Foto: Reprodução/ABC Color |
Jornais paraguaios demonstram revolta com a decisão tomada por Dilma, Cristina e Mujica de permitir o ingresso da Venezuela no bloco econômico; editorialistas fazem alusão ao acordo de 1865, que se seguiu à Guerra do Paraguai
Maior jornal do Paraguai, o ABC Color foi enfático. “Meteram pela janela a Venezuela”, decretou. Segundo o periódico, foi um “atropelo à dignidade, às instituições e aos direitos internacionais da República”. O jornal citou a Guerra do Paraguai ao lembrar que o argumento de que a decisão “não é contra o povo” foi o mesmo usado no Tratado de 1865, que pôs fim ao conflito.
No ABC Color, frequentemente têm sido citados como referências positivas alguns colunistas da revista Veja, como, por exemplo, Ricardo Setti. O jornal destaca, por exemplo, que Setti definiu como “golpe” a decisão que permitiu o ingresso da Venezuela no bloco. O maior vilão seria o chanceler argentino Hector Timermann, que, segundo os paraguaios, teria liderado o movimento para punir o país e beneficiar a Venezuela.
Fonte: Brasil247
------------------------------------------------
A raiva do Governo Golpista do Paraguai pelo corte no envio de petróleo feito pelo Hugo Chavez se traduz na imprensa paraguaia.
O Parlamento do Paraguai nunca aprovou o ingresso da Venezuela no Mercosul, o mesmo Parlamento que deu o golpe no Povo Paraguaio.
Mas provavelmente em breve virá a "ajuda humanitária" do império americano em troca de bases militares, e com isso talvez o Governo Golpista do Paraguai seja convidado a ser membro da Aliança do Pacífico.
(Burgos Cãogrino)
------------------------------------------------
Relembrando - 08 de junho
Reino de Espanha:O rei caçador e a Aliança do Pacífico
por Mauro Santayana
Aliança do Pacífico,para quem não conhece, é uma organização patrocinada pelo México e pela Espanha, que nasce com o claro objetivo de se contrapor à ampliação da presença brasileira na América do Sul, e que reúne, além do México, o Chile, o Peru e a Colômbia.
Combalida política e economicamente, por uma crise que se aprofunda a cada dia, também do ponto de vista social – pela erosão de sua credibilidade internacional – a Espanha e sua diplomacia parecem não ter aprendido nada com as dolorosas lições dos últimos anos.
De passagem por Brasília, aonde vem oferecer, segundo a imprensa
ibérica, onze anos depois de sua última visita ao nosso país, uma
“aliança política e econômica sem precedentes”, o Rei Juan Carlos tem
como destino final na América do Sul, a cidade chilena de Antofagasta, a
fim de agregar-se, como “observador”, no dia 6 de junho, à cúpula
presidencial da Aliança do Pacífico.
Essa, para quem não conhece, é uma organização patrocinada pelo
México e pela Espanha, que nasce com o claro objetivo de se contrapor à
ampliação da presença brasileira na América do Sul, e que reúne, além do
México, o Chile, o Peru e a Colômbia.
Com a Aliança do Pacífico, a Espanha, que não pode participar de
reuniões do Mercosul, da UNASUL e da CELAC, nem mesmo como observadora,
contaria – depois do rotundo fracasso de suas cúpulas
“ibero-americanas”- com novo instrumento para imiscuir-se nos assuntos
do nosso continente.
O outro aliado com que contam os espanhóis nesse processo de
tentar promover a divisão sul-americana, é o Paraguai, país
tradicionalmente pendular em suas relações externas, que joga para
beneficiar-se da ajuda ora do Brasil, ora da Argentina, ora da Espanha,
dependendo do momento e das circunstâncias.
Não foi por outro motivo que o Paraguai aceitou promover a
fracassada cúpula “ibero-americana” de Assunção, em novembro do ano
passado, que terminou com a ausência dos países mais importantes da
região, mas contou com a presença justamente do México e do Chile,
co-patrocinadores da “Aliança do Pacífico”.
É também importante registrar, nesse contexto, a posição do
parlamento paraguaio que impede, há anos, a expansão do Mercosul, ao não
ratificar a entrada da República da Venezuela no Tratado, já aprovada
pelos outros membros do bloco.
A diplomacia brasileira, com a chegada do Rei Juan Carlos a
Brasília nesta segunda-feira – data em que ocorrerá, em Madri, reunião
“técnica” para discutir a questão da expulsão de brasileiros dos
aeroportos espanhóis nos últimos anos – tem excelente oportunidade para
deixar claro que não concorda com a interferência externa no espaço
sul-americano.
