Não podemos esquecer do México!
(Burgos)
Postado por Husc em 25 julho, 2011
No contexto do reajuste geopolítico do alquebrado poderio econômico-militar anglo-americano, que tende a retrogradar ao Hemisfério Ocidental e outras regiões dotadas de recursos naturais, como o continente africano, o México está sendo submetido a várias manobras de caráter geopolítico e paramilitar. Assim, o combate ao narcotráfico que inferniza o país vem se convertendo em pretexto para que o Comando Norte (Northcom) – engrenagem de segurança do Tratado de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA) – seja imposto como o guardião da segurança nacional do país
Ofensa à soberania mexicana
Sob a proteção desse guarda-chuva de segurança, os serviços de inteligência estadunidenses vêm atuando livremente em operações articuladas fora dos trâmites diplomáticos normais e do controle do próprio Congresso dos EUA. Tais operações extrajurisdicionais configuram parte de uma espécie de governo paralelo secreto, com o mesmo DNA da chamada Operação Irã-Contras, do final da década de 1980, financiadas por um vasto esquema de trocas de armas por drogas. Tratavam-se de operações secretas, genericamente enquadradas no que se chamou “Projeto Democracia”, com a intenção manifesta de solapar as instituições nacionais hemisféricas, sobretudo militares, e criar um sistema de soberanias restritas, sob o rótulo de promoção da “democracia” e defesa dos “direitos humanos”. Esta é a atual situação no México.
Tiro que saiu pela culatra
A tensão militar alimentada pelos EUA se intensificou nas últimas semanas, a partir das espantosas revelações sobre a chamada “Operação Velozes e Furiosos”, com a qual o Escritório de Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos (ATF), o FBI, a agência antidrogas DEA e outras agências, distribuíram milhares de armas marcadas a narcotraficantes mexicanos, supostamente, para identificar os canais que poderiam levar aos chefões dos cartéis de drogas (MSIa Informa, 15/07/2011). Evidentemente, a operação só produziu o efeito de aumentar a quantidade e a qualidade dos arsenais criminosos no México (de fato, a quase totalidade das armas do narcotráfico mexicano provém dos EUA e atravessa uma fronteira altamente militarizada dos dois lados).
Vale destacar que o know-how desse tipo de operações vem se sofisticando desde a invasão soviética do Afeganistão (1979-88), quando os serviços de inteligência anglo-americanos fomentavam a produção e o tráfico de ópio para financiar as operações anti-soviéticas dos guerrilheiros mujahidin – que, mais tarde, se converteriam nas principais “tropas de choque” do terrorismo internacional.
“Agressão militar” ao México
A abusiva interferência estadunidense no México, as numerosas falhas do improvisado plano de combate ao tráfico do presidente Felipe Calderón e uma investida judicial da Suprema Corte mexicana contra as Forças Armadas têm produzido um quadro de grandes tensões no país. Em meio a tal cenário, o respeitado general da reserva e ex-deputado federal Roberto Badillo escreveu uma espécie de balanço e denúncia dos resultados da chamada Iniciativa Mérida, acordo antidrogas assinado com os EUA, em um artigo publicado em 7 de julho no jornal La Voz del Periodista. Suas palavras:
«Nesses três anos, tenho sustentado que a implementação da Iniciativa Mérida não iria resolver os problemas da violência em nosso país. Para tanto, é preciso levar em conta que os EUA não ajudam a estabilizar países, mas, ao contrário, vão diretamente à desestabilização, ainda mais, se o país a quem ajudam tiver petróleo, como é o caso do México.
«Também são parte dessa agressão o alto consumo de entorpecentes nos EUA, com mais de 25 milhões de consumidores, segundo dados do próprio governo estadunidense, e o envio, mediante a venda clandestina e deliberada de armas ao nosso país (Operação Velozes e Furiosos). Quase 165 mil armas apreendidas pelo Exército e a Força Aérea mexicanos, até abril de 2011, 80% provenientes dos EUA, país que envia deliberadamente armas a outro país.
«Os EUA também agridem o México ao não fazer seu trabalho do seu lado da fronteira, onde chega a droga, que não é entregue a marcianos, mas a cidadãos de seu país. Mas, sobretudo, os EUA agridem o México com a presença de embaixadores especializados em desestabilizar países, como o Irã, Afeganistão, Iêmen e Líbia, bem como com a presença em gabinetes mexicanos, como a SIEDO [Subprocuradoria de Investigações Especializadas em Delinquência Organizada], de companhias civis estadunidenses pagas com recursos da Iniciativa Mérida para controlar as informações sobre o narcotráfico, o crime organizado e “outras informações mais”, com a anuência, desinteresse ou ignorância de funcionários mexicanos.
«Dividir um país é muito simples: basta que os intervencionistas privilegiem alguma das forças que combatem o crime organizado; assim, dividem as forças participantes. O fizeram no Iraque e no Afeganistão, colocando em confronto as etnias religiosas com informações verdadeiras ou falsas. No México, privilegiando a Secretaria de Segurança Pública, que permitiu às agências de inteligência dos EUA estabelecerem um escritório na Cidade do México, pela primeira vez desde 1920, com a anuência da Secretaria de Relações Exteriores.
