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quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

É Pentágono/OTAN versus BRICS


Pepe Escobar, Al-Jazeera, Qatar

http://www.aljazeera.com/indepth/opinion/2011/11/2011112991711150824.html

Poucos prestaram atenção, quando, semana passada, a porta-voz do Departamento de Estado dos EUA Victoria Nuland anunciou, em linguagem cifrada, que Washington “deixará de atender a alguns dos dispositivos do Tratado das Forças Militares Convencionais na Europa [ing. Conventional Armed Forces in Europe (CFE) Treaty], no que tenha a ver com Rússia.”[1]

Tradução: Washington deixará de informar a Rússia sobre deslocamentos de sua armada global. A estratégia de “reposicionamento” planetário do Pentágono virou segredo.

É preciso atualizar algumas informações de fundo. Esse tratado, CFE, foi assinado nos anos 1990 – quando o Pacto de Varsóvia ainda era vigente, e cabia à OTAN defender o ocidente “livre” contra o que então estava sendo pintado como um muito ameaçador Exército Vermelho.

Na Parte I, esse Tratado CFE estabelecia significativa redução no número de tanques, artilharia pesadíssima, jatos e helicópteros de guerra, e dizia também, aos dois lados, que todos teriam de nunca parar de falar do Tratado CFE.

A Parte II do Tratado CFE foi assinada em 1999, no mundo pós-URSS. A Rússia transferiu grande parte de seu arsenal para trás dos Montes Urais, e a OTAN nunca parou de avançar diretamente contra as fronteiras russas –, movimento que aberta e descaradamente descumpria a promessa que George Bush ‘Pai’ fizera, pessoalmente, a Mikhail Gorbachev.

Em 2007, entra Vladimir Putin, que decide suspender a participação da Rússia no Tratado CFE, até que EUA e OTAN ratifiquem a Parte II do CFE. Washington nada fez, nada de nada; e passou quatro anos pensando sobre o que fazer. Agora, decidiu que nem falar falará (“Washington deixará de atender”, etc. etc.).

Não se metam na Síria

Moscou sempre soube, há anos, o que o Pentágono quer: Polônia, República Checa, Hungria, Lituânia. Mas o sonho da OTAN é completamente diferente: já delineado num encontro em Lisboa há um ano, o sonho da OTAN é converter o Mediterrâneo em “um lago da OTAN”.[2]

Em Bruxelas, diplomatas da União Europeia confirmam, off the record, que a OTAN discutirá, numa reunião chave no início de dezembro, o que fazer para fixar uma cabeça-de-praia muito próxima da fronteira sul da Rússia, para dali turbinar a desestabilização da Síria.

Para a Rússia, qualquer intervenção ocidental na Síria é caso resolvido de não-e-não-e-não absoluto. A única base naval russa em todo o Mediterrâneo Ocidental está instalada no porto (sírio) de Tartus.

Não por acaso, a Rússia instalou seu sistema de mísseis de defesa aérea S-300 – dos melhores do mundo, comparável ao Patriot, dos EUA – em Tartus. E é iminente a atualização para sistema ainda mais sofisticado, o S-400.

Mais importante: pelo menos 20% do complexo industrial militar russo enfrentaria crise profunda, no caso de perder seus assíduos clientes sírios.

Em resumo, seria suicídio, para a OTAN – para nem falar em Israel – tentar atacar a Síria por mar. A inteligência russa trabalha hoje sobre a hipótese de o ataque vir via Arábia Saudita. E vários outros países também sabem, com riqueza de detalhes, dessa estratégia de “Líbia remix”, da OTAN.

Vejam o caso, por exemplo, da reunião da semana passada, em Moscou, dos vice-ministros de Relações Exteriores dos países do grupo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul)[3].

Os BRICS não poderiam ter sido mais claros: esqueçam qualquer tipo de intervenção externa na Síria; disseram, exatamente que “não se deverá considerar qualquer interferência externa nos negócios da Síria, que não esteja perfeitamente conforme o que determina a Carta das Nações Unidas”.[4]

Os BRICS também condenam as sanções extra contra o Irã (são “contraproducentes”) e qualquer possibilidade de algum ataque. A única solução – para os dois casos, Síria e Irã – é negociações e diálogo. Esqueçam a conversa de um voto da Liga Árabe levar a nova resolução, do Conselho de Segurança da ONU, de “responsabilidade de proteger”, responsibility to protect, R2P. Esqueçam.

O que temos aí é um terremoto geopolítico. A diplomacia russa coordenou, com outros países BRICS, um murro tectônico na mesa: não admitiremos qualquer tipo de nova intervenção dos EUA – seja “humanitária” ou a que for – no Oriente Médio. Agora, é Pentágono/OTAN versus os BRICS.

Brasil, Índia e China estão acompanhando tão de perto quanto a Rússia, o que a França – sob o comando do neonapolêonico Libertador da Líbia, Nicolas Sarkozy – e a Turquia, os dois países membros da OTAN, estão empenhados e fazer hoje, sem qualquer limite ou contenção, contrabandeando armas e apostando em uma guerra civil na Síria, ao mesmo tempo em que tudo fazem para impedir qualquer tipo de diálogo entre o governo de Asad e a oposição síria, essa, em frangalhos.

Alerta máximo nos gargalos

Tampouco é segredo dos BRICS que a estratégia de “reposicionamento” do Pentágono implica mal disfarçada tentativa de impor, no longo prazo, uma “negativa de acesso” à marinha chinesa expedicionária [ing. blue-water navy, capaz de operar em alto mar], em acelerada expansão.



Fonte: Pátria Latina

2 comentários:

Anônimo disse...

Esta notícia assim como tantas outras que falam sobre intervenções e guerras, não sei se seria exagero da minha parte, ou talvez seja somente um pano de fundo para algo mais sinistro que esteja ocorrendo. Todos os jornais e midias ficam a noticiar os rumores de uma guerra nuclear porvir, o que ao meu ver serve principalmente para manter as mentes ocupadas e também para criar o medo, já que as pessoas com medo são muito mais suscetíveis ao controle. Agora com a minha imaginação fértil penso que se explodirem a primeira bomba atômica teremos duas possibilidades, ou acabam com o mundo como o conhecemos, o que não é interessante para a elite globalista, ou nos dirão vocês querem que a guerra continue? ou querem que tutelemos a vossa liberdade? Acredito que todo mundo sabe a resposta...e com certeza vai fazer a "sua" escolha.


Ahô

Fada do bosque disse...

Tibiriçá tem razão, tem sim.
Mas temos de ver as coisas pela perspectiva de que o Mundo tem de ser bipolar. O maior erro dos neocons/neoliberais foi o de destruir o Muro de Berlim. O mundo tem de ser bipolar. Não podemos ficar sujeitos a que uma Nação Imperial (com licença para matar e actuar)e seus acólitos fiquem usando e abusando do poder. Tudo na Natureza e até na Natureza humana, tem pólos opostos, como Tibiriçá já focou. Se há um despique pela supremacia mundial? Claro e penso que para os povos, apesar de mau, nunca seria tão horrendo, como ficar todo o Mundo com medo de um vilão. Foi assim na Guerra Fria e foi mau, mas o pior dos poderes desenvolveu-se exponencialmente a partir do momento em que a Guerra Fria acabou.
Acabei de ler agora no site "defense talk" que a Rússia irá começar novas negociações com Cuba:

Russian arms in US backyard: Back in Cuba

Read more: http://www.defencetalk.com/russian-arms-in-us-backyard-back-in-cuba-38612/#ixzz1fJP5MeOj
Um abraço Burgos

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