Com relação ao Paraguai, qualquer concessão do grupo, no futuro,
poderia ser negociada – em todas as instâncias, incluída a parlamentar –
de forma a obter rápida aprovação à entrada da República da Venezuela
no Tratado do Mercosul. Enquanto isso, nada impede que o Uruguai, a
Argentina e o Brasil possam negociar acordos bilaterais de livre
comércio com Caracas.
É difícil, tendo em vista a formação histórica de nossos países,
que a tentativa de divisionismo entre o Brasil e os países ocidentais do
continente tenha êxito. O México sempre foi uma realidade à parte,
menos durante o governo nacionalista de Cárdenas, quando seus atos o
incluíam na mesma ordem de pensamento de Getúlio Vargas. Como se
recorda, Cárdenas nacionalizou o petróleo em 1938, sem que os Estados
Unidos, já em preparação para a guerra, tomasse qualquer medida de
retaliação. Nos últimos trinta anos, no entanto, os governos do México
têm sido fiéis vassalos dos Estados Unidos e é, sem dúvida, a serviço de
Washington, que sua diplomacia atua ao lado do Chile e de Madri.
Há razões ainda mais antigas que tornam difícil essa aliança da
Costa do Pacífico. O povo peruano não se esquece, até hoje, da ocupação
de Lima pelas forças chilenas, em janeiro de 1881, na Guerra do
Pacífico, que lhe custou a amputação de parte de seu território (a
Província de Tacna) por 50 anos, só recuperada depois de imensos
sacrifícios e desgastantes negociações diplomáticas.
A Bolívia sofreu ainda mais com os chilenos: todo o litoral do
Pacífico que lhe pertencia (a rica e extensa província de Antofagasta)
foi anexado, e La Paz perdeu seu acesso ao oceano. Esse conflito –
provocado pelos interesses ingleses e norte-americanos – não foi
completamente superado, e é uma lição de como os estranhos, com suas
intrigas, causam as tragédias ao fomentar as guerras entre vizinhos.
Essa mesma interferência estrangeira – no caso, das empresas
petrolíferas americanas e inglesas – provocou a carnificina da Guerra do
Chaco, entre a Bolívia e o Paraguai, nos anos 30 do século passado.
O México rompeu relações com a Espanha e dela esteve distanciado
até o fim do franquismo. Hoje, apesar da submissão de sua política
externa aos Estados Unidos, grande parte da opinião pública mexicana
rejeita aproximação maior com Madri.
Não há qualquer razão para que a Espanha de Juan Carlos, que vem
sacrificando seu grande povo, em favor dos exploradores de sempre (hoje
reunidos na globalização do neoliberalismo), venha a se meter no
encontro de Antofagasta.
Isso só se explica pela desesperada busca de apoio internacional,
no momento em que sua economia e suas instituições (sobretudo a
monarquia) entram em acelerado declínio de credibilidade interna.
Com suas grandes empresas e bancos endividados (só a Telefónica,
que atua no Brasil com a marca Vivo, deve mais de 100 bilhões de
dólares), reduz-se o prestígio internacional do governo e da monarquia
espanhola. O Rei – é o que se diz na imprensa espanhola – vem nos propor
“relações políticas e econômicas sem precedentes”. Em lugar de relações
novas e excepcionais, os brasileiros querem apenas que sejam tratados
com respeito em território espanhol, quando viajarem à Europa.
A cortesia diplomática recomenda que recebamos bem o Rei – em nome
do respeito ao povo espanhol – mas os nossos interesses no mundo
recomendam que não nos comprometamos com um governo que está arrochando
seu povo com medidas econômicas draconianas, enquanto os ricos continuam
saqueando os trabalhadores e retirando seus capitais do país.
A queda da popularidade de Piñera no Chile, a aproximação
crescente do Brasil com a Colômbia, e a iminência de um governo de
esquerda no México, retiram da monarquia espanhola espaço para suas
manobras diplomáticas em nossa região.
Provavelmente, o Brasil – como agiu quando da reunião anterior, no
Paraguai – se ausente do próximo encontro de Chefes de Estado dos
paises “ibero-americanos”, previsto para realizar-se na cidade de Cadiz,
na Espanha, em novembro deste ano. Para discutir o futuro dos nossos
países contamos com a UNASUL e o Conselho de Defesa Sul-americano, e, no
contexto do espaço ampliado da América Latina, a CELAC. Nós, e nossos
vizinhos, não temos nada a fazer do outro lado do Atlântico, assim como a
elite neocolonial de nossas antigas metrópoles não têm nada a fazer,
institucionalmente, do lado de cá.
Nenhum comentário:
Postar um comentário