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domingo, 4 de setembro de 2011

A indústria do medo agora explora o islã



Medo S/A: A rede da islamofobia nos Estados Unidos



Em 22 de julho um homem plantou uma bomba em um prédio governamental de Oslo, que matou oito pessoas. Algumas horas depois da explosão, ele atirou e matou 68 pessoas, a maioria adolescentes, num acampamento da juventude do Partido do Trabalho da Noruega, na ilha de Utoya.

Ao meio-dia, comentaristas da TV americana especulavam sobre quem tinha perpetrado o maior massacre da história norueguesa desde a Segunda Guerra Mundial. Várias empresas de mídia, inclusive o New York Times, o Washington Post e a [revista] Atlantic especularam sobre uma conexão da Al Qaeda e uma motivação ‘jihadista’ por trás dos ataques. Mas na manhã seguinte estava claro que o matador era um homem branco de 32 anos de idade, de cabelos loiros e olhos azuis, um norueguês de nome Anders Breivik. Ele não era um muçulmano, mas se descreve como um conservador cristão.

De acordo com seu advogado, Breivik assumiu responsabilidade pelo que chamou de ações “abomináveis mas necessárias”. Em 26 de julho, Breivik disse a um juiz que a violência era “necessária” para salvar a Europa do marxismo e da islamização. Em seu manifesto de 1.500 páginas, que detalhou meticulosamente seus métodos de ataque e o objetivo de inspirar outros à violência extremista, Breivik promete “operações brutais e de tirar o fôlego que vão resultar em baixas” na sua alegada luta contra “a colonização islâmica da Europa”.

O manifesto de Breivik contém numerosas notas e citações a blogueiros e comentaristas norte-americanos, mencionados como especialistas na “guerra do islã contra o Ocidente”. Este pequeno grupo de indivíduos e organizações anti-muçulmanas é obscuro para a maioria dos norte-americanos, mas tem grande influência no debate político nacional e internacional. Os nomes deles são celebrados dentro de comunidades que estão ativamente se organizando contra o islã e transformando os muçulmanos em alvos nos Estados Unidos.

Breivik citou em seu manifesto, por exemplo, Robert Spencer, um dos acadêmicos da desinformação anti-muçulmana sobre o qual falamos neste relatório, e o seu blog, Jihad Watch, 162 vezes. O site de Spencer, que “monitora tentativas do islã radical de subverter a cultura ocidental”, se orgulha de outro membro da rede de islamofobia dos Estados Unidos, David Horowitz, do site Freedom Center. Pamela Geller, frequente colaboradora de Spencer, e seu blog, Atlas Shrugs, foi mencionada 12 vezes [no manifesto de Breivik].

Geller e Spencer são co-fundadores da organização Stop Islamization of America, um grupo cujas ações e retórica foram definidas pela Anti-Defamation League como “promotoras de uma agenda conspiratória anti-muçulmana sob o disfarce de lutar contra o islã radical. O grupo busca despertar medo público com consistente vilificação da fé islâmica e promovendo a existência de uma conspiração islâmica para destruir ‘valores americanos’”. Baseados no número de citações e referências feitas por Breivik aos escritos destes indivíduos, fica claro que ele leu e se baseou na ideologia de ódio anti-muçulmano de um número de homens e mulheres que citamos neste relatório e num punhado de acadêmicos e ativistas que trabalham juntos para criar e promover desinformação sobre muçulmanos.

Se é verdade que estes blogueiros e comentaristas não são responsáveis pelos ataques mortais de Breivik, seus escritos sobre o islã e o multiculturalismo parecem ter ajudado a criar a visão de mundo do solitário atirador norueguês, que vê o islã em guerra com o Ocidente e o Ocidente precisando se defender. De acordo com o ex-agente da CIA e consultor sobre terrorismo Marc Sageman, assim como o extremismo religioso “é a infraestrutura sobre a qual emergiu a Al Qaeda”, os escritos destes especialistas em desinformação anti-muçulmana são “a infraestrutura sobre a qual Breivik emergiu”. Sageman acrescenta que a retórica deles não é “custo zero”.

