentou.
O governo britânico também procurou afastar as acusações de que estaria rompendo com o resoluções internacionais ao cooperar com o presidente sudanês. Segundo o porta-voz, os funcionários têm contato apenas com acusados do Tribunal Internacional Penal quando isso é considerado essencial. “Não houve contato com o presidente Bashir para esses programas", afirmou.
No último mês de julho, lord Howell, alto funcionário do Ministério das Relações Exteriores, alegou que o Sudão viola os direitos humanos. “Existem muitas evidências de que os crimes mais graves contra a humanidade podem estar sendo cometidos pelos militares sudaneses”.
Organizações de direitos humanos e ativistas no Congo e no Sudão criticaram o programa de ajuda militar e acusaram o Reino Unido de cooperar com regimes criminosos e ditatoriais.
"Embora seja possível argumentar que auxiliar um exército para manter os padrões profissionais poderiam melhorar o seu histórico de direitos humanos, este não é claramente o caso do exército sudanês, que continua a cometer atrocidades contra civis em Darfur, das montanhas Nuba e do Nilo Azul, e continua a ameaçar seu novo vizinho, o Sudão do Sul", argumentou o militante John Ashworth, que morou no Sudão por trinta anos.
“É uma pena que o governo do Reino Unido se comporte de forma irresponsável, apoiando um governo que comete crimes de guerra. É uma questão ética não ficar ao lado das vítimas de ambos os países”, disse Ishag Mekki, um dos quatro milhões de refugiados de Darfur, ao Guardian. “Estou aborrecido de ver ministros e funcionários do governo visitar o Reino Unido regularmente para vários negócios, mas para treiná-los é chocante. Isso significa que o povo de Darfur terá que esperar muito tempo para convencer este governo a mudar sua mente", acrescentou ele que foi vítima do conflito na região.
Olhos fechados
Não é a primeira vez que o Reino Unido viola sanções internacionais contra regimes opressores. No início do mês, investigação conduzida pela rede BBC revelou que o governo britânico não aplicou as penas estabelecidas contra políticos da ditadura de Hosni Mubarak, no Egito.
Dessa forma, as fortunas desses egípcios, condenados por desvio de dinheiro público, permanecem intactas. Em um dos casos citados, um importante funcionário da ditadura, cujo nome configura na lista de sancionados do Tesouro Britânico, abriu há poucos meses uma empresa baseada em Londres.
A colaboração com o Sudão e com a República Democrática do Congo passa longe da agenda do premiê britânico, David Cameron. No ano passado, o premiê disse que "a ONU tem que mostrar que não podemos ser apenas unidos na condenação, mas unidos na ação, agindo de uma maneira que faz juz aos princípios fundadores da ONU e atende às necessidades do povo".
Fonte: Opera Mundi
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