O reforço da intervenção militar dos EUA na Colômbia e daí ameaçar toda a região limítrofe é uma velha aspiração que Obama agora concretizou através de um acordo com o narcotraficante Álvaro Uribe…
O narco-gângster "presidente" colombiano
Por Luiz Alberto Moniz Bandeira*
Desde 1998/99, setores da administração dos Estados Unidos estavam a excogitar a intervenção militar na Colômbia, a pretexto de combater o narcotráfico, que se tornara a maior fonte de financiamento da guerra de guerrilhas empreendida pelas Fuerzas Armadasde Libertación da Colômbia (FARC) e pelo Exército de Libertação Nacional (ELN),Valdomiro Montesinos, diretor do Serviço de Inteligência Nacional (SIN), do Peru, e cujo codinome na CIA era Mr. Fix, revelou a Genaro Delgado Parker,proprietário da cadeia Global Televisión, que os Estados Unidos articulavam essa intervenção e que a conferência pronunciada pelo presidente Alberto Fujimori no Colégio Interamericano de Defesa, em 4 de fevereiro de 1999, fora coordenada com os americanos, visando a apresentar ao mundo o conflito como um perigo para a sub-região. Ele igualmente anunciou aos generais peruanos que ospreparativos para a invasão da Colômbia estavam em andamento e que ela se realizaria com duas divisões aerotransportadas, duas forças especiais de terra,três divisões de marinha e 2000 aviões C-45 e C-141, mobilizando cerca de 120.000 soldados.
Em um período de 45 a 60 dias, apoiados por duas divisões aerotransportadas,duas forças especiais do Exército, três divisões de marines e 200 aviões C-5 yC-141. A intervenção seria executada por tropas de outros países da América do Sul(evidentemente para poupar baixas americanos), ou seja, por uma força militar interamericana proposta, durante reunião dos chefes militares do hemisfério, no Panamá (1999), inicialmente, sem o envolvimento direto dos Estados Unidos, que lhe dariam, no entanto, suporte financeiro de US$ 1,5 bilhão, treinamento,armamentos e apoio logístico.
Em junho de 1999, perante o Comitê de Relações Exteriores do Senado americano,o general Charles E. Wilhelm, então comandante-em-chefe do Southern Command(USSOUTHCOM), confirmou que o Pentágono estava elaborando um plano de contingência para intervir no Panamá, se necessário, e invadir a Colômbia,multilateral ou unilateralmente, se as guerrilhas colombianas chegassem ao Canal do Panamá.
Também general Barry McCaffrey, diretor da National DrugPolicy Control Office dos Estados Unidos, informou ao Committee on GovernmentReform, Subcommittee on Criminal Justice, Drug Policy, and Human Resources, em 6 de agosto de 1999, que as guerrilhas das FARC encontravam santuários no Panamá e também cruzavam as fronteiras do Equador, Venezuela e Peru, de modo que a insurgência, que fora mais um problema interno da Colômbia, estava recebendo combustível com os negócios de droga e ganhando significação para a segurança regional.
E, poucas semanas depois, viajou para a América do Sul,onde visitou o Brasil, Bolívia, Peru e Argentina e, apresentando dramaticamente a situação na Colômbia, urgiu que o quatro países empreendessem uma intervenção multinacional contra as FARC. McCaffrey ponderou que para os Estados Unidos seria "uma loucura" intervir militarmente na Colômbia, razão pela qual era necessário buscar o apoio da região para solucionar o problema.
O plano sugerido pelo general McCaffrey consistia em desencadear uma ofensiva com cinco batalhões colombianos, que Special Forces dos Estados Unidos estavam treinando e equipando, e, caso elas não conseguissem sufocar as guerrilhas,realizar a intervenção militar multilateral. O prazo para que as negociações com a FARC concluíssem um acordo era janeiro de 2000, quando Andrés Pastrana,declararia o estado de guerra interna na Colômbia, caso não alcançasse com acordo de paz, e requeria assistência dos países sul-americanos, como Peru,Equador e Brasil, cujas forças se uniriam aos cinco batalhões treinados por assessores americanos, enquanto navios de guerra dos Estados Unidos, na costada Colômbia, sustentariam a intervenção com mísseis e ataques aéreos.
O controle da região tornava-se necessário, a fim de assegurar a exploração de petróleo, realizada por várias companhias, entre as quais, a Occidental,British Petroleum e Texas Petroleum, bem como proteger os oleodutos lá existentes, que levavam a produção dos campos de Cupiagua, Cusiana, Guaduas e Orito, e do Equador, para os portos de Coveñas e Tumaco, no Pacífico, e as guerrilhas das FARC incessantemente estavam a atacar. A Colômbia possuía vastas e inexploradas reservas de petróleo, já se tornara o 6° fornecedor dos Estados Unidos e suas exportações, somadas às do Equador e Venezuela, já superavam as do Golfo Pérsico.
O National Energy Report, de 2001, apresentado pelo Policy Development Group ressaltou que a "Colombia has become an important supplier of oil to the United States". A embaixadora dos Estados Unidos em Bogotá,Anne Patterson, declarou que a segurança do petróleo na Colômbia tornara-se a prioridade dos Estados Unidos, que estavam dispostos a proteger não apenas o oleoduto de Caño Limon - Coveñas, mas também 300 pontos críticos, pois o petróleo tornara-se "an increasing priority" in Colombia, conforme declarou Adam Isacson, analista do Center for International Policy.
