Os EUA já viveram dias melhores; na crise da Ucrânia, Barack Obama cedeu diante de Vladimir Putin e na Venezuela, governada por Maduro, um pedido de intervenção proposto pelos norte-americanos teve 29 votos contrários
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, está entrando para a história como o general da derrocada da diplomacia de esporas e revólver na cintura do império americano. Nas crises paralelas da Ucrânia e da Venezuela, díspares mas com traços comuns, e nas quais em ambas os Estados Unidos de Obama tentam se meter, ficou estabelecido na semana passada que a lei será respeitada antes da força.
Com o parlamento da Crimeia votando por unanimidade a ligação da região à Federação Russa e a OEA marcando 29 votos a três contra a proposta de enviar observadores à Caracas, os americanos tiveram de recuar apenas para bravatas e articulações com seus aliados da União Europeia.Antes, queriam o recuo da Rússia e o início de intervenção na Venezuela. No continente americano, eles se mostraram em completo isolamento, ao lado apenas de Canadá e Panamá. Na Europa do Leste, Putin, como já se demonstrava, falou mais alto. O leão Obama miou.
Obama marcou em sua biografia um momento preciso do processo de declínio do poderio americano nos dois telefonemas que trocou com Vladmir Putin. No último, na quinta-feira 6, ao desligarem depois de uma hora de conversa tensa, ficou claro que a Rússia, com a vontade manifesta nas ruas do povo da Crimeia, o pedido unânime do parlamento local e todas as ligações históricas e culturais existentes com a região tem ao seu lado todas as leis internacionais para promover a aproximação – e consequente cooperação e proteção.
Putin deu sua versão do telefonema, sendo o único a falar a respeito do seu conteúdo. Avisou que não tem como não atender ao pedido da Crimeia e, além disso, nada há na legislação internacional que o impeça de atender ao pedido do parlamento. Obama não teria mesmo muito a dizer em público sobre o conteúdo do telefonema. Ele terá, à luz da correlação de forças e do direito internacional, de fazer seu secretário de Estado, John Kerry, engolir as ameaças de que “está se acabando a fase da diplomacia”, prometendo instalar o caos da guerra na região.
Não há nenhuma justificativa legal que permitam aos Estados Unidos, pela via da Otan ou do que quer que seja, de enfiar as botas na Crimeia.
DERROTA NO QUINTAL – Igualmente, não será pelo envio de observadores que os Estados Unidos irão dar sequência, na Venezuela, ao seu apoio crescente ao desmoronamento do governo constitucional de Nicolás Maduro. A votação de 29 a 3 na OEA soou como um soco no estômago de Obama dentro do antigo quintal americano, servindo para mostrar que nem mais nas cercanias de suas fronteiras os EUA mandam como antes. O México não aprovou a proposta americana.
Frente a Putin ou pelas costas de Maduro, Obama perdeu. Se procurar romper com as regras internacionais, e fazer pela via clássica – como no Iraque e no Afeganistão – uma ação de guerra, não apenas atestará seu isolamento como marcará o ponto mais baixo de sua diplomacia conservadora de cunho antiquado e extemporâneo.
Com um tipo diferente da paranóia estelar de Ronald Reagan e da loucura bélica de George W. Bush, Obama vai sair das duas crises em curso como inconsequente e, ao mesmo tempo, acovardado.
Primeiro, ao apostar na crise da Ucrânia como uma oportunidade de ganho de espaço de dominação geopolítica, Obama e sua administração se mostraram amadores e irresponsáveis. Até as estrelas da bandeira americana sabem que qualquer tentativa de mudança de correlação de forças na região irá, sempre e sempre, despertar o urso russo. Misha, então, se torna Putin. Não se brinca com o segundo (ou primeiro) maior arsenal nuclear do planeta.
Na Venezuela, não há indicativos de que o governo de Maduro perdeu a sustentação que sempre teve – de praticamente metade mais um da população do país. Há que se entender que esse vizinho do Brasil é um país dividido politicamente há pelo menos 40 anos, alternando regimes militares com governos pró-americanos, até o advento do chavismo, onze anos atrás.
Nesse quadro, a Venuzuela tem mostrado solidez institucional suficiente para resolver seus próprios problemas, apesar de os EUA de Obama apostarem em todo o tipo de método de desestabilização.
Uma em cada hemisfério do globo, as crises da Ucrânia e da Venezuela marcam o instante histórico em que os Estados Unidos estão perdendo definitivamente sua estrela de xerife do mundo.
Fonte: Pragmatismo Político
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