Uma das maiores emoções na minha vida de taxista, foi um dia ter feito uma corrida tendo sentado ao meu lado Geraldo Vandré. Pude comprovar todo o "trabalho" realizado pela repressão. O personagem histórico foi apagado. Naquele período ele havia feito uma sinfonia para a FAB, chamada Fabiana. E adivinha pra onde era a corrida? Pro museu da aeronáutica. Ele que sempre fora um cara verborrágico, naquela oportunidade toda sua verborragia me pareceu disconexa. Falava assuntos dissociados e tentou esconder quem era. Falou que era paraibano da tribo dos Tabajaras. Tava acompanhado de uma senhora que acho que era sua mãe. Quando disse que ele me lembrava muito Geraldo Vandré, esta senhora deu seu único pitaco na conversa: "Você acha?". Eu: "Sim parece muito!". Então, ele começou a falar o significado do nome Geraldo. Gerhard no alemão: arqueiro, lanceiro. Não me lembro bem. Falou, falou... Quando chegamos ao museu, a senhora pagou e saiu, aí então ele me disse com um sorriso: Prazer, eu sou Geraldo de tal, tal, vulgo Geraldo Vandré. Me estendeu a mão e eu a apertei. No mesmo instante um nó se formou na minha garganta e chorei. Naquele dia não pude mais trabalhar. É uma das boas recordações que minha profissão me proporcionou.
Muito obrigado por partilhar esse momento de tua vida. Provavelmente eu tería a mesma emoção se tivesse tido o privilégio de conhecer Geraldo vandré pessoalmente. Infelizmente esse Brasileiro não teve o reconhecimento que merecia.
Ele ainda tá vivinho. Parceiros seus como Geraldo Azevêdo, que compôs com ele "Canção da Despedida", sucesso na voz de Elba Ramalho, tentaram de todas as formas trazê-lo de volta a ativa, mas afirmam que ele não quer. Pelo que presenciei não tem condições. Na corrida eu disse que a última notícia que tinha sobre Vandré falava sobre a sinfonia para a FAB. Ele ficou meio inquieto, talvez pensando que eu pudesse criticá-lo por isso. Quem sou eu? Ele me perguntou: "Tem alguma coisa errada nisso?". Lógico que disse que não. Me lembro que na época do lançamento da sinfonia a rede Grobo fez uma matéria a respeito. Havia algo como um símbolo da vitória da ditadura no acontecimento, e as próprias palavras do Geraldo na entrevista davam esta impressão. A Grobo e as forças armadas o expuseram como um troféu. Nunca me esqueci daquela matéria, assim como é impossível me esquecer deste momento com ele.
4 comentários:
Meu irmão canino,
Uma das maiores emoções na minha vida de taxista, foi um dia ter feito uma corrida tendo sentado ao meu lado Geraldo Vandré. Pude comprovar todo o "trabalho" realizado pela repressão. O personagem histórico foi apagado. Naquele período ele havia feito uma sinfonia para a FAB, chamada Fabiana. E adivinha pra onde era a corrida? Pro museu da aeronáutica. Ele que sempre fora um cara verborrágico, naquela oportunidade toda sua verborragia me pareceu disconexa. Falava assuntos dissociados e tentou esconder quem era. Falou que era paraibano da tribo dos Tabajaras. Tava acompanhado de uma senhora que acho que era sua mãe. Quando disse que ele me lembrava muito Geraldo Vandré, esta senhora deu seu único pitaco na conversa: "Você acha?". Eu: "Sim parece muito!". Então, ele começou a falar o significado do nome Geraldo. Gerhard no alemão: arqueiro, lanceiro. Não me lembro bem. Falou, falou... Quando chegamos ao museu, a senhora pagou e saiu, aí então ele me disse com um sorriso: Prazer, eu sou Geraldo de tal, tal, vulgo Geraldo Vandré. Me estendeu a mão e eu a apertei. No mesmo instante um nó se formou na minha garganta e chorei. Naquele dia não pude mais trabalhar. É uma das boas recordações que minha profissão me proporcionou.
Tudo de bom, abraços.
Walner.
Walner
Muito obrigado por partilhar esse momento de tua vida.
Provavelmente eu tería a mesma emoção se tivesse tido o privilégio de conhecer Geraldo vandré pessoalmente.
Infelizmente esse Brasileiro não teve o reconhecimento que merecia.
Um grande abraço meu amigo
Burgos,
Ele ainda tá vivinho. Parceiros seus como Geraldo Azevêdo, que compôs com ele "Canção da Despedida", sucesso na voz de Elba Ramalho, tentaram de todas as formas trazê-lo de volta a ativa, mas afirmam que ele não quer. Pelo que presenciei não tem condições. Na corrida
eu disse que a última notícia que tinha sobre Vandré falava sobre a sinfonia para a FAB. Ele ficou meio inquieto, talvez pensando que eu pudesse criticá-lo por isso. Quem sou eu? Ele me perguntou: "Tem alguma coisa errada nisso?". Lógico que disse que não. Me lembro que na época do lançamento da sinfonia a rede Grobo fez uma matéria a respeito. Havia algo como um símbolo da vitória da ditadura no acontecimento, e as próprias palavras do Geraldo na entrevista davam esta impressão. A Grobo e as forças armadas o expuseram como um troféu. Nunca me esqueci daquela matéria, assim como é impossível me esquecer deste momento com ele.
Abraço.
Walner.
Walner
Lí uma entrevista dele no ano passado, vale a pena ler.
Veja:
http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=138030&id_secao=11
Um grande abraço meu amigo
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