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sexta-feira, 2 de março de 2012

E o OSCAR vai para...!!! Hillary, A Imperatriz da Líbia

Democratas Jihadi a postos para o close-up

Por Pepe Escobar

Pena que a secretária de Estado dos EUA Hillary Clinton não foi à festa dos Óscars 2012. La Clinton perdeu boa chance de fazer sombra à perna-rainha-do-Twitter-direita de Angelina Jolie – aquela força da natureza já além da rede, pousando na lua e invadindo A última ceia de Leonardo da Vinci.[1]

A Imperatriz da Líbia (“Viemos, vimos, ele morreu” tentou o mais que pôde, inclusive com foto para a BBC, onde nela afinal admitiu que os EUA estão lutando ombro a ombro com a al-Qaeda para desencadear mudança de regime na Síria.[2]

Bem... Yevgeny Primakov, raposa velha da Guerra Fria e ex-primeiro ministro russo (no governo do pudim de vodka, Boris Yeltsin) acabou com ela no canal russo Rossiya – ao esclarecer que ninguém, em sã consciência, acredita que alguma mudança de regime na Síria leve à democracia.

Pois quando Clinton menciona “um conjunto muito perigoso de atores na região” os quais estão “na nossa lista de terroristas”, ela está promovendo, mais uma vez, a sabidamente muito lucrativa franquia do Pentágono/CIA/Departamento de Estado conhecida como “Hóspede Maldito” [orig. Resident Evil[3] – cujos atores incluem, dentre outros, mujahideen no Afeganistão nos anos 1980s, mujahideen na Bósnia nos anos 1990s e, recentemente, o pessoal do Libya Islamic Fighting Group (LIFG).

Guerra Global ao Terror, GGT [orig. Global war on terror (GWOT)]? Mas isso é tãããããão George W “Imbecil” Bush e respectiva era ainda mais imbecil. Como todos os assistidores de carteirinha de filmes blockbusters sabem, o negócio, hoje, é “Os Democratas da Al-Qaeda Invadem a Mudança de Regime”.

O show dos Muppets[4]

A Imperatriz da Líbia às vezes manifesta uma incapacidade à Meg Ryan de esquecer do roteiro. No comercial para a BBC, ela insistia na narrativa oficial: o “povo da Síria” está sob “incansável ataque” das “forças do governo”. Ao mesmo tempo, incita as “forças de segurança” a não esmorecer e insistir na “mudança de regime”. Então, comé que fica? Ah! Os matadores de repente viram democratas? Por que não? Mais um salto clássico de roteiro, à Hollywood.

Enquanto isso, a porta-voz do Departamento de Estado Victoria Nuland bem poderia ter roubado de Octavia Spencer da estatueta de melhor atriz coadjuvante. Nuland – casada com o mega-super-ultra-neoconservador Robert Kagan – detonava o referendo sírio: essa “proposta ridícula” feita por Bashar al-Assad coincidiu com “fuzis e tanques e fogo de artilharia (...) que continua sobre Homs e Hama e outras cidades por todo o país.”

Nuland parece ter convenientemente esquecido que isso, precisamente, é o que os EUA sempre fizeram, enquanto promoviam eleições “livres” no Iraque e no Afeganistão – com o auxílio luxuoso de forças eleitorais como aviões-robôs, os drones, assassinos, F-16s, helicópteros Apache e a imprensa-empresa servil a recitar as falas do roteiro do Pentágono.

As duas atrizes do Departamento de Estado também esqueceram convenientemente que, se você é atirador treinado desempregado no Ocidente ou no mundo árabe, o lugar certo para ir – além de Hollywood – é a Síria. Muitos dos atiradores que estão matando civis na Síria trabalham para a coalizão “Amigos de Hillary”. Trabalham para o complexo CCGOTAN – a coalizão norte-americana, parte europeia e parte árabe que financiou, treinou e armou um exército fantasma dentro da Líbia e, agora, dentro da Síria.

A Síria nada tem a ver com um massacre unilateral sob patrocínio estatal; é guerra interna, entre o governo e um exército fantasma – com civis apanhados no fogo cruzado.

A própria La Clinton foi forçada a admitir “uma forte oposição a qualquer intervenção estrangeira, de dentro da Síria, contra fora da Síria”; o que implica que muitos sírios, não só algumas minorias, mas também os sunitas seculares, sabem que jihadistas à moda al-Qaeda e/ou fanáticos salafistas já estão infiltrados. Também sabem que o Conselho Nacional Sírio é fantoche da Fraternidade Muçulmana e/ou de Washington.

A Imperatriz da Líbia também deixa convenientemente de fora é que a “oposição” – dividida entre os oportunistas do Conselho Nacional Sírio e seus rivais, o Corpo de Coordenação Nacional – são virtuais nulidades dentro da Síria. A resistência contra o indiscutível estado policial do regime de Assad é coordenada, sobretudo, por comitês locais.

Crepúsculo dos deuses revisitado[5]

E segue o show. Esperem um pouco, e logo a orgia salafitas-jihadistas na Síria deixará no chinelo a festa pós-Óscar da revista Vanity Fair. Afinal, essa é a estratégia daqueles casos exemplares de magnífica democracia, Arábia Saudita e Qatar, varões do Conselho de Cooperação do Golfo. O ministro de Relações Exteriores da Casa de Saud, Saud al-Faisal, disse que armar os rebeldes é “muito boa ideia”. E o primeiro-ministro do Qatar, príncipe Sheikh Hamad bin Jassim al-Thani concordou. O CCG adora o cheiro de república árabe secular cozinhada em napalm pela manhã. É perfume de... vitória.

O que realmente está acontecendo, como Asia Times Online tem noticiado, é que ambos,o Qatar e a Casa de Saud já há vários meses estão armando o Exército Sírio Livre, enquanto Washington ajuda com a virada de roteiro “liderada pela retaguarda”.

Agora, tentem argumentar que armar os xiitas nas províncias leste da Arábia Saudita também seja “muito boa ideia”. Num instante você será visitado por um míssil Hellfire – ou acertado na testa por um atirador – mais rápido do que Angelina abre a saia e mostra a perna.

Seja como for, e sendo roteiro de Hollywood, que melhor sequência da franquia de Resident Evil que a seguinte: as monarquias sunitas do Golfo Persa armam doidos à moda al-Qaeda para promoverem a democracia e os direitos humanos na Síria. Mais maluco que aquela perna direita de Angie. Esqueçam. Isso não é Hollywood. É vida real. E esqueçam Norma Desmond[6]. Quem se prepara agora para entrar em close up é Al-Zawahiri, atual presidente executivo da al-Qaeda. Costumava ser grande, mas agora que os filmes encolheram, com certeza será ainda maior. A perna direita de Angie que se cuide.



[3] É título de um filme de terror, de 2002, exibido como “Hóspede Maldito”, baseado num videogame de mesmo nome (os games da série Resident Evil incluem Resident Evil (1996), Resident Evil 2 (1998), Resident Evil 3: Nemesis (1998) e Resident Evil CODE: Veronica (2000) (mais sobre isso em http://pt.wikipedia.org/wiki/Resident_Evil_(filme)) [NTs].
[5] Orig. Sunset Boulevard, filme de 1950, dir. Billy Wilder. Mais sobre o filme, em http://www.imdb.com/title/tt0043014/ [NTs].
[6] Personagem central de Crepúsculo dos Deuses, o filme [NTs].


Fonte: Asia Times Online, Grupo Beatrice
Imagem: Google (colocada por este blog)

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