Estes comentaristas e blogueiros, no entanto, não são os únicos membros da infraestrutura da islamofobia. O manifesto de Breivik também cita institutos, como o Center for Security Policy, o Middle East Forum e o Investigative Project on Terrorism — três organizações das quais tratamos neste relatório. Juntos, este grupo de indivíduos e organizações manufaturam ou exageram as ameaças da “sharia”, a dominação islâmica do Ocidente e a suposta promoção de violência obrigatória contra os não-muçulmanos feita no Corão.

Essa rede do ódio não é nova nos Estados Unidos. Na verdade, sua habilidade para organizar, coordenar e disseminar sua ideologia através de organizações de base cresceu dramaticamente nos últimos dez anos. Além disso, sua capacidade de influenciar os discursos políticos e a criação de temas divisivos para as eleições de 2012 tornou corrente uma retórica que antes era da minoria extremista.

E tudo começa com o dinheiro que flui de um grupo de fundações. Um pequeno grupo de fundações e doadores ricos são os responsáveis pela rede de islamofobia nos Estados Unidos, providenciando o financiamento crítico para um grupo de institutos de direita que vendem ódio e medo de muçulmanos e do islã na forma de livros, relatórios, sites, blogs e um discurso cuidadosamente preparado para as organizações de base anti-islã e para alguns grupos religiosos que usam isso como propaganda para seus seguidores.

Algumas destas fundações e doadores ricos também dão fundos diretamente para organizações de base anti-islã. De acordo com nossa análise, aqui estão os sete principais contribuintes para promover a islamofobia em nosso país:

Donors Capital Fund
Fundações Richard Mellon Scaife
Fundação Lynde e Harry Bradley
Fundações e Fundo de Benemerência Newton D. & Rochelle F. Becker
Fundação Russell Berrie
Fundo de Benemerência Anchorage e Fundo da Família William Rosenwald
Fundação Fairbrook

Juntos, estes grupos de benemerência deram U$ 42,6 milhões para os institutos de islamofobia entre 2001 e 2009 — financiamento que apoia acadêmicos e especialistas que estão no próximo capítulo de nosso relatório, além de organizações de base mencionados no capítulo 3.

E o que esse dinheiro financia? Bem, aqui está um dos casos: em julho passado, o ex-líder da Câmara dos Deputados Newt Gingrich alertou uma audiência de conservadores no American Enterprise Institute que a prática islâmica da sharia era “uma ameaça mortal à sobrevivência da liberdade nos Estados Unidos e no mundo como o conhecemos”. Gingrich foi adiante para dizer que “a sharia em sua forma natural tem princípios e punições que são totalmente abomináveis para o mundo ocidental”.

A sharia, ou código religioso muçulmano, inclui práticas como a benemerência, as orações ou a honra em relação aos pais — preceitos virtualmente idênticos aos do cristianismo ou judaísmo. Mas Gingrich e outros conservadores promovem noções alarmantes sobre uma religião de 1.500 anos por uma variedade de sinistros motivos políticos, financeiros ou ideológicos. Em sua fala naquele dia, Gingrich copiou a linguagem do analista conservador Andrew McCarthy, que co-escreveu um relatório que descreve a sharia como “a proeminente ameaça totalitária de nosso tempo”. Tais similaridades não são acidentais. É só ver qual foi a organização que difundiu o relatório de McCarthy: o acima citado Center for Security Policy, que é uma central da rede anti-muçulmana e promotor ativo da mensagem anti-sharia e da retórica anti-islâmica.

Na verdade, o CSP é uma fonte-chave de políticos direitistas, comentaristas e organizações de base, produzindo para elas uma torrente de relatórios que distorcem o islã e providenciando alertas sobre os perigos representados pelo islã e pelos muçulmanos norte-americanos. Operando sob a liderança de Frank Gaffney, a organização é financiada por um pequeno grupo de fundações e doadores que tem profundo conhecimento de como influenciar a política dos Estados Unidos promovendo ameaças alarmantes à nossa segurança nacional. A CSP divide este negócio lucrativo com outras organizações anti-islã, como a Stop Islamization of America e Society of Americans for National Existence. Muitos dos líderes destas organizações são bem treinados na arte de despertar a atenção da mídia, especialmente da Fox News, das páginas editoriais do Wall Street Journal, do Washington Times e de uma variedade de sites de direita e de emissoras de rádio.

