A Comissão de Relações Exteriores quer reunir subsídios sobre como o Brasil pode atuar de forma concreta. |
De Brasília
Márcia Xavier
A defesa dos princípios da ONU (Organização das Nações Unidas), de autodeterminação e soberania dos povos, e a crítica aos Estados Unidos e a Israel, apontados como responsáveis pelos conflitos no Oriente Médio foi a tônica da fala da presidenta do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz), Socorro Gomes, no debate sobre "Os Meios de Comunicação em Zonas de Conflito e a Luta pela Paz", realizado pela Comissão de Relações Exteriores da Câmara nesta quarta-feira (17).
Socorro Gomes também criticou a mídia que, segundo ela, pratica uma política de demonização dos países que se insurgem contra os Estados Unidos e Israel. “A mídia joga um papel sórdido contra as liberdades, contra a verdade, contra a Justiça”, disse.
Ela avalia que “são grandes os impedimentos para a paz e podemos e devemos travar a luta pela paz e o Brasil e outros povos têm papel a jogar, mas é preciso respeitar a Carta das Nações, os princípios da ONU, senão é a barbárie”. E insistiu em dizer que o primeiro passo para se percorrer o caminho para a paz é respeitar os princípios da ONU.
Na avaliação de Socorro Gomes, os povos têm o direito e o dever de travar a luta pela paz e para isso têm que saber o que provoca a guerra. No Oriente Médio, segundo ela, os causadores dos conflitos são os Estados Unidos e seu aliado – o Estado de Israel, a quem acusou de sionismo, que usam a religião para espoliar a terra que deveria ser usada na formação do Estado da Palestina.
Segundo ela, a solução para a paz é a retirada das tropas dos países ocupados e que o diálogo substitua a força bruta das armas. Ela defendeu ainda uma campanha pela eliminação de todas as armas nucleares, a começar pelas grandes potências, que são as mais armadas e mais ameaçadoras.
Ela explica que os dois países – Estados Unidos e Israel – querem governos submissos à vontade deles e aqueles que se insurgem contra eles são combatidos. Para isso, usam pretextos como a democracia, direitos humanos, meio ambiente, etc., para invadir os países e não cumprem as resoluções da ONU.
A situação do Iraque e do Irã foi citada como exemplos dessa prática dos Estados Unidos. O Iraque foi acusado de possuir armas de destruição em massa para que os Estados Unidos invadissem o país e derrubassem o governo, e o mesmo ocorre no Irã, que é acusado de possuir armas nucleares.
Para Socorro Gomes, essa atitude do governo estadunidense demonstra uma “esquizofrenia”, porque os Estados Unidos e Israel possuem armas nucleares e os Estados Unidos já usaram as armas nucleares. Para ela, essa atitude conta com o apoio da mídia, que repercute o pensamento desses países sem questionar as causas verdadeiras dos conflitos.
Na Síria – tema do debate –, os Estados Unidos dizem que o chefe de Estado deve parar de usar armas, mas financia mercenários para manter o estado de guerra no país, acusa Socorro Gomes. “Todos têm que parar de usar as armas”, destaca ela, insistindo que o objetivo dos Estados Unidos na Síria é derrubar o governo de Bashar Al Assad e instalar um governante submisso a eles.
Socorro Gomes disse ainda que a defesa da autodeterminação dos povos não impede os atos de solidariedade, que é um valor evoluído do mundo, que deve ser cultivado, mas que nenhum Estado pode interferir em outro país e para isso existe a ONU.
Outros debates
O segundo debate no seminário realizado pela Comissão de Relações Exteriores da Câmara, para discutir "O Brasil no mundo: deveres e responsabilidades no Oriente Médio", reuniu ainda o jornalista Samy Adghirni, correspondente do jornal Folha de S. Paulo em Teerã, capital do Irã, e o jornalista Marcelo Rech, especialista em defesa e editor do site InfoRel.
Os jornalistas falaram sobre suas experiências de coberturas jornalísticas na região. A fala de Marcelo Rech, de que "a democracia israelense dá um baile na brasileira, em relação ao trabalho jornalístico", foi contestada por Socorro Gomes.
Em resposta a Rech, a presidenta do Cebrapaz disse que “não pode ser chamado de democrata um Estado que subtraiu o território de um povo com terror, com assassinatos em massa", declarou, lembrando que Israel tenta impedir a criação do Estado da Palestina como está determinada pela ONU.
A presidente da comissão, deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC), autora do requerimento para a realização do seminário, disse que o colegiado deverá realizar outros eventos semelhantes. "A ideia é colocar, semanalmente, outros temas na comissão. Um deles é a posição do Brasil com a responsabilidade de proteger (povos em situação de conflito)".
Segundo Perpétua, essa defesa deve ser feita com cuidado, pois há casos em que "países sofrem intervenções internacionais com a desculpa de proteger civis e acabam matando muito mais civis do que os que precisam de proteção".
Fonte: Vermelho
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