A Academia Americana de Pediatria diz que os médicos devem
atestar se os pacientes não têm outros problemas relacionados
Quintin Rocafort, 11, toma um poderoso medicamento que, segundo sua mãe, Amanda (na foto), melhora seu comportamento na escola Foto: Bryan Meltz / NYTNS |
Para ajudar nas notas escolares, médicos dão remédio para
crianças que não tem déficit de atenção
Quando o doutor Michael Anderson fica sabendo de pacientes
de baixa renda sofrendo no ensino fundamental, ele costuma lhes dar um remédio
poderoso: Adderall. A medicação estimula a concentração e o controle de impulso
em crianças com transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH).
Embora TDAH seja o diagnóstico invocado por Anderson, ele considera o
transtorno uma "invenção" e "uma desculpa" para prescrever
o remédio para tratar o que considera ser a verdadeira doença da criança: o
baixo desempenho acadêmico.
— Não me resta muita escolha — disse Anderson, pediatra de
muitas famílias pobres no condado de Cherokee, a norte de Atlanta, durante entrevista. — Enquanto
sociedade, nós decidimos que é caro demais modificar o ambiente infantil.
Assim, temos de modificar a criança.
Anderson é um dos defensores mais ferrenhos de uma ideia que
tem recebido atenção entre alguns médicos. Eles prescrevem estimulantes para
alunos problemáticos em escolas sem recursos extras, não para necessariamente
tratar do TDAH e, sim, incentivar o desempenho escolar. Ainda não está claro se
Anderson representa uma tendência mais ampla.
Porém, especialistas observam que enquanto alunos
endinheirados abusam de estimulantes para aumentar notas boas em faculdades e
no ensino médio, as medicações são empregadas em alunos de baixa renda da
escola primária com notas sofríveis e pais interessados em ver seu progresso.
— Enquanto sociedade, nós não estamos dispostos a investir
em intervenções não farmacêuticas eficientes para essas crianças e suas
famílias. Estamos forçando os psiquiatras de pequenas comunidades a empregar a
única ferramenta à sua disposição, ou seja, a medicação psicotrópica disse
Ramesh Raghavan, pesquisador de serviços de saúde mental infantil na
Universidade Washington em St. Louis, Missouri, e especialista em prescrição de
remédios para crianças de baixa renda — diz ele.
Nancy Rappaport, psiquiatra infantil de Cambridge,
Massachusetts, que trabalha principalmente com crianças de baixa renda e suas
escolas, acrescentou:
— Isso está se tornando cada vez mais comum. Estamos usando
camisas de força químicas em vez de investir em coisas igualmente importantes
e, por vezes, mais.
De acordo com diretrizes publicadas ano passado pela
Academia Americana de Pediatria, os médicos devem empregar uma entre as várias
escalas de classificação de comportamento — algumas das quais contam com
dezenas de categorias —, para garantir que a criança não apenas se adequa aos
critérios do TDAH, como também não tem problemas relacionados, como dislexia ou
transtorno desafiador opositivo, no qual uma raiva intensa é direcionada contra
autoridades. Contudo, um estudo, de 2010, do "Journal of Attention
Disorders" sugeriu que pelo menos 20 por cento dos médicos afirmaram não
seguir esse protocolo ao produzir o diagnóstico de TDAH e muitos deles seguem
os instintos.
Em casa, cesta lotada de remédios
No balcão da cozinha da família Rocafort, em Ball Ground,
Geórgia, ao lado do creme de amendoim e da canja de galinha, existe uma cesta
de arame lotada com frascos dos remédios dos filhos receitados por Anderson:
Adderall para Alexis, 12 anos, e Ethan, nove, Risperdal (antipsicótico para
estabilização do humor) para Quintn e Perry, ambos com 11, e Clonidine
(auxiliar do sono para neutralizar os outros remédios) para os quatro, tomado à
noite.
Quintn começou a tomar Adderall há quase cinco anos, quando
seu comportamento levou a problemas no colégio. Ele se aquietou de imediato e
se tornou um aluno mais atento e sério, assim como Perry, que tomou o mesmo
remédio.
Foto: Bryan Meltz, NYTNS |
Enquanto narravam a história, os pais chamaram Quintn e lhe
pediram para explicar por que tomava Adderall.
— Para ajudar a me concentrar na escola, na lição de casa, a
ouvir mamãe e papai e não deixar meus professores loucos de raiva, como antes.
Se não tomasse meu remédio, eu me comportaria mal. Eu não respeitaria meus
pais. Não seria como agora — contou o menino.
Fonte: Zero Hora
2 comentários:
Burgos, meu amiguinho querido,
É no que dá nascer e ter logo um ecran à frente. Ainda há uns dias ouvi uma reportagem na rádio, de um jovem de 18 anos, que proibiu a TV em casa porque o irmão de nove anos era excessivamente violento. Toda a família se transformou, desde a avó que começou a sair de casa para tratar do jardim, até ao miúdo, que deixou de ser violento em poucos meses e começou a prestar atenção nas aulas. As dele notas subiram em flecha e não foi preciso gastarem dinheiro em psicólogos e em venenos!
Um abraço e fooorça!!
Fada
Hoje em dia aqui no Brasil, se a criança é mais esperta e não consegue ficar tanto tempo sentada prestando atenção na aula (quase 5 horas) as próprias professoras aconselham os pais a levarem os filhos nos psiquiatras. Crianças inteligentes que inclusive tiram notas boas na escola estão a tomar medicamentos para poderem ficar "quietas" em sala de aula.
A verdade é que as crianças não podem mais serem crianças, são consideradas "projetos de futuros adultos obedientes", e é lógico que as crianças inconscientemente se revoltam contra este ensinamento.
Criança quer ser criança, quer brincar, quer amor, carinho e atenção dos pais, coisa que hoje em dia é difícil, é mais fácil os pais darem remédios para que os filhos não peçam amor e compreensão, pois amor e compreensão são produtos que não tem para vender nas lojas.
Um grande abraço minha amiga
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