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sexta-feira, 11 de novembro de 2011

A estratégia russa de desenvolvimento vista da Alemanha

Um livro recém lançado na Alemanha proporciona uma excelente visão do pensamento estratégico das elites russas, além das promissoras oportunidades que o país oferece aos investimentos estrangeiros. Trata-se de «O Amigo Frio – Por Que Precisamos da Rússia: Uma Análise de Um Insider»(«Der Kalte Freund – Warum Wir Russland Brauchen: Die Insider-Analyse», Hanser Publication, 2011). O autor, Alexander Rahr, é conhecido como um dos mais importantes “kremlinologistas” alemães, a partir de sua posição de presidente do Centro Berthold Beitz (entidade especializada em relações com a Rússia, Bielorrússia, Ucrânia e Ásia Central), suas excelentes relações com o premier russo Vladimir Putin e ativo participante das discussões anuais do Clube Valdai, fórum criado pela agência Novosti, que reúne anualmente destacados especialistas russos e estrangeiros.

Nova ordem mundial

No livro, o autor mostra que a Rússia se encontra em meio a em um processo de grandes transformações, do qual deverá emergir como uma das superpotências energéticas mundiais. Conquanto os EUA se mantenham como a potência militar número um, o seu poderio em escala global, especialmente no campo econômico, tende a diminuir. De acordo com Rahr, a Rússia aprendeu as lições da crise de 2008 e está consciente da nova realidade geopolítica: a de um mundo multipolar, em que a China, a Índia e outras potências emergentes desempenharão um papel maior, e no qual a Rússia deverá orientar a sua política externa para um contexto eurasiático (uma União Eurasiática) e para o grupo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).

Para Rahr, a Rússia necessitará da União Europeia (UE), em especial, da tecnologia alemã para a modernização de sua indústria, em troca da garantia de abastecimentos energéticos. Não obstante, o futuro deverá ver uma diversificação dos fluxos de petróleo e gás para a China, com a qual a Rússia tem interesses de segurança comuns e compartilha um papel de liderança na Organização de Cooperação de Xangai (SCO, na sigla em inglês).

Sob a liderança de Putin

Um fator de grande importância no futuro imediato da Rússia é a liderança do atual premier Vladimir Putin, que deverá trocar de funções com o presidente Dmitri Medvedev, após as eleições de abril de 2012. Para muitos especialistas em assuntos russos, Putin representa o tipo de líder de que a Rússia necessita para efetuar as colossais tarefas de transformação que a sociedade e a economia russas enfrentam. Em uma década, a Rússia deverá ser uma das maiores economias do mundo e, para efetivar a sua modernização, o país está buscando tecnologia europeia e chinesa e reorientando a sua política exterior entre estes dois pólos. Neste contexto, se encaixa a proposta de Putin para a criação de uma União Eurasiática e de um mercado eurasiático, estendendo-se de Lisboa a Vladivostok.

Críticas de Putin à OTAN

Em seu discurso anual no Parlamento, em abril último, ocorrido em meio à intervenção da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) na Líbia, Putin fez duras críticas ao Ocidente, qualificando a ação militar como uma “cruzada moderna” (enquanto Medvedev adotava um tom mais conciliatório). A operação na Líbia causou uma mudança na percepção russa e um impacto negativo no diálogo com a OTAN. No discurso, Putin rejeitou o que chamou propostas “liberais” do Ocidente para a modernização da economia russa, enquanto advertia que a população do país deve ser “imunizada” contra qualquer bacilo de desestabilização proveniente do exterior.

Relação com a Alemanha

Rahr dedica uma boa parte do livro a uma análise das relações russo-alemãs, que remonta à cooperação de muitos assessores alemães ao grande esforço de modernização empreendido no século XVIII pelo czar Pedro o Grande. Após a II Guerra Mundial, em plena Guerra Fria, um grupo de industriais alemães (entre eles Berthold Beitz, da companhia Krupp AG) lançou as bases para um processo de cooperação que envolvia a troca de máquinas alemãs por energia russa, que se mantém até os dias atuais. Com a desintegração da URSS, a Comissão Oriental da Associação Industrial Alemã (Ostausschuss des BDI) desempenhou um papel chave na reconstrução da indústria russa.

Porém, Rahr critica a errônea inclinação de alemães e europeus em geral, de insistir em impor à Rússia o sistema ocidental de democracia e direitos humanos, em vez de atuar com uma orientação pragmática de interesses econômicos, deixando que os russos evoluam politicamente por si mesmos.

Interesse também da União Europeia

A tese de Rahr é a de que, sem a energia, os recursos minerais e as enormes oportunidades de investimentos na vasta economia russa, a UE não poderá manter os seus níveis de riqueza e bem-estar, enquanto a Rússia necessita da tecnologia ocidental para modernizar a sua indústria e a sociedade.