Experts em desinformação como Gaffney são consultores ou trabalham para organizações direitistas de base como ACT! for America e o Eagle Forum, assim como grupos religiosos como Faith and Freedom Coalition e American Family Association, que espalham a mensagem. Falando em conferências, escrevendo em sites ou dando entrevistas em emissoras de rádio, estes especialistas atacam o islã e espalham suspeição sobre os muçulmanos norte-americanos. Muito da propaganda feita por eles é usada em campanhas de arrecadação de organizações de base e de grupos religiosos de direita. O dinheiro que eles arrecadam entra no processo político e ajuda a financiar políticos que fazem eco aos alertas alarmistas ou financia ataques anti-muçulmanos.

Estas campanhas fazem relembrar os episódios mais obscuros da história dos Estados Unidos, nos quais minorias religiosas, étnicas e raciais foram discriminadas e perseguidas. De católicos a mórmons, de japoneses-americanos a imigrantes europeus, de judeus a afro-americanos, a história dos Estados Unidos é uma luta para colocar em prática os ideais fundadores. Infelizmente, os muçulmanos e o islã são o mais recente capítulo numa longa luta contra a exploração de bodes espiatórios baseada em religião, raça ou crença.

Devido em parte à campanha deste pequeno grupo de indivíduos e organizações, o islã é agora a religião que desperta as opiniões mais negativas nos Estados Unidos. Somente 37% dos americanos tem uma opinião favorável do islã: o pior nível desde 2001, de acordo com uma pesquisa da ABC News/Washington Post de 2010. De acordo com uma pesquisa da revista Time de 2010, 28% dos eleitores norte-americanos acreditam que muçulmanos não deveriam ter assento na Suprema Corte e quase um terço do país acha que os seguidores do islã deveriam ser barrados de disputar a Casa Branca.



fonte: viomundo, nation of change

2 comentários:

Fada do bosque disse...

Olá Burgos,
Isto não tem a ver com o post, mas é algo que deveria ser divulgado:

Bombas e mísseis utilizadas pelos americanos, britânicos e franceses no combate ao regime de Kadaffi continham urânio empobrecido, substância altamente contaminante e responsável por fetos e bébés defeituosos, leucemia, etc.
http://coto2.wordpress.com/2011/09/02/nato-contaminating-libya-water-with-depleted-uranium/
E ainda: Entidades interessadas na reconstrução da Líbia por ordem alfabética.
São mesmo muitas e as de sempre.
Será isto mentira sr. Embaixador? Caso não seja... teremos o"Iraque europeu".
A Líbia, a África e a Nova Ordem Mundial
– Carta aberta aos povos da África e do mundo
"Carta assinada por mais de 200 africanos eminentes, incluindo Jesse Duarte, membro executivo nacional do African National Congress (ANC), o analista político Willie Esterhuyse da Universidade de Stellenbosch, o antigo ministro da inteligência Ronnie Kasrils, o jurista Christine Qunta, o antigo vice-ministro dos Negócios Estrangeiros Aziz Pahad, o antigo ministro na presidência Essop Pahad, Sam Moyo do African Institute for Agrarian Studies, o porta-voz do ex-presidente Thabo Mbeki, Mukoni Ratshitanga e o poeta Wally Serote". – Concerned Africans Criticise Nato , 24/Agosto/2011
.
Ainda: Americanos e britânicos cooperaram estreitamente nos anos 2000 com os serviços secretos do coronel Khadafi, tendo a CIA entregado prisioneiros ao regime líbio para interrogatório Público

BURGOS disse...

Fada

Muito obrigado!

Abraços

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