O Governo Federal tomou, recentemente, duas medidas protecionistas para reduzir a erosão da capacidade produtiva nacional diante dos impactos combinados da enxurrada de importações asiáticas e dos efeitos recessivos da crise global. A primeira foi a elevação em 30% do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para os automóveis importados. A segunda, a concessão de uma vantagem de até 25% nos preços oferecidos por empresas nacionais em licitações para compras governamentais. Embora sejam limitadas e temporárias, ambas provocaram reações no exterior, motivando acusações de protecionismo contra o Brasil, em órgãos como a Organização Mundial do Comércio (OMC) e a União Europeia (UE).
Retaliações possíveis
Na OMC, o Japão e a Coreia do Sul se apressaram em apontar o dedo contra o Brasil, no Comitê de Acesso ao Mercado. O passo seguinte poderá ser um questionamento oficial, passível de abrir caminho a retaliações. Para a recente cúpula do G-20, a OMC elaborou um relatório no qual acusa o Brasil, a Índia e a Rússia de serem os países do grupo que mais impuseram novas medidas restritivas do comércio nos últimos meses (Valor Econômico, 31/10/2011).
Por sua vez, a UE também colocou o Brasil e seus colegas do grupo BRICS, China e Rússia, na alça de mira. Em dezembro, o bloco europeu deverá anunciar uma nova legislação sobre compras governamentais, visando em especial os três países, exigindo reciprocidade nas vantagens concedidas às suas empresas, sob ameaça de fechar o seu mercado às deles.
Diretrizes escapistas
As reações denotam o alto grau de desorientação das lideranças globais quanto diretrizes políticas mais eficazes para a superação da crise sistêmica: em lugar de uma estratégia concertada que vá às raízes da crise, com uma ampla reforma do sistema financeiro mundial e a reorientação da economia para a produção física (que, reconhecidamente, contraria muitos interesses hegemônicos), prefere-se uma abordagem do gênero “farinha-pouca-meu-pirão-
Essa avaliação é compartilhada pelo economista Carlos Lessa, ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), em sua coluna mensal no Valor Econômico de 9 de novembro, devidamente intitulada «A Presidente Sabe». No texto, Lessa faz um preciso diagnóstico do cenário global e sugere linhas de ação que poderão ampliar consideravelmente a margem de manobra do País em meio às turbulências. Vale a pena atentar para elas:
♦ «A presidente sabe que a crise mundial, explicitada em 2008, será de longa duração e que o mundo pós-crise não é previsível, mas haverá a modificação geopolítica do planeta, uma profunda onda de inovações tecnológicas e alteração em padrões comportamentais.»
♦ «A presidente sabe que o futuro exige conhecimento das restrições para, no âmbito do raio de manobra, serem a nação, o povo e sua economia uma folha ao vento da História ou, com a vontade civilizatória e solidária do povo, explicita r e desdobrar um projeto nacional.»
♦ «A presidente sabe a perversa tendência do sistema financeiro de, em tempos de crise, adotar políticas defensivas que aprofundam a crise. Keynes falava da “preferência pela liquidez”, que desvia as empresas da realização de investimentos de ampliação de capacidade produtiva e passam a optar pr aplicações financeiras… O coletivo de empresas, acreditando na crise, adota uma conduta que acelera e aprofunda a crise. No limite, participam de um estouro de boiada que corre para o precipício.»
♦ «A presidente sabe que o Fed (Federal Reserve) adquiriu ativos podres e duvidosos e injetou volumes colossais de recursos no sistema bancário americano. Entretanto, esses bancos não estão reativando a economia… Os indicadores macroeconômicos dos EUA são inquietantes.»
♦ «A presidente sabe que os bancos [provavelmente, ele quis dizer "países" - n.e.] da zona do euro não conseguem coordenar suas políticas nacionais e tendem a praticar um contracionismo que sinaliza persistência e aprofundamento da crise.»
