Por Stephen Kanitz *
Mais
uma vez no Rio+20 iremos ouvir o brado da devastação da Amazônia, e
ninguém vai sair protestando contra o desmatamento quase total das
Florestas Temperadas.
Por que ninguém exige o reflorestamento do Mid-West Americano e da Europa?
Por
que os brasileiros gastam 95% do seu tempo contra o desmatamento da
Amazônia e nada protestam contra o desmatamento das Florestas
Temperadas?
Em 2003, escrevi o artigo abaixo: Salvem as Florestas Temperadas, e a repercussão foi quase nula.
Não
fui convidado para nenhuma das 54 Conferências sobre Ecologia
realizadas no Brasil de lá para cá, ninguém achou este tema importante
suficiente para se discutir.
Eis o artigo de 2003, que infelizmente continua válido.
No
filme A Bruxa de Blair, sucesso de bilheteria do cinema alternativo
americano, há uma cena que fez meu sangue de ecologista amador
brasileiro e defensor do crescimento sustentável literalmente borbulhar.
Os
três estudantes do longa estão totalmente perdidos numa floresta da
Nova Inglaterra e a garota começa a entrar em pânico achando que nunca
mais sairia daquela selva.
Seu colega então diz algo parecido com:
"Não seja idiota, nós destruímos todas as nossas florestas temperadas.
É só andarmos mais meia hora em linha reta que logo sairemos daqui".
Ecologistas
do mundo todo vivem fazendo protestos para preservar a floresta
tropical brasileira, mas raramente param para refletir sobre essa
corajosa crítica contida nesse filme, que fez tanto sucesso.
Se
alguém se perder na Floresta Amazônica, poderá ter de andar por noventa
dias até achar uma saída, tal o nível de preservação de nossa Amazônia,
comparada com as demais florestas.
Então, não seria correto também discutir a reconstituição das florestas temperadas, há muito tempo dizimadas?
Na Europa e nos Estados Unidos, boa parte das florestas foram destruídas.
O "Crescente Fértil" descrito na Bíblia é hoje o Iraque da "Desert Storm".
Em contrapartida, 86% da Floresta Amazônica continua intacta.
No
famoso Museu Smithsonian de Washington, vi um painel que orgulhosamente
mostrava um pioneiro derrubando uma árvore para criar uma área arável e
poder "suprir nossos antepassados com a comida necessária". Texto deles.
Destruíram
tantas florestas temperadas para plantar comida que hoje eles têm muito
mais agricultores do que o necessário, a maioria economicamente
inviável.
Com a produtividade atual da agricultura, bastaria cultivar as planícies naturais que todos os países já possuem.
A
destruição das florestas temperadas é uma das razões dos maciços
subsídios que a Europa e os Estados Unidos dão à agricultura, razão de
nossos protestos junto à OMC.
Quando
negociadores do governo brasileiro reclamam desses subsídios, a
resposta é que eles são necessários para manter a população no campo.
Caso contrário, os países teriam enormes espaços e terras vazias, com todo mundo vivendo nas cidades.
O
erro dessa lógica política está na frase "espaços e terras vazias", uma
vez que essas terras não eram "vazias" antes de as florestas temperadas
serem dizimadas.
Há
muito deveríamos ter colocado na agenda mundial a necessidade da
reconstituição das florestas temperadas ao lado da preservação da
Floresta Amazônica - o que exigiria dos países desenvolvidos a lenta
substituição dos agricultores subsidiados por guardas e bombeiros
florestais em constante vigilância.
Pelo menos os agricultores passariam a ser úteis, em vez de receber subsídios para nada plantarem.
Os espaços não ficariam vazios, como temem os políticos desses países. Voltariam ao equilíbrio original.
Isso teria importantes consequências econômicas para o Terceiro Mundo.
Acabaria com os enormes subsídios agrícolas e equilibraria a balança comercial de muito país em desenvolvimento.
Bjorn Lomborg, autor do The Skeptical Environmentalist, escreve na página 117 uma frase de muita coragem política:
"Que
base nós (Primeiro Mundo) temos para nos indignarmos com o desmatamento
das florestas tropicais, considerando o nosso desmatamento na Europa e
Estados Unidos?
É
uma hipocrisia aceitar que nós nos beneficiamos imensamente da
destruição de enormes áreas de nossas próprias florestas mas não vamos
permitir que países em desenvolvimento se beneficiem como nós o fizemos.
Se não quisermos que eles usem seus recursos naturais do jeito que nós usamos os nossos, devemos compensá-los de acordo".
Obviamente, ele foi massacrado, e por muitos brasileiros.
Da
próxima vez que um amigo, um jornalista ou um diplomata estrangeiro lhe
indagar sobre o que estamos fazendo com nossa Floresta Amazônica, antes
de responder, pergunte-lhe o que ele está fazendo para reconstituir 85%
de suas florestas temperadas.
*Stephen Kanitz é administrador por Harvard
Veja o artigo na íntegra no link da fonte
Fonte: blog.kanitz
Imagem: Burgos (Cãogrino)
3 comentários:
AI!!! Assim vais levar tau-tau...
O que é isso de mandar bocas foleiras aos EUA e à Europa?!?
O que estes tipos fizeram e fazem com as Florestas deles apenas diz respeito a eles...
Estás a abusar... Assim levo-te ao Veterinário e levas uma Vacina!!!
Bjhs e Festinhas
Voz
Só tu para me fazer dar risadas, hehehehe.
Essa cambada que vá cuidar das florestas deles e não ficar dizendo o que temos que fazer com a Amazônia.
Um grande abraço meu amigo
o curioso é que em portugal nem florestas nem agricultura.
Incendeiam as florestas para fazer condomínios de luxo, campos de golf, ou então cultura intensiva de eucaliptos.
As florestas com biodiversidade estão a ser substituídas por monoculturas de eucaliptos (importado da Austrália). Os eucaliptos transformam a camada superficial em pó pois devido ao seu crescimento rápido, necessitam de muita agua. Rebaixam o nivel freático.
A evolução da floresta, nas zonas norte e centro de Portugal, passou por 3 fases: Floresta de Carvalho que gradualmente foi susbstituída por pinheiro bravo, mais rentável.
Já a partir da passada década de 70 com a introçuão massiva do eucalipto para produção de pasta de papel o reinado do pinheiro começou tambem a ter os seus dias contados.
No sul o eucalipto tambem está gradualmente a ganhar terreno aos sobreiros, azinheiras e pinheiros mansos.
abraço
Krowler
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