Não são só as vastas reservas de energia e recursos naturais do Irã que atiçam a cobiça dos dirigentes dos países economicamente impotentes da União Europeia, assim como do líder deles todos, os Estados Unidos. Sabemos que foi sempre essa cobiça, de mãos dadas com a debilidade econômica, que esteve por trás das guerras ilegais dos últimos vinte anos, a mais recente das quais a da Líbia.
Por Anna Malm*
Agora temos que os caminhos que levam a Moscou e a Pequim passam por Teerã, capitais localizadas respectivamente na Rússia, China e Irã. O que se tem passado em relação às atitudes agressivas ocidentais dos últimos anos em relação à Síria e ao Irã insere-se também num quadro de considerações políticas geo-estratégicas mais amplas.
Considera-se que os caminhos que levam a Moscou e a Pequim passam por Teerã do mesmo modo que os caminhos que levam à Teerã passam por Damasco na Síria, Bagdá no Iraque e Beirute no Líbano.
Destaca-se que os Estados Unidos querem controlar o Irã por razões políticas e econômicas, bem como para satisfazer as suas próprias necessidades de energia. E querem também poder controlar a forma de pagamento das exportações do petróleo do país. Querem que o pagamento das exportações de petróleo do Irã seja feito em dólares.
E isso para que o uso global e permanente do dólar nas transações internacionais seja mantido e não posto em causa, como tem sido nos últimos tempos. Deve lembrar-se que o uso do dólar como moeda de pagamento internacional é uma das duas pernas em que o controle americano sobre o mundo se sustenta, apesar de tudo. Digo apesar de tudo porque o dólar não tem valor nenhum por si mesmo. Poderia e deveria ser trocado por sistemas de pagamento mais condizentes com a realidade de 2012 e não condizentes com a realidade de 1945, como é o caso. A outra perna em que se sustenta o poder americano sobre o mundo é a força militar.
Controlando o Irã através de um regime de fantoches posto no poder através de uma guerra dirigida pelos Estados Unidos e executada pelos seus aliados (como foi o caso na Líbia e como estão ameaçando fazer na Síria), Washington também estaria a pôr uma corda no pescoço da China.
Essa corda iria ser apertada ou afrouxada de acordo com os interesses norte americanos, dando-lhes o controle da segurança energética da China. Se a China não se comportasse de acordo com os interesses americanos lá estariam eles a asfixiá-la através do estrangulamento do fornecimento do petróleo. Estrangulamento esse que seria garantido pelos fantoches estabelecidos no Irã à custa do sangue de muitos milhares e milhares de inocentes no Irã e no Oriente Médio, assim como à custa de uma desestabilização econômica no mundo inteiro, se não de uma catástrofe global.
É um fato do conhecimento geral que a ameaça de guerra aberta hoje visível é uma continuação dos acontecimentos desencadeados por ações encobertas há já uns anos. Essas ações encobertas incluem serviços de informação específica, ataques e vírus cibernéticos, grupos militares secretos, espiões, assassinos, agentes de provocação e sabotadores agindo contra o Irã em favor dos interesses ocidentais.
O sequestro e assassínio de cientistas iranianos e de comandantes militares é do conhecimento público. Sabe-se de diplomatas iranianos sequestrados no Iraque e de iranianos visitando a Arábia Saudita e a Turquia que foram detidos e sequestrados. Sabe-se de oficiais sírios, assim como de vários palestinos e representantes do Hezbollah que também foram assassinados. Destaque-se que foram assassinados e não detidos e colocados perante um tribunal de justiça.
Pressupõe-se que Israel tenha atacado o Líbano não só para exterminar ou pelo menos enfraquecer o Hezbollah, mas também para atingir estrategicamente a Síria. Como já foi dito anteriormente, os caminhos que agridem a Síria passam através do Líbano. Os caminhos que estrategicamente atingem o Irão passam através da Síria. Os caminhos que agridem ou afetam estrategicamente a Rússia e a China passam através da Síria e do Irã.
A Síria é o apoio e o eixo do bloco da resistência contra os abusos ocidentais na região. Essa resistência é apoiada pelo Irã. Há já cinco ou seis anos que os Estados Unidos, acompanhados pelos seus "irmãos de armas" locais tentam desligar a Síria do Irã. Essa tentativa vinha sido feita através de esforços para seduzir a Síria. Uma vez que a Síria não se deixou seduzir pelas ofertas ocidentais, as tentativas de sedução transformaram-se em ameaças e em preparativos para a guerra.
Combater a Síria é combater o Irã. Esse é um ponto central a ser tido em conta no contexto atual. A balança do poder e da influência política hoje na região pende a favor do Irã, mas nada enfraqueceria mais o Irã do que a perda da Síria.
Há aqui cenários potencialmente devastadores. Iria o Irã manter-se passivo frente a um ataque à Síria, ataque esse liderado pelos interesses ocidentais? Podemos pressupor que não. Os Estados Unidos não desejam que esse potencial cenário se concretize. O que eles querem é atacar a Síria e depois atacar o Irã, não atacar os dois juntos. Seria demasiado até mesmo para os EUA-UE-OTAN. Isto já para não se mencionar a cadeia de acontecimentos imprevisíveis que uma tal ação desencadearia.
A marcha para uma guerra total e devastadora prossegue enquanto os Estados Unidos intensificam a guerra política e econômica, da qual a decisão de embargo da União Europeia é apenas um passo mais. É uma marcha fúnebre dirigida por loucos falidos e letalmente armados.
*De Estocolmo para o Irã News, em www.iranews.com.br
Fonte: vermelho.org
Imagem: Google
Um comentário:
A Próxima Guerra na Agenda dos EUA
Neste artigo Craig Roberts faz um significativo paralelo histórico: o que estamos a testemunhar é uma repetição da política de Washington para com o Japão na década de 1930, que provocou o ataque japonês a Pearl Harbour. Os saldos bancários do Japão no Ocidente foram apreendidos e o acesso do Japão a petróleo e matérias-primas foi restringido. O objectivo era prevenir ou retardar a ascensão do Japão. O resultado foi a guerra.
http://www.odiario.info/?p=2360
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