Em termos de matérias-primas, a Rússia é o país mais rico do mundo. Apenas a décima parte do território além dos Urais já foi geologicamente explorado. Abaixo da camada de permafrost (solo congelado), existem reservas inestimáveis, e o Ártico russo é “terra incognita”. Em outras palavras, a riqueza russa em matérias-primas será um fator decisivo na política mundial do futuro próximo.

Para dar uma ideia dessa interdependência, a produção alemã de células solares, telefones celulares, marcapassos, automóveis elétricos e tecnologia militar depende de minerais raros, como irídio, lítio, cério, grafite e cobalto, que são fornecidos pela Rússia e a China. Por outro lado, a Rússia necessita de máquinas e plantas industriais modernas, além de tecnologia de mineração para recuperar e modernizar a sua indústria de matérias-primas.

Rússia é Europa

Rahr conclui perguntando como estará a Rússia até o final do mais que provável mandato de Putin, em 2018. Com base em entrevistas que fez para o livro, ele vê o período até o final da década como o de uma mudança de gerações. Porém, ele adverte que a emergência do saudável patriotismo pelo qual muitos na Rússia anseiam há tempos só será possível se uma maioria da sociedade se considerar como parte de uma história europeia, o que inclui a disposição de confrontar tanto os períodos brilhantes como os negativos da história russa.

De Wiesbaden, Elisabeth Hellenbroich

Movimento de Solidariedade Íbero-americana



Fonte: Blog do Ambientalismo

9 comentários:

Milu disse...

Os avanços da Rússia são gritantes. Quem a viu no início do século, como tive a chance de ver e vê hoje, é um outro país. O povo vive melhor, tudo cresceu e evoluiu. Só mesmo os que rezam pela cartilha dos EUA é que negam as potencialidades da Rússia.
Ah, adorei seu blog, que me foi apresentado pelo Jader Resende. O livro do Rahr já foi publicado no brasil?
Abraços

Fada do bosque disse...

Olá Burgos.
A Rússia de facto está a fazer muitos progressos, então em armamento, mas é preciso, a prepotência dos EUA e seus cães de fila já se torna perigosa demais!!
Burgos, veja esta reportagem sobre a Guerra, se ainda não viu. É espectacular, mas a Vímeo já removeu, no youtube irá acontecer o mesmo mais cedo ou mais tarde.

http://www.youtube.com/watch?v=9K5ewqqrBXE

BURGOS disse...

Oi Milu

Muito obrigado pelo elogio, Jader é um grande amigo e conterrâneo meu.
Quanto ao livro só achei na Biblioteca da UNILINS uma universidade de São Paulo, procurei pela internet e não achei em nenhuma livraria. Se tu conseguir achar me avisa.
Aqui vai o link da Biblioteca da UNILINS:

http://sol.cpd.fpte.br/cgi-bin/biblio/bibli021.cgi?icodigo=21553&ifim=


Um grande abraço minha mais nova amiga

BURGOS disse...

Fadaaaaaaaa!

Já andava com saudade, tu sumiu, perguntei por ti lá no Max, tu não apareceu mais lá, estou sentindo tua falta lá para debatermos, a coisa lá tá pegando fogo, hehehehe.

Vou baixar e assistir o vídeo antes que removam.

Muito obrigado pelo vídeo.

Um grande abraço minha amiga

Milu disse...

Muito obrigada, vou olhar o link agorinha mesmo. E vou escrever para a livraria cultura. Vamos ver se existe edição em língua portuguesa ou espanhola.

Fada do bosque disse...

Burgos meu Querido Amiguinho!
Também estava com saudade, mas além de ter ficado sem net, também andei ocupada.
Dediquei algum tempo à minha família canina que tinha saudades de atenção.
Não sei se sabe tenho um cão velhote, que retirei de um canil para que tivesse uma velhice digna e carinhosa, pois é um amor! e agora é um cão feliz! tem amigos e até já engordou!
Tenho 4 cadelas; uma de grande porte, duas médias e uma pequena igual à que está nessa foto, todas resgatadas do abandono. Tive que tirar tempo para essa malta maravilhosa também! Cinco não é brincadeira!... :))
Quando tiver um tempito mais livre regressarei. :)
Gosto muito de si Burgos.
Continue com o excelente trabalho que é este seu blogue!
Um beijão para si meu querido amigo! :)

BURGOS disse...

Que legal Fada!

É bom saber que ainda existem seres humanos que se preocupam com os animais abandonados.
Meus donos também acharam uma cadela que estava ganhando filhotes na rua e trouxeram para casa, doaram os filhotes, mas não conseguiram doá-la, resolveram ficar com ela, agora tenho uma irmã adotiva, hehehehe.

Um grande abraço minha amiga, porque acredito que tu és realmente uma Fada do Bosque.

BURGOS disse...

Fada

Quando puderes me manda uma foto deles para eu colocar aqui no blog.

Meu email é:

burgos4patas@gmail.com

Anônimo disse...

Esta é uma vista fantástica sobre a situação, eu não acho que eu tenho visto muito isso por essa perspectiva antes.

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