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sábado, 8 de dezembro de 2012

É uma vergonha ainda haver pobreza na América Latina, diz Rafael Correa




Depois de passar a noite viajando, o presidente do Equador, Rafael Correa, montou na sexta-feira (7) uma agenda repleta de compromissos antes e depois das reuniões da Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul. Inquieto, Correa liga um tema ao outro na conversa com a Empresa Brasil de Comunicação (EBC). “É uma vergonha que a América Latina ainda tenha pobreza”, disse ele, definindo a erradicação da pobreza como prioridade da região.


Disputando a reeleição em fevereiro e aparecendo com vantagem nas pesquisas de intenção de voto, ele negou sentir-se vitorioso: “É um erro o excesso de confiança”. Correa condenou a ação de alguns setores da imprensa e da oposição, negou que vá conceder asilo político ao presidente da Síria, Bashar Al Assad, e defendeu as negociações de paz entre o governo colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Ele falou também sobre as vantagens e desafios para o Equador ingressar no Mercosul. Bem-humorado, Correa explicou que sempre usa camisas bordadas, tipicamente equatorianas, para evitar a gravata.

A seguir, os principais trechos da entrevista de Correa à EBC:

Os críticos dizem que o senhor não se furta ao embate. Como se define: combativo ou pacífico?

Rafael CorreaSou uma pessoa coerente e de convicções. Tenho posições de coerência, de convicções e de pontualidade. Uma vez Cristina [Kirchner, presidenta da Argentina] disse que é a primeira vez que a América Latina está tendo uma convergência, com governos muito parecidos. Não quero ser herói, nem mártir.

Para o senhor, qual deve ser a prioridade do Mercosul e da América Latina, como um todo?

Rafael CorreaÉ uma vergonha que a América Latina ainda tenha pobreza. É imperativo moral erradicar, acabar, com a pobreza. Claro, tratamos também de outros temas importantes, como o desenvolvimento sustentável. Mas não é possível pensar em preservar a natureza, sem pensar em erradicar a pobreza. Se uma família pobre mora perto de um bosque, como podemos convencê-la a preservar o meio ambiente, se ela passa por dificuldades? A luta pela pobreza é o mais importante, porque o ser humano é o mais importante.

Quais são as vantagens, para o Equador, de ingressar no Mercosul e para o bloco, de ter o país como membro?

Rafael Correa Temos muito interesse em ingressar no Mercosul. Para o Mercosul, também há vantagens. Haverá [a partir da adesão do Equador ao bloco] uma saída do Mercosul para o [Oceano] Pacífico. Há muitas vantagens para todos, há coincidências jurídicas e políticas. Quando só o Equador negocia, por exemplo, com a União Europeia, há uma relação de forças. Quando o Equador e o Brasil, pelo Mercosul, negociam com a União Europeia, a relação de forças é completamente distinta. O diálogo político é outro.

Mas a expectativa dos especialistas é que o processo de entrada do país no Mercosul demore. Por quê?

Rafael Correa Há uma série de definições que devem ser feitas, como a da Tarifa Externa Comum (TEC) do Mercosul, que atinge diretamente pelo menos 6,5 mil produtos equatorianos. São produtos que devem ter as tarifas submetidas a uma revisão. É preciso discutir sobre acordos e tarifas. O Equador pode ter perdas. Não falamos em tempo, estamos vivendo uma revolução no Equador.

Ao citar as vantagens de ingresso no Mercosul, o senhor inclui o fim do mal-estar com as empresas brasileiras, como ocorreu em 2008 com a construtora Norberto Odebrecht, acusada pelo governo equatoriano de descumprir contratos?

Rafael Correa [Com um sorriso] Foi apenas um impasse. Nós tínhamos toda razão. Foi feito um acordo, e a Odebrecht ganhou totalmente o direito de continuar no Equador. Foi um problema que já está totalmente superado.