♦ «A presidente sabe que tanto os EUA como a comunidade europeia estão reduzindo importações. A China, que vinha sustentando o crescimento, vem perdendo ímpeto e já sinaliza procedimentos de reforço de seus bancos oficiais…»
♦ «A presidente sabe que a Bolsa de Mercadorias de Chicago sustenta os preços relativos de alimentos, de algumas matérias-primas e do petróleo [na verdade, estes são controlados pela International Petroleum Exchange, New York Mercantile Exchange e International Exchange - n.e.]. Há uma preferência crescente dos especuladores mundiais por aplicações arbitradas pela Bolsa de Mercadorias de Chicago, mas isto pode mudar.»
♦ «A presidente sabe que, frente à crise mundial, o Brasil deve “botar suas barbas de molho”. Felizmente, temos o Banco do Brasil, a Caixa Econômica e o BNDES, que respondem à orientação soberana nacional de não participar da manada…»
♦ «A presidente sabe que é importante reforçar o sistema bancário oficial e reduzir os juros básicos. A presidente, corretamente, quer estimular a construção civil em um programa de habitação popular… Manter a demanda interna ampliando o endividamento familiar com a compra de veículos automotores e outros bens duráveis tem um efeito macrodinâmico menor e é patrimonialmente equivocado em relação à família brasileira… Porém, é necessário planejar o futuro das cidades e ampliar o investimento na infraestrutura urbana.»
♦ «A presidente sabe que é possível e necessário fazer muito mais. O câmbio tem que voltar a ser controlado… Devemos selecionar com critério aplicações financeiras do exterior, reduzir o endividamento com risco cambial do setor privado, ampliar a proteção a ramos industriais clássicos e adotar uma política pública de “comprar o produto brasileiro”.»
♦ «A presidente está informada das pressões externas. Algumas deveriam ser ridicularizadas; as associações americanas de indústrias de confecção e calçados protestaram contra a adoção… de medidas defensivas desses ramos industriais clássicos e ameaçados. Quero crer que são as matrizes interessadas em que suas filiais da China ampliem a avalanche de exportações para o Brasil.»
Lessa conclui com uma professoral chamada de atenção:
«Somente critico a presidente pela modéstia das medidas… A timidez não é sábia em momentos de crise mundial.»
Movimento de Solidariedade Íbero-americana
Fonte: reproduzido do Blog do Ambientalismo
3 comentários:
Meu amigo, sendo taxista, já tive o privilégio de conduzir o Prof. Carlos Lessa uma única vez. Tem uma certa pompa, mas ótimo papo. Foi logo após sua defenestração do BC, onde as megacorporações pediram sua cabeça. Tudo que ele diz não é novidade, mas precisa ser constantemente repetido para, quem sabe, as devidas mudanças de atitude. E o resto, desculpe, que se lixem. Mais cêdo ou mais tarde, todos cuidarão de si. Os Bernanke, os Summers cuidaram de si e graças a complacência do capital americano, conquistaram mais dinheiro e depois, prestígio dentro do "governo", embora saibamos, no caso Bernanke, que FED nada tem de governo.
Um abraço.
Walner.
Burgos,
Aproveitando a folga que meu Melivra me ofertou mais uma vez, e dando uma passada pelos blogs das mais diversas correntes, encontrei no Evoluindo Sempre, um vídeo estarrecedor do programa do Alex Jones, cujo entrevistado era Gerald Celente. Celente falava de uma ligação telefônica do banco onde guardava 600.000 em ouro, acusando saldo negativo em sua conta. Conclusão: segundo Celente, roubaram todo o seu ouro. Depois, conclamava aos cidadãos à retirarem seu dinheiro dos bancos. Imagina o que isso pode causar... Pode representar o início do que os globalistas aguardam anciosamente para colocar seus dobermans nas ruas. De qualquer forma dê uma olhada. Não deixa de ser interessante.
Um abraço.
Walner.
Não sou muito fã do Alex Jones, mas vou olhar com certeza.
Aproveita a "folga" do teu Melivra e dá uma relaxada meu amigo, hehehehe.
Obrigado pela dica
Um grande abraço
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