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domingo, 18 de março de 2012

Washington perde as guerras mas quem sofre são os povos


Os Estados Unidos exibem uma ostensiva incapacidade para ocupar, manter a ordem e vencer a resistência dos povos que invadem. Invasões injustas, imorais e ilegais, sempre encobertas por mentiras antes e depois que são realizadas. Por exemplo, as indústrias culturais do império têm feito todo o possível para que as novas gerações se esqueçam ou recebam uma imagem falsa da humilhante derrota sofrida no Vietnã.

Por Angel Guerra Cabrera

Para quem viu ao vivo pela televisão, são inesquecíveis os helicópteros gringos voando de Saigon para os porta-aviões, com pencas de estadunidenses en pânico pendurando-se nos trens de pouso. Recentemente a hidra midiática estendeu uma cortina de fumaça sobre a vergonhosa retirada do Iraque, onde Washington teve que renunciar a sua exigência de deixar indefinidamente estacionado um contingente militar, pois o governo de Bagdá - de relações cordiais com Teerã, por certo - se negou a conceder imunidade nos tribunais iraquianos a seus integrantes.

Agora, o massacre de 16 civis na província de Kandahar, Afeganistão, supostamente por um sargento alienado do Exército dos Estados Unidos, reafirma a derrota moral, política e, por conseguinte, militar, da superpotência no país centro-asiático. Não estão claras as circunstâncias do incidente nem a versão do lobo solitário dos ocupantes coincide com a de residentes nas três aldeias onde viviam as vítimas e autoridades afegãs, que insistem em dizer que mais soldados estadunidenses participaram nos fatos.

Seja como for, depois disto e dos contínuos agravos aos afegãos – o anterior foi a queima de exemplares do Alcorão em uma base ianque - a Washington não resta mais nada a fazer do que antecipar os prazos para a retirada. Já não pode confiar em suas contrapartes afegãs e até o parlamento já disse que “esgotará sua paciência” e concordou em exigir que os culpados sejam julgados por um tribunal afegão. Há tempos os Estados Unidos tiveram que renunciar à ideia de derrotar os talibãs e admitir que para retirar-se e salvar a cara tinham que negociar com eles e é exatamente isso o que estão fazendo.

Isto para não falar da propalada “reconstrução” com a qual – como não?! - várias corporações têm ganho milhões, mas os afegãos não veem mais que uma economia sustentada pelo auge do narcotráfico, um país devastado, com cidades em ruínas sem os mais elementares serviços públicos, ausência quase absoluta de infraestrutura e dezenas de milhares de civis mortos. Para não falar das promessas de democratização e reconhecimento dos direitos das mulheres. Afortunadamente cada vez são menos pessoas que creem em que os Estados Unidos sejam modelo de democracia e direitos humanos, muito menos os que aceitam que estes podem impor-se pela força das armas.

Lênin tinha toda a razão ao afirmar que o imperialismo necessita gerar constantemente guerras de rapina. Muitas coisas mudaram desde então, mas permanecem essências como essa. Agora mais acentuadas devido à avidez compulsiva pelo petróleo e outras matérias primas e a cobiça pelas jazidas de água, que levaram ao paroxismo a agressividade do imperialismo estadunidense. Se não fosse assim, seria inexplicável que depois dos desastres no Afeganistão e Iraque, os Estados UInidos se disponham, junto com Israel, a atacar nada menos que o Irã. Um osso muito duro de roer, impossível de reduzir com armas convencionais.

Se as instalações nucleares para fins pacíficos do Irã forem bombardeadas e o país se sentir mais gravemente ameaçado, seguramente responderá de maneira muito dura, incluindo o fechamento do estreito de Ormuz, por onde flui um vital rio de petróleo para o mercado mundial. A grande incógnita é o que farão os Estados Unidos diante de um rival que só podem destruir com armas nucleares, e se as usar, o que farão a Rússia, a Índia, o Paquistão e a China, todas potências atômicas vizinhas. Vistas as coisas assim, se compreende perfeitamente as intensas gestões diplomáticas de Moscou e Pequim em prol de uma solução política na Síria, aliado fundamental do Irã, onde Washington arma e infiltra terroristas e aplica um plano de “mudança de regime”, e o duplo veto daquelas duas grandes nações para impedir a intervenção estrangeira.

Voltando ao Afeganistão, o máximo a que Obama pode aspirar agora é sair de lá rapidamente sem que isto pareça uma debandada. Com a esperança de que antes das eleições de novembro não se complique a situação a ponto de obrigá-lo a uma retirada precipitada e à entrega do poder aos talibãs sem mais negociações.





Fonte: Vermelho, Cubadebate, publicado originalmente em La Jornada
Tradução da redação do Vermelho
Imagem: Google (colocadas por este blog)

Um comentário:

Fernando Franco disse...

Vale lembrar que o Afeganistão é um grande (senão o maior) produtor de ópio mundial. E por ali também passam gasodutos estratégicos para os americanos...

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