Que áreas, no Brasil, interessam ao Equador?

Rafael Correa As contrutoras brasileiras são reconhecidas [por sua competência]. Temos alguns projetos, como o de refinarias. O Equador é um país em desenvolvimento e a terceira economia da América Latina. Temos de desenvolver vários setores, como a televisão digital. Queremos [atrair] as empresas brasileiras com financiamentos no Equador.

O que há em comum, na política, entre o Equador, o Brasil, a Venezuela, a Argentina, o Uruguai e a Bolívia?

Rafael Correa São todos governos de esquerda, que [se baseiam nos princípios do] socialismo, buscando a justiça social com mais integração. A América Latina é a única região que está reduzindo a desigualdade social e pobreza. Para diminuir a pobreza, temos que necessariamente reduzir a desigualdade social. Isso é fundamental. Nisso nós todos concordamos e compartilhamos políticas. A diferença em relação ao socialismo clássico é que não podemos repetir erros, como fixar um manual, e que cada país busca a justiça social [com respeito] à supremacia.


É em nome da busca pela justiça social que o senhor diz que é ameaçado por setores da oposição, até com ameaça de golpe?
 
Rafael Correa Os governos que querem mudar as coisas provocam reações. Estamos mudando o sistema: são mais de 200 anos de pobreza, de falta de inclusão, de desigualdade e de injustiça, um desastre. O que não há é uma oposição democrática. Todos os dias eles [da oposição] matam um presidente. Isso não é democracia. Não podemos nos enganar. Necessitamos de oposições democráticas.

O senhor está com uma grande diferença do segundo colocado nas pesquisas de opinião para as eleições de 17 de fevereiro de 2013. Já se considera reeleito?

Rafael Correa O pior erro é o excesso de confiança.

Representantes da imprensa dizem que o senhor é uma ameaça à liberdade de expressão. O senhor defende o controle sobre a imprensa?

Rafael Correa Ao ouvir isso, fico orgulhoso. São os donos dos meios de comunicação que dizem isso. Por que tenho de acreditar no que dizem os empresários? Temos que confrontar com a má-fé e a falta de verdade.

O Equador, assim como a Colômbia, sofre com a ação das guerrilhas. O senhor apoia as negociações conduzidas pelo presidente colombiano, Juan Manuel Santos, com as Farc?

Rafael Correa Confio de todo coração que Juan Manuel conseguirá ter êxito nas negociações, e estou ajudando nesse acordo histórico, que vai encerrar mais de 50 anos de uma luta fratricida, que atinge demasiadamente colombianos e equatorianos. Isso não pode continuar.

O senhor concedeu asilo político a Julian Assange [australiano fundador do WikiLeaks]. Existem negociações para fazer o mesmo com o presidente da Síria, Bashar Al Assad?

Rafael Correa Se existem essas conversas, eu não conheço. [Mas] não, não existem.

O senhor vê alguma saída para Julian Assange que está abrigado na Embaixada do Equador no Reino Unido há mais de cinco meses à espera de autorização dos britânicos para deixar o país?

Rafael Correa Sim, pode ser amanhã. Depende da Grã-Bretanha, da Suécia e da União Europeia. Nós esperamos que esse impasse acabe o mais rápido o possível e que tudo fique bem.

O que é o Bônus de Desenvolvimento Humano, uma espécie de imposto sobre pobreza, que o senhor criou?

Rafael Correa Não [sorrisos]. Esse imposto já existia. A proposta é melhorar a qualidade de vida no país e combater a pobreza. É uma compensação para as famílias, por exemplo.






Fonte: Agência Brasil, Vermelho

Um comentário:

Rogério G.V. Pereira disse...

Se fosse possível (mas será) o sonho de Saramago de ver surgir a "Jangada de Pedra" a Ibéria faria parte do Mercosul... (e um dia fará)

Gostava de ter o prazer da tua visita e apresentar-lhe o meu partido!

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