Também um estudo dothink-tank conservador RAND Corporation ressaltou a importância estratégica da Colômbia importante, devido ao fato de ser um dos quatro maiores países da região, com a segunda maior população, possuir litoral em ambos os oceanos, o Pacífico e o Atlântico, ser contígua à Venezuela, bacia do Caribe, Panamá, ao Canal e à América Central, e ter algumas das maiores reservas de petróleo do hemisfério ocidental.
O combate ao narcotráfico constituía, na realidade, um objetivo secundário e a intervenção na Colômbia, prevista para o ano 2000, permitiria também aos Estados Unidos provar sua capacidade de coordenação das três novas bases, as Forward Operating Locations, ou FOLs, localizadas no Equador, Aruba-Curação eEl Salvador, assim como experimentar novos armamentos e o desenvolvimento de novas estratégias. Essas Forward Operating Locations, ou FOLs, permitiam que os aviões americanos de reconhecimento e monitoramento tivessem acesso a aeroportos ou bases estrangeiras. As instalações dos aeroportos e bases eram de propriedade e operadas pelos países hospedeiros e nelas ficava estacionado um pequeno número de militares, de agentes do DEA (Drug Enforcement Agency), da Guarda Costeira e da alfândega para apoiar os aviões norte-americanos e coordenar comunicações e coleta de inteligência.
O propósito do presidente Bill Clinton, ao que tudo indicava, era promover a intervenção na Colômbia, no correr de 2000, o que decerto fortaleceria aposição do Partido Democrata na eleição para a presidência, razão pela qual,provavelmente, declarou que daria dois anos ao presidente Andrés Pastrana, para alcançar um acordo de paz com as FARC, e ameaçou resolver o problema a seu modo, caso as negociações de paz, iniciadas em final de 1998, fracassassem.Esse prazo de dois anos demonstrou seu intuito de ordenar a intervenção militar na Colômbia, de conformidade com o princípio estratégico então estabelecido,segundo o qual a decisão de usar a força seria ditada, primeiro e acima de tudo, pelos interesses nacionais dos EUA.
O governo de Washington, entretanto, estava dividido em duas tendências a respeito da intervenção na guerra civil da Colômbia, onde já havia 200 assessores militares norte-americanos. treinando o exército na luta contra as FARC, que com 17.000 efetivos controlavam grandes zonas do sul da Colômbia e uma zona em torno de Bogotá, enquanto o ELN, com 5.000 efetivos, dominavam o território, ao norte, ou seja, um total de aproximadamente 40% do país.
Alguns setores tem iamque a assistência militar resultasse na escalada do conflito, tal como acontecera no Vietnã, tanto que alguns analistas políticos já referiam o esmaecimento das linhas entre a campanha contra as drogas e o combate às guerrilhas como possível "Vietnamization" da política norte-americana na Colômbia.
Outros, liderados pelo general Barry McCaffrey, diretor da NationalDrug Policy Control Office dos EUA, pretendiam incrementar a assistência e enviar mais assessores militares, a fim de intensificar o treinamento do Exército, ou encorajar uma intervenção militar multinacional na Colômbia,executada por alguns estados da América do Sul, sem um envolvimento direto dos EUA, pelo menos no primeiro momento.
O Brasil e a Venezuela, porém, recusaram até mesmo a permitir que aviões americanos e contingentes de soldados estacionassem nos respectivos territórios para atacar as FARC na Colômbia. O Panamá igualmente se negou a apoiar a intervenção multinacional na Colômbia. A presidente Mireya Moscoso rechaçou a alegação de que o conflito com as FARC pudesse desbordar a fronteira e ameaçasse a segurança do canal. E, por sua vez, o presidente do Equador, Jamil Mahuad, criticado e desgastado por causa da cessão da base de Manta aos Estados Unidos, não se mostrou disposto a entrar em uma aventura de consequências imprevisíveis. Só o presidente da Argentina, Carlos Menem, de conformidade com a doutrina do "realismo periférico", afoitou-se em defender publicamente a intervenção militar na Colômbia e proclamou através da imprensa sua disposição de oferecer tropas para intervir na Colômbia, caso o presidente Andrés Pastrana solicitasse ajuda.
Com a administração em Washington, dividida em duas tendências e sem contar como suporte do Brasil, Venezuela e Panamá, o plano de intervenção militar na Colômbia foi abandonado. E em 31 de agosto de 2000, em Cartágena de las Indias,anunciou o lançamento do Plano Colômbia, que previa um investimento de US$7,5bilhão, em cinco anos, a pretexto de combater o narcotráfico, fomentar o desenvolvimento econômico do país e financiar culturas alternativas em substituição às plantações de coca.
Do montante de US$7,5 bilhões, os Estados Unidos forneceriam apenas U$1,3 bilhão (incluindo U$47 milhões como ajuda ao Equador), e US$4 bilhões seriam providos pelo Governo da Colômbia, US$1.9bilhão pela Europa e algumas instituições. Essa iniciativa afigurou-se um a estratégia, visando a redesenhar o mapa da América do Sul, e vários militares,entenderam que o Plano Colômbia, legitimando a presença dos militares americanos na Amazônia, representava o começo de sua internacionalização.
*Moniz Bandeira Bandeira foi professor visitante na Universidade de Heidelberge Universidade de Colônia (Alemanha), Universidade de Estocolmo (Suécia),Universidade Federal de Uberlândia (Brasil), Universidade de Buenos Aires eUniversidade Nacional de Córdoba (Argentina), bem como no Instituto Superior deCiências Sociais e Políticas da Universidade Técnica de Lisboa.
Fonte: Cebrapaz, midiaindependente.org
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