«A agressão militar, diplomática e governamental de suas agências de inteligência contra o México, incluindo as do Pentágono (com os voos de aviões não tripulados)… não será denunciada pelo atual governo, porque este governo a articulou e permitiu.»
NAFTA não permite Forças Armadas soberanas no México
Não foi um fato fortuito a severa agressão sofrida pelas Forças Armadas mexicanas por parte da Suprema Corte de Justiça da Nação (SCJN), que, em 12 de junho último, de forma inesperada, comunicou a sua decisão de limitar o foro militar, para que os militares passem a ser julgados por tribunais civis em casos de violação de direitos humanos de civis. A despeito da resistência interna, os militares mexicanos foram retirados de seus quartéis para travar a irrefletida e mal planejada guerra ao narcotráfico decretada pelo Governo Calderón. Agora, com a decisão da SCJN, os militares que continuem realizando operações antidrogas poderão ser punidos com o instrumento da suposta defesa dos direitos humanos.
Direitos humanos como ferramenta geopolítica
A defesa dos direitos humanos tem sido manipulada desde a década de 1980, como um instrumento político dos centros de poder anglo-americanos contra as Forças Armadas ibero-americanas. A investida ganhou terreno na América do Sul, a ponto de, na década seguinte, desarticular as Forças Armadas da Argentina e retardar os programas de modernização das brasileiras. Ela se ampliou grandemente, graças ao ativismo de ONGs bem financiadas, como a Human Rights Watch (vinculada ao megaespeculador George Soros) e outras. Tal política supranacional se incrustou na própria Organização dos Estados Americanos (OEA), por intermédio da Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), que tem realizado sucessivas intervenções políticas contra o Brasil. Com isso, a defesa ad hoc dos direitos humanos se converteu em abre-alas dos poderes hegemônicos mundiais.
Intervenção estrangeira
A ingerência da CIDH na decisão da Suprema Corte mexicana foi visível, sendo mencionada pelo senador Pedro Joaquín Coldwell, presidente da Comissão de Pontos Constitucionais do Senado. Em entrevista ao jornal Excelsior de 14 de julho, ele afirmou que a CIDH foi a entidade que fez ver ao Estado mexicano que o artigo 59 do Código de Justiça Militar seria inconstitucional, porque o artigo 13 da Constituição determina que foros militares somente existem para delitos contra a disciplina militar. Não obstante, a resolução da SCJN foi a gota d’água para que se manifestasse publicamente a enorme insatisfação existente nas Forças Armadas, por serem obrigadas a travar uma guerra sem condições de vencê-la. Em entrevista ao Excelsior de 19 de julho, o subsecretário da Defesa, general Carlos Demetro Gaytán, afirmou que os problemas da participação das Forças Armadas na luta antidrogas decorrem da inexistência de uma política formal de segurança nacional e de uma regulamentação de tal participação: «É preciso considerar que estamos enfrentando um conflito assimétrico, porque as Forças Armadas estão preparadas para uma coisa e, no entanto, estão enfrentando um inimigo que não tem rosto. Estão enfrentando um inimigo que está atuando no espaço onde nossos cidadãos fazem sua vida cotidiana.»
Entre a cruz e a caldeirinha As reações à decisão da SCJN têm sido intensas. O ânimo dos quartéis se reflete na enxurrada de repúdios vertidos via imprensa. Um coronel exemplificou como funciona o crime organizado: «Há muitas denúncias de delinquentes que dizem que vulneramos suas garantias para se evadir da justiça. Enquanto não tenhamos algo que nos proteja, não podemos continuar atendendo as denúncias cidadãs, porque podemos chegar a uma casa de segurança e, embora se saiba que ali há sequestrados ou que há torturas, não podemos entrar porque não temos ordem de busca ou não estamos facultados. Depois, nos acusarão de que violamos direitos de civis.» Mais claramente, a resolução também foi devidamente entendida como uma agressão externa. Como sintetizou ao jornal Reforma de 14 de julho o general da reserva Jorge González Betancourt: «Essas são pressões de organizações internacionais que só desejam o desprestígio das Forças Armadas.»
Silvia Palacios e Lorenzo Carrasco Movimento de Solidariedade Íbero-americana
Créditos ➞ este post é matéria apresentada no Boletim Eletrônico MSIa INFORMA, do MSIa – Movimento de Solidariedade Íbero-americana, Vol. III, No 10, de 22 de julho de 2011. Introduzi subtítulos no texto para facilitar e incentivar a leitura.
MSIa INFORMA ➞ é uma publicação do Movimento de Solidariedade Ibero-americana (MSIa). Conselho Editorial: Angel Palacios, Geraldo Luís Lino, Lorenzo Carrasco (Presidente), Marivilia Carrasco, Nilder Costa e Silvia Palacios. Endereço: Rua México, 31 – sala 202 – Rio de Janeiro (RJ) – CEP 20031-144; Telefax: 0xx 21-2532-4086.
Para saber mais sobre o tema ➞ visitar os sites da MSIa/Capax Dei: http://www.alerta.inf.br/ e http://www.msia.org.br/.
retirado do Blog do ambientalismo
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