O mega-magnata George Soros, de 82 anos e com uma fortuna avaliada em 20 bilhões de dólares, está concorrendo ao prêmio “originalidade” em matéria de soluções para a crise do euro.
Na semana passada, enquanto continuava a feroz discussão sobre se a Grécia deve ou não deixar o euro, ou simplesmente ser expulsa dele, Soros sugeriu candidamente, numa entrevista em Viena, que talvez fosse melhor que a Alemanha deixasse o euro…
A sugestão de Soros veio em tom de desafio, naquele tom de “love it or leave it”, “ame-o ou deixe-o”, reformulado para “lead or leave”, “lidere ou saia”: ou a Alemanha assume completamente sua responsabilidade em relação à nova moeda, ou melhor seria se ela saísse de vez, retornasse ao marco, liberando os países falimentares para reestruturar suas economias sem o incômodo peso pesado do vizinho.
O argumento de Soros se baseia em que a retirada da Alemanha da moeda comum imediatamente a desvalorizaria, dando um impulso inicial às economias que nela ficassem em termos de competitividade no mercado internacional. Segundo ele, isso, embora fosse um “choque”, teria efeitos menos danosos do que uma desarticulação da moeda depois de uma retirada grega, ou mesmo de uma saída da Itália ou da Espanha (o que não está – pelo menos ainda – em cogitação). O impacto de uma dessas situações (saída da Grécia ou desarranjo com a saída da Espanha ou da Itália) seria enorme no sistema financeiro europeu, com quebras inevitáveis na Alemanha e na França, por exemplo.
Ao contrário, uma saída “amigável” da Alemanha possibilitaria uma união mais firme entre os países remanescentes, livres das peias que a política recessiva, preconizada pela “austeridade” alemã, vem impondo aos demais, com graves prejuízos em escala continental e mundial.
O argumento de Soros tem uma face política. Segundo ele, a União Européia deveria ser uma associação voluntária entre países em condição de igualdade, do ponto de vista legal. Entretanto, esse ideal cedeu o lugar a uma preocupação crescentemente unidimensional com a moeda, o combate à inflação e uma austeridade fiscal, o que está manientando a recuperação econômica e social do continente.
Além disso, disse ele, a União Européia tornou-se um território dividido entre Norte e Sul, entre credores e devedores, prósperos e insolventes, com prejuízos, na verdade, para todos. A Europa, ressaltou ele, é importante demais para o mundo, para ficar agrilhoada neste tipo de prisão. E uma prisão com riscos complementares: ele lembrou que, depois da Primeira Guerra, quando a Alemanha se viu de joelhos perante o resto da Europa, essa circunstância abriu o caminho para Hitler dar seus primeiros passos.
As declarações de Soros – publicadas em forma de artigo na página do Project Syndicate, em 08 passado – lembram que “mais cedo ou mais tarde, os devedores deverão rejeitar uma Europa a duas velocidades. Se o euro se desmoronar desordenadamente, o mercado comum e a UE serão destruídos, deixando a Europa pior do que estava quando a iniciativa da sua união surgiu, devido a um legado de desconfiança e de hostilidade mútuas. Quanto mais tarde se der o desmoronamento, pior será o desfecho. Por isso, é altura de ponderar alternativas que, até há bem pouco tempo, seriam inconcebíveis”.
Ele insiste em que a Europa vem perdendo uma oportunidade atrás da outra para aprumar-se devido à resistência alemã – o Leviatã do continente – em assumir suas responsabilidades, fazendo exigências apenas em relação aos demais. Isso vem fraturando a própria idéia de uma Europa unificada nos corações e mentes, com conseqüências imprevisíveis no médio e longo prazos. Assim sendo, é melhor que a Alemanha se retraia e libere os demais para que sigam seu próprio caminho, antes que ela mesma se veja engolfada por essa crise que não é apenas econômica ou financeira: é também social, política e moral.
Qualquer outra pessoa que fizesse uma proposta dessas, hoje em dia, seria vista como lunática em Berlim, talvez no resto do mundo também. Mas em se tratando de Soros, seus bilhões o qualificam para ser ouvido, mesmo que todo mu ndo disfarce e olhe para os lados. Até porque sua sugestão, por mais irrealizável que ela pareça (a Alemanha não vai querer largar o filé – embora cada vez mais esturricado e duro – que o euro representa para suas exportações) põe o dedo numa das feridas da questão: se algo falta à Europa em crise, é imaginação alternativa.
Fonte: Sul21
Imagem: Google
Um comentário:
Por vezes há uma pequena e muito estrita diferença entre sugestão e antevisão. Acho que neste texto Soros não está propriamente a dar sugestões mas a pensar pela cabeça de... quem não